Últimas indefectivações

sábado, 26 de abril de 2025

Regresso às vitórias...

Marítimo 26 - 29 Benfica
12-13

Vitória na Madeira, com uma ponta final decisiva, depois de uma desvantagem perto do fim...

Benfica e os Loucos Anos 90 por Cota do Bigode

Prestianni só pode ter bicho


"Argentino deveria ser caso de estudo sobre o que não se deve fazer na gestão de uma jovem promessa do futebol mundial. Mesmo com eventuais condicionantes que existam

Há um plano para Prestianni!» As palavras são de Bruno Lage, ditas convictamente há semanas. Soubemos, entretanto, através de A BOLA, que o processo estipulado para o jovem não está concluído, que o treinador principal e a restante equipa técnica continuam a poli-lo, a fim de que se transforme no belo diamante de muitos quilates que viram quando o descobriram nas Pampas argentinas, depois de um garimpo com investimento de 9 milhões de euros.
Nos intervalos da execução do planeado, Prestianni pontuou aqui e ali na B e jogou as duas mãos das meias-finais da Taça com o Tirsense. Não foi titular. Entrou no decorrer dos dois jogos e, mesmo assim, acabou entre os melhores. Depois de Barcelos e do golo e da assistência, voltou à sombra. Agora, muito provavelmente, para lá novamente voltará. E talvez já não o voltemos a ver esta época.
Esta é, normalmente, a altura em que relativizamos: o Tirsense compete no quarto escalão, o que facilita e potencia melhores exibições. Só que o contexto do miúdo que aprendeu a dar os primeiros pontapés nas canchas de Ciudadela é aqui o mesmo que tiveram Tiago Gouveia, Dahl, António Silva, Florentino, Barreiro, Schjelderup, Bruma, Arthur Cabral, Belotti e Amdouni, só para citar os mais habituados às chamadas de Lage. Algum deles terá sido melhor?
Além disso, com a eliminatória mais do que resolvida, o treinador resolveu brindar os adeptos com um absolutamente desnecessário 4x4x2 raso, com dois médios de contenção, ainda que com algum usufruto de liberdade por parte do luxemburguês, mas sem qualquer lampejo de criatividade. Juntou-lhes dois avançados-centro parecidos, nada associativos, e alas e laterais com ordem para subir.
Os ataques esbarraram em bolas perdidas no corredor interior e os cruzamentos, para os quais a equipa estava naturalmente condicionada pelo onze elaborado, foram com maior ou menor dificuldade controlados pelos de Santo Tirso. Uma ou outra bola em profundidade, as individualidades, as bolas paradas e o desgaste físico nos visitantes acabaram por criar o resultado, porém não a exibição ou sequer o conceito de utilidade para as águias. É claro que Hugo Félix, Tiago Gouveia, João Veloso e outros agradecem os minutos, mas estes não significam necessariamente que passaram a ser aposta. Ficarão até ver apenas como memórias.
Em vez de aproveitar para trabalhar o ataque posicional, problema de há muito, ou testar jogadores diferenciados, o técnico das águias escolheu um caminho que só ele vislumbrou e entende. A segunda mão da meia-final com o Tirsense serviu sim para constatar os problemas de sempre, agravados pelo menor número de soluções no relvado.
Atenção, não acho que La Pulga deva ser favorecido em relação aos demais jovens do Seixal – tanto a formação como a prospeção têm andado um pouco à sua sorte nos últimos anos no clube –, no entanto, também aqui há diferenças. Prestianni era titular no Vélez, um dos principais clubes argentinos, e só perdeu esse estatuto depois de problema disciplinar. Já tinha, vale o que vale, rótulo de novo Messi e vários tubarões europeus atentos.
O Benfica antecipou-se e o argentino viajou antes dos 18 anos para se ambientar à cidade e ao clube e, por fim, assinar legalmente. Entretanto, lesionou-se, somou alguns jogos pela equipa B até que Roger Schmidt, durante a última pré-temporada, começou a acreditar que poderia ser ele a desempenhar o papel de ligação entre meio-campo e ataque, como segundo avançado.
Não resolveu todos os problemas da equipa, porém também não foi apenas por ele que o arranque foi trémulo. Schmidt saiu após o empate com o Moreirense, o seu último enquanto titular. Perdeu o lugar para Rollheiser na estreia de Lage e depois foi Aursnes a ocupá-lo, ainda que tenha entrado nos três jogos. Lesionou-se, falhou quatro partidas e ainda voltou ao banco em três da Liga, sem pisar todavia o relvado. Caiu finalmente no esquecimento. O mesmo foi acontecendo com o compatriota, também ele alguém em que Schmidt depositava confiança.
Admito que Prestianni peque pela personalidade. Em campo, das poucas vezes, vimo-lo algo fechado em si mesmo, sem falar, preferindo dialogar com combinações e passes decisivos, e irreverência ainda na altura de atirar de longe. Quando festeja também se sente a arrogância de quem sabe o que vale. Somam-se as tatuagens. Eventualmente lgum comportamento fora de campo. É possível, já o tinha tido na Argentina. Se houve, será que em vez de se tentar formatar, não se pode canalizar essa personalidade, essa necessidade de se expressar, essa arrogância positiva, de forma útil?
Não vemos tudo, não sabemos tudo, mas o que parece óbvio é que não há um plano ou se há não é para que todos o percebam. Tenho dúvidas de que esta seja a melhor gestão de uma grande promessa em que o clube realmente acredita, que vê explodir no próximo ano, por exemplo. Prestianni não é um jogador de equipa B, nunca deveria ter por lá passado, a não ser que fosse para recuperar de lesão ou o ritmo.
Chateia-me o preconceito, o não saber lidar com a diferença. Best, Maradona, Cantona, Garrincha, o futebol tem mil e um exemplos de jogadores que não só pensavam fora da caixa como tinham de viver todos os minutos foram dela, num mundo só eu, para que pudessem ser geniais. No caso de Prestianni, e depois de vários erros de análise no passado, o Benfica tem de voltar a perguntar-se: o que é que o argentino tinha de especial quando o contrataram? Perdeu-o irremediavelmente? Deram-lhe todas as condições para desenvolver o potencial? Tomaram todas as decisões mais indicadas? Integraram os treinadores no processo? Traçaram, agora sim, em conjunto, o tal plano?
Nem todos os jogadores cumprem as expetativas, mas na Luz nunca esteve um, que me lembre, que recolhesse tantas, sobretudo no seu país e na Europa, ainda que sobretudo para lá das fronteiras de Portugal. Será que Rui Costa e Bruno Lage já desistiram? Acreditam que Prestianni já veio assim ou entretanto ganhou bicho?"

