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quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Para além do limite do razoável

"Há místicos que entendem o apoio a Fernando Gomes como mais um passo para se prove, de dez em dez anos ou de cinco em cinco anos, que o Bem até pode vencer.



CAUSA perplexidade a inquietação entre muitos, mas mesmo muitos, benfiquistas este facto, aparentemente bizarro, de o Benfica apoiar com insuspeita frontalidade a veemência a candidatura de Fernando Gomes, ex-administrador da SAD do FC Porto, à presidência da Federação Portuguesa de Futebol agora que, pela norma vigente, a dita Federação vai reocupar-se dos negócios da disciplina e dos árbitros.

No momento em que, repito, o FC Porto tem um Fernando Gomes bi-bota na sua estrutura e um Fernando Gomes bi-presidente nas estruturas da Liga e da Federação, este entusiasmo do Benfica pela próxima nomenclatura superintendente do futebol português não deixa de causar pasmo.

Sobretudo entre aqueles que recordam, por exemplo, o facto de Fernando Gomes, o bi-presidente da Liga e da FPF, o homem em que o Benfica aposta para regenerar o sistema, deter funções de grande responsabilidade no FC Porto à época em que outros responsáveis do clube, portanto todos colegas, tratavam pelo telefone dos negócios da disciplina e dos árbitros usando uma rebuscada terminologia que levou a Polícia Judiciária e o Ministério Público a suspeitarem de graves maroscas contra a verdade desportiva.

Felizmente que para o bom nome de todos e para a tranquilidade geral, os juízes que julgarem esses casos não encontraram o mais leve indício de práticas mal sãs, pelo que todos os acusados saíram ilibados e em ombros, com excepção das gentes mais modestas do Boavista e do Gondomar que ainda hoje arcam com as consequências práticas dessa maré de investigações judiciais.

De tudo isso, para o FC Porto apenas sobrou um leve empalidecimento das suas muitas glórias, uma sombrazinha de mau aspecto e nada mais.

Se é verdade que Fernando Gomes nunca foi escutado a encomendar almocinhos para árbitros rebeldes nem fruta de dormir para árbitros da corda, também é verdade que nunca Fernando Gomes, o bi-presidente, não o bi-bota, se demarcou desses modos vigentes durante a sua vigência como administrador da SAD do FC Porto. Mas também nunca ninguém, nenhum jornalista, por exemplo, e confrontou directamente com a questão.

E, presentemente, temos o Benfica, que tanto de deliciou com o processo Apito Dourado, a apoiar com firmeza a entrega da disciplina e dos árbitros ao ex-colega de Pinto da Costa nesse período áureo da fruta, do café com leite e das chantagens fantásticas, lembram-se?

Não admira que haja benfiquistas confusos com estas coisas. Uns por terem a mania da perseguição, o que é uma doença, outros por terem a certeza da perseguição, que é um facto.

Outros, de cariz mais místico, entendem que o apoio a Fernando Gomes é mais um passo deste martírio que devemos suportar com um sorriso beato nos lábios para que se prove de dez em dez anos ou de cinco em cinco anos que o Bem até pode vencer como aconteceu em 1993/94, em 2004/05 e em 2009/10. E, assim, campeões mais ou menos bissextos, continuaremos a municiar o nosso registo martirológico com novos dados sempre surpreendentes.

Pessoalmente não me revejo em nenhuma destas filosofias que atormentam os meus consócios no que concerne à eleição de Fernando Gomes como presidente da Federação Portuguesa de Futebol.

E, certamente que por portas travessas, dou razão a Luís Filipe Vieira no seu apoio declarado ao ex-administrador da SAD do FC Porto.

Porque, francamente, isso é coisa que não tem importância nenhuma e não decide campeonatos.

Sabem o que decide campeonatos?

É jogar bem futebol. Tome-se o exemplo do jogo de sábado passado com o Paços de Ferreira, no Estádio da Luz. O árbitro, que se chama Bruno Esteves, portou-se como um verdadeiro herói, utilizando a nomenclatura em voga. E os seus fiscais-de-linha portaram-se também de modo heróico.

