"Exm.º presidente da FIFA.
Bem sei que o senhor esteve na semana passada em Portugal e foi muito elogioso para com o futebol cá do burgo. Os louvores endereçados têm toda a razão de ser. Afinal, um país de 10 milhões de almas residentes à beira-mar conseguiu conquistar o Euro no pino do verão passado - sabe, damo-nos bem com o calor e, normalmente, reagimos bem às provocações e à altivez, como fizeram os franceses.
O senhor é ítalo-suíço e, por isso, vive entre a frieza e a organização helvética e o meio caos e o sangue quente italiano. Como convite entre dois mundos, talvez perceba o pedido que lhe vou endereçar. Pronto, cá vai: não dá para autorizar a organização de uma grande prova todos os anos na qual Portugal esteja obrigatoriamente presente?
Sei que este meu desejo será um bocado complicado de satisfazer - talvez que tenha de recorrer ao lado italiano do desenrascanço - mas talvez seja a solução para desanuviar o ambiente, já que nem nos jogos de Selecção em solo nacional as guerrinhas e as polemicazinhas deixam de transbordar dos gabinetes do poder.
Sabe, senhor Presidente da FIFA, o futebol é das raríssimas indústrias em que conseguimos ser competitivos a nível mundial, mas por vezes quando olhamos para tudo aquilo que envolve o processo interrogamo-nos como conseguimos tão bom produto.
Enquanto decorrem as grandes competições, normalmente vê-se um país envolvido, empenhado e os clubes atarefados em preparar novas épocas e em descobrir mais um craque num qualquer lugar recôndito (ou não) do mundo e pouco falam.
Se estivermos sempre numa boa competição, se ganharmos festejamos; se perdermos discutimos os motivos dos desaires. Mas, pelo menos, não há estas coisinhas. Não dá mesmo para me fazer a vontade?"
Hugo Forte, in A Bola
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