"Se os golos e as boas exibições servissem para amortizar a dívida que deixou Portugal à beira do abismo, os das duas últimas jornadas europeias podiam, também a esse nível, ter prestado um bom serviço. Falo em particular daqueles que vi, ou seja, dos do Benfica frente ao PSV, forte equipa holandesa que não chegou para contrariar, nas duas mãos, o ímpeto ofensivo, a imaginação e o poder concretizador de jogadores da Luz.
Até parece que, nestas noites em que as equipas portuguesas tão bem se portaram, Portugal, mesmo com tantos estrangeiros em campo, quis dizer à Europa dos ricos, e ao Mundo em geral, que nem mesmo a adversidade económico-financeira é capaz de nos derrotar, de nos reduzir a uma sombra daquilo que sabemos valer. E o certo é que uma boa parte dessa Europa levou para contar.
O Benfica, mesmo tendo em conta o empate da segunda mão, esteve à altura de uma equipa experiente e perigosa. Foi impressionante ver jogadores já com tantos jogos no activo a demonstrarem uma vitalidade, uma energia e uma pujança física incomuns. Isso só acontece quando existe uma forte motivarão psicológica e uma efectiva liderança. Se tal não acontecesse, é bem possível que, depois de ter recebido o Porto na Luz, o Benfica se encontrasse animicamente enfraquecido. Mas não. Vimo-lo forte e determinado, demonstrando ter a capacidade, essencial no desporto, na actividade profissional, na política ou na vida, de se concentrar no essencial e de não perder tempo a lamentar o que ficou pelo caminho. Do caminho, o que verdadeiramente conta sempre é a parcela que ainda está por cumprir. E assim o Benfica europeu ajudou-nos a dizer e a pensar que quem joga assim não precisa de receber tácticas do FMI, pois apresenta saldo positivo. Todos sabemos que não é o Futebol que resolve os problemas de um País deprimido e empobrecido, mas em alturas como esta dá uma ajuda de peso."
José Jorge Letria, in O Benfica