Últimas indefectivações

quarta-feira, 15 de abril de 2020

Recordações: Veloso...

Golo: Jonas...

Real Madriz

"1. Quero muito o regresso do futebol, não acredito nada no regresso do futebol. Não é contradição, é realismo. Como disse um famoso virologista esta semana- «O futebol é o problema secundário mais importante do mundo».
2. Mesmo à porta fechada, a organização de um jogo envolve no mínimo 100 pessoas (os alemães estimam mais de 200). E no campo andam 22 jogadores em permanente contacto. Fazem testes, ok, mas quantas vezes tem acontecido alguém com sintomas dar negativo num dia para dar positivo no outro? Ou seja, já tinha o vírus mas não acusou. E no entretanto...
3. Quando um jogador for infectado (vai acontecer), toda a equipa terá de ficar em quarentena porque contactou com ele. O campeonato segue? Um infectado não é um azarado lesionado.
4. Como vão os jogadores festejar golos com gente a sofrer e a morrer em todo o mundo? E quando houver campeões, haverá polícias suficientes para evitar as celebrações nas ruas?
5. O futebol já tem as mãos sujas de sangue pelas bombas biológicas em jogos da Champions e insiste em ser lanterna quando não há luz ao fundo do túnel. Algo vai mal quando acabar um campeonato parece tão importante como descobrir uma vacina.
6. Disse um dia o treinador Javier Aguirre: «Os três avançados estavam com cara de cu no banco, por isso meti-os a jogar». A UEFA não pode meter os clubes a jogar porque estão com cara de cu por não receber o dinheiro da TV.
7. Continua a discutir-se em França a realização do Tour à porta fechada, ou seja, sem público. Mais insólito só mesmo um Tour sem doping.
8. Ponto alto do último fim de semana: a polémica no Juventus de Manágua-Real Madriz (é mesmo assim), na Nicarágua. Quem não tem bife do lombo caça com pastilha elástica.
9. No momento em que escrevo não há jogos da Liga em Portugal há 1 mês, 5 dias, 12 horas, 55 minutos e 47 segundos. Mas quem está a contar?"

