Últimas indefectivações

sábado, 16 de maio de 2020

Golo: Raul

MadeinBenfica #5 - Gonçalo Ramos

Meta atípico nisso, meu caro consócio

"O Benfica devia solicitar à Liga e às autoridades sanitárias que lhe marcassem para o Dragão todos os seus jogos por disputar fora de casa. Isto sim, seria dar um sinal de confiança aos seus adeptos, aos seus rivais de confiança aos seus adeptos, aos seus rivais, aos patrocinadores e à indústria em geral

A notícia de regresso da Liga lançou a discussão sobre os palcos para as dez jornadas que faltam disputar. Os jornais, por exemplo, diziam-nos ontem que o Benfica se recusa a jogar com o Rio Ave no Estádio do Dragão. Está mal. Se é verdade uma recusa destas, faz mal o Benfica em fugir à responsabilidade de ter de bater aquele adversário, que não é do seu campeonato, no campo do seu rival e concorrente maior.
O Benfica tem a responsabilidade de jogar onde quer que seja em defesa do seu título de campeão. E, por esta mesma razão, tem o dever de ganhar ao Rio Ave. Se for no Estádio do Dragão, melhor. É forte sinal de fraqueza dizer que não a uma oportunidade destas, ou não é? O Benfica, aliás, devia solicitar aos organizadores da prova e às autoridades sanitárias do país que lhe marcassem para o Estádio do Dragão todos os seus jogos por disputar fora de casa. Isto sim, seria dar um forte sinal de confiança aos seus adeptos, aos seus rivais, aos patrocinadores e à indústria em geral.
Maior debilidade do que perder, num ápice, os pontos - e eram tantos em Janeiro - que tinha de avanço sobre o seu perseguidor, é esta coisa de não querer voltar ao campo do FC Porto quando é esse, justamente, o palco de eleição para uma ponta final de sonho e de rajada. O Benfica que acorde para a política e exija jogar no Estádio do Dragão com o Rio Ave. E com o Portimonense, com o Marítimo, com o Famalicão com o Desportivo das Aves.
E, se assim fosse, daqui a muitos anos, os benfiquistas recordariam esta temporada de 2019/20 como a mais estrambólica e deliciosa de toda a história do clube.
- Lembram.se daquela época em que em Janeiro tínhamos 7 pontos de avanço?
- Oh, essa foi uma época extraordinária. Perdemos os 7 pontos e a liderança em Fevereiro e depois em Março veio o vírus e o campeonato parou.
- E depois só voltou em Junho e fomos ganhar quatro vezes seguidas ao Estádio do Dragão.
- É verdade. Coisa que nunca antes tinha acontecido...
- E, em Julho, lá ganhámos outra vez o campeonato.
- Foi o melhor campeonato atípico que me lembro de ganhar.
- Meta atípico nisso, meu caro consócio.
Sabendo-se que no futebol tudo é possível, sonegar a possibilidade de um fenómeno deste calibre poder vir a acontecer é um crime de lesa-Benfica. É que, para além dos benefícios na vertente meramente desportiva, importantíssima, teria ainda o Benfica o ensejo de se deslocar por quatro vezes ao Estádio do Dragão levando o cobrador do fraque reiteradamente na sua comitiva.
Toc, toc, toc... - o som de bater à porta
- O que é? - uma voz mal-humorada.
- É por causa daquele assunto... dos 2 milhões de euros... a ver se faziam a fineza de pagar...
Quem sabe se, assim, insistindo presencialmente, insistindo muito presencialmente, a coisa não se resolvia até ao Verão?"

