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sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Peça de teatro

"Mesmo sem o nível artístico de 'O Mentiroso' de Goldoni, 'O Siciliano' de Molière, ou 'O Homem, a Besta e a Virtude' de Pirandello, assistimos na passada semana a uma peça do mais grotesco teatro que o futebol nos proporcionou ultimamente.
Necessitando urgentemente de diluir a nuvem mediática causada pelo sistemático favorecimento das arbitragens (bem como o efeito da revelação de novas escutas do processo 'Apito Dourado'), o gabinete de comunicação do FC Porto gizou uma estratégia clara: fazer do jogo de Guimarães um momento de catarse e redenção, onde o clube teria, enfim, razões de queixa, e poderia beber o sumo de uma vitimização capaz de mistificar tudo o que havia passado antes, colocando-o no mesmo plano daqueles que tinham efectivos (e graves) motivos para reclamar. Basicamente, voltando ao teatro, tratava-se de tentar - de forma tosca - transformar uma besta numa imaculada virtude.
O actor principal falhou redondamente, mas, diga-se, o papel não era fácil. Tudo poderia correr bem aos intentos da trupe se, efectivamente, por uma vez, o FC Porto tivesse sido prejudicado pelo homem do apito. Se, por uma única vez, tivesse um pingo de fundamentação para os seus lamentos. Não teve. O encenador equivocou-se, deixando o protagonista sozinho no palco a berrar contra todas as evidências, expondo-se ao ridículo e à chacota generalizada. É caso para dizer que o teatro das Antas já viu melhores dias.
Reconhecer o erro fica sempre bem. Mas este caso, mais do que corroer (quem sabe irreversivelmente) a imagem do treinador do FC Porto, desmascarou a forma como, por aquelas bandas, se confunde a realidade com a ficção, a verdade com a mentira, a indignação com o embuste.
Houve penálti em Guimarães, sim, mas cometido por Fucile, que até acabou por ficar em campo demasiado tempo face às infracções que, ao longo do jogo, foi cometendo. Houve influência da arbitragem, sim, mas (uma vez mais) a favor do FC Porto, que só assim (como em tantas outras ocasiões) evitou a derrota."

Luís Fialho, in O Benfica

Coisas azuis

"Percebeu-se ou não quanto custou (meia) adversidade do FC Porto em Guimarães? Até deu para um treinador histérico descortinar um penálti-que-não-era num penálti-que-era, mais tarde um penálti-que-já-não-era-outra-vez. Até deu para revelar miopia em relação a um penálti-que-era-mesmo, só que favorável à turma vimaranense. Lembram-se das primeiras jornadas da Liga? Dos sucessivos erros de arbitragem que quase empurraram o Benfica para o fundo da tabela? Muitos dos nossos detractores vieram a terreiro sustentar que a revolta vermelha mais não era do que o mau perder. Com erros escandalosos? Enquanto outros, sobretudo o FC Porto, eram brindados com não menos escandalosas generosidades dos homens do apito?...
A fanática cultura portista não muda. Até comentadores televisivos abandonam programas directos, agastados com uma agenda menos simpática. Até dá para ouvir, pela enésima vez, com o seu habitual desplante, um dirigente a questionar desempenhos arbitrais, o mesmo que é o principal protagonista, a julgar pelas conhecidas escutas telefónicas, de anos ininterruptos de viciação da verdade desportiva nas competições nacionais.
Aproxima-se o jogo do Dragão. Noutros tempos, o destino do Benfica estava traçado. A situação mudou? Mudou, mas mudou pouco. Ainda assim, mudou o bastante para que o resultado não possa ser anunciado previamente. Aguarde-se, sem reservas, um ambiente explosivo. Mas aguarde-se, também sem reservas, a explosiva razão da verdade, da verdade benfiquista."

João Malheiro, in O Benfica

A coragem, Pilatos, avestruzes e cúmplices

"Não é a primeira vez que, publicamente enalteço atitudes e posições de cidadãos, não benfiquistas e crítico correligionários clubistas.
Quero, deixar aqui, a minha admiração pelo carácter e coragem com que o cidadão Jorge Gabriel, sportinguista, escreveu a sua crónica num dos jornais desportivos nacionais, diário, a propósito das famigeradas escutas.
Sem medo de escrever, 'nojento' é o teor das escutas e não o acto das mesmas, ajudou a engrossar a coluna dos que fazem, da seriedade, da verdade e da verticalidade, não simples figuras de retórica, mas uma prática, da qual a sua defesa faz parte, seja em que circunstância for.
Ao contrário de outros, que lamentavelmente, fazem como Pilatos ou, em casos piores, fazem como o avestruz:-Não é nada comigo, não é nada comigo! Jorge Gabriel toma as rédeas da pena pelo seu pensamento e não pactua com a enxovia e a pocilga em que o futebol português e a vida nacional em geral se transformou nos últimos 30 anos.
É vergonhoso que alguém discuta a forma como são descobertos crimes em vez de conteúdo e teor dos mesmos.
Triste País, onde uma verdade, ignóbil passa incólume e se defende a contravenção com o argumento 'do respeito, pela privacidade das pessoas'. Chegamos portanto à conclusão que quem foge aos impostos tem direito à sua privacidade, tal como um ladrão ou um assassino, afinal de contas tudo isto são actividades íntimas, que não devem chegar ao conhecimento popular. Barroso, Ferreira, Costa, Moreira, Pôncio, Ernesto, Aguiar estão 'chocados' por se escutar. Os portugueses a sério como o Jorge Gabriel estão em estado de choque, com o que lá se ouve e o país está perdido."

