"Benfica passou tormenta mas "matou o borrego"
Para a enorme tarefa que jogar em Braga sempre implica, Jesus apostou no atrevimento ofensivo e não se deu mal com isso. Em geral, estas missões de maior perigo convidam a uma maior toada de contenção, dentro daquele espírito comezinho do "devagar que tenho pressa" ou do ainda mais irritante "cautela e caldos de galinha nunca fizeram mal a ninguém". Como se esse expediente não fosse, muitas vezes, o escape, não do cauteloso, mas do indeciso ou até mesmo do ignorante, que não sabe o que há de fazer.
Jorge Jesus, porém, sabia muito bem qual a receita a aplicar. Sem Cardozo, lesionado, embora contasse com Rodrigo no banco, o técnico encarnado, com apenas uma unidade mais destacada na frente (Lima), não deixou, contudo, de optar pelo ataque declarado, mas com epicentro no miolo, em cuja zona se colocaram Sálvio e Ola John, nas alas, e ainda Gaitán, no meio. Enquanto isso, à retaguarda, para lá do quarteto habitual, o Benfica apresentava uma dupla de trincos constituída por Matic e Enzo Perez.
Foi assim artilhado e vocacionado para a luta que os encarnados se lançaram sobre a baliza contrária, marcando logo ao minuto 5, por Sálvio, com algumas culpas para Beto, que não segurou, e muitas mais para Haas, a deixar-se antecipar na recarga que se seguiu. Estava dado o mote, já que o 0-2 (Lima, 35') também surgiu de brinde, mas aqui de exclusiva responsabilidade do guardião da casa.
Isto numa altura em que a partida dava já então mostras de um maior equilíbrio no chamado jogo-jogado em todo o terreno, pois que em matéria de ocasiões (e de perigo) para o Braga, essas houve-as também de início, com Haas e Mossoró como protagonistas, a que Artur, ao contrário de Beto, sempre se opôs com segurança. A diferença esteve foi nos guarda-redes e na consequente capacidade de aproveitamento dos dois ataques.
Na 2ª parte, o Braga mostrou-se naturalmente mais insatisfeito, a equipa subiu no terreno, num mais claro apoio a Éder, com o Benfica a dar-se ao luxo de controlar a situação, o que sempre fez com acerto. Peseiro fez então a primeira mudança, com a troca de um médio (Amorim) por um avançado (João Pedro), numa tentativa de reforçar o jogo de ataque. Jesus respondeu com a entrada de André Almeida para o lugar de Ola John, o que fez alterar o posicionamento e, com ele, as funções de Gaitán e dos trincos.
O Braga ganhou com a troca e não apenas pelo golo que o mesmo João Pedro conseguiu aos 77', relançando a partida, mas porque os da casa se mostravam mais ameaçadores e surgiam com mais insistência e mais espaços nas linhas recuadas da Luz. Ficou a ideia de que Peseiro, perdido por um, perdido por mil, tardou em fazer entrar Ruben Micael (isso só aconteceria aos 86') ou até mesmo José Luís para tirar partido da nova situação.
Valeu aos encarnados a expulsão de Haas (por suposto derrube a Lima), o que retirou todas as reservas que ainda restavam à formação bracarense, obrigando nesta a compensação à retaguarda (recuou Custódio), quando o objectivo era então o assalto em força às redes de Artur, em busca da igualdade. Como se não tivessem bastado os lapsos nos golos, a abrir o jogo, esta exclusão ainda estava no programa, a fechá-lo.
Pelo pragmatismo e dinâmica imprimida de início por Jesus, que se revelaram determinantes, o Benfica fez jus ao triunfo, mas o Braga, obrigado logo a abrir a lutar pela recuperação, não teve tarefa fácil e foi adversário bastante meritório. Para um candidato ao pódio, porém, cometeu erros grosseiros e comprometedores em demasia."