Recordar é viver – a pressão do Benfica na final de 2014


"No inicio do post a devida contextualização: Benfica e Sevilha disputaram a final da Liga Europa em 2014, tendo o jogo terminado empatado a zero e sido decidido nos penalties. Os encarnados foram ligeiramente melhores nos 120 minutos.
Neste Benfica europeu uma das grandes qualidades era a organização defensiva, desde a excelência de comportamentos visíveis da linha defensiva à forma como a equipa estava sempre compacta. 
Neste jogo o Sevilha apresentou um 4x2x3x1. Na sua construção o duplo pivô tentava receber bola nas costas dos dois avançados do Benfica; em alternativa, um dos elementos baixava para junto dos centrais formando uma linha de 3, complementado com a subida dos laterais.
Partindo de um bloco médio em 4x4x2, a estratégia do Benfica pareceu alicerçada em dois aspectos fundamentais: avançados a orientar pressão, essencialmente após 1º passe para trás dos centrais sevilhanos, limitando a circulação a um corredor (por norma lateral) e o acompanhamento por parte de Rúben Amorim e André Gomes aos seus adversários directos, do duplo pivô, quando baixavam para o espaço nas costas de Rodrigo e Lima. O objectivo, maioritariamente bem sucedido, passava por impedir os médios sevilhanos de enquadrar com a baliza de Oblak e progredirem.
Naturalmente que esta zona de pressão resultou também devido a movimentos complementares da restante equipa. O 2º avançado, tal como na imagem acima, baixava para impedir apoio frontal para o adversário que recebia de costas. Os alas, Gaitan e Sulejmani e depois Maxi, ainda que acompanhando a altura dos laterais adversários, mantinham uma posição interior que permitia saltar ao seu adversário directo quando a bola entrasse à largura assim como realizar cobertura e ajudar a fechar espaço mais interior.
Perante a incapacidade do Sevilha ultrapassar a pressão do Benfica, os espanhóis recorreram ao jogo directo, já bastante condicionados pela orientação da pressão encarnada, que tornava previsível onde a bola ia cair. Foi fundamental o posicionamento da linha defensiva, que não só esteve praticamente irrepreensível no controlo da profundidade e nos duelos aéreos (destaque para Luisão e Garay) como foram muito rápidos a subir no terreno quando existia um passe para trás: aspecto especialmente importante para diminuir o espaço entre linhas originado pelo adiantamento de Amorim e André Gomes. Por outro lado, o lateral também acompanhou o extremo contrário quando entrava entre sectores.
Em jogos equilibrados é já recorrente nas equipas de Jorge Jesus o lateral contrário avançar na profundidade enquanto o ala faz o respectivo acompanhamento, formando uma linha defensiva de 5 jogadores. O mesmo ocorreu nesta final, porém com um dado significativo: assim que existia um passe para trás e a bola estava coberta, consequentemente mais longe de ameaçar as costas da defesa encarnada, o ala rapidamente juntava à linha média e o 4x4x2 surgia no campo. Novamente, a velocidade com que o bloco encarnado subia forçando o recuo da circulação adversária fazia com que em poucos segundos passassem de bloco baixo para médio ou até alto.
O plano do Benfica fazia com que o bloco se estendesse um pouco no momento em que o Sevilha jogava directo. De modo geral os encarnados controlaram a 2ª bola mas, quando isto não aconteceu, a linha defensiva ficava naturalmente exposta, com o adversário a jogar entre linhas. Os encarnados mostraram conforto a defender com poucos: recuaram à medida que o portador da bola avançava e, caso no último terço a bola fosse para fora, controlaram bem os cruzamentos e temporizando ao máximo para a restante equipa se juntar.
"

Cadomblé do Vata (recomeço...)