Gonçalo Guimarães, in A Bola

Jogadores Que Admiro #116 – Óscar Cardozo

"Voltamos a 2007. Aterra no aeroporto de Lisboa Óscar Cardozo, a mais recente contratação do SL Benfica.
O gigante (1.93m) avançado paraguaio apresentou-se à frente de um batalhão de jornalistas, com um estilo mais similar ao de um segurança de discoteca do que propriamente a um futebolista. Totalmente vestido de preto, com óculos de sol e com uma atitude de quem não se preocupava muito com os jornalistas.
O andar desajeitado e a elevadíssima estatura preocupavam os puristas do futebol “espectáculo”. Cardozo chegava do campeonato argentino (Newell’s Old Boys), onde era reconhecido como um matador e finalizador de área.
O rótulo não saiu barato aos cofres encarnados. O SL Benfica pagou perto de 12 milhões de euros para adquirir o passe do paraguaio. As primeiras palavras de Cardozo foram muito objectivas: “Sirvam-me bem que eu resolvo na área”. E resolvia mesmo.
O paraguaio chegou à Luz numa altura difícil para o clube encarnado. O panorama do futebol nacional era dominado pelo FC Porto, a hegemonia azul e branca não parecia ter fim à vista.
Na primeira época do “Tacuara” em Portugal, o SL Benfica terminaria o campeonato num terrível quarto lugar, atrás de FC Porto, Sporting CP e Vitória SC. A segunda temporada teve um fim semelhante, desta vez os encarnados terminaram no terceiro lugar, atrás dos dois eternos rivais.
Os golos do paraguaio iam convencendo parcialmente as bancadas do Estádio da Luz, mas o seu comportamento dentro de campo atraía muitas críticas. O desejo dos adeptos em assistir a um futebol de pressão, de ataques rápidos, de fintas vertiginosas contrastava com a lentidão, falta de esforço e a primeira impressão de “tosco” (com muitas aspas) que o avançado transmitia.
Cardozo era o que era. Tacuara, a sua alcunha, é em castelhano uma espécie de bambu. O bambu é uma planta simples, grande, resistente, muito flexível, mas que é, no entanto, muito forte e de excelente qualidade. Cardozo era isso mesmo.
Com a chegada de Jorge Jesus, o rendimento do internacional paraguaio disparou. Foi a melhor época de Cardozo no Benfica, época onde atingiu uns impressionantes 38 golos.
Apesar do sucesso dos encarnados e das boas prestações de Cardozo, o paraguaio continuava a ser “patinho feio” da equipa. Era bastante comum ver o jogador a ser assobiado e aplaudido de pé no mesmo jogo. Raro era o benfiquista que apenas gostasse de Cardozo, a maioria ou idolatrava ou odiava o avançado. Discussões sobre o seu rendimento era o que mais abundava nas bancadas do Estádio da Luz.
Apesar da sua elevada estatura e das “dificuldades” de movimentação, Cardozo era um jogador de uma classe absurda. O golo em Leverkusen, onde com um toque sublime tira da frente o defesa e de seguida pica a bola por cima do guarda redes, é expoente máximo da sua qualidade.
Cardozo era isto mesmo. A capacidade que tinha para fazer tanto com tão poucos toques na bola, era absolutamente impressionante. Exibições lendárias como o hat-trick frente ao Sporting CP ou o bis frente ao Fenerbahçe SK imortalizarm a sua qualidade enquanto marcador de golos (os 13 golos apontados ao Sporting CP também ajudaram certamente).
Durante um jogo colectivamente mau, Cardozo aparecia como uma luz ao fundo do túnel. Mesmo estando completamente “fora do jogo” o paraguaio tocava uma vez na bola: e fazia golo.
Quase como um ilusionista, Cardozo transformava os assobios em aplausos e gritos de golo. A tristeza e raiva em alegria.
Cardozo era sinonimo de golo. 22, 17,38,24,28,33 e 11. Foram estes os golos de Cardozo nas sete épocas em que esteve ao serviço do Sport Lisboa e Benfica. Estes números foram mais que suficientes para “pulverizar” o recorde de Mats Magnunsson como o melhor marcador estrangeiro do SL Benfica (Cardozo ultrapassou o sueco logo em 2011).
Todos os anos chegam e partem jogadores de enorme qualidade a Portugal, mas creio que nenhum avançado moderno provocou tanto medo aos adversários. Cardozo teve a longevidade que Falcão não teve em Portugal. Cardozo era decisivo nos grandes jogos, como muitas vezes Jonas não era. Não teve as lesões graves de Jackson Martinez. Teve o palmarés que Liedson nunca conseguiu alcançar.
O Tacuara era, como proclamavam os adeptos encarnados, perigoso. O paraguaio foi um dos grandes ídolos de uma geração, que se obrigava a jogar nos recreios com o seu (maioritariamente tosco) pé esquerdo para imitar as proezas do gigante.
Cardozo foi um dos jogadores que mais dividiu a massa associativa do SL Benfica. Contudo será sempre um dos nomes marcantes na grande história dos encarnados. 173 golos em 292 jogos. Dois campeonatos nacionais, cinco Taças da Liga e uma Taça de Portugal."