5 minutos: Diário...

Terceiro Anel: Diário...

Zero: Tema do Dia - Escândalo na CBF Abala o futebol Brasileiro

A Verdade do Tadeia #2025/34 - O dia dos aflitos

Saudades da Taça 'maneta'


"Formato atual, com duas mãos, vale mais para as televisões? Talvez, mas pouco, a não ser que não saibam fazer contas. E quanto vale a emoção de tudo se decidir num jogo que começa 0-0?

Eu percebo. Quando o sorteio arranja um dérbi ou um clássico para as meias-finais da Taça de Portugal, ter dois jogos em vez de um é um maná para as televisões. Sobretudo para quem transmite os jogos em canal aberto, rara oportunidade de ver os grandes, porque agora tanto Liga como UEFA Champions League estão limitados a canais pagos. E essa ilusão, admito, fará subir o preço de venda dos direitos televisivos. E atendendo à importância que esses direitos têm para alimentar a pirâmide do futebol português — para os clubes mais pequenos, os prémios da Taça são significativos —, uma diferença de alguns milhares de euros ganha peso.
Mas compensa? Afinal, quão frequentes são os jogos entre grandes nas meias-finais? Esta foi a 17.ª vez seguida em que as meias-finais da Taça foram jogadas a duas mãos (a inovação é de 2008/2009); nessas 17 vezes, só em seis houve dérbi ou clássico. Por isso, aquela ideia de que as meias-finais valem jogo grande a dobrar, na verdade, limita-se a um terço das temporadas — o que me parece pouco para justificar uma diferença de preço tão grande assim na venda dos direitos...
Até porque, com as meias-finais a duas mãos (que saudades das meias manetas, só com uma...), fico com a ideia que os próprios jogos perdem o interesse, e são mais difíceis de vender, de gerar entusiasmo nos adeptos. E não, não me limito apenas ao que aconteceu na eliminatória entre Benfica e Tirsense — a equipa de Santo Tirso foi a primeira do quarto escalão, na história da Taça, a chegar às meias-finais; mesmo com adversários teoricamente inferiores, é improvável assistirmos a tamanho desequilíbrio.
Vejamos o caso do Sporting-Rio Ave: na primeira mão, três semanas antes da segunda, em Alvalade, muitos esperavam que o leão vencesse. E venceu. Mas mesmo que o não fizesse, teria sempre a segunda mão para corrigir eventual escorregadela. Depois, na segunda, com dois golos de vantagem, poucos acreditariam que os vila-condenses pudessem dar a volta. Como não deram. Ou seja, a primeira mão é desinteressante porque há a segunda; a segunda é desinteressante porque houve a primeira.
Tenho para mim que um jogo único (caramba, nem que seja como na Taça da Liga, com final four) seria bem mais empolgante.
Com duas mãos garante-se mais facilmente a chegada dos grandes à final? Admito que sim. Mas nestes 17 anos com meias-finais a duas mãos, sabe quantas tiveram dérbis ou clássicos no Jamor? Quatro. Pois..."

