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quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

O abraço de Jonas ao povo

"O Campeonato da Liga despediu-se de 2015 e cumpriu-se a tradição, ao impedir o Sporting de passar o Natal na condição de líder, privilégio que o FC Porto recebeu quase como dádiva divina por não esperar, certamente, tamanha generosidade por parte do leão, o qual se deixou enganar pelo mesmo União que a meio da semana surpreendera o Benfica, embora com uma diferença: Vitória ainda saiu de lá com um ponto, Jesus nem isso...
A última jornada do ano baralhou as contas que euforias descontroladas costumam suscitar e que, na circunstância, até prenunciavam um Sporting campeão. Não quer dizer que assim não seja, mas de hoje até 15 de maio de 2016, data da derradeira ronda da Liga, mais surpresas irão deparar-se-nos. Implicou, ainda, mudança de cenário em vésperas do clássico marcado para 2 de Janeiro, em Alvalade. De repente, é Lopetegui quem, pela primeira vez desde que assumiu o comando técnico do dragão, surge isolado na frente da corrida e as previsões que apontavam em determinado sentido obrigam agora a exercícios inversos, na medida em que o avanço leonino de dois pontos a que poderia juntar-se mais três em caso de sucesso, o que, somado, daria expressiva margem de conforto a Jesus para atacar a segunda volta, já faz parte do passado. O presente oferece um FC Porto na liderança, com mais um ponto, o que, na mesma linha de raciocínio, somado a três, em caso de triunfo na casa do leão, dará quatro e o respaldo que se previa para Jesus transfere-se para Lopetegui, treinador bem mais tranquilo, pois, na pior das hipóteses, se for derrotado, voltará à desvantagem de dois pontos, a mesma que se verificava à entrada para a jornada 14. Além de dever reter-se no pensamento o calendário particularmente difícil do Sporting nas últimas jornadas: joga no Dragão na antepenúltima e em Braga na última.
Portanto, mais interesse, mais emoção, mais espectáculo, mais futebol de qualidade e três candidatos ao título.

O Benfica resiste, apesar de limitações no plantel, de problemas com lesões e de arbitragens infelizes. Mantém-se na luta e se a máquina de propaganda do Sporting, sob controlo remoto da teia de influências do Porto, não foi capaz de abatê-lo, é pouco provável que o consiga daqui em diante, por se adivinhar uma resposta cada vez mais forte da águia quando o plantel receber as peças que lhe têm faltado, como Salvio, Nélson Semedo e o capitão Luisão, e beneficiar de reajustamentos que se impõem na reabertura do mercado, sinal de que Rui Vitória, não possuindo a genialidade com que os deuses prendaram Jesus, também não é o aselha que pintam. Está a construir carreira sólida e o trabalho feito assenta na reserva, na competência e na seriedade, não tendo sido ocasional, por isso, a intervenção de Luís Filipe Vieira, anteontem: «Podem dizer mal do treinador, mas uma coisa é certa: o Rui Vitória é treinador do Benfica e vai continuar a ser».

A difícil vitória sobre o Rio Ave revelou que os jogadores estão empenhados, há vontade e disponibilidade, também espírito de sacrifício e inabalável união entre os artistas e entre eles e o povo, traduzido naquele abraço provocado por Jonas e que envolveu uma dezena de adeptos em representação dos mais de 40 mil que compareceram no Estádio da Luz para ajudarem na construção de um resultado que simbolizou muito mais do que três pontos: o testemunho de que a família benfiquista se mantém firme, capaz de resistir a resultados agrestes e de compreender, talvez a principal diferença em relação às de outros emblemas, a importância da mudança que está a ser operada na política do futebol, aceitando custos que têm de ser suportados em nome do futuro e da estabilidade da instituição. Uma cultura muito própria que conduz ao reforço dos laços solidários nos períodos de maior perturbação, como se percebeu este domingo. As coisas não estão a correr de feição, todos percebem isso, a começar pelos jogadores, e quando Jonas desatou o nó no marcador foi iniludível o gigantesco suspiro de alívio que se estendeu do relvado às bancadas, reflexo da cumplicidade que empurrou o avançado brasileiro para os braços dos que jogavam por fora..."

Fernando Guerra, in A Bola

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