António Melo, in O Benfica

Objectivamente (ilusionistas)

"O alarido que se passa no Porto!... O que é que deu naquela gente para tanto histerismo? Estão piores que as peixeiras do mercado do Bulhõõuêê!!! E tudo por causa de um empate no campo onde o Benfica foi roubado de forma vergonhosa pelo conhecido Olegário?!
Oh! Mas não vale a pena chorarem tanto por causa de um pontinho ou será que o medo é tanto que a meta de Janeiro não contava com este bónus?!
Falando mais a sério, tudo isto preocupa muito. Estas reacções do PC e do acólito Villas Boas são de um desespero atroz! Não contavam com este deslize. Estavam convencidos da sua invencibilidade e queriam ir por aí fora no andor - a que treparam na Figueira da Foz - para só pararem na final da Taça de Portugal porque foi esse o objectivo do 'milionésimo FêCêPê'! Arrasar tudo e todos. Ganhar de qualquer maneira à moda antiga! Objectivos traçados que eles desejam ver cumpridos mas que terão forte oposição por parte do campeão nacional.
No jogo frente ao Braga, o SLB demonstrou que está de regresso à dinâmica que lhe deu o título na época passada. Por isso a fé duplicou com o regresso às vitórias importantes!
Nunca nada nem ninguém consegue demover a fé benfiquista. Aquela que lhe construiu uma história bem recheada de títulos e de vitórias justas!
O Sport Lisboa e Benfica nunca precisará de reclamar favores dos Xistras, dos Olegários ou dos Soares Dias!
Aquilo que nos resta perante tamanha falta de lucidez é lutar com mais ardor ainda pelas vitórias e pelos pontos.
Mas devemos estar preparados para assistir a manifestações como a que vimos em Guimarães, porque é sinal de que os ilusionistas de vez em quanto são apanhados nas malhas da sua arrogância!"

João Diogo, in O Benfica

Uma questão de atitude

"O novo seleccionador nacional, Paulo Bento, exigiu aos jogadores seleccionados 'atitude'. É uma palavra oportuna e mobilizadora, embora queira dizer tudo e não queira dizer nada. Eu, porém, faço questão de a entender de uma forma afirmativa e motivadora. Quem toma uma atitude, vai muito mais longe do que o patamar da comtemplação e da resignação, dizendo não ao mero cruzar de braços como sinal de conformismo.
Reconheço com Paulo Bento essa interpretação da palavra 'atitude'. Ele quer os jogadores a darem tudo por tudo, a arriscarem tudo e a irem à luta com determinação e estoicismo. E já que estamos a comemorar o Centenário da República, que haja, da parte de quem tem honra de defender e representar as cores nacionais, brio bastante para estar à altura de quem, há 100 anos, marcou indelevelmente a História de Portugal.
Mas voltemos ao sentido e à força da palavra 'atitude'. Penso nos jogadores do Benfica e sinto que ela está presente na prestação semanal de praticamente todos os que entram em campo. Mas permito-me destacar dois, pela sua fibra, profissionalismo e combatividade, convicto de que, citando-os, não excluo ninguém mas exalto e que os melhores têm de melhor. Falo de Fábio Coentrão e Carlos Martins, ambos convocados para a Selecção Nacional. São dois excelentes exemplos de 'atitude' pela forma empenhada e generosa como estão em campo, não se furtando às situações de risco, não temendo os embates mais duros, nunca perdendo a baliza de vista e tendo a consciência clara de que o jogo só termina quando o árbitro dá o apito final. Aí estão dois excelentes exemplos de 'atitude'. Haverá que isso só acontece porque atravessam um óptimo momento de forma, Mas é muito mais do que isso. Há quem ponha o coração no relvado e quem ponha só o talento, os músculos e a técnica. Quem põe o coração chega mais facilmente ao coração de quem assiste, aplaude e torce pela vitória."

José Jorge Letria, in O Benfica

Todos na paz benfiquista

"Não se fala no Benfica ou pouco se fala? Consequência de uma série de resultados positivos. Positivos e justos. A equipa está de novo na senda vitoriosa, nem outra coisa seria de esperar. Agora, já não se questiona Roberto, já não se discute David Luiz, já não se debate Cardozo, já não se analisa Jorge Jesus. Agora, já não se discutem opções, métodos, conceitos.

Ainda assim, não é possível esquecer os erros, alguns de palmatória, das equipas de arbitragem que dirigiram os primeiros embates da equipa encarnada. Não fosse uma sucessão de disparates e o Benfica estaria, no mínimo, colado ao líder da competição. Houve quem se insurgisse contra o alarido que o clube fez? E não se ouviram altissonantes as angústias do treinador e de outros responsáveis portistas só porque empataram em Guimarães? Até deu para ver (?) um penálti que não foi, até deu para um número pouco usual na atualidade desportiva, esse do dito por não dito…

Entretanto, a Seleção Nacional fez o pleno. Dois bons jogos, duas importantes vitórias na fase de qualificação. Também com a contribuição de uma dupla benfiquista. Fábio Coentrão, opção reiterada, é tão indiscutível como a própria… Seleção. Já Carlos Martins provou a justeza da sua convocatória. Não deveria ter integrado o lote dos jogadores que se deslocaram, em junho, à África do Sul? Penso que ninguém tem dúvidas, a despeito das suas preferências cromáticas no universo da bola. Paulo Bento não duvidou e fez bem.

Mais Benfica na Seleção resulta em melhor Seleção. Também outros combinados nacionais continuam a beneficiar do concurso de futebolistas benfiquistas. O caso de David Luiz, na canarinha é paradigmático. Está ou não ali o melhor central do Mundo a breve trecho?"
Luís Seara Cardoso, in Record