Do Portugal de Fátima, Futebol e Fado para o Portugal de Ronaldo e do Futebol


"O V. Guimarães teve €24,5 M de receita, quase 9 vezes menos que o Benfica. É o dobro da diferença do Benfica para o Real Madrid. Pedro Proença e Reinaldo Teixeira ficarão na história, mas como?

Em 2024, os 20 programas mais vistos na televisão portuguesa foram 20 jogos de futebol. O programa (jogo) mais visto foi o Portugal-Eslovénia dos quartos de final do Euro-2024 (5.410.044 espectadores de média, 65,58% de share). O Polónia-Portugal foi o que teve menos espectadores destes 20 programas (3.473.357 espectadores de média, 42,26% de share). O Santa Clara-FC Porto, nos quartos de final da Taça de Portugal, teve 3.904.970 espectadores de média, 40,76% de share.
Neste mês de abril de 2025, o canal generalista de televisão líder, é aquele que consegue fazer 15% de share num dia.
A competição de futebol mais importante no mercado português é a Primeira Liga e as sociedades desportivas dividem perto de 180 milhões de euros de receita — a maioria dos contratos foram realizados em 2015.
A Champions League para Portugal foi comprada pela Sport TV para o ciclo 2025-28 por um valor recorde, perto dos 20 milhões de euros/ano, mais 33% que o valor do ciclo anterior. Em 2015, foi vendida por menos de metade deste valor.
Não há outro desporto em Portugal que seja relevante para o mercado televisivo, todas as outras modalidades lutam para transmitir os jogos dos seus campeonatos na televisão e, quando o conseguem, têm de assumir o pagamento dos custos de produção.
Em 2000, antes de Cristiano Ronaldo, a maioria dos norte-americanos pensava que Portugal era em Espanha. Em 2023, depois de Cristiano Ronaldo, os EUA foram já o 3.º mercado turístico para o destino Portugal.
«As oportunidades multiplicam-se à medida que são agarradas», Sun Tzu
Em 4 de setembro de 2007, a Portugal Telecom tinha 4.000 clientes MEO e ambicionava ter 100.000 em 31 de dezembro de 2008.
A Benfica TV foi o fator-chave do crescimento exponencial e imprevisto.
Em 29 de agosto de 2008, o canal foi anunciado como exclusivo MEO. A 15 de setembro, foi anunciada a transmissão em exclusivo do Benfica-Nápoles para a Taça UEFA, que se realizou a 2 de outubro. Em 18 de dezembro de 2008, a 13 dias da data em que tinha previsto ter 100.000 clientes, a Portugal Telecom anunciou que tinha atingido os 300 mil clientes MEO!
Em 2008 e 2009, os portugueses, para ter acesso à Benfica TV, mudaram maciçamente de operador de telecomunicações.
A Digi está a entrar em soft-launch no mercado português de telecomunicações e prevê-se que será muito agressiva nos preços em 2026 — quer atingir rapidamente os 20% de quota de mercado.
No mercado português, o acesso ao futebol é muito mais decisivo que o preço. Um cliente com 20 anos de fidelização a um operador de telecomunicações, facilmente desliga e muda para um concorrente.
«A ambição embriaga mais do que a glória», Marcel Proust
Desde 1984, a Liga Francesa tinha no Canal + um parceiro sólido na transmissão dos jogos do seu principal campeonato, a Ligue 1.
No ciclo entre 2016 e 2020, o Canal + pagava pontualmente 748,5 milhões de euros época pelos direitos TV em França.
Em março de 2016, a Liga Francesa elegeu um novo presidente, Didier Quillot, antigo CEO da Orange Telecom, subsidiária da France Telecom.
Foi com ganância que a Liga Francesa abordou o mercado na venda dos direitos televisivos para o ciclo 2020-2024, fruto da ignorância dos clubes franceses e da avidez do novo presidente.
A 30 de maio de 2018, Didier Quillot rejubilava. Vendera os direitos para o ciclo 2020-2024 por 1.153 milhões de euros ano, mais 60% do que o valor do ciclo anterior.
«Ainda não tivemos tempo para beber champagne (...) O Canal + não levou a sério a concorrência, disseram-nos que o preço era alto demais e não haveria compradores.»
