Últimas indefectivações

quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

Que seja, pelo menos, parecido com o ano anterior... em tons vermelhos!!!


Luís Tadeu: o presidente que nunca foi... presidente do Benfica

"Pese embora tudo o que leio, tudo o que vejo e tudo o que ouço, acredito que o TRI tem todas as possibilidades para estar mesmo a caminho.

Nesta época natalícia, em que as consoadas amenizam e nos distraem das emoções fortes do futebol, fazendo parecer que os jogos a doer ainda estão muito distantes (quando faltam, apenas, 2 dias para isto continuar a levar uma grande volta), é tempo de fazer justiça a alguém que, num momento menos feliz, os sócios do BENFICA preteriram... a favor de outro candidato.
Embora tenha a honra de ser seu amigo, desde então, revi Luís Tadeu, no jantar de Natal dos órgãos sociais do Sport Lisboa e Benfica, para o qual Luís Filipe Vieira convidou muitos dos que serviram o Clube, como foi o caso do Professor, como ex-Vice Presidente-Adjunto para a área da gestão.

A conversa
CORRIA a época de 1996/97 e cruzava-me com Luís Tadeu, no camarote presidencial do antigo Estádio da Luz, para onde éramos convidados, os dois, para assistir aos jogos do BENFICA.
Tínhamos, como ainda hoje temos, os nossos lugares cativos, mas a simpatia da Direcção levava-nos onde nos iríamos conhecer.
Num desses dias, fui surpreendido pelo desafio de passar uma tarde lá pelo seu escritório, para me explicar qual o projecto que achava que devia ser concretizado no BENFICA.
Foi assim que, a 30 Abril de 1997, passei algumas das horas mais interessantes da minha vida a falar do BENFICA, enquanto ouvia e me fascinava com o projecto que Luís Tadeu tinha para o Clube.
Estava lá tudo o que tinha pensado.
Mas estava lá muito mais, que havia sido pensado por ele.
Depois de mais de duas horas a ouvir falar sobre um BENFICA com um grande futuro - lembro-me como se fosse hoje - lancei-lhe o desafio: «Mas tem consciência que só você poderá concretizar este conjunto de ideias? E, sabendo disso, será candidato nas próximas eleições, ocorram elas quando ocorrerem?»
À primeira das perguntas respondeu que sim, tinha consciência que seria um dos... E à segunda disse-me que teria sempre que avaliar o que estaria em causa...
Cedo percebi, como todos, que o momento de Luís Tadeu se aproximava a um ritmo vertiginoso.
Saímos dali para o Estádio da Luz para vermos as meias-finais da Taça de Portugal, frente ao Porto, em que o BENFICA venceu por 2-0.

A decisão
NO início da época seguinte, 1997/98, quando o campeonato parecia fácil, pelo calendário que teríamos, o que receávamos - depois do desfecho menos favorável da temporada anterior - aconteceu...
Com resultados cada vez menos vantajosos e com as consequências no Clube que também deles advieram, Manuel Damásio recusou continuar e convocou eleições para os órgãos sociais do BENFICA. Seriam a 31 de Outubro e durante alguns dias esperei com impaciência a decisão que Luís Tadeu iria tomar. Não porque pensasse em poder, sequer, ser convidado para alguma coisa, mas porque, do que ouvira, do que lera, do que analisara, a eleição de Luís Tadeu seria uma grande mais-valia para o BENFICA.

O convite
LUÍS TADEU, decidiu, naturalmente, ser candidato. Recebi a notícia, através de um telefonema de Susete Abreu. Que me disse, ainda, numa nota de fim de conversa, que o Professor quereria falar comigo.
O que aconteceu, passados, dois dias, para me dizer que, face ao meu desafio, queria contar comigo, na lista. Mas o convite não era para um lugar qualquer. Seria para Vice-Presidente para o Futebol. Ou seja, para o ajudar a ele, no que soubesse e pudesse, em conjunto com todos os que depois fizemos parte dessa Lista, a concretizar todo o projecto, capaz de fazer o Benfica crescer para o nível dos melhores da Europa. 

O programa
O programa de Luís Tadeu era esse mesmo. Academia, formação, modelo de jogo, integração e responsabilização vertical de toda a estrutura profissional do BENFICA... muito do que é hoje, no Seixal, o filosofiado Caixa Futebol Campus... com 15 anos de avanço.
Foi isso que Luís Tadeu prometeu. Como foi com esse projecto, com essa liderança, com essas ideias, com essa pessoa, que todos, sem excepção, nos comprometemos. Com o orgulho de quem pensava estar um bom par de anos à frente, em relação ao que se fazia em Portugal, e a acompanhar o que se fazia em alguns clubes da Europa (v.g., Ajax e Barcelona).

A campanha
A campanha correu como nunca esperei. Com a conivência de tantos em relação ao que sabia poder acontecer. Ou melhor, com o que era inevitável vir a acontecer. De tudo e para tudo fomos alertando. Mas a onda mediática queria que alguém que desse mais primeiras páginas fosse eleito. A tudo fui assistindo, boquiaberto perante tanta pressão de quem deveria ser imparcial, levando os sócios do BENFICA a votar como votaram. Para além da conivência de outros, com grandes responsabilidades na eleição de quem nunca deveria ter sido Presidente do BENFICA. Mas isso... são contas de outro rosário... para contar noutra altura, onde tais revelações ou recordações sejam mais aconselháveis (e úteis).
Ou seja, entre um projecto e uma aventura, os sócios do BENFICA, livres como sempre, não escolheram o melhor caminho. Eu sei que hoje não se encontra quase ninguém que assuma ter votado por essa solução, tanta é a vergonha de a terem viabilizado. Mas lá que votaram... votaram!

A (não) eleição
NO dia da eleição, aconteceu de tudo. Até o que não devia acontecer, com quem não devia acontecer. Outras contas de outro rosário... também para contar noutra altura, onde tais revelações ou recordações sejam mais aconselháveis (e úteis).
E Luís Tadeu - que deveria, por todas as razões, ter sido eleito Presidente do Sport Lisboa e Benfica - acabou por perder, perdendo, com ele, o Benfica, muitos anos. Que não demoraram apenas três anos a recuperar desse mandato de... muito infeliz e de menor lucidez - para sermos simpáticos com os que lá estiveram e com os que neles votaram.

O benfiquismo
NUNCA, em toda a minha vida eleitoral - e muitos são os actos a que concorri, muitos mesmo - me custou tanto perder uma eleição; Pelo que sabia que isso iria significar. Pelos danos que iria causar no clube. Porque, se ninguém foge da sua sombra, não seria possível ao Presidente eleito ser diferente do que tinha sido até ali, em tudo o que o conhecia.
E estava tão à vontade que também ele me tinha convidado para ser Vice-Presidente, na lista dele (na presença de um amigo comum, Manuel Menezes Morais, em conversa que transmiti a Luís Tadeu), convite que, obviamente, recusei, por prever (quase saber) o que iria acontecer.
Mas nunca ouvi de Luís Tadeu um reparo a quem, sendo soberano - os sócios - votaram por tudo aquilo que ninguém queria, incluindo, se soubessem, os que tinham votado na solução vencedora. Convivendo com a injustiça democrática com a maior disponibilidade para ajudar... o BENFICA.
Como há alguns Filhos de Reis e Pais de Reis que nunca reinaram, também aqui diria que a história, no BENFICA, cometeu um dos seus maiores erros eleitorais dentro de um clube.
Respeitamos a democracia e a maioria em cada momento, mas isso não nos impedirá de dizer que o facto de Luís Tadeu não ter sido eleito Presidente do Sport Lisboa e Benfica foi dos maiores prejuízos que nos infligimos a nós próprios.
Para que haja memória e para que fique feito o desagravo (por mim, em público, que o devia a mim mesmo, em privado).

2016
VOLTANDO ao futebol, vou-vos confessar que - pese embora tudo o que vejo, tudo o que leio, tudo o que ouço - acredito que o TRI tem todas as possibilidades para estar mesmo a caminho!
Apenas... acreditar no BENFICA.
Vamos a isto?
Um 2016 fantástico para todos (com o TRI para quem é GLORIOSO)!"

Rui Gomes da Silva, in A Bola

A festarola dos milhões

"2015 acaba com contratos fabulosos sobre direitos de transmissão e outros que quase atingem € 1.500 milhões.
Como sempre, dois pontos emergiram: um, o Benfica ser o pioneiro (foi assim, com o seu canal, o museu e outras inovações); o outro, a obsessão de os seus oponentes terem sempre como bitola o que é alcançado pelo SLB. O SCP até juntou alhos com bugalhos para dizer que é o melhor, como se fossemos todos uns indigentes mentais.
Com serenidade e quando soubermos todos os pormenores, ver-se-á, tudo somado e discernido, que o SLB é mesmo o primeiro. Aliás se o mercado reflectisse fielmente as audiências dos 3 (como deveria) a distância seria maior.
Com estes contratos, quem sofre é a competitividade da nossa débil Liga. Tanta discursata de solidariedade e, no fim, o fosso aumentará.
Como benfiquista, fico satisfeito. Como português, fico preocupado. O país onde há centenas de milhares de desempregados, onde o salário médio é dos mais baixos da Europa, onde 20% da população é pobre, vai olhar para este eldorado com espanto. Um pouco abaixo da rica Alemanha e da França (per capita, nem vale a pena falar...). Bem sei que este aumento o é, também, por boas razões: acabou o privilégio monopolista de uma entidade intermediária (para o que muito contribuiu a Benfica TV) e passámos a ter um cheirinho de mercado, ainda que imperfeito, através de um duopsónio das operadoras de telecomunicações. 
Falta saber a factura final: a do consumidor. Porque não há contratos fabulosos grátis. O que há é um terceiro pagador que não é ouvido nem achado."