"A partir de 4 de Junho o pontapé na bola regressa em Portugal e antecipando o apito inicial das últimas 10 jornadas, já voltaram os programas de não-futebol às televisões nacionais, sendo que desta vez, além dos costumeiros ataques ao vírus vermelho do futebol português e de forma surpreendente, os apaniguados azuis esverdeados também guardaram críticas ferozes para os respectivos presidentes.
"O futebol vai regressar porque o Benfica não está em 1°" é o mantra televisivo do momento. Aparentemente, é a única razão pela qual se disputam campeonatos. No início de Agosto estão todos com zero pontos e o SLBenfica, em 3° lugar pela ordem alfabética, quando estupidamente deixa o Aves subir à divisão cimeira, move cordelinhos para haver bola neste cantinho à beira mar plantado. Claro que o momento actual é diferente e obrigou à visita dos presidentes dos 3 grandes ao Primeiro Ministro, mas o fundamento é o mesmo: o campeonato disputa-se para o Sport Lisboa e Benfica o conseguir ganhar. Na verdade, até é assim.
"O LFV é que manda no governo e mandou o Costa dar ordem de início da Liga" é a lógica de tremendo desrespeito veiculada pela generalidade às riscas. Neste caso a vítima de infâmia não é o Presidente do Glorioso mas os dois rivais que o acompanharam. A sanha persecutória em relação a Varandas no Reino do Leão não é nova, mas ver portistas que tanto ganharam sob o jugo pintocostista, apelidar o eterno lider azul e branco de Acólito Encarnado nas reuniões com as autoridades, é de todo injusto. Ambos recusavam o reinicio, por receio de perderem o 1° lugar ou o 4° que ocupavam na data da paragem, mas acabaram por ceder ao beija mão vieirola.
"Não há razões económicas, apenas desportivo-encarnadas" é a ideia que se vai tentando passar à qual deveria o SLB responder, parando os treinos da equipa principal, solicitando o cancelamento das restantes 10 jornadas e deixando a LPFP decidir se havia campeão ou não. Não havendo razões económicas para o regresso martelado da Liga, podia a SAD que em Março apresentou 104 milhões de lucro, encostar-se na poltrona e ver a forma como os que no mesmo período e debaixo da alçada do Fair Play financeiro atiraram com quase 52 milhões de prejuízo ou os outros que prestaram contas com avultados lucros de nem 3 milhões e continuam com funcionários em lay off, reagiam à fuga dos patrocinadores que não pagam por camisolas no cacifo nem painéis publicitários de portões fechados e ao fecho da torneira das tv's que não precisam gastar dinheiro para traansmitir jogos de épocas passadas.
"Tenho mesmo muita pena que o SL Benfica insista em jogar" digo eu, especialmente porque apesar das saudades que tenho do Meu Glorioso, sinto ainda ser um risco desnecessário, organizar actividades que juntem cerca de 200 pessoas num recinto desportivo. Mas afirmo-o também porque o fim prematuro da Liga levaria ao definhar total dos nossos rivais, uns enterrados até ao pescoço e outros a tentar convencer o eleitorado de que os 50 milhões da Champions fariam grande diferença na calamidade financeira que actualmente são, baseando-se em exemplos franceses para garantirem o título e a soma que mal lhes permitiria colocar os olhos fora de água. Só por mero acaso e uma vez que a Liga Francesa é padrão para cópia, foi na velha Gália que o campeão Marselha foi desterrado para a Segunda Divisão por corrupção. Bernard Tapie não sabia o caminho para Vigo..."

Dia Internacional da Luz !!!

Jonas (aperitivo)!!!

Dia da Criança...

Atrás da baliza ™️

"S/S Benfica 2014/15 Away
Começo este post precisamente com o título e com a última frase do último post que publiquei aqui a 4 de Março. Ainda antes da ida a Setúbal.