Uma nova empresa ganhou os principais direitos, a Mediapro, acenando com o pagamento de 800 milhões de euros ano por 80% dos jogos (8 dos 10 jogos em cada jornada). O Canal + ficou com 20% dos jogos (2 em cada jornada) por €330 M ano.
A Mediapro só pagou a primeira prestação (€175 M) da primeira época do contrato (2019-20) e rescindiu o contrato. Em março de 2020, o Estado Francês teve de avalizar um empréstimo de emergência no valor de €224,5 M de euros para os clubes não falirem.
Após o escândalo do incumprimento da Mediapro, Didier Quillot sai em setembro. Em quatro anos de presidência, tinha auferido 4 milhões de euros, entre salário e bónus — mais 1.5 milhões de indemnização pela saída antecipada.
Depois de ter sido destituído, Quillot foi ouvido na Assembleia da República Francesa e recusou ter sido imprudente em não ter exigido uma garantia bancária à Mediapro: «(...) A Liga Francesa nunca a tinha exigido antes ao Canal +.» O máximo que reconheceu foi que devia ter exigido um sinal no valor de 10 ou 20pc do total do contrato.
«Pela frente um precipício, por trás os lobos», Provérbio romano
Vincent Labrune, o sucessor de Didier Quillot como presidente da Liga Francesa, fez muito pior.
Em junho de 2021, vendeu à Amazon o pacote que era da Mediapro por apenas €275 M ano (65% abaixo do valor inicial) e foi inflexível com o Canal +. Exigiu o pagamento dos 330 milhões de euros ano pelas 3 épocas que ainda faltavam. O Canal + recorreu aos tribunais e perdeu, ficou a pagar quase 5 vezes mais por jogo que a Amazon. Revoltado, anunciou que não voltava a fazer ofertas pelos jogos da Ligue 1 no mercado doméstico.
No ciclo 21-24, os direitos no mercado francês já só valeram 605 milhões de euros, longe dos 748,5 milhões de euros que pagara o Canal + no ciclo 2016-20 (menos 19%).
«O tolo aprende com os seus erros, eu aprendo com o erro dos outros», Otto von Bismark
Em 2023, a Liga Francesa anunciou que o preço-base dos jogos da Ligue 1 para o ciclo 2024-27 eram os mesmos 800 milhões de euros de preço base de 2018. Repetiu o seu próprio erro, o que faz da Liga Francesa pior do que tola.
E decidiu reduzir a Ligue 1 de 20 para 18 equipas — o número total de jogos baixou de 380 para 306 (menos 20%). A falta de competitividade manteve-se, o PSG foi campeão como sempre, já são 11 vezes nas últimas 13 épocas, e agora até foi campeão a 6 jornadas do fim.
A Amazon já não fez proposta para este ciclo, o seu interesse no futebol para aumentar a sua base de subscrições era apenas por um período curto (e barato). Sozinha no mercado, a DAZN acabou por comprar por apenas €400 M ano, 8 dos 9 jogos por jornada: o outro é da BeIN que paga €100 M por ano.
Começou em julho a primeira época da DAZN e, dois meses depois, faz saber que só tinha 100.000 subscritores e o acordo com a Ligue 1 previa que tivessem 1 milhão.
Em fevereiro, só pagou 50% dos €70 M a que estava obrigada. A Liga Francesa recorre a tribunal. Em resposta, a DAZN processou a Liga francesa em 573 milhões de euros, por considerar terem sido empoladas as expectativas comerciais, não ter sido feito o suficiente para combater a pirataria e não ter garantido o acesso dos seus jornalistas a conteúdos exclusivos.
A DAZN só quer pagar €90 dos €140 M a que está comprometida até ao fim da época (menos €50 M) e ameaça desistir dos direitos das próximas épocas, a não ser que a Liga Francesa renegoceie o valor em baixa.
Em 2019, o Canal + pagava pontualmente 748,5 milhões de euros época pelos direitos TV em França e era o parceiro da Liga Francesa há 36 anos...
«Na Estratégia, decisiva é a aplicação», Napoleão
O Canal + para poder abdicar dos direitos TV da Ligue 1 comprou a Champions League por 480 milhões de euros ano para o ciclo 24/27. O valor destes direitos cresceu 28% (era de €375 M ano em 21-24).
Como conteúdo desportivo local, apostou no Rugby e garantiu os dois campeonatos profissionais (TOP14 e a PD2) até 2031, por €140 M ano. Pelo ciclo 2027-2031 aumentou 14,7% o que pagava até 2026. Agora, em França, o Rugby já disputa o título de desporto-rei com o futebol.