Benfica de Quarentena #38 - Ricardo Gomes

Made In Benfica #1 - Tiago Dantas

Mensagem da capitã do basquetebol, Dora Duarte

"Como tem sido destacado vezes sem conta, cabe a cada um de nós ser um agente de saúde pública. Não posso deixar de usar este espaço para vos pedir encarecidamente que fiquem em casa e só saiam quando for absolutamente necessário. Protejam-se a vocês e aos vossos.
Para além desta, que é nossa obrigação, gostava de destacar que nós – atletas, treinadores, professores de educação física ou simplesmente amantes do desporto – podemos assumir também um papel fundamental na nossa comunidade durante este período. Cabe-nos motivarmos as pessoas mais próximas a fazerem exercício físico!
Como atletas, temos conhecimentos e experiências que podem ser usados em prol do bem-estar de outros. Os benefícios psicológicos do exercício físico parecem-me cruciais num período em que estamos confinados em casa. Para além disso, fazer exercício contribui para o fortalecimento do sistema imunitário e é este que nos ajuda a combater o vírus.
Quanto mais fortes estivermos mental e fisicamente, maior a capacidade de enfrentarmos circunstâncias adversas, hoje, e no futuro. E, por falar em futuro, gostaria que no final deste período todos tivéssemos coisas boas a recordar. Não se deixem entregar a pânicos ou tristezas. Aproveitem para parar, pensar e reajustar aspectos nas vossas vidas. Quanto à minha experiência pessoal... Como calculam, tem sido desafiante. Não é fácil estar em casa sem saber como a minha vida no trabalho vai ser afectada ou quando poderei voltar a pegar numa bola de basquetebol e entrar no pavilhão. O que tem resultado, para mim, é delinear tarefas para fazer durante o dia. Entre elas, por exemplo, destralhar a casa, fazer a minha rotina de exercício e ver as notícias na televisão (o veículo de informações mais fiável neste momento!). Existem muitas coisas para fazer em casa. Para além disso, as iniciativas que circulam online são imensas e mais uma vez fica demonstrada a solidariedade dos portugueses. Entre aulas de latim, concertos online, vídeos de exercício físico, existem dezenas de coisas que podemos fazer para nos mantermos sãos e unidos!

Dora Duarte"

Retomar o campeonato: as decisões quase impossíveis

"Há bons argumentos de todos os lados. Parece óbvio que a ideia é retomar o campeonato, mas como abordar um cenário tão extremo e improvável como este?
Difícil missão terá a Liga para encontrar uma solução para os campeonatos. A situação é complexa e nova, não há “jurisprudência”, e, portanto, admito que não gostaria de estar nos sapatos de quem terá que decidir. Parece começar a desenhar-se um regresso à competição dentro umas seis semanas, existem também (e bem) planos de saúde já delineados. Mas tudo pode mudar em poucos dias, e preparemo-nos para as grandes discussões. Porque, realmente, não será fácil.
Por um lado, jogos sem adeptos podem não fazer grande sentido - como Guardiola, por exemplo, até já apontou. Mas, por outro lado, parece previsível que será impensável promover eventos com grandes aglomerados de pessoas nos próximos tempos, e aí torna-se impossível abrir os estádios… por uma questão de saúde. E os clubes vão jogar no seu estádio? Ou concentram-se nos mesmos estádios? E desportivamente, que impacto é que isso terá? Um jogo com público é o mesmo que um jogo sem público? Filosoficamente, vale a pena promover um espectáculo desportivo sem gente a assistir ao vivo? Tudo pontos pertinentes, sim.
Ao mesmo tempo, a questão financeira. Imagino que os vários agentes envolvidos - clubes, empresas patrocinadoras, detentores de direitos de transmissão, e por aí fora - tenham todos os motivos económicos para quererem um regresso das provas, «dê por onde der», porque sem jogos não há receitas, e sem receitas não há coisa nenhuma. Mas, mais uma vez, o outro lado existe: será válido colocar os futebolistas - para todos os efeitos, trabalhadores e cidadãos como todos - no meio desse eventual risco? Principalmente quando sabemos que há casos assintomáticos invisíveis, etc?
Um jogo pode colocar dezenas de profissionais em risco. Que, por sua vez, podem vir a colocar dezenas de pessoas em risco. É verdade que isto está previsto pelos médicos dos clubes. Mas… e se houver um falso negativo? Um assintomático? Repito: difícil decidir, claro.
A vertente desportiva. Por aí não vale a pena entrar, já percebemos que haverá uma divisão insanável entre os que querem que o campeonato acabe agora (os clubes que estão dentro dos objectivos, entre título, Europa e descida), e os que vão querer que se jogue o mais possível (os clubes que não estão dentro dos objectivos, entre título, Europa e descida). E esta discussão será interminável, com argumentos e pareceres de ambos os lados. E, também por aí, se percebe a dificuldade das próximas semanas.
Ou seja, isto até pode parecer um artigo sobre coisa nenhuma, sobre tudo o que é possível e o seu contrário. Reconheço-o. Porque eu, pessoalmente, não consigo chegar a conclusão nenhuma. Acho que há pontos válidos de todos os lados, e daí seja tão difícil resolver isto. Dentro de algumas semanas, teremos seguramente muitas opiniões sobre a decisão tomada e sobre a forma como o campeonato será jogado (ou não) até ao final. Mas, sejamos justos: é mesmo difícil resolver isto."

