"Seis jogos, zero pontos e um golo apenas. Não vale a pena esconder a imensa dor que foi a participação do Benfica na Champions.
1. Com a vitória, ontem, frente a um Estoril de Rui Vitória ultrapassou um dos obstáculos deste mês de Dezembro. O jogo teve bons momentos de futebol e mostrou a qualidade de Krovinovic, a utilidade do Pizzi e permitiu a utilização, com mais uma oportunidade, do Rafa Silva. Para aqueles que julgavam que este Benfica estaria afastado do sonho do penta até ao Natal é, na verdade, uma má notícia. Mesmo má. E percebemos a necessidade de ninguém ficar calado face a este sinal de vida do Benfica. Sabemos bem com Robert Stevenson que «um silêncio pode por vezes ser a mais cruel das mentiras». E sabendo isso entendemos os condicionalismos que se multiplicam a todos os instantes - e de todos os cantos e diferentes origens - e os silêncios que necessariamente se quebram. Mas também não nos iludimos quanto ao passado-presente. Por excelência a participação na Liga dos Campeões. Seis jogos e zero pontos - e um golo apenas - são muitos minutos de dor. Não vale a pena esconder a imensa dor que foi a participação do Benfica nesta edição da Liga dos milhões. Sabemos bem que o futebol é um terreno incerto se bem que jogado num rectângulo de medidas certas. Sabemos de experiência vivida que há factos ditos seguros e que num minuto ou mesmo num gesto substancialmente se alteram. Numa palavra mudam. Sabemos por sentimento assumido que o domínio, este domínio do futebol um muitos momentos do real quotidiano depende de nós, dos verdadeiros e apaixonados adeptos. Mesmo que haja, agora, alguns racionais simpatizantes de futebol que se preocupam com o ambiente que o rodeia, as circunstâncias que motivam a busca incessante de audiências ou as rupturas semânticas que o atingem. E não se interrogam, na sua escrita sempre provocante mais inteligentemente simpática, por que certos programas televisivas se iniciam às vinte e duas horas e perduram quase cento e vinte minutos. Tempo regulamentar mais prolongamento... Nem interrogam os directores - ou mandantes - dos diferentes canais televisivos acerca da insistência desses horários ou desses participantes. Como sou do tempo da televisão única, e a preto e branco, sei bem que não tinha opção. E agora sei que carrego no botão, tudo a cores, e salto de canal, de participantes, de comentadores e até de alguns que me motivam séria dor! E se compararmos com os jornais editados a escolha televisiva é bem mais ampla e diversificada! Mas importa não ignorar que o futebol deste adepto racional mas verdadeiramente apaixonado, nos leva a acreditar, muitas vezes, em tudo. Em rigor em quase tudo. Seja certo ou mesmo, em certas situações, bem errado. E não nos importamos, em certos momentos, em sermos vitimas da ficção. É que a ficção é uma parte da religião que assumimos. Não daquela fundamental que nos interpela acerca da vida, e da sua essência, mas sim daquela que nos leva, em diferentes semanas, a uma diferente catedral - cada vez mais modernas e cómodas - a cantar, antes do apito inicial, o nosso hino - o cântico de entrada! - e a repetir, ao longo de mais de noventa minutos, gritos de alma ou sons de revolta. E um grande escritor, Manuel Vásquez Montalbán, proporcionou-nos, em 2005, e para reflexão, um livro bem interessante com o sugestivo título Fútbol: una religión en busca de um Dios. Por isto tudo sabemos que as coisas não são, de vez em quando, como as desejamos ou, até, como parecem. Seja ao nível das competições europeias. O que é inequívoco, aqui, é que a Liga dos Campeões é, cada vez mais, uma liga que a partir dos oitavos de final é, por excelência, para as grandes marcas. Que ano após ano chegam ao sorteio do meio de Dezembro, ou seja, os sorteio de amanhã. Das dezasseis equipas que estarão nos potes - e como um sorteio condicionado já que, por exemplo, o Barcelona terá 41,3% de hipóteses de lhe calhar o Chelsea! doze são das cinco principais ligas: cinco inglesas (Man. United, Man City, Chelsea, Liverpool e Tottenham), três espanholas (Real Madrid, Barcelona e Sevilha), duas italianas (Juventus e Roma) e uma alemã (Bayern) e outra francesa (PSG). Ou seja 75% do total. E os outros 25% são originários das ligas portuguesas (FC Porto), turca (Besiktas), suíça (Basileia) e ucraniana (Shakhtar). O que esta época evidencia é que Espanha e Itália ainda não perderam nenhum clube nas duas competições europeias, a Inglaterra tem cinco clubes da Liga dos Campeões e a Rússia tem quatro clubes na Liga Europa. E, em outro prisma, a Alemanha perdeu já quatro equipas nas duas competições (3/7), Portugal metade das inicialmente presentes (3/3) e a Bélgica ficou sem representantes nas duas Ligas que marcam o tempo e a atenção de milhões de adeptos de terças a quinta feitas de muitas semanas do ano. E com horas fixas de forma a que saibamos de antemão quando devemos estar presentes. Ou nos diversos estádios ou em frente ao televisor. Ou, agora, e de forma inovadora, perto das novas e ágeis formas de percepção e recepção das imagens que são prazer e, num ápice, se tornam numa intensa dor. É o futebol e o seu sortilégio!
2. A meio da próxima semana, na próxima quarta feira, o Benfica desloca-se a Vila do Conde para defrontar o estruturado e organizado Rio Ave e para lutar pelo acesso aos quartos de final da Taça de todos. Será mais um jogo complexo, difícil e que determina a permanência na luta pela ambicionada conquista de mais uma Taça de Portugal. Há poucos dias comprei o livro de um dos jogadores marcantes do Rio Ave: Tarantini. O livro do Mestre Ricardo Alves Monteiro - seu verdadeiro nome - tem um título motivante: A minha causa. E é, também, a história, bem bonita, de «um menino que nasceu em Baião e que sonhava ser jogador de futebol». E o sonho concretizou-se. Mas «como na vida, e até mesmo para os magos do futebol, a realidade é que não seremos eternos dentro das quatro linhas». E nunca desistiu de estudar e concluiu, com mérito, o mestrado em Ciências do Desporto. E a sua mensagem final para os Pais deve ser, aqui, replicada: «Pensem nas consequências que uma aposta exclusiva pode significar para o futuro deles»! E nos agradecimentos lá está a menção, justa, ao Amigo João Cavaleiro. Entre muitos outros! O livro de Tarantini ajuda-nos, desafiando-nos, a entender que «a educação é uma coisa admirável». Bem haja Mestre Ricardo! Parabéns Tarantini! Pelo exemplo e pela dedicação!
3. Na quinta feira, Paris e o Mundo assistiram, sem espanto, à conquista da Penta Bola de Ouro de e por Cristiano Ronaldo. Fantástico! Singular! Ontem assistimos a uma linha homenagem ao Zé Pedro e, também, aos Xutos no Estádio da Luz. Que felicidade e que fidelidade! E o Zé Pedro como ontem disse o Tim acreditava na conquista do penta!!!"
Fernando Seara, in A Bola