Um golo mal anulado a Cardozo, uma série absurda de foras-de-jogo mal assinalados em desfavor do Benfica, duas grandes penalidades por assinalar contra os visitantes, um cartão amarelo de gargalhada a Gaitán... e nada disto impediu que o Benfica partisse sempre de alma renovada e cheio de força nas pernas para cima do Paços de Ferreira que saiu vergado a uma derrota expressiva.

É assim que se ganham campeonatos, a jogar bom futebol e sem choradinhos, sem culpar o presidente da Liga ou presidente da Federação, ou os dois em um, sem blasfemar contra árbitros vendo em cada fora-de-jogo mal assinalado uma salva de prata carregada de fruta subindo pelas escadas de serviço de uma qualquer unidade hoteleira de 5 estrelas rumo ao quarto 1893, curiosamente, o ano da fundação de grande rival.

Deixemos, portanto, o Bruno Esteves em paz. Esteve mal na Luz no jogo com o Paços de Ferreira como também já tinha estado muito mal em Paços de Ferreira no jogo com o Vitória de Guimarães, deixando os homens do berço da nacionalidade à beira de um ataque de nervos.

Será caso para se concluir apressadamente que Bruno Esteves nasceu na Mata Real? É sócio do Paços de Ferreira deste pequenino? Quando era jovem militava entusiasticamente na claque Yellow Boys?

Não, de modo algum.

É apenas caso para dizer que se trata de mais um mau árbitro que conseguiu ascender à primeira categoria e que por ser ainda jovem vamos ter de o ver evoluir ao longo de muitos, muitos anos.

E perante isto o que interessa se Fernando Gomes é ou não é o presidente da Liga?

Preocupe-se o Benfica em ter bons jogadores, bons treinadores, em mantê-los, em manter viva uma alma competitiva que lhe está no código genético e não haverá árbitros fanáticos do honrado Paços de Ferreira nem bi-presidentes que o passam atormentar para além dos limites do razoável.



PARA além do limite do razoável, este tipo de situações não ocorrem apenas em Portugal. Tome-se o exemplo do jogo do Zénit de São Petersburgo com o FC Porto na semana passada. Os russos ganharam de forma inapelável, viram um golo seu mal anulado por um fora-de-jogo que não existiu e viram validado o golo do FC Porto, obtido em posição de fora-de-jogo.

E qual foi o resultado? 3-1 a seu favor. E porquê? Porque o Zénites não se deitaram a chorar sobre os erros de um árbitro estrangeiro e neutral, antes preferiram cavalgar para cima do adversário e arrecadar os 3 pontos com eficácia e pragmatismo.


DANNY não vai estar amanhã no Estádio do Dragão e representar a selecção nacional no jogo com a Islândia. Foi acometido de um mal que o impede de dar o seu contributo à equipa de todos nós. A FPF ainda não esclareceu qual o problema que aflige Danny e a imprensa, sempre atenta, tem avançado com várias hipóteses.

Quanto a Danny, silêncio. Nem uma palavra sobre o assunto proferiu o número 10 do Zénit, o que se respeita mas não deixa de causar surpresa a suscitar especulações.

Que não seja nada de grave, é o que se deseja.

Mas é uma pena Danny não aparecer amanhã pelo Estádio do Dragão. Em primeiro lugar porque é um excelente jogador. Em segundo lugar porque seria curioso vermos como é que a afición portista iria receber em sua casa o artista que festejou de modo tão pouco ortodoxo o bonito golo que apontou contra o FC Porto, lá longe, em São Petersburgo.

E estes pormenores animam sempre os espectáculos."



Leonor Pinhão, in A Bola



PS: O problema da teoria da Leonor, é que ganhar como fizemos com o Paços, mesmo com uma vergonhosa arbitragem, só resulta algumas vezes... quando o valor das equipas é mais equilibrado, dificilmente se consegue corrigir a inclinação somente com suor e talento, e ao fim de 30 jogos só com uma grande diferença de competência dentro das quatro linhas, é que podemos aspirar a superar os sucessivos erros, uns contra a nossa equipa, e os outros a favor dos do costume...