O alarme italiano

"Infelizmente, por razões já largamente dissecadas, chegou-se a uma situação catastrófica. Com o futebol em quarentena, os prejuízos contabilizados são já de vária ordem e de monta. Há por aí, de sobra, teorias sobre o regresso do futebol aos relvados.

uns que arriscam mais do que outros, mas todos tendo sempre em conta aqueles que despontam como os seus interesses. Legítimos, mas interesses.
Infelizmente, por razões já largamente dissecadas, chegou-se a uma situação catastrófica. Com o futebol em quarentena, os prejuízos contabilizados são já de vária ordem e de monta.
Nem sequer valerá a pena repetir os lamentos que se ouvem num caudal imenso, por se conhecerem os danos e, ainda mais, outros tantos que se adivinham. E a pergunta que se coloca todos os dias, de forma angustiante, tem a ver com a dúvida sobre o regresso.
Há já, naturalmente, quem aponte caminhos para que tudo volte ao normal, e até alguns, poucos, que já deram o mote através de uma tímida actividade, que pretende constituir-se num sinal para os mais renitentes em avançar com projecções desmesuradas.
Contabilizando os efeitos da pandemia que chegou a todos os países, parece ser arriscado imaginar que nos próximos meses possamos ter competição a sério, tal como a conhecíamos há poucos dias: os receios sentem-se e veem de todos os lados.
As posições contrastantes assumidas por diversos responsáveis são a melhor imagem de que vai ser muito difícil chegar a um consenso tão rápido quanto desejável. E houve até quem entendeu lançar para a confusão reinante uma ideia explosiva, que a ser levada a sério, causará ainda maior perturbação.
Ontem, das parcas notícias sobre futebol, ressaltava uma declaração bombástica da Senhora Sandra Zampa, Sub-Secretária do Ministério da Saúde da Itália. Transcrevemos: “Vejo o regresso do futebol muito difícil, e penso que esse debate não é, neste momento uma prioridade. E, com isso, também penso que nada de catastrófico acontecerá ao futebol. Só voltaremos a ver estádios cheios quando existir total segurança, e quando existir uma vacina.”
Vinda da Itália, esta declaração assume importância sobretudo por se saber que aquele país é uma das maiores potências do futebol mundial. E pelo menos numa coisa deve ser dada toda a razão àquela responsável do governo italiano: o debate, tão acidulado e cheio de contrastes como o conhecemos sobre o regresso do futebol não é, neste momento, uma prioridade."

Músicas Gloriosas!!!

BTV em casa II

Bernardo no B/R

BnR - João Tomás

Benfiquismo (MDIII)

Do Futebol às Touradas...!!!

Não vá. Telefone! - Svilar

Leis do futebol: o que muda e o que não muda

"Não se aproveitou a oportunidade para um aspecto fundamental do VAR: a comunicação com o árbitro de campo poder ser ouvida