The night is dark and full of terror 🎬
Este ano (esta camisola) será vestida no próximo jogo no Estádio da Luz (Benfica x Tondela), esperando uma vitória inequívoca para superar a derrota com o Braga e o empate com o Moreirense. 
Como isto tudo muda, não é? Neste momento, a nossa preocupação eram os penalties falhados do Pizzi contra o Moreirense que nos rebentaram a liderança. Entretanto fomos a Setúbal, mais um empate, mais um penalty falhado, mais um melão a regressar a casa. E depois, COVID-19. Fecha tudo e restam-nos as memórias. Então vamos lá a essas memórias.
Trago-vos hoje a camisola alternativa do ano do bi. Já tinha falado da versão de jogador em mangas compridas mas esta é a versão normal das lojas e de manga curta. A diferença principal está no emblema (que é bordado e não estampado como nas versões de jogador).
Voltemos a Setúbal.
Muitos Benfiquistas não gostam do Setúbal. E eu percebo: é um clube que é frequentemente ajudado pelo Benfica mas cujos seus adeptos nutrem um ódio, para mim inexplicável, ao Benfica. O estádio é miserável. O relvado está muito distante dos topos, não se percebe nada do jogo. As bancadas são miseráveis (já tive colegas de bancada que lá pisaram bosta de cão e espetaram ferros numa perna). Até os camarotes são embaraçadores. As entradas são do pior que conheço em Portugal (lado a lado com o Rio Ave). E no fim é sempre preciso esperar para conseguir sair, havendo tradicionalmente confusão com adeptos e/ou polícia.
Pessoalmente, adoro ir a Setúbal:
- Em situações normais, chego mais cedo a casa do que vindo da Luz;
- Há sempre forma de haver grandes jantaradas, bem regadas e com boa companhia;
- É um pretexto extra para estar com um dos meus melhores amigos, agora residente em Setúbal.
Foi precisamente isto que aconteceu na época de 2014/15 (talvez com uma excepção, que veremos mais à frente), em que juntámos uma turma valente a malhar choco frito e beber vinho branco de pressão, num defunto tasco da avenida que já tínhamos ido na época passada cantar a desfolhada, antes de rumarmos ao estádio e entrarmos já com o 1-0 do Salvio no marcador. Lembro-me que esse jogo terminou 5-0 com hattrick do Talisca e mais um golo do Ola John a fechar à contagem.
No final do jogo, esse meu amigo convidou-me para beber só uma. Resisti com um:"Não, que eu já sei como isto acaba..." ao que ele me respondeu "Tranquilo. É mesmo só uma."
E no fundo, foi.
Entre as conversas com malta conhecida do Vitória, do Benfica, do Sporting, do que viesse. As pessoas genuínas. O estar ao balcão. A esplanada. A Sagrejaria, que entretanto fechou ao publico para os empregados jantarem (bolas, aquele tacho de arroz tinha um excelente aspecto). Mas, fundamentalmente, uma noite muito bem passada. Excelente companhia. Grandes conversas. E chegada a casa às 04:30 da manhã...
Na 2ª feira seguinte, chego ao trabalho. Ainda não totalmente recuperado e passa na TV do café o resumo do jogo. 5-0, impecável mas eu comento: "Olha, o Cristante jogou?!". Risada total.
E eu:"Calma, não me apercebi. Não sei se vocês já foram a Setúbal mas aquilo não se vê nada. E eu estava atrás da baliza..."
Risada total.
E foi aí que a expressão "Atrás da baliza™️" passou a estar conotada com uma situação mais etilizada que o chamado "normal".
A título de curiosidade:
- Esta foi a minha camisola nº 53 do Benfica;
- É uma camisola 100% vitoriosa: vesti-a em duas vitórias na Choupana (2015/16 por 4-1 e 2018/19 por 4-0 no início do campeonato), 2-1 ao 1º de Dezembro na Taça de Portugal e 3-1 em Braga no ano do penta (.l.);
- Este ano estava planeada para a deslocação a Vila do Conde
Atrás da baliza ™️ (acompanhado do mimetizar o acto de levar uma bebida à boca) - estar alcoolizado e, consequentemente, sem as condições reunidas para fazer as análises mais adequadas às varias temáticas que seja questionado. Inclui condução de veículos motorizados."

Contem-nos como foi

"A pandemia é maldita, mil vezes maldita, rouba vidas e estraga vidas, mas no futebol, que como sempre acompanha a vida, motivou reacções boas, das que merecem aplauso. Desde logo os jornais, como os sites que falam dele – vénia, camaradas! – responderam com resistência à emergência e com criatividade à adversidade. E assim voltaram as tertúlias em que a paixão pelo jogo superou as querelas semanais e em que as entrevistas aos ídolos autênticos beneficiaram do espaço, físico e mental, que, por uns meses, não esteve reservado a alimentadores de ódio, anafados sem nome