O Zenit, também venceu, mesmo prejudicado em alguns lances, mas aqui a equação é outra: como os erros foram consequência de incompetência, e não foram premeditados, quando o árbitro observou uma falta para 'vermelho', para um jogador Corrupto, não hesitou... e justiça foi feita.

A vida do treinador

"As coisas correm mal? Solução sempre disponível: muda-se o treinador. Assim é no luso futebol. A fronteira entre o «nosso treinador» («forever» ou «até ele querer») e dispensado treinador mede-se por milímetros de causalidades. Às vezes, um simples acaso segura um treinador, outras vezes o afasta, na esperança de um qualquer incumbente milagreiro que tudo mude na aparência.

Nas últimas semanas assistimos a alguns desses acasos no Campeonato, Domingos Paciência viu desaparecer as nuvens negras quando a dez minutos da hecatombe em Paços de Ferreira, a sua equipa virou um 0-2 em 3-2 sem que se percebesse porquê. Vítor Pereira passou rapidamente de categórico treinador principal a adjunto de um treinador ausente e perto de ser condenado não fosse o Danny e companhia não terem marcado mais um ou dois golos na Rússia. Em Leiria, com Cajuda (um bom treinador), atribui-se à sua mudança do clássico bloco de apontamentos para a tecnológico iPad a vitória sobre o Braga. Um novo gadget que, pelos vistos, atrai melhor a atenção dos jogadores cujos tempos livres são ocupados com playststions e derivados! Um Cajuda que ajuda...

E no Benfica, a jogar um soberbo e vivo futebol, sabe-se lá porquê o seu presidente não escolheu melhor altura para criticar publicamente o seu treinador (isso não se deverá fazer dentro do clube?) e elogiar, com um desajeitado cinismo táctico, o treinador do principal adversário.

É difícil a vida de treinador... É sempre o culpado. Herói ou vilão numa semana, num dia, num instante. Basta a bola ir à trave ou um penalti não ser convertido. Ou advir de uma mesma substituição que tanto pode definir um génio visionário como um incompetente timorato."


Bagão Félix, in A Bola

Os lances que a gente discute

"Com o Luisão, só comigo é que aquilo não foi falta. Há histórias com esse árbitro do encontro com o Benfica que eu não posso contar porque isto está a gravar.

Ricardo

no sábado, em entrevista ao expresso


Uma coisa é discutir a expulsão de Rinaudo. As leis de jogo distinguem entre «imprudência», que «significa que o jogador ou as consequências do seu acto para o seu adversário», e que vale cartão amarelo, e «força excessiva», que «significa que o jogador faz uso excessivo da força, correndo o risco de lesionar o seu adversário», e que tem como consequência a expulsão. Dizem ainda que «um tackle que ponha em perigo a integridade física de um adversário deverá ser sancionado como falta grosseira», que também vale o vermelho. Que Rinaudo foi imprudente não há dúvida. Terá havido força excessiva? Eu acho que não - pelo menos maldade não houve -, mas admito que me digam que sim, ou que pôs em perigo a integridade física do adversário.

Outra coisa, bem diferente, é olhar para um lance em que um jogador não toca noutro e achar que há falta. Aconteceu por exemplo em 2005, num Benfica-Sporting, em que Luisão saltou com Ricardo, marcou de cabeça e deu o título às águias.

É lance que nem merece discussão. Já passaram mais de seis anos, mas Ricardo continua a achar que sofreu falta. Como diz um colega meu, talvez pense assim porque de todos os milhares de olhos a ver pela televisão os dele eram os únicos que estavam fechados naquele momento.

Eu acho que o meu colega está a ser mauzinho... Só porque no Euro-2008, nos quartos-de-final com a Alemanha, Portugal foi eliminado e o Ricardo sofreu três golos indo sempre à bola com os olhos bem fechados, como as fotografias documentam."


Hugo Vasconcelos, in A Bola