Bagão Félix, in A Bola

Futebol português não tem liderança

"Há um problema muito grave de liderança no futebol profissional em Portugal. Não é só um problema pessoal de Pedro Proença, mas um problema estrutural.
A verdade é que depois do 25 de Abril, o FC Porto conquistou o poder desportivo e o poder político do futebol profissional em Portugal. Vieira teve, depois, o enorme mérito de trazer o Benfica de um tempo de degradação desportiva e de personalidade, tornando o futebol nacional bicéfalo. Agora, Bruno de Carvalho trava uma luta sem misericórdia a quem se lhe opõe para trazer o Sporting para o patamar daqueles que mandam e influenciam o futebol profissional de Portugal.
Neste quadro, e perante uma plateia pouco activa e nada esclarecida de presidentes que, acomodados, se acobertam sob o chapéu de chuva dos grandes clubes e dos seus líderes, a Liga tem apenas uma existência funcional e administrativa.
Daí que nenhum dos médios ou dos pequenos clubes do desequilibrado futebol português estivesse, de facto, preparado para a grande explosão dos valores dos novos contratos dos direitos televisivos. É verdade que o Benfica foi a referência, que o FC Porto e o Sporting souberam apanhar a boleia, mas a inexistência de um sindicato de pequenos e médios clubes proporciona o verdadeiro negócio das operadoras, que poderão ter os jogos dos grandes, fora de casa, a preços de saldo. Será esse o seu negócio, para desespero e impotência da maioria dos clubes e da sua ineficaz Liga.
Já agora, como será possível, no meio deste salve-se quem puder, garantir a subsistência dos pobres clubes da nossa Segunda Liga?"

Vítor Serpa, in A Bola

TV loucas

"A sucessão de negócios é a sucessão do pasmo. MEO e NOS comprometeram-se em pagar valores para os próximos anos aos clubes de futebol como nunca tinha sido pago. Já aqui escrevi como as operadoras se tornaram nos bancos destes clubes. Mas só agora vemos o filme todo. E é um filme que começa bem. Esperemos que não acabe mal.
Começa bem porque é muito dinheiro. Mais do que comparar qual dos clubes fez o melhor negócio, ressalta o volume face ao que se pagava antes. Houve uma revalorização total dos conteúdos televisivos de futebol. Os clubes maiores beneficiaram disso. Mesmo que isso venha a resultar, no futuro, em preços mais caros da MEO e da NOS (é difícil compreender tamanho investimento de outra forma), os clubes recebem agora muito mais. Os clubes, não: para já, os maiores clubes. Manuel Machado tem razão: o fosso entre os grandes e os demais vai crescer. E isso retirará competitividade à Liga. Provavelmente, também retirará espectadores aos estádios: ficam a ver pela TV.
A MEO e sobretudo a NOS provavelmente perderam a cabeça quando começaram a passar cheques desta maneira, mas isso é lá com os seus accionistas. A Liga de Clubes foi completamente ultrapassada no processo de centralização de direitos. E o poder da Liga passa a estar em empresas patrocinadoras. Na prática, estes operadores de comunicações estão a pagar para terem mais clientes e mais audiências. Para isso, a Liga tem de ganhar qualidade. Que o dinheiro sirva para isso, e não para criar duas divisões dentro da primeira."

Ver para lá dos milhões

"Nos últimos dias uma grande parte da discussão do futebol em Portugal centrou-se nos acordos entre as operadoras de telecomunicações e os grandes clubes. Depois do Benfica, também FC Porto e Sporting fecharam contratos 'milionários' e, tratando-se de futebol, mesmo fora de campo, grande parte dos argumentos foram esgrimidos sem grande lógica e debaixo da clubite com que normalmente se discutem os penáltis marcados ou por marcar. É o que temos. Houve, é justo dizê-lo, boas análises e bons artigos sobre o que está em causa. O leitor quando tiver este texto à frente já possui muita informação. O que pretendo é ver, em alguns dos itens, um pouco mais longe.
1) Até 2018, altura em que os jogos do FC Porto estarão garantidamente na SportTV, tudo ficará na mesma. E depois dessa data? Avançará o MEO com um canal de desporto próprio, tentando captar ligas estrangeiras entretanto no mercado? E pode avançar antes, de forma mitigada, se comprar direitos de clubes mais pequenos e emitir os jogos (imaginemos um Boavista-Benfica) na Bola TV ou noutro canal próprio? Isso, sim, seria disruptivo na oferta. Em qualquer dos casos no fim a conta será paga pelo subscritor.
2) Pedro Proença leva à risca como presidente da Liga a máxima que costumamos aplicar aos árbitros: "O melhor é não dar por ele." Falhado o objectivo da centralização (global), Proença tinha todos os outros jogos de todos os outros clubes em casa face aos grandes. Fez zero. Não tem competência para o lugar.
3) Os acordos em geral são bons, muito bons até. Melhor o do Benfica porque não tem dentro nem a publicidade estática nem o patrocínio nas camisolas, mas todos os clubes negociaram bem. Dito isto, não vão entrar 400 ou 500 milhões na tesouraria de ninguém amanhã. Os números foram óptimos para a comunicação mas, por alguma coisa, os acordos são de longo termo.
4) A duração, aliás, é uma das questões centrais deste processo. Há 10 anos o acesso aos conteúdos era feito de forma radicalmente diferente, não havia redes sociais, quase não havia smartphones, não havia tablets. O conteúdo e a sua distribuição é e será a chave no futuro. Bom, há dez anos o futebol já arrastava multidões e previsivelmente assim será daqui a uma década. No entanto, contratos tão longos constituem actos de gestão com risco. De ambos os lados. Mesmo que saibamos que as partes se podem sentar a qualquer momento e renegociar condições.
5) A noticiada 'morte' de Joaquim Oliveira, agora desdenhosamente tratado como 'o intermediário', é exagerada. Oliveira fez o que os outros não fizeram durante décadas, é accionista da Sport TV, tem um papel importante e vai continuar a ter. Diferente, mas importante. Certo e sabido."

quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

Um lugar na história do Benfica

"Chegou envolto em desconfiança para um clube que vivia ainda sob os efeitos do período mais negro da sua existência. Luisão começou por ser a quimera de um novo ciclo na Luz mas não capitulou à dúvida; mastigou a impertinência das considerações precipitadas, venceu a hostilidade, sobreviveu às areias movediças em que teve de caminhar e afirmou-se como um dos melhores centrais da história do Benfica. Sabemos hoje que esteve sempre um passo à frente das recriminações de que era alvo: talvez não tivesse qualidade para jogar no Benfica e já era internacional pelo Brasil; quando todos desacreditavam na conquista do título em 2004/05, ele prometeu-o depois de uma derrota em casa com o Beira-Mar; ninguém lhe atribuía particular influência no grupo e já era um dos líderes do balneário; dias depois de alguns terem anunciado a derrota por velhice, superou as brumas de desencanto, reergueu-se e reassumiu o papel na equipa como se tivesse 25 anos.
Há um brilho especial e ainda uma perspetiva de futuro no crepúsculo de Luisão como jogador. A caminho dos 35 anos, é tempo de render tributo a um defesa que, não satisfazendo todas as exigências de clássicos, puristas e académicos, se impôs pela eficácia dos grandes. Mesmo fugindo à estética pomposa dos antepassados mais distintos, como herdeiro de uma dinastia composta por Félix, Germano, Humberto Coelho, Mozer e Ricardo Gomes, já ninguém ousa negar-lhe um lugar entre os maiores de sempre. Em pleno século XXI, é o alicerce máximo do conhecimento do clube e da identificação com os adeptos. Mais do que um soldado de elite, é o fiel depositário de um passado glorioso, o estrangeiro com mais temporadas de águia ao peito e quem mais vezes a capitaneou, razão pela qual, por assiduidade e liderança, já se instalou no patamar sagrado da história benfiquista.
Como qualquer defesa que se preze, sobrepõe o rigor do ofício à tentação de divagações líricas que só servem para dispersar a concentração e desvirtuar os fundamentos da tarefa; orienta-se pela necessidade de ser o polo aglutinador do seu exército e não por alimentar o recreio inconsciente de quem vive sob regras apertadas de segurança e responsabilidade. O futebol é um desporto democrático, porque nele é possível ser grande abdicando de qualidades consideradas relevantes, algumas até indispensáveis. Há grandes craques rápidos e lentos; corajosos e medrosos; gordos e magros; altos e baixos; artistas e lutadores; fortes e frágeis; velhos e novos... Mas ninguém pode prescindir da inteligência. Luisão tornou-se menos contundente, mais sóbrio e um foco de estabilidade para toda a equipa. A caminho do fim da carreira, aproveitou o tempo para consolidar maturidade e prudência; depurar o entendimento estratégico do jogo, moderar os ímpetos mais temperamentais e curar os males do exagero.
O capitão venceu todos os títulos conquistados pelo Benfica no novo século - e nesse período nenhum outro jogador encarnado se aproximou das 12 temporadas que leva de águia ao peito. Em mais de uma década, revelou a exuberância de uma autoridade plena: táctica dentro das quatro linhas e moral como símbolo do clube que se impõe a todos os agentes do jogo. Cúmplice principal de Jorge Jesus nos seis anos que mudaram o futebol português, ninguém como ele assimilou e transmitiu princípios e ideias; sustentou cumplicidades e propagou demais segredos de forma e conteúdo. Muito do funcionamento da equipa, incluindo agora com Rui Vitória, depende da sua acção, da sua voz, da sua liderança. Luisão pertence à estirpe de futebolistas que não ganham jogos sozinho. Mas ao fim de 12 anos em Portugal, é consensual a ideia de que muitas vitórias e títulos do Benfica só foram possíveis porque ele estava em campo."