1. Foram conhecidas as alterações às leis do jogo de futebol para a próxima temporada. Em A Bola de sábado passado, Duarte Gomes explanou, com clareza, as mudanças, a sua razão de ser e as consequências que delas poderão advir. Do seu oportuno texto pude concluir que todas elas se justificam, ainda que eu as considere timoratas. De facto, organismos mundiais que tutelam o futebol mantêm uma atitude excessivamente conservadora, embora compreenda que não se devam precipitar e funcionar como câmaras de ressonância do actualismo puro e duro.
De todas as alterações, sublinho duas: a primeira - que já tardava - tem que ver com a definição futebolística de «mão na bola», que nunca coincidiu, aliás, com a anatomia da dita. Nela se inclui, como é óbvio, o braço e o antebraço, sendo agora convencionado que o braço no «limite inferior da axila». Assim sendo, o ombro passou a não ser punido, o que, convenhamos, sempre foi uma hiperbolização anatómica da mão e uma exageração de o incluir no braço. Como, para qualquer regra, é quase impossível determinar os limites do limite, imagino já a discussão que vai haver sempre que o esférico bata parcialmente no ombro e no agora independente braço. Será que, nestes casos, se vai aplicar a regra dos limites da linha de golo, ou seja que só será ombro se a bola ultrapassar totalmente o confinamento do braço? E como será quando o jogador da equipa infractora tiver os ombros descaídos?
O segundo ponto, que aqui realço, está relacionado com a decisão de ida mais frequente (obrigatória mesmo?) dos árbitros ao monitor para visionar os lances com margem de subjectividade. Espero que, assim, termine a arbitrariedade arbitral, passo o pleonasmo, de se poder escolher quando se vai ou não vai, nem sempre com critério uniforme. Mas, como bem referiu Duarte Gomes, não se aproveitou a oportunidade para um aspecto fundamental do VAR, qual seja a de a comunicação com o árbitro de campo poder ser ouvida e sindicada. Estão à espera de quê?

2. Aproveitando a boleia destas novidades, e com a à-vontade de ser um mero e curioso leigo destas matérias, escrevo aqui sobre o que, neste domínio, tenho reflectido. Antes, porém, devo reforçar o que disse atrás, agora de outro modo: nem tão devagar, nem tão depressa. Reconheço que as mudanças devem ser analisadas, evitando, por um lado, o imobilismo incompatível com a importância desta actividade e a disponibilização de novas tecnologias de aferição, e, por outro lado, a pressa que anula o amadurecimento e a estabilidade necessárias para o futebol do novo século.
Selecciono, aqui e agora, apenas cinco pontos.
Começo pela magna questão do tempo de jogo jogado. Tenho cada vez mais dificuldade em perceber que o futebol, de tão marcante na sociedade contemporânea, continue a ter como um dos seus alicerces, alguma discricionariedade na contagem do tempo e algum favorecimento do antijogo. Quase todos os desportos colectivos têm contagem do tempo útil ou mais cedo, tal não venha a acontecer no futebol. O espectáculo melhoraria, a batota seria reduzida, não haveria tantos espaços mortos, a subjectividade do tempo não teria cabimento. Todos assistimos ao esplendor das tecnologias e das estatísticas de um jogo de futebol, do tempo de posse de bola até ao tempo e espaço percorrido por cada atleta. Então qual a dificuldade em medir o tempo efectivo de jogo, por exemplo, 30 minutos em cada parte? Não percebo tanta hesitação. Mas, já agora com a função do VAR, porque não começar, ainda que parcialmente, pela compensação exacta do tempo de paragem durante o escrutínio de uma jogada?

3. Um outro aspecto que aqui considero é o relativo ao fora-de-jogo. Tudo se esmiuçou, disse e escreveu sobre os limites a considerar pelo VAR e a ser sancionados pelo árbitro. Temos exemplos nacionais e estrangeiros de anulação de golos por offside de 2, 3 ou 4 centímetros. Sabemos que a distância entre um frame e o seguinte pode anular esses escassos centímetros. Temos todos presente o sempre invocado direito consuetudinário de que, em caso de dúvida, se deve favorecer quem ataca. Por isso, é incompreensível que não se tenha já avançado - ao menos como recomendação - que os limites para o fora-de-jogo fossem apenas contados a partir dos centímetros que a uma velocidade média do passe representem um só frame. Com tanta tecnologia à disposição não deverá ser difícil obter um consenso dos tais centímetros de 'terra de ninguém'. A partir dela, então compreende-se que tanto basta um centímetro, como dez, vinte ou trinta, para assinalar a infracção.

