"Recurso a estratagemas antigos que, no caso, visa dois propósitos: impedir que o Benfica chegue ao tetra e retardar o colapso do ministério de Pinto da Costa
Neste charco de indecências em que o futebol português chapinha, os acontecimentos mais recentes mostram à saciedade que o vale tudo, sem olhar a meios nem medir consequências, continua activo e apostado em recuperar mordomias perdidas.
Em troca de uma conquista desportiva tudo se permite e tudo se perdoa. É a hipocrisia elevada à máxima potência, por debaixo da qual se aceitam malfeitorias e se promovem bandos de arruaceiros em grupos de bons rapazes que apenas pecam por excessos comportamentais, próprios da idade e cujas responsabilidades são por regra perdoadas.
Quando pensamos que já vimos de tudo, depressa nos damos conta do erro. Há cabeças luminosas que devem funcionar ininterruptamente para inovarem, agitarem e incomodarem quem quer frequentar os estádios apenas para ver futebol, se o autorizarem, de preferência na companhia da família. Na noite de sábado, assistiu-se a uma invasão tranquila vinda de algum lado, com a bendita ideia de apoiar a Selecção. Coisa estranha em lotação esgotada pela única claque unanimemente autorizada e que se chama 'Portugal'.
Tudo não passou de encenação mal amanhada e que, provavelmente, até serviu de ensaio geral para desempenho a condizer de 1 de Abril, embora tivesse sido motivo bastante para gerar indignações de conveniência em fracas memórias, esquecidas, por exemplo, de uma ocasião em que a Selecção viajava para a Galiza e teve de fazer o transbordo em Gaia, entre comboio e autocarro, de maneira a evitar cruzar-se com uma comissão de boas-vindas que tinha sido preparada para recebê-la com beijos e palmas, em Campanhã.
Estamos a assistir, nem mais nem menos, a uma tentativa de regressar ao lado mau do passado, depressa e em força, como alguém terá ordenado em tempos. É o recurso a estratagemas antigos, é o tal vale tudo que, no caso,visa dois propósitos: impedir que o Benfica chegue ao tetra e, consequentemente, retardar o colapso do ministério de Pinto da Costa.
É evidente que nenhum problema resulta de águias e dragões quererem ser campeões e lutarem por esse objectivo com todos os argumentos disponíveis. Rui Vitória e Espírito Santo são treinadores competentes e com trabalho relevante, por isso estão no topo da classificação. A rivalidade forte e leal dá saúde ao jogo e eleva a qualidade do espectáculo.
O problema não reside nos treinadores, muito menos nos jogadores. Localiza-se, sim, hoje e ontem, em dirigentes que ora se consideram donos da razão, ora, quando a intimidação não pega, recorrem a emaranhadas teias de influências no sentido de interferirem e, se necessário for, adulterarem o normal desenvolvimento de uma competição.
No antigamente, era precisamente por estas alturas que os árbitros eram chamados ao palco para acerto de conversas alinhavadas em espaços comerciais que a confraria do apito patrocinou e alimentou durante anos. Utilizo o verbo numa forma passada com intenção. Árbitro que quisesse subir na carreira sentia-se obrigado a frequentar determinados estabelecimentos de comida e de bebida para ficar bem visto. Os nomes desses locais eram conhecidos, mas a memória débil das pessoas (quase) tudo esquece...
Acredito, porém, que o presente é diferente, muito diferente, para melhor, obviamente. O sector dea arbitragem quer libertar-se e proclamar a sua independência ética e moral, mas há forças contrárias que o querem manter obediente e silencioso.
O Benfica lidera, mas tem gaguejado no seu futebol, o Porto é segundo, mas tem mantido seu caminho ascensional, e o campeonato está próximo do fim: condimento para transformarem o clássico do próximo sábado em jogo mais especial ainda e prometerem rajadas de boçalidades até lá, como a 'peregrinação' à Luz deu para entender. Mais uma vez sem culpas nem culpados.
Nota - Afirmou o chefe da claque dos Super Dragões à SIC Notícias que a única questão preocupante no Portugal-Hungria se limitou a pretensa agressão a Jaime Marta Soares. A isto chama-se genuíno espírito solidário na afinidade FCP-SCP. Quem diria!... Fernando Madureira abordou, no entanto, outro ponto que considero merecedor de reflexão: o Benfica não tem claques legalizadas, mas dá-lhes cama e comida, o que vai dar a mesmo.
(...)"
Fernando Guerra, in A Bola
PS: É incrível como o argumento das claques 'legalizadas' continua a desbravar crónicas!!!
Será que as claques legalizadas pagam impostos?! Será que as claques legalizadas deixaram de ter comportamentos desviantes? Será que algum dirigente das claques legalizadas foi penalizado pelo comportamento da respectiva claque?
E já agora, os nomes (e outros elementos de identificação) dos elementos das claques legalizadas, que foram entregues às autoridades, são dos membros das Direcções das respectivas claques?!
A hipocrisia como se continua a falar de claques legalizadas, ou se deve a pura ignorância ou então é simplesmente para desviar as atenções...!!!