'Boxing' e 2016

"Por cá, não há boxing day. O boxing é outro, ora protagonizado nas redes sociais e não só. Este ano, o boxing day inglês brindou-nos com grandes jogos. Derrotas do surpreendente líder Leicester, desastres do Arsenal e do Man. United, empate do Chelsea com novo técnico e a 2 pontos da linha de água. Dois dias depois, nova jornada. Só mesmo na Inglaterra, onde escasseia o lugar para fitas, espertezas e saloices. Assim sim: viva o futebol!
Por cá, o ano acaba com a excitante Taça da Liga. A tal que é aparentemente desprezada por FCP e SCP, enquanto não a ganharem. A corrida ao ouro televisivo aí está em todo o seu esplendor, o ano termina com uma invejável distinção internacional para as estruturas de formação do SLB.
E, para começar o novo ano, com matéria para informar, especular e discutir, lá vem mais um mês de bons retornos para os intermediários do futebol. Compra-se e vende-se a retalho e por atacado, a pronto pagamento e por fatias, spot e no mercado de futuros, por generoso empréstimo e por cedência parcial do passe, que não do atleta.
2016, ano de Europeu, agora tão democratizado que quase só lá faltam as Ilhas Féroe e o renegado Platini (finalmente...). Pena ser em França, onde não costumamos ser felizes, ainda que levando Eliseu. Por falar em Eliseu, falta a Holanda apesar de Hollande lá estar. E também não haverá árbitros portugueses. Alguém se admira por isso?
Em 2016, prevejo que se escrevam tratados sobre a bola na mão e a mão na bola, assim como a arte de cotovelar e de se fingir cotovelado ou com dor de cotovelo. Talvez assunto para uma próxima crónica."

Bagão Félix, in A Bola

Falou-se mais de futebol

"Bruno de Carvalho não é propriamente um dirigente que consiga estar muito tempo em silêncio. Mas daí fazer uma viagem até ao Algarve para falar mais do mesmo, da rivalidade com Benfica e FC Porto, que todos os dias faz questão de vincar, é demais. O Clube de Ciclismo de Tavira merecia mais respeito, a modalidade que vai voltar a receber os leões, também. Falou-se mais de futebol do que propriamente da parceria entre Alvalade e a mais antiga equipa do Mundo. É certo que foi confrontado com as perguntas dos jornalistas, mas o presidente do Sporting é suficientemente inteligente para, educadamente, recusar responder a questões que não dissessem respeito, afinal, ao que verdadeiramente o levou ao Sul do país. Por outro lado, Bruno de Carvalho sabe como ninguém usar as redes sociais para mandar farpas aos rivais. Não precisava de ter feito tantos quilómetros."

Ana Paula Marques, in Record

Até ao fim...

Benfica 1 - 0 Nacional

Ederson; Sílvio, Lindelof, Lisandro, Eliseu; Cristante (Sanches, 46'), Samaris, Pizzi, Carcela; Talisca (Jonas, 56'), Mitroglou (Jiménez, 75') 

Mais um jogo com muito sofrimento, decidido nos últimos minutos.
Cometemos muitos erros infantis, com passes errados, desconcentrações, que acabaram quase sempre por oferecer ao adversário oportunidades de marcar... Ofensivamente, continuámos a demonstrar dificuldades no último terço... a entrada do Jonas, acabou por alterar muita coisa...

Além dos lesionados, por opção muitos titulares ficaram de fora. Dos actuais titulares jogaram o Lisandro (o nosso jogador em melhor forma...), o Eliseu, e o Pizzi... neste momento o Samaris e o Mitro para mim, não são titulares!

Até não começamos mal, mas com o minutos fomos perdendo o controlo do jogo a meio-campo, mesmo assim falhámos alguns golos feitos - Carcela por exemplo... -, o início da 2.ª parte foi muito mau, a equipa fiquou inquieta, e só com as substituições melhorámos...
Estes jogos após mini-férias são 'perigosos', existe sempre alguma descompressão com as 'festas' e viagens... este jogo acabou por ser um bom 'aviso' para o jogo de Sábado em Guimarães, onde vamos ter mais uma vez um obstáculo gigante chamado: Xistra!!! 

Demos um passo importante para a qualificação para as Meias-finais da Taça CTT, mas o jogo em Moreira de Cónegos vai ser uma autêntica final...

PS: Nos últimos dias, têm sido feitos anúncios mirabolantes sobre a venda dos direitos televisivos e afins!!! Comparando o 'pacote' do Benfica, com os outros, é evidente que o Benfica fez de longe o melhor negócio... mesmo assim, tendo em conta a dimensão e o real valor de marcado dos Lagartos e dos Corruptos, acho que eles fizeram contratos muito inflacionados, mas isso não quer dizer que vão ganhar mais dinheiro que o Benfica.
Basta fazer as contas: se fizermos a comparação directa, daquilo que foi cedido pelos três Clubes, a conclusão é clara. Se o Benfica tivesse vendido em 'pacote' juntamente com os Direitos Televisivos e os direitos de transmissão da BTV: as Camisolas, a Pub do Estádio e o Naming, por 12,5 anos, com os actuais valores contratualizados (ou no caso do Naming, os valores prováveis), então teríamos anunciado um contrato próximo dos 800 milhões de euros!!!!! Sim, próximo dos 800 milhões de euros!!!!
Mesmo assim o histerismo parece que chegou à Gloriosasfera...!!! Aconselho, a fazerem as contas, em vez de 'comerem' toda a palha que a descomunicação social anda a dar...!!! Mas como a cassete do anti-Vieirismo básico, agradece a desinformação, é melhor deixar andar...!!!
Aliás o pior contrato é claramente o Lagarto, que manhosamente anunciou o valor supostamente mais alto!!! Pois os Corruptos só venderam as Camisolas por 7 anos e meio...!!! Mesmo assim o Badocha já veio na sua habitual prosápia mentirosa enganar quem quer...

terça-feira, 29 de dezembro de 2015

O primeiro a vermelho e verde...

"Vamos hoje muito atrás. Até 1908, mês de Outubro. O Benfica já é Sport Lisboa e Benfica e o Sporting já joga de verde e branco. Duplamente inédita, portanto, a compita. E com um toque de vingança 'encarnada'.

Regressemos aos Benfica-Sporting! Vale sempre a pena. E este é especial por causa das cores. Isso mesmo: por causa das cores. E dos nomes!
Vamos então até ao dia 25 de Outubro de 1908.
Aí já não era Sport Lisboa e sim Sport Lisboa e Benfica.
Ou seja, estávamos perante o primeiro autêntico Benfica-Sporting. E assim mesmo: Benfica-Sporting, porque jogado no Campo da Feiteira, ali junto à igreja de Benfica. Onde isso já vai...
Disputava-se a segunda jornada do Campeonato de Lisboa, e ambos vinham de vitórias na primeira: a do Benfica mais folgada (6-0 ao Ajudense); a do Sporting mais pragmática (1-0 ao União Belenense). Também onde já vão tais adversários.
Sonhavam os de Belém/Benfica (não esquecer as origens!) com a primeira vitória sobre os irmãos fugidos, encantados pelas ofertas de mãos largas dos seus adversários. E eles continuavam por lá, do outro lado do campo, agora com as vistosas camisolas bipartidas, metade verdes, metade brancas, imaginadas por Eduardo Quintela de Mendonça, conhecido por Farrobo, e importadas especialmente de Inglaterra para todos os atletas de todas as modalidades do clube.
Foi, por isso, também o primeiro Benfica-Sporting a vermelho e verde, já que nos anteriores, ao garrido encarnado do Sport Lisboa, opusera o Sporting um sóbrio equipamento intocavelmente branco, com excepção do oval emblema verde de leão ao centro. Os calções sportinguistas continuavam, para já, brancos. Os pretos surgiram apenas em 1915, por sugestão do jogador Raúl Barroso.
Era assim um jogo duas vezes inédito! Só por isso merece aqui a croniqueta semanal deste que se assina. Com ajudas, claro! Quando vamos em busca do tempo perdido precisamos de ajuda. E a que aqui utilizo é da boa, de luxo!

O Sporting reclamou: quem diria?
Por muita pesquisa que fizesse, não encontrei muitos dados sobre este Benfica-Sporting, mas também mais de cem anos se passaram entretanto.
Socorro-me da «História do Sport Lisboa e Benfica», de Mário Fernando de Oliveira e Carlos Rebelo da Silva, encontrada em estado impecável num alfarrabista da Rua do Alecrim e que faz agora parte da minha bem fornida colecção de livros velhos e saborosos.
Bom apetite!
«O encontro começou ao meio.dia. Lançada a moeda ao ar, coube ao Benfica o direito de escolha do campo, tendo Cosme optado pelo lado norte do terreno do jogo. Dado pelo Sporting o pontapé de saída, o jogo caiu logo para o campo ocupado pela equipa 'leonina', que se manteve numa defesa denodada, na qual se salientou José Belo, jogador de muito mérito. Não se tornou por isso viável a marcação de qualquer ponto. Ao intervalo o resultado era de 0-0.
No segundo tempo, o Benfica abriu a série de golos e fixou-a em dois tentos, marcado um por Cosme Damião e apontado o outro por David da Fonseca. O resultado final foi, pois de 2-0.
As duas turmas tiveram a seguinte constituição:
SPORT LISBOA E BENFICA - João Persónico; Henrique Cosa e Leopoldo Mocho; Artur José Pereira, Cosme Damião e Luís Vieira; António Costa, David da Fonseca, Carlos França, Eduardo Corga e António Meireles.
SPORTING - Augusto Freitas; José Belo e António Neves Vital; Francisco Stromp, António Couto e Albano dos Santos; António Rosa Rodrigues, F. Amorim, Carlos Shirley, Cândido Rosa Rodrigues e Nóbrega e Lima.
Arbitrou Gastão Pinto Basto.
O Sporting reclamou o resultado do jogo, mas a reclamação não foi considerada procedente.»
A vingança consumava-se. E tinha requintes de malvadez. O ciclo de êxitos encarnados iria estender-se até 1915."

