"Aconteceu ontem à noite:
O comentador disse que tinha provas do que tinha dito na semana passada – e estava ali para apresentá-las, doesse a quem doesse, em nome da verdade, etcetera. “Não tenho medo”, garantiu ele à jornalista, que atravessou o corredor da TV onde trabalha para perguntar ao outro comentador o que achava ele daquilo tudo.
No caminho, a jornalista falou da “tensão no ar”, que era muita e quase tangível, ao ponto de a estação se ter visto obrigada a pôr os homens em salas opostas em nome da segurança - não fossem eles pegarem-se, subentenda-se.
“Estou aqui, calmo, à espera do que ele tem para me mostrar”, respondeu à repórter.
Um chama-se André Ventura, o outro é Paulo Andrade.
O primeiro tinha para mostrar ao país do futebol e dos portugueses, enfim, ao mundo em geral, que há uma claque que tem por hábito interferir nas AG de um certo e determinado clube. E o segundo iria perguntar ao primeiro porque raio falava ele dos outros clubes (e não do dele), e que isso enquadrava uma clara desobediência às recomendações do seu próprio presidente.
Rame-rame e lenga-lenga entrecortada com dotes de oratória e truques de argumentação, como o de responder com uma pergunta. O acusado passa a acusador.
O que interessava na CMTV fabricar um acontecimento, empolando o áudio do prestador de provas do Benfica e os argumentos do sócio que não fora à AG do Sporting porque um familiar seu fizera anos.
O canal deu tudo - e não desiludiu.
Mas não foi o único.
Noutro lado, à mesma hora, na TVi24, José de Pina tapou a cara com um tecido branco, porque Vieira tinha amordaçado os comentadores do Benfica – e todos sabemos que Pedro Guerra é um deles. Mas Pina, adepto do humor físico, também pôs um boneco do pinóquio à frente do portátil e, sempre que lhe cheirava a mentira, fez soar um alerta igual ao que se ouve quando o concorrente dá uma resposta errada nos concursos da TV. Chamou-lhe simplesmente “Alerta Pinóquio.”
E Pedro Guerra chegou a falar dos pais de Pina (que não o tinham educado para aquilo), do “mentiroso” Bruno de Carvalho, e do bom nome do Benfica. De Manuel Serrão, pouco, porque o que está a dar é o Pina e o Guerra.
Também à mesma hora, na SIC Notícias, discutiu-se o Facebook do Sporting, a candidatura de Vieira e a lealdade dos comentadores a Vieira, a comunicação dos clubes, e por aí fora. Um bocadinho mais sóbrio do que os outros, talvez pela natureza dos próprios intervenientes, mas com os mesmos conteúdos, como se não houvesse outros sobre que falar.
Mas havia.
Portugal tinha vencido as Ilhas Faroé por 6-0, André Silva marcara três, João Cancelo chegara ao terceiro em três jogos, Ronaldo abichara mais um recorde, Gelson partira dois pares de rins e até João Moutinho fizera um golo-de-fino-recorte-técnico, como diziam os antigos. E é a esses tempos antigos que podíamos voltar, a lugares saudáveis e higiénicos como o Domingo Desportivo, que nos ensinou a gostar de bola. Deixámos de gostar dela, salvo erro, quando apareceu o programa Os Donos da Bola.
Hoje, quando lhe perguntarem porque odeia as segundas-feiras, responda-lhes que não se aprende nada à segunda-feira."