4. Quanto às substituições considero que, as contagem das três possíveis (quatro de houver tempo-extra), não deveriam ser incluídos os guarda-redes. Primeiro, porque é justo, pois que um guardião é um lugar muito especial, que não deveria ser substituído por um jogador de campo pelo facto de já se terem esgotado as substituições possíveis. Segundo, porque seria, igualmente, uma forma de o treinador gerir o desempenho e eventual substituição, não limitado pelos numerus clausus determinado na lei. Por fim, poderia ter um outro aliciante: o de rodar mais os guarda-redes. Assistimos agora a plantéis com dois ou mais excelentes keepers, em que os não titulares passam uma época inteira no banco ou em casa, o que além de ser frustrante é também caro para os clubes. E talvez visse a contribuir para diminuir uma prática ora em voga - que eu nada aprecio - de ter um jogador para umas competições e outro (pouco rodado) para outras.

5. Voltando ao VAR, porque não alargar a sua função às expulsões por segundo cartão amarelo? Caso tal acontecesse, o VAR deveria revisitar o primeiro amarelo e apreciar o segundo imediatamente mostrado antes da cartolina vermelha. E, se fosse o caso, chamar a atenção do soberano árbitro para eventuais injustiças, lapsos ou erros deste.

6. Por fim, uma partida - que não fazendo parte das leis do futebol - teima em manter-se desde que foi iniciada há mais de 55 anos na Holanda e depois generalizada, pelo menos na Europa. Refiro-me ao desempate recorrente por maior número de golos marcados no jogo fora de casa.
Ao que li, a UEFA está desde o ano passado para decidir a abolição desta regra, mas, com a lentidão exasperante típica de organizações pesadas, burocráticas e demasiado conservadoras, nada aconteceu até agora.
Esta regra foi introduzida num tempo em que o futebol era muito diferente do que é agora. No plano das competições europeias, jogar fora de casa implicava viagens menos acessíveis e directas, desconhecimento das condições de treino, relvado, e outros aspectos operacionais do adversário, bem como a quase total ausência de adeptos seus. Na sua génese esteve também o objectivo de premiar mais o futebol ofensivo. Com o tempo, este critério subsidiário de desempate foi-se generalizado de uma maneira, aliás, incompreensível em competições do tipo campeonato ou em fases de grupo europeias.
Com a evolução das condições e o conhecimento detalhado de qualquer adversário, tudo mudou e jogar fora deixou de ser uma desvantagem notória. As razões apontadas desapareceram, a regra perdeu sentido e teve consequências negativas e contrárias à ideia do futebol ofensivo. Por exemplo, um empate 0-0, em casa, na primeira mão, passou a ser visto como um razoável resultado, o que não deixa de ser um desporto que vive da abundância de golos. Uma equipa a jogar em casa preocupa-se, por vezes, mais em não sofrer do que em marcar.
Acresce um ponto que sempre me pareceu injusto e enviesado. Havendo necessidade de prolongamento, a equipa forasteira está em vantagem pois vai jogar mais meia-hora com a possibilidade de golos que poderia valer a dobrar. E se bem verificarmos, na maioria destes prolongamentos, as equipas de cada jogam para passar o enfadonho tempo, pois sabem que um golo da equipa oponente é quase a 'morte do artista'. Pelo menos esta parte da regra, deveria ser abolida imediatamente. Aliás, ficou para sempre ligado ao futebol português quando o Sporting foi eliminado pelo Glasgow Rangers depois do empate 1-1 no tempo extra, apesar de ter vencido no desempate por penáltis que o equivocado árbitro consentiu. Outra história curiosa é da meia-final da Champions em 2003 entre o Milan e o Inter, tendo passado esta última equipa, embora com dois empates nos jogos 0-0, em casa do Inter e 1-1 em casa do Milan. Acontece que o estádio das duas eliminatórias era (e ainda é) o mesmo, San Siro.
Por cá lembro uma situação contrária. No campeonato de 1977/1978, Benfica e Porto terminaram com os mesmos pontos (o SLB até não sofreu nenhuma derrota). O título foi para os portistas, pela melhor diferença de golos totais, assim quebrando o ainda mais período de jejum entre os grandes, 19 anos. Logo a seguir passou a existir a regra dos golos fora nos jogos entre equipas empatadas. Se tal já existisse antes, teria sido o Benfica campeão (0-0 na Luz e 1-1 nas Antas)."

Bagão Félix, in A Bola