Afonso de Melo, in O Benfica

Benfica em modo sub-21

"A forma como o Benfica está a tentar retocar o seu plantel já para Janeiro, confirma e até acentua esta tendência sub-21 que está em acelerada implementação na Luz. O primeiro de todos os factores passou a ser a produção própria, made in Seixal, mas a ideia de rejuvenescimento vai-se alargando aos outros campos de recrutamento. Todas as compras previstas para este mercado de Janeiro, por exemplo, encaixam em absoluto na nova política.
Grimaldo, que Record fotografou ontem em Lisboa, é um jogador sobre quem recaem altíssimas expectativas. Tem apenas 20 anos e chega para discutir com Eliseu um lugar no lado de esquerdo da defesa. Um reforço claramente de futuro, mas que até pode ter oportunidades no imediato. O argentino Cervi, de 21 anos, é um caso semelhante. Com contrato assinado desde Setembro, o 'novo Gaitán' está a ser pressionado para embarcar de imediato para Portugal - embora o seu clube, Rosario, não esteja disposto a facilitar os planos do Benfica. Tem condições, tal como Grimaldo, para conquistar rapidamente o seu espaço.
E há ainda o surpreendente caso de Diogo Jota, de 19 anos. Está a ser uma das boas revelações deste campeonato, no Paços de Ferreira, e os responsáveis encarnados querem 'agarrá-lo' rapidamente. Ou seja, a fenómenos emergentes como Nélson Semedo, Renato Sanches ou Gonçalo Guedes, o Benfica quer juntar mais estes três 'dentes de leite', sem esquecer que na lista de compras das águias continuam Andrija Zivkovic (19 anos) e Branimir Kalaica (17), duas das maiores promessas do futebol sérvio e croata. 
Decididamente, Vieira é um presidente de ideias fixas. O tempo dirá se este era, ou não, o melhor caminho."

Assim se fez

"Experimentem escolher os 50 jogos mais marcantes da história do vosso clube e enfrentarão uma tarefa hercúlea. Primeiro há que definir critérios, logo depois serão atraiçoados pela memória - o que vos condenará a seleccionar os jogos que vivenciaram ou aqueles de que existe registo vídeo. O melhor mesmo é abandonar a tarefa.
Pois o João Tomaz e o Fernando Arrobas arriscaram escrever sobre os 50 jogos mais marcantes da história do Benfica e publicaram, por estes dias, 'Assim se fez Glorioso'. Uma visão criteriosa, naturalmente subjectiva, das 50 partidas mais marcantes do Benfica. O difícil, como bem sublinham, numa história tão longa não foi escolher, mas excluir. Os critérios foram ambiciosos: num clube com a grandeza do Benfica, só podiam constar jogos que fizessem parte de caminhadas vitoriosas. Ou seja, vitórias em competições nacionais que não se traduziram em conquistas de títulos no final do percurso ficaram de fora.
Resta-nos escolher os jogos mais marcantes da nossa história como adeptos. Pois eu que assisti a muitos dos encontros referidos e emociono-me com os relatos de outros que não vivenciei, percorridas as 50 partidas mais marcantes, inclino-me para uma distante, disputada em Fevereiro de 1907, na qual uma equipa só de portugueses, de extracção popular, colocava fim à invencibilidade dos ingleses do Carcavellos, que durava havia nove anos. A razão é simples: a médio-direito jogou o meu tio-avô, que infelizmente não conheci. Tendo crescido numa família em que o futebol é tema estranho e desinteressante, talvez tenha sido essa inscrição genética que me fez benfiquista fervoroso."

Grimaldo

É oficial, Grimaldo é reforço do Benfica. Jovem formado no Barcelona, com passado nas Selecções jovens Espanholas. Uma lesão grave acabou por atrasar a sua evolução... Aquilo que se vê nos vídeos, é promissor, mas o nível competitivo das divisões secundárias Espanholas deixa algumas dúvidas, principalmente nas tarefas defensivas, já que ofensivamente parece-me claramente um bom jogador. Eu não faço parte do coro histérico anti-Eliseu! Tem jogos maus, mas também tido alguns jogos bastante razoáveis, principalmente nos jogos 'grandes'... e por acaso o Eliseu até tem sido mais consistente a defender do que atacar...!!!

O dia em que a pitoresca vila de Sintra foi toda do Benfica

"Vestiram as janelas dos comboios de 'encarnado' e esgotaram as queijadas em Sintra. Os benfiquistas estavam em festa!

A época 1942/43 correu bem ao Benfica. Em Maio conquistou o Campeonato Nacional e um mês depois arrecadava a Taça de Portugal, após uma vitória por 5-1 frente ao Vitória de Setúbal. Tamanho empenho merecia ser rematado com pompa e circunstância, por isso, num quente Domingo de Julho, foi organizada uma excursão a Sintra para homenagear os jogadores do Benfica. O plano de festas era variado e incluía um almoço no parque municipal, jogos de hóquei em patins e um desfile de um dezena de ciclistas da secção de cicloturismo do Clube. A festa prometia!
Na manhã de 19 de Julho, cerca de quatro mil pessoas saíram do Rossio em direcção à pitoresca vila. No interior dos comboios iam adeptos e simpatizantes dos 'encarnados' de sorriso no rosto e farnel no colo, e nas janelas as bandeiras que se agitavam ao sabor de vento não deixavam lugar para dúvidas: ali dentro ia o Benfica. Mas não era apenas no interior das locomotivas que se fazia a festa! Lá fora também se manifestava benfiquismo, como aquela senhora que, da janela de sua casa, agitava freneticamente um xaile vermelho, como que em resposta às bandeiras que vestiam o comboio.
Chegada a Sintra, a multidão inundou a vila, que se encheu de invulgar entusiasmo. Uns aproveitaram para esticar as pernas e passear, outros fizeram fila à porta das pastelarias locais para fincar o dente nas famosas queijadas que, num piscar de olhos, esgotaram. Mas eis que chegam os jogadores! As bandeiras agitam-se no ar, a banda dos bombeiros locais inicia o seu reportório e os aplausos parecem não por fim. Os campeões chegaram. Podia começar a festa!
A sessão solene foi feita no salão nobre dos Paços do Concelho e transmitida por altifalante instalados nas janelas do edifício, para que todos a pudessem acompanhar. Terminadas as boas-vindas, começou a procura do melhor lugar no parque municipal para o almoço que terminou em grande farra com brindes e discursos de agradecimento. Entre as vozes que se fizeram ouvir estava a de Cosme Damião, que incitou os jovens desportivas e fazerem 'sempre mais e melhor pelo prestígio do Benfica'.
os troféus destas conquistas estão expostos nas áreas 5. A 'Taça' e 6. Campeões, sempre do Museu do Benfica - Cosme Damião."

Marisa Furtado, in O Benfica

Reconhecimento

segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

Outros contornos (ou voos) da águia

"O meu benfiquismo tem-me oferecido muito mais que a fantástica emoção de ver a bola a correr e os nossos, as 'papoilas saltitantes' que Piçarra imortalizou, marcarem com arte e génio os golos da nossa felicidade.
Há um outro Benfica. Ou melhor: o SLB também é isto, e por isso grande. Uma realidade sociológica que se entrelaça com a nação. Deixo-vos algumas histórias que até hoje guardei.
Raramente me provocam por um dia ter revelado a minha paixão, quando tantos artistas, que receiam não agradar a todos, o evitam. Não vejo o futebol como uma trincheira, mas apenas como uma escolha que nos acompanha pela vida fora. Os meus diálogos são cordatos, mas sei defender a minha dama. Há uns tempos, na Facebook, alguém pretendia enlamear a história do 'glorioso' invocando que o nosso clube fora levado ao colo pelo Estado Novo. 'Se não fosse o Salazar, outro galo cantaria!', li.
A ignorância revela mais prosápia que justeza. Expliquei ao incauto que foi o inverso que amenizou o isolamento que nos tolhia nesses tempos sombrios. Porque uma 'pantera negra'. Eusébio, nos levou ao cume do futebol mundial. Invoquei a verdade histórica, que o regime se encostara ao Benfica e não o inverso: noutra disciplina, Amália vivenciou o mesmo aproveitamento. Duas Taças dos Clubes Campeões Europeus valeram muito para essas gerações aprisionadas: a águia voava e Portugal revia-se na glória do SLB.
Na década de 90, os UHF estiveram uma semana em Luanda para dois concertos. Quando passeávamos por um jardim, vi um magote debruçado sobre um jovem segurava um jornal desportivo português.
Mais perto, foquei com admiração o cacho de rapazes e homens que pendia sobre as páginas de A Bola, a leitura da crónica do último jogo do Benfica: um par de mãos segurava o lençol da malta. Perante a minha estupefacção, um dos elementos que acompanhava a comitiva UHF disse com naturalidade: 'É sempre assim com A Bola, por causa do Benfica'.
Anos mais tarde sorri com o desabafo assertivo do escritor António Lobo Antunes sobre os tempos da guerra em África. Claro que éramos todos do Benfica, dizia numa entrevista. Dava muito jeito às tropas os jogos ao domingo. Nessa hora e meia, acrescentava, nós e eles, os dois lados da guerra, ficávamos a ouvir a correria do Artur Agostinho a relatar o jogo e os tiros calavam-se para ouvir o que ele dizia, à espera do golo e da gritaria nos dois lados da trincheira. O Benfica além de todas as fronteiras.
Quando, na temporada de 2004/2005, nos sagrámos campeões, fui até à cidade de Baar, na Suíça, sem os UHF, para celebrar mais uma conquista. Nessa noite perdi a conta às vezes que cantei o Sou Benfica, mas recordo que acabei a actuação com metade da sala no palco a berrar 'Sou, soou Benfiiicaaa', trajados a rigor, camisolas, bandeiras e cachecóis, como a se a Luz coubesse ali. Os copos cheios subiam ao alto e as lágrimas corriam sem disfarce, lágrimas de alegria naquela ponte que o Benfica mantém com este país de saudade e saudades. A nossa alma cheia. No dia seguinte aterrei na Portela e corri para outro check in rumo à Madeira, onde estava programada mais uma festa encarnada: os UHF aguardavam-me já na sala de embarque. Era domingo.
A meio do voo, somos informados pelo comandante de que o Benfica perdera a Taça de Portugal para o Vitória de Setúbal. Encafuado no assento, meditei sobre o clima que nos iria esperar no Caniçal, onde um grupo de benfiquistas queria celebrar a conquista de mais um título. Fomos recebidos em ambiente morno, mas a organização mantinha o programa. Passámos pelo palco e testámos a aparelhagem sonora: esperavam-se umas 300 pessoas, apesar do desaire da tarde. A noite descia sobre o oceano, o clima estava ameno, confortável; deslocámo-nos a pé até ao restaurante, no centro do Machico. Ao longo do jantar reparei que a mesa ia crescendo com a chegada de notáveis, adeptos locais. As conversas subiam de tom, trocavam-se explicações para a perda da taça.
Antes do café, um dos organizadores chegou à mesa e disse-me, olhos nos olhos: 'Vamos ter de vos levar de carrinha, isto está tudo bloqueado, não sei de onde veio tanta gente. A pé, nunca mais lá chegamos'. 'E a potência da aparelhagem vai chegar?'. 'Tem de chegar, António, tem de chegar, não estávamos à espera de tanta gente: está tudo louco. Isto era uma festa para a malta do Caniçal, Machico e pouco mais'
(Nas cercanias da serra do Santo, ali perto, o grupo GNR, do meu querido Rui Reninho (portista que muito respeito), ficara quase sem público por causa da debandada que descera até à praia do Caniçal, disseram-nos no final da noite. O poder do SLB)
Nessa noite, além da vaga humana de vários milhares de adeptos, vi as sereias que sulcam o Atlântico dançarem ao sou do Sou Benfica."