Há pouco mais de um mês, o L'Équipe publicou manchete inesperada: «Desde o início desta temporada, as audiências da seleção francesa de rugby são superiores às da seleção francesa de futebol.» Pelo famoso Torneio das 6 Nações são pagos 100 milhões de euros ano! São 18 jogos, e a seleção francesa disputa apenas 5.
Os direitos TV do torneio de ténis de Roland Garros são 150 milhões de euros ano. E o Tour de France só vale 24 milhões de euros ano, porque o proprietário da prova desde sempre considerou que o seu valor resulta de ser transmitido em aberto, o que permite fazer mais 125 milhões de euros ano em receitas comerciais e com os acordos com os municípios para a partida e chegada das etapas.
«Os que são prudentes e humildes, raramente tropeçam», Confúcio
Os operadores de telecomunicações são os parceiros do futebol português desde 1998, há 27 anos. Durante a paragem Covid, apesar de não terem tido receitas durante mais de três meses, não descontaram um único tostão ao valor do contrato dos clubes.
Em Portugal, hoje, só o futebol é relevante para efeitos de audiências, mas as novas gerações já seguem muito o Rugby, a NBA, a NFL, a Fórmula 1 e o Moto GP.
Os clubes portugueses contam apenas consigo e os seus históricos parceiros. Desde 2012 que já não têm acesso a financiamento bancário, nem sequer factoring de faturas para gestão de tesouraria.
Se o dinheiro da televisão se atrasar um mês, como vão resolver? Como vão explicar aos trabalhadores que não conseguem pagar o seu salário? E aos jogadores? E à polícia, que só aparece se for paga antes do jogo? E a tantos outros fornecedores? São várias as equipas da Primeira Liga cuja receita dos direitos televisivos representa mais de 50% do total das receitas.
É que depois do caso francês, e até já tinha havido um semelhante em Itália, devem evitar encantar-se por aventureiros a prometer milhões.
«É inútil conhecer a lei sem conhecer as pessoas para quem ela foi concebida», Justiniano
Os portugueses têm todos algo em comum com Cristiano Ronaldo — gostam de ganhar. O CR7 trabalha arduamente para isso, em contrapartida, os portugueses sabem, como ninguém, ser de quem ganha.
Não é só no futebol, na política todos reconhecem a importância de ser o partido favorito no dia das eleições. Uma percentagem relevante de portugueses decide o voto em função de quem acreditam que vai ganhar as eleições — e passam a noite no sofá a saborear a sua vitória.
Os adeptos portugueses não querem ver jogos disputados, muito menos competições disputadas. Só são do seu clube porque ele ganha. Se o clube estiver numa má fase, não vão ver os jogos, e se sentirem que um jogo está perdido, vão-se embora do estádio antes do fim.
Se 90% dos adeptos só são do seu clube porque ganha quase sempre, como é que se vai centralizar para introduzir competitividade e incerteza?
O Arouca recentemente empatou com o Benfica. No final do jogo, ouviu falar de algum jogador do Arouca? Do treinador do Arouca? Do Arouca? 
No futebol português, o mais pequeno é ignorado, exceto quando é enxovalhado.
«Só é rico quem não precisa de mais», Cícero
Mesmo que a centralização tivesse como objetivo esbater as diferenças entre os clubes isso é totalmente impossível.
Em 2024, o Real Madrid teve €1.045 M de receita e o Benfica €224 M (4.5 vezes menos). Apesar de ter sido o primeiro clube na história do futebol a atingir os 1.000 milhões de euros de receita numa época, o Real Madrid continua numa busca incessante pelo crescimento de receitas. É a fórmula mágica de Florentino Pérez, quem tem mais dinheiro, ganha mais vezes a Champions League.
O V. Guimarães, o 4.º maior clube português, teve €24,5 M de receita, quase 9 vezes menos que o Benfica — é o dobro da diferença do Benfica para o Real Madrid.
Há vários clubes na Primeira Liga que têm €5 M ano de receitas, pelo que têm 45 vezes menos receita que o Benfica — a diferença para o Benfica é 10 vezes maior que a do Benfica para o Real Madrid.
Aumentar os direitos TV para €500 M ano é impossível, pelo que se a competitividade a 18 é irrealista, tornar muito mais forte o Vitória de Guimarães é o melhor contributo possível para melhorar o ranking de Portugal na UEFA, o que beneficiará os 3 maiores.
Se os livros de Asterix fossem sobre os Romanos e o futebol português, Guimarães era a aldeia portuguesa e os Vitorianos o povo que lá vivia. Em Guimarães nasceu Portugal, no Vitória deve renascer o futebol português.
A centralização deve permitir ao Vitória de Guimarães e ao SC Braga aproximarem-se dos 3 maiores, e permitir à nova classe média alta do futebol português competir na Liga Conferência. Famalicão, Santa Clara, Rio Ave, Gil Vicente e Estoril substituíram a antiga classe média alta (Belenenses, Boavista, Marítimo, Académica de Coimbra e Vitória de Setúbal).
«Não há ventos favoráveis para quem não sabe para onde vai», Séneca
A centralização deve ter como principal objetivo garantir o futuro do futebol português. Temos de aumentar exponencialmente as audiências dos jogos do futebol português, em particular dos mais novos e na África Lusófona, o que vai gerar muito maiores receitas comerciais. Precisamos investir em infraestruturas e ter muito mais mulheres e crianças nos estádios, apenas possível se melhorar a experiência e a segurança dos adeptos no dia de jogo.
A formação de jogadores tem de manter a qualidade, mas tem de aumentar muito a quantidade de jogadores formados em Portugal, deixando de ser monopólio de meia dúzia de clubes. Todos os outros, em vez de formarem jogadores, esgotam os recursos a cumprir burocracia estúpida e inútil, imposta como pretexto para justificar um milionário negócio privado de certificação da formação.
Sobre a formação de elite, uma reflexão adicional. Não seria considerado trabalho infantil, se um miúdo com 13 anos saísse de casa dos seus pais e fosse viver sozinho para uma academia instalada numa fábrica têxtil ou de calçado? Mesmo que gostasse? Mesmo que fosse à escola de manhã, e só estivesse a aprender o ofício à tarde? Mesmo que fosse pobre e a fábrica pagasse uns trocos à família? E lhe desse alimentação e cama lavada numa camarata? Como a minha mãe, que tem hoje 84 anos, começou a trabalhar aos 6, sei bem que isto é trabalho infantil e é aquilo que mais me angustia no futebol português. Como o Estado não quer saber destes miúdos, a não ser para tirar fotografias na celebração dos êxitos, tenho esperança de que os clubes se autorregulem rapidamente.
«Não há nada mais difícil ou perigoso que liderar uma mudança», Maquiavel
Pedro Proença, em 2015, depois de ganhar as eleições da Liga de Futebol Profissional, anunciou que a Liga ia ter como objetivo a Centralização dos Direitos Televisivos – se o tivesse dito antes das eleições, tinha perdido.
O decreto-lei Nº 22B/2021, determina expressamente que a proposta tem de ser entregue ao governo pela Federação e pela Liga, pelo que Pedro Proença tem a mesma responsabilidade no processo hoje que tinha quando era presidente da Liga.
Reinaldo Teixeira, o novo presidente da Liga Portugal, começou muito bem o seu mandato ao afirmar, no discurso de tomada de posse, que tínhamos de aprender com o caso francês e que ia trabalhar com todos os clubes e não apenas com os 81% que votaram nele.
A relação entre os dois, vista de fora, é excelente. Mesmo que fosse má, seria irrelevante, porque o interesse dos dois é rigorosamente o mesmo, e não há alianças mais fortes que as forjadas no interesse.
Os dois, vão ficar na história do futebol português. Como os presidentes que criaram a Premier League em 1992? Ou como o Didier Quillot e Vincent Labrune?"

Pre-Bet Show #132 - Temos Palpites Para a Final da Champions (E Pode Valer Um Bigode 😰)

DAZN: The Premier Pub - Especial com Rúben Dias e Josko Gvardiol

SportTV: NBA - S03E29 - Uma luta muito divida pelo titulo

Zero: Douglas...

DAZN: Paddock #3