António Manuel Ribeiro, in Mística

O "Ruço"

"Artur Correia marcou uma era ao serviço dos clubes que representou e da Selecção.

No Portugal dos anos 70, a única criatura de cabelos louros que ombreava com ele era a Tonicha. Apesar do pelo e dos olhos azuis muito pouco lusíadas, o 'Ruço' era um exemplo de raça. Vê-lo actuar, ora no Benfica, ora na Selecção, fazia-nos sentir mais benfiquistas, mais portugueses. Porque o 'Ruço' era o herói que morria em campo. Solidário. Tenaz. Quer a subir, iniciando jogadas que acabavam da melhor maneira nos pés de Eusébio, Artur Jorge, Jordão ou Nené, quer a descer e a ferrar os dentes no adversário.
Em 1977/1978, após seis épocas de encarnado e uma mão-cheia de títulos, foi para o Sporting. Custou vê-lo ir, de tão nosso que ele era. Mas interessa lembrar a seguinte verdade: ao intervalo dos jogos da sua nova equipa, a única coisa que lhe interessava era saber o resultado do 'Glorioso', de que se tornara sócio com apenas dois anos.
Internacional 35 vezes - 25 delas como jogador do Benfica -, deixou para a história do futebol português um golo épico à Noruega, em jogo de apuramento para o Europeu realizado no Jamor a 1 de Novembro de 1979.
No dia seguinte, correu a notícia do avistamento de um OVNI em forma de charuto na Madeira. Mas de nada se falou com tanto interesse como do golo do 'Ruço', arrancado quase do meio campo. Ele, sim, um verdadeiro charuto do outro mundo.
A 24 de Setembro de 1980 voltar-se-ia emotivamente a falar dele. Mas, desta feita, com tristeza. O herói do Jamor acabava de ser dado como perdido para o futebol.
Quando a TV noticiou o drama, antes de mais um episódio da telenovela brasileira Dona Xepa, lembro-me de, na verdura dos meus 12 anos, ter desejado que fosse 1 de Abril. Não era. E assim aprendi que só à traição se pode abater um lutador que avança e resiste quando todos os outros já caíram por terra. Como um tesouro, guardei para sempre a imagem do 'Ruço' a carcomer o relvado da Luz e a alcatifa do meu quarto, nos campeonatos de caricas.

- A primeira vez
Vindo do vizinho CF Benfica - o popular Fofó -, Artur vestiu pela primeira vez a camisola do SLB a 10/12/1967, num jogo do Distrital de Juniores realizado na Amadora frente ao Estrela. Sagra-se-ia, seis meses mais tarde campeão nacional da categoria.

- Aventura em Coimbra
As qualidades evidenciadas e a vontade de ser médico levá-lo-iam na temporada de 1968/69 até Coimbra. Reconhecidos os méritos, regressou ao Benfica durante o verão de 1971 e agarrou de pronto a titularidade.
- Começo em grande
Fez a 31/7/1971 o seu primeiro jogo, frente aos ingleses do Arsenal num encontro caseiro de carácter particular. No mês seguinte, conquistou em Cádis, diante do Peñarol, o prestigiado Ramón de Carranza."

Luís Lapão, in Mística

PS: Numa conversa em Marselha, na véspera da famosa meia-final da Taça dos Campeões Europeus, perguntava-se ao Ruço a razão da ida para o Sporting... os companheiros indagavam: 'eles pagavam mais?!!!', respondia o Ruço: 'pois, o problema era eles pagarem... acabei por perder dinheiro com a brincadeira...!!!'.
Uma das histórias mais engraçadas do Ruço (e são muitas...), é o dia em que assinou pelo Benfica, ainda Júnior. Estava a treinar no Fofó, quando alguém lhe disse para ir à Sede do SL Benfica, na Rua Jardim do Regedor assinar o contrato... saiu a correr do treino, e nem se lembrou de apanhar boleia ou um Táxi, foi de Benfica até aos Restauradores a correr... tanta era a felicidade!!!!

Milhões a mais

"Aos 400 milhões do Benfica, o FC Porto respondeu com 457 milhões. São, no essencial, contratos de direitos televisivos por 10 anos, aos quais se juntam alguns acessórios - exclusividade dos canais de clube, publicidade estática e, no caso dos dragões, o 'naming' da camisola - que só podem ser vistos como tal, acessórios. Porque o que está em causa são, de facto, os direitos de transmissão de jogos em directo. 
Quando olhamos para os números dos clubes espanhóis ou ingleses, coramos de vergonha. O último classificado da Premier League recebe actualmente por ano mais do dobro que Benfica e FC Porto irão receber nos milionários contratos que agora assinaram. Em Espanha, os valores pagos a águias e dragões são equivalentes aos recebidos pelas equipas do fundo da tabela. Mas será essa a comparação que devemos fazer?
O mercado televisivo português é minúsculo quando comparado com o inglês ou o espanhol. E, pior, a Liga NOS é anónima para os amantes de futebol para lá de Badajoz, pelo que os jogos do campeonato português interessam a pouco mais pessoas do que aos portugueses. Por isso, a comparação que deve ser feita é com os países com uma dimensão semelhante à de Portugal e com ligas de um nível idêntico.
Na Holanda, que tem quase 17 milhões de habitantes e muito mais dinheiro do que Portugal, os 18 clubes da Eredivisie recebem cerca de 83 milhões de euros por ano - Benfica e FC Porto sozinhos terão mais do que isso; na Bélgica, que tem 11 milhões de habitantes, o valor global é de 53 milhões; na Grécia, que tem sensivelmente a mesma população, o número é de 44 milhões.
Estes dados indiciam, no mínimo, que NOS e PT estão a valorizar o futebol português muito acima do que é a sua realidade, até porque será difícil convencer os adeptos a pagarem mais do que já pagam para ver a bola. Estamos a falar de apenas 17 jogos por temporada, a maioria dos quais sem grande história ou emoção, e que até podem ser menos se a Liga voltar a reduzir o número de equipas no primeiro escalão. Por isso, Benfica e FC Porto fizeram bem em aproveitar esta 'loucura' do mercado. Será que o Sporting vai a tempo de o conseguir?"


PS: Concordo na generalidade com esta crónica, também acho que o mercado português não vale tanto, a minha principal 'divergência' está na forma como se quer dividir à força o mercado a 3, quando só o Benfica vale no mínimo 55% do mercado!!!
Recordo o que se passou na Escócia, com a empresa que 'geria' os contratos televisivos a ir à falência...

domingo, 27 de dezembro de 2015

Facebook Arena, ponto!

"Jorge Jesus concedeu uma entrevista bem interessante a um jornal macaense chamado 'Ponto Final'. O título do jornal tem a sua graça tendo em conta que o presidente do Sporting termina por norma as suas frases orais com a palavra 'ponto!', proferida exclamativamente em modo de patrão. Como quem diz que a conversa acabou ali e que não se admite sequer discussão perante a evidência dos factos.
Já quanto aos seus pensamentos, transcritos quase diariamente na página pessoal da rede social que frequenta, o presidente do Sporting apenas utiliza o sinal gráfico do ponto propriamente dito porque, na realidade, seria uma redundância escrever 'ponto' e depois meter o sinal de ponto logo a seguir, embora ainda possa vir a acontecer, se é que não aconteceu já.
A verdade é que o presidente do Sporting dá-se bem com os pontos finais. Já com as vírgulas não se mostra tão à-vontade e também está no seu direito porque, neste mundo da comunicação, trata-se de uma arte mais exigente. E nestas coisas da bola até a pontuação tem o seu preço.
Dizem agora os especialistas na matéria financeira que fará falta ao Sporting o dinheiro que vai ter de pagar à famigerada Doyen em função da decisão do TAS sobre os meandros da transferência de Rojo. Na realidade, nem é preciso ser-se um grande especialista para concluir que aos clubes portugueses, nomeadamente aos grandes, fará falta sempre qualquer receita com que se contava em caixa e que tenha de ser devolvida por razões absurdas.
Veja-se o caso do Porto. Só abdicou de patrocinador para as suas camisolas porque a venda das camisolas de Iker Casillas tem gerado fortunas que lhe permitem dispensar os trocos. A venda do nome dos estádios parece ser agora a próxima fonte de receita dos clubes grandes. Romantismos postos de lado nesta era de crueza financeira, os adeptos conformam-se com a ideia - esta sim, uma ideia moderna - e fazem votos para que os líderes das suas respectivas SAD encontrem, no mercado internacional parceiros com nomes sonantes para o 'naming' dos seus estádios. Do lado do Porto e do Benfica, ainda nada transpira sobre este assunto.
Do lado do Sporting. tudo leva a crer que será Mark Zuckerberg o parceiro na calha para que, finalmente e fazendo-se justiça, Alvalade se passe a chamar rapidamente 'Facebook Arena'. Ou mesmo, 'Facebook Arena. ponto!'"

Arbitragem voltou ao passado

"Benfica, FC Porto e Sporting acabaram o ano a festejar as derrotas e insucessos dos rivais, mais do que eufóricos com as suas prestações. O União da Madeira deu mais alegrias aos portistas em oito dias do que Lopetegui em quase dois anos. O Benfica venceu o Rio Ave com mais uma inacreditável arbitragem. Três penalties num jogo só, depois de se ver o que vem acontecendo nos jogos do FC Porto, faz pensar que o campeonato foi negociado antes do seu início. Mesmo sem deslumbrar havia sido um jogo tranquilo, sem incidências arbitrais. Fez bem o Benfica em falar porque ganhou. Jonas levava mais de dez golos de vantagem na Bola de Prata, se as regras fossem cumpridas, e os penalties marcados quando são. Mesmo assim leva cinco.
Em época de balanço, 2015 foi muito bom para o Benfica. Esperemos um 2016 em linha com o anterior, no futebol e nas modalidades. A cinco pontos do líder, que teremos receber na Luz, só resta acreditar, porque Jorge Sousa não vai arbitrar os jogos todos. (se houver vergonha, não arbitra mais nenhum dos três primeiros). A arbitragem voltou ao tempo dos Guímaros e dos Calheiros. Queria era perceber o porquê? Última referência para o jogo mágico do nosso hóquei em patins. A perder a três minutos do fim, com um jogador a menos, com um livre directo e um penalty defendidos, e oito segundos finais com dois golos. A vitória foi inesquecível e projectou o Benfica para um título que ainda não está ganho, mas está muito bem lançado."

Sílvio Cervan, in A Bola

Toda a grandeza

"Atribuímos hoje o 11.° Prémio Artur Agostinho. Porque a história deste troféu já vai longa, permitam-me aqui recordar duas pessoas. Uma, aquela que dá nome a este prémio, o seu patrono e grande mestre Artur Agostinho. Em boa hora regressou a esta casa emprestando carisma e prestígio e, sobretudo, oferecendo o carinho a um título que ficou ligado à sua enorme carreira de jornalista e comunicador. É por isso também que é para mim para nós, um grande privilégio ter hoje aqui connosco a sua filha Teresa que nos irá ajudar nesta cerimónia.
Outro nome que não posso deixar de referir é o de Alexandre Pais. Se Artur Agostinho voltou a esta casa, foi por iniciativa e vontade do antigo director do Record que continua a ser um dos nossos. Foi ele o grande impulsionador deste prémio.
Vamos então ao premiado.
Doze anos não são doze dias, disse Luisão há semanas numa frase que continha uma grande dose de frustração pelas críticas que na altura recebera. Mas nessa expressão cabe muito mais. São 12 anos de títulos conquistados, 12 anos de trabalho dedicado e profissional, 12 anos a construir uma liderança que hoje não sofre a mínima contestação, 12 anos de muitas alegrias e algumas tristezas, 12 anos que criaram a imagem de um jogador que é admirado pelos seus e respeitado pelos rivais.
Luisão recebe hoje o Prémio Artur Agostinho não apenas por ter ganho no último ano o bi-campeonato pelo Benfica nem por ter batido recordes atrás de recordes no clube que onde joga há mais de uma década. 
Recebe-o por tudo aquilo que tem representado no futebol especialmente desde que se encontra entre nós. 
Luisão é um grande jogador e é um grande homem, algo que não se aprecia apenas pela medição da sua estatura mas sim pela avaliação do seu profissionalismo e do seu carácter. Por tudo isto, obrigado e parabéns LUISÃO."

sexta-feira, 25 de dezembro de 2015

Exigência... a nós e aos outros

"Já o escrevi várias vezes: O Benfica tem sido severamente prejudicado pelas arbitragens, contrastando com os frequentes benefícios concedidos a Sporting e FC Porto. Constatar esta evidência não desculpabiliza o nosso percurso aquém das expectativas, embora saibamos que as dinâmicas de vitória, tão relevantes para as equipas quanto os aspectos técnicos e tácticos, obtêm-se, com vitórias. Com arbitragens normais, isto é, em que houvesse boas e más decisões equitativas quanto aos clubes afectados, a classificação seria mais favorável aos nossos interesses, mesmo que os problemas sentidos pela nossa equipa subsistissem.
Neste contexto, o Benfica não só terá que ser superior aos seus adversários, como necessita de um esforço adicional para ultrapassar as dificuldades criadas por quem tem o dever de imparcialidade mas não o tem demonstrado.
O Benfica é Bicampeão Nacional, tem que ser exigente consigo próprio e com os outros. Deverá identificar as suas lacunas e colmatá-las. Terá que perceber os seus erros e não repeti-los. E não poderá permitir que sejam os árbitros a acentuar as suas fases menos boas e a disfarçar idênticos constrangimentos dos nossos adversários.
A fruta, o café com leite e as viagens apresentaram bons resultados no passado. A constante auto-vitimização e atordoadas em todas as direcções estão a produzir efeitos no presente. Contudo, nunca serão esses os caminhos trilhados pelo Benfica. Preferimos trabalhar e preparar o futuro, sem desvios motivados pelas circunstâncias e imunes à tentação de utilização de estratégias que só uma comunicação social subserviente ou demissionária das suas funções não desmascara.
Denunciemos então!"

João Tomaz, in O Benfica

Miopia

"Perguntava há poucos dias o presidente do SL Benfica onde anda a Liga da Verdade, depois de mais um ataque súbito de miopia por parte de uma equipa de arbitragem na Catedral. Nenhum dos elementos que devem zelar pela verdade desportiva em campo conseguiu assinalar uma grande penalidade no jogo com o Rio Ave. E tiveram três lances para o fazer. Não é caso estranho esta época.
Em Arouca (2.ª jornada), no Dragão (5.ª), com o Sporting (8.ª) e nos últimos cinco jogos para o Campeonato, houve outras miopias do género contra o Bicampeão; já o FC Porto, olhando para os casos nos 14 jogos já disputados para a Liga, tem mais sete pontos do que deveria (dois pontos a mais com o Glorioso, mais dois com o Paços de Ferreira e mais três no nevoeiro da Madeira com o Nacional); e quanto ao Sporting, são pelo menos mais oito - dois pontos a mais na Luz, três pontos em Arouca, dois na Madeira com o Marítimo e mais dois em Alvalade com o Moreirense.
Se a tal Liga da Verdade existisse, onde andariam agora os críticos de Rui Vitória? Provavelmente a festejar a chegada do SL Benfica ao Natal no primeiro lugar. E entusiasmados com a ideia cada vez mais palpável da conquista do Tricampeonato. Mas não, andam a suspirar por Mourinho em vez de acreditar no ribatejano que ainda vai calar muita gente. Até maio, muitas vão ser as falhas: de árbitros, de dirigentes, de jogadores, de comentadores, de jornalistas. Muitos pontos vão ser perdidos com falhanços à boca da baliza, com foras-de-jogo mal assinalados e com tácticas que não resultam em determinado dia. Faz parte desta modalidade de paixões e milhões. Mas aquilo que não pode acontecer é baixar os braços e aceitar com resignação o favorecimento dos rivais directos.
Estamos na luta! Dá-me o 35."

Ricardo Santos, in O Benfica

Gigantes!

"Nem um empatezinho para amostra! 33 jogos, 33 vitórias! 22 jornadas de 2014/15, e mais 11 (o pleno) de 2015/16. É este o inacreditável pecúlio da equipa de Hóquei em Patins no Campeonato Nacional da 1.ª divisão, desde o já distante dia 25 de Outubro de 2014. 7-0 fora e 9-0 em casa com o Sporting, 10-0 ao Valongo, 7-3 no Dragão e 5-1 ao FC Porto na Luz, eram alguns dos resultados averbados neste percurso. Faltava uma vitória sofrida, com contornos de filme de suspense, e sabor a mel, para compor o quadro. Ela aconteceu no último sábado, após um espectáculo inolvidável.
Aquele último minuto vai ficar marcado na história do Hóquei português, e na memória de todos os que enchiam o Pavilhão da Luz. Virar um resultado de 3-4 para 6-4 em apenas 68 segundos, frente a um, também ele, candidato a todos os títulos nacionais e internacionais, não é proeza que possa passar em claro. E apenas está ao alcance daquela que é hoje, sem dúvida, uma das melhores equipas do mundo, e, porventura, a melhor de sempre do Hóquei "encarnado".
Não será preciso lembrar que, apesar destas exuberantes manifestações de qualidade, ainda nada está ganho esta época. Tenho a certeza que os festejos estão bem guardados lá mais para o fim. Mas, a manter-se o espírito, todas as ambições são legítimas.
Enquanto Benfiquista, e apaixonado do Hóquei em Patins, tenho um sonho: ver o capitão Valter Neves erguer mais um troféu de Campeão Europeu, desta vez na nossa casa, perante uma multidão idêntica à de sábado passado. Até o adversário poderia ser o mesmo. Fica já reservada uma das doze passas da passagem do ano."

Luís Fialho, in O Benfica

quinta-feira, 24 de dezembro de 2015

Feliz Natal

O medo de uns e o excesso de coragem de outros (sempre os mesmos... com os mesmos)

"O medo ou o temor reverencial é o que temos de erradicar do futebol português. A uns tudo perdoam, em tudo encontram desculpas.

Neste tempo de Natal, onde cansa falar sempre dos mesmos temas (não dos temas do nascimento de Jesus, mas da eterna mania do clube rival passar o Natal a dar-nos alegrias... mesmo com o menino Jesus por lá), algumas notas avulsas de temas que, só por si, dariam artigos de fundo. Mas tudo tem o seu tempo (ou, como diria Filipe II, I de Portugal... «o Rei e o tempo tudo resolverão»).

O medo de uns...
1. Muita coisa se tem dito, ouvido, escrito e lido sobre as (animadas) jornadas do futebol português. 
Sempre assim foi... mas, reconheçamos, a ânsia de proteger uns e condenar, sem culpa formada, outros começa a ser um bocadinho excessiva (a fase natalícia ameniza os corações e relativiza a adjetivação usada).
Na verdade, alguns, pese embora serem evidentes os factos, há quem teime em desculpar ou omitir o que não tem desculpa e encontrar problemas onde eles não passam de situações normais.
A uns, tudo perdoam, em tudo encontram desculpas!
A outros tudo exigem, em tudo encontram razões de crise.
Cada vez mais acredito que, também aqui, existem duas facções: aqueles que têm medo... e aqueles que têm coragem.
Ou seja, o medo contra alguns... e o excesso de coragem contra outros! Que tantas vezes se confundem num só lado da barricada da fabricação de opinião, ou seja... aqueles que têm medo de uns e coragem contra outros.
De facto, como diria Ricardo Costa, antigo Presidente da Comissão Disciplinar da Liga, frase que relembro sempre que posso, tenho para mim que o principal problema do futebol português é... o medo!!!
O medo ou o temor reverencial, na sua aparência mais soft (mas com iguais resultados práticos) é o que temos que fazer erradicar do futebol português.
Para que cada clube, cada jogador, cada dirigente de clube, cada agente desportivo, máxime árbitros e observadores sejam, isso sim, livres.
Com efeito, se tomarmos em atenção pequenos exemplos - sobre grandes coisas - percebemos que é o medo que impera, regularmente...
Vejamos:

O temor de Lopetegui
(versão actual do medo aos dirigentes de um certo clube)
2. O desfecho do Nacional-Porto, 1-2, é exemplo disso! Lopetegui, que tanto sabe - e critica! - sobre arbitragem, na maior parte das vezes, alheia ao seu clube, teve duas grandes penalidades não marcadas contra a sua equipa na Choupana... Alguém o questionou - de forma profissional, séria e insistente, como a situação o exigia - sobre esses dois escândalos (um pelo menos tão grande como a Torre dos Clérigos); quer na flash interview, quer depois na conferência de imprensa?
Não! Como sempre...
Ai se fosse no Benfica...
O mesmo Porto foi eliminado da Liga dos Campeões, como (ainda) se lembram... e mesmo quando não se lembrarem, vou fazer questão de lhes reavivar a memória! Bastava um empate, em casa, para ser qualificado!!! Disseram, por aí, que a culpa foi sua... sim, de Lopetegui!
Alguém o questionou, de forma profissional, séria e insistente, como a situação o exigia? Nem na flash interview, nem na conferência de imprensa após o jogo!!!
Ai se fosse no Benfica...
A verdade é que alguma comunicação social o tem (a ele como ao seu clube) como intocável, a julgar pelo número de assuntos que ninguém tem a ousadia de abordar...
É que nem se atrevem!
Não percebendo a razão (lógica) desse comportamento, só poderei achar que é por... medo.
E tenho todo o direito de o achar...
Ai se fosse no Benfica...

O receio do Sporting
3. Pior que ter medo de um treinador, é ter um clube como intocável...
O Sporting perdeu, recentemente, duas vezes consecutivas: contra o Braga e contra o União da Madeira - sendo que a primeira derrota culminou na eliminação da Taça de Portugal... e a segunda na perda da liderança do campeonato!
Ainda assim, nada se diz...
Para eles a estrutura e o treinador continuam intocáveis!!! Mesmo quando começam a vacilar...
Ai, se fosse no Benfica (ainda que fosse com o mesmo treinador, se bem que sem assessorias de imprensa reais ou por simpatia)...
Neste momento, o Sporting ganhou três vezes ao Benfica (diria que já têm a época feita, e o campeonato deles, o da segunda circular, aquele que realmente lhes interessa, conquistado). Porque, se analisarmos - com olhos de ver - a época que andam a fazer, não poderia deixar ninguém eufórico... como eles andam todos por aí. Não está na Liga dos Campeões.
Passou aos 1/16 de final da Liga Europa, a muito custo... Mas mesmo assim, ninguém questiona, jornalisticamente, se as opções do treinador foram as mais corretas ou se a equipa tem qualidade para aguentar a época assim, apesar de tanta compra (como é habitual em quem lá está). Ninguém questiona. Ponto! Pelo contrário, continuam fascinados... achando, inclusivamente, cada vez mais graça a todo o tipo de intervenção do seu presidente e a todas as piadas arrogantes do seu treinador!
Ai se fosse no Benfica...

A coragem contra o Benfica
4. Os mesmos que assumem todo o tipo de permissividade e comportamentos desculpantes para com as atitudes dos nossos adversários, com receio (medo, é o que é...) do que lhes possa acontecer, enchem-se de coragem para analisar o dia-a-dia do Benfica.
Por termos empatado na Madeira, com o União, foi um escândalo (até poderei reconhecer que foi, mas apenas queria que tratassem os outros resultados escandalosos também como verdadeiros escândalos e não como resultados... menos positivos).
Apenas para recordar alguns, no dia seguinte ao empate na Madeira, havia manchetes (e críticas) para todos os gostos nos jornais desportivos: «sem desculpa» ou «nem golos nem ideias»... podia-se ler.
Todo um drama, portanto!
Por sua vez, o Sporting perde na Madeira, contra o mesmo União, no passado domingo, que foi (compreensivelmente) entendido, pela mesma comunicação social, como... «efeitos do jogo da Taça»! 
Quando a equipa do Sporting, bem vistas as coisas, teve mais dias de descanso que o Benfica!!!
E quais foram os destaques dos jornais desportivos logo após a esse jogo, que ditou a perda da liderança do campeonato do Sporting?!
Também para todos os gostos!
Além de terem realçado (ou quase unicamente destacado) - para não variar - o Benfica, para não terem de criticar os outros: «Leão cai, dragão na frente e águia está viva»; ou «União provoca primeira derrota do Sporting na Liga»; ou, ainda, «Leão atrofia na Choupana».
Nada de grave, portanto!
Ai se fosse no Benfica...
Isto já para não falar na diferença de tratamento que é dada aos respectivos presidentes...
O Sporting tem um presidente que fala todos os dias...
Por sua vez, o presidente do Benfica, após os sucessivos prejuízos - 15 penalties, 15 - que o clube tem sido alvo esta época, criticou a arbitragem de Manuel Oliveira, no Benfica-Rio Ave, pelos seus erros escandalosos - nomeadamente três grandes penalidades que ficaram por marcar -... e acharam um escândalo!!!
É preciso ter paciência...

O exemplo que vem de fora... e o futuro
5. Como se sabe, foi recentemente anunciado pelo Comité de Ética da FIFA a suspensão de Joseph Blatter e Michel Platini, por oito anos, devido a um alegado pagamento irregular, em 2011.
Independentemente da opinião de cada um, realça-se a coragem dessa medida aos senhores do futebol europeu.
Um exemplo a seguir... sem medo!
Seguem-se as sucessões nos respectivos cargos... Será que esses mesmos castigos terão um efeito dominó no futebol português, ao nível das Presidências da FPF, da Liga e da Arbitragem?
Ou, para ser mais directo, uma possível (embora não muito fácil, ainda...) candidatura de Fernando Gomes à UEFA, provocaria mudanças em toda a liderança do nosso futebol.
Reconheço a Fernando Gomes essa capacidade de transformar cada mandato numa oportunidade. Quando nada o fazia prever, surgiu na Liga. Depois da Liga seguiu-se a Federação. Será que, depois da FPF, seguir-se-á a UEFA?
Vamos ver.

Bom Natal
6. Quanto ao resto, um Bom Natal, para todos... um Santo Natal, para os que acreditam mesmo no menino Jesus.
Todos, os do Bom ou os do Santo, porque temos obrigação de fazer do Natal Bom e Santo... para todos!"

Rui Gomes da Silva, in A Bola

Lateral de forte vocação ofensiva

"Grimaldo começou a sua trajectória futebolística no Valência, de onde rumou, em 2008, ao Barcelona. onde foi transformado de médio-ofensivo virtuoso em defesa. Lateral-esquerdo de forte vocação ofensiva, destaca-se por ser muito rápido, disponível fisicamente - pode tornar-se mais resistente - e capaz de imprimir acelerações, o que lhe permite assumir acções de condução, até porque possui atributos interessantes de ordem técnica, e de desmarcação, mostrando sagacidade a oferecer largura e a atacar a profundidade. Com argumentos no passe e nos cruzamentos, surpreende pela forma exímia como bate livres directos, livres laterais e pontapés de canto. No capítulo defensivo, mostra mais argumentos na defesa de posições exteriores, ao tirar partido da sua velocidade, agilidade, agressividade e sagacidade posicional do que na defesa de posições interiores, onde exibe algumas carências no jogo aéreo e nos duelos corpo a corpo."

Rui Malheiro, in Record

2.ª Liga às vezes melhor que a 1.ª Liga

"Já aqui escrevi sobre a 2.ª Liga. Todavia, a ela volto, Desde logo para saudar o anunciado fim da anomalia de uma competição com 24 clubes e 46 jornadas! Depois, para enfatizar a sua competitividade, em que entre os que podem subir e os que podem descer a distância não é muito cavada. Retirando as equipas B, os líderes da classificação estão em sucessivas mudanças e os resultados dos encontros suscitam interesse, pois qualquer desfecho pode acontecer com naturalidade. A distância entre o agora segundo a subir (Chaves) e o agora o 12.º (meio da tabela) é apenas de 6 pontos. E entre o primeiro abaixo da linha de água e o quarto classificado é tão-só de 9 pontos.
Outro aspecto a salientar tem a ver com a importância da 2.ª Liga para os clubes que lá jogam com as suas equipas B.
Já foi assim com o aproveitamento que o Vitória de Guimarães fez para promover jovens atletas e, de entre os grandes, muito tem beneficiado o Benfica e o Sporting (aparentemente menos o FC Porto) com a mais rápida descoberta de talentos e a promoção de juniores de boa craveira. De vez em quando vejo na televisão jogos desta competição e confesso que muitos deles são mais interessantes que a molhada de jogos entre equipas da Primeira Divisão com estádios vazios e paupérrimo futebol, muitas vezes na busca de irritantes nulos de empatas.
Em meu entender, deveria haver 3 equipas promovidas (ou, pelo menos, a terceira a disputar um play-off com o antepenúltimo da 1.ª Liga) e não duas. Melhoraria a 2.ª Liga e também a 1.ª Liga onde o facto de só descerem duas torna o seu futebol ainda mais conformado e cinzento."

Bagão Félix, in A Bola

quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

Capitães!!!

O elogio no meio da mediocridade

"A emoção é a especiaria do desporto. Os golos são o sal do futebol. O jogar para ganhar é a essência do espectáculo. É preferível um 3-2, 4-3 ou 5-4 do que o magro e costumeiro 1-0. Por isso, o futebol inglês é o melhor. Lá não se joga, em tons cinzentos, para empatar o jogo e o tempo.
Por cá, esta norma da Liga inglesa é a excepção. Quase sempre o que vemos é o jogo e o antijogo, numa união exasperante e entediante. Depois, alguns clubes queixam-se da escassez dos direitos televisivos de transmissões que quase ninguém vê, a não ser o reduto dos apaniguados.
Nas últimas semanas, houve dois jogos que contrariaram esta regra. Um deles foi a atitude do Vitória de Setúbal diante do Benfica. Perdeu, mas marcou dois golos e contribuiu para a valorização do espectáculo jogando com a ideia sempre na baliza contrária. O outro foi o esplendor do jogo jogado: o Sporting de Braga-Sporting. Como há dois anos e pelo mesmo resultado, havia sido o Benfica-Sporting para a Taça. Emotivos, com cambiantes no resultado, sem tempo perdido, com entrega sem limites. São estes jogos que ainda fazem pessoas acreditar que vale a pena ir a um estádio.
Mas, também há dias, houve uma partida numa modalidade às vezes votada ao degredo desportivo que merece ser enfatizada. Refiro-me ao Benfica-Porto em hóquei em patins, tão bem jogado pelas duas equipas como apaixonante no desenrolar do marcador. Um hino a esta modalidade, e neste caso até no fair play de todos.

P.S. Manuel Oliveira (AF Porto) teve uma arbitragem miserável na Luz no passado domingo. Tão miserável que até dá que pensar..."

Bagão Félix, in A Bola

Vespas na derrota

"Se fosse presidente de um clube de futebol ambicioso e um dirigente meu, na liderança de uma delegação, decidisse espairecer numa discoteca da moda, o que faria? Enquanto os jogadores - jovens de vinte e poucos anos - descansam, o líder posa para fotografias, qual estrela de cinema. As estrelas não são os atletas? Que, aliás, o regulamento interno impede de sair à noite nos dias que antecedem a competição? O representante da autoridade que impõe as regras é o primeiro a incumprir?
Se fosse patrão desse dirigente não sei o que faria. Mas, no mínimo, se se tratasse de um profissional, promovia-lhe um processo disciplinar onde teria de justificar esse desvio grave ao comportamento aceitável no exercício das suas funções. O exemplo deve sempre vir de cima. Se alguém chefia uma delegação, deve constituir-se no defensor das regras que a regulam.
Tudo isto vem a propósito das fotos que circulam sobre a presença de Bruno de Carvalho na discoteca mais 'in' da Madeira. Aí se vê, nas Vespas, o dirigente do Sporting a posar para a esquerda e para a direita. Se Bruno de Carvalho fosse uma estrela da equipa que lidera, não poria um ar mais embevecido, nos múltiplos registos para a posteridade da sua presença.
No plano pessoal e familiar, o dirigente não fez nada de grave. Mas, no plano profissional, teve um comportamento leviano. Na liderança de uma delegação oficial, não cumpriu as regras de que deve ser guardião. Se fosse patrão dele, só não o despedia caso apresentasse excelentes resultados nos próximos desafios."

Honrem as camisolas?

"É preciso recuar bastantes anos para nos recordarmos de um ambiente tão tenso num jogo do Benfica no Estádio da Luz, como o deste fim de semana com o Rio Ave. Coro de assobios, faixas a exigirem mais da equipa e claques a pedirem aos jogadores para honrarem as camisolas. No fim, com um resultado positivo e com mais uma partida decidida num ímpeto atacante final, o ambiente lá se recompôs. Não quer dizer que os problemas de fundo estejam resolvidos.
Desde logo, o apelo para que os jogadores honrassem a camisola. Trata-se de um equívoco: o problema do Benfica não tem sido de profissionalismo - no domingo, não vislumbrei nem apatia, nem falta de empenho. O que se viu, uma vez mais, foi uma equipa que joga aos repelões e que depende da qualidade individual para resolver o que o conjunto não é capaz de solucionar. Umas vezes é Gaitán, outras é Jonas que vão ultrapassando os bloqueios colectivos. Sem uma ideia de jogo, sem organização, torna-se bem mais difícil, para recuperar uma metáfora do passado, ao 'Manel' brilhar, integrar-se no conjunto e disfarçar as debilidades individuais. A consequência é clara: a jogar assim, os melhores pioram e os menos bons nunca melhorarão.
Ora, com muitos 'Manéis', um par de jovens muito talentosos, dois ou três craques e uma equipa num limbo tático (ainda não abandonou o sistema de Jesus e não abraçou o de Vitória), o Benfica está condenado a sofrer em campo. Até ver, estamos em Dezembro e os resultados têm sido bem melhores do que as exibições. O menor dos problemas é o empenho dos jogadores."

O abraço de Jonas ao povo

"O Campeonato da Liga despediu-se de 2015 e cumpriu-se a tradição, ao impedir o Sporting de passar o Natal na condição de líder, privilégio que o FC Porto recebeu quase como dádiva divina por não esperar, certamente, tamanha generosidade por parte do leão, o qual se deixou enganar pelo mesmo União que a meio da semana surpreendera o Benfica, embora com uma diferença: Vitória ainda saiu de lá com um ponto, Jesus nem isso...
A última jornada do ano baralhou as contas que euforias descontroladas costumam suscitar e que, na circunstância, até prenunciavam um Sporting campeão. Não quer dizer que assim não seja, mas de hoje até 15 de maio de 2016, data da derradeira ronda da Liga, mais surpresas irão deparar-se-nos. Implicou, ainda, mudança de cenário em vésperas do clássico marcado para 2 de Janeiro, em Alvalade. De repente, é Lopetegui quem, pela primeira vez desde que assumiu o comando técnico do dragão, surge isolado na frente da corrida e as previsões que apontavam em determinado sentido obrigam agora a exercícios inversos, na medida em que o avanço leonino de dois pontos a que poderia juntar-se mais três em caso de sucesso, o que, somado, daria expressiva margem de conforto a Jesus para atacar a segunda volta, já faz parte do passado. O presente oferece um FC Porto na liderança, com mais um ponto, o que, na mesma linha de raciocínio, somado a três, em caso de triunfo na casa do leão, dará quatro e o respaldo que se previa para Jesus transfere-se para Lopetegui, treinador bem mais tranquilo, pois, na pior das hipóteses, se for derrotado, voltará à desvantagem de dois pontos, a mesma que se verificava à entrada para a jornada 14. Além de dever reter-se no pensamento o calendário particularmente difícil do Sporting nas últimas jornadas: joga no Dragão na antepenúltima e em Braga na última.
Portanto, mais interesse, mais emoção, mais espectáculo, mais futebol de qualidade e três candidatos ao título.

O Benfica resiste, apesar de limitações no plantel, de problemas com lesões e de arbitragens infelizes. Mantém-se na luta e se a máquina de propaganda do Sporting, sob controlo remoto da teia de influências do Porto, não foi capaz de abatê-lo, é pouco provável que o consiga daqui em diante, por se adivinhar uma resposta cada vez mais forte da águia quando o plantel receber as peças que lhe têm faltado, como Salvio, Nélson Semedo e o capitão Luisão, e beneficiar de reajustamentos que se impõem na reabertura do mercado, sinal de que Rui Vitória, não possuindo a genialidade com que os deuses prendaram Jesus, também não é o aselha que pintam. Está a construir carreira sólida e o trabalho feito assenta na reserva, na competência e na seriedade, não tendo sido ocasional, por isso, a intervenção de Luís Filipe Vieira, anteontem: «Podem dizer mal do treinador, mas uma coisa é certa: o Rui Vitória é treinador do Benfica e vai continuar a ser».

A difícil vitória sobre o Rio Ave revelou que os jogadores estão empenhados, há vontade e disponibilidade, também espírito de sacrifício e inabalável união entre os artistas e entre eles e o povo, traduzido naquele abraço provocado por Jonas e que envolveu uma dezena de adeptos em representação dos mais de 40 mil que compareceram no Estádio da Luz para ajudarem na construção de um resultado que simbolizou muito mais do que três pontos: o testemunho de que a família benfiquista se mantém firme, capaz de resistir a resultados agrestes e de compreender, talvez a principal diferença em relação às de outros emblemas, a importância da mudança que está a ser operada na política do futebol, aceitando custos que têm de ser suportados em nome do futuro e da estabilidade da instituição. Uma cultura muito própria que conduz ao reforço dos laços solidários nos períodos de maior perturbação, como se percebeu este domingo. As coisas não estão a correr de feição, todos percebem isso, a começar pelos jogadores, e quando Jonas desatou o nó no marcador foi iniludível o gigantesco suspiro de alívio que se estendeu do relvado às bancadas, reflexo da cumplicidade que empurrou o avançado brasileiro para os braços dos que jogavam por fora..."

Fernando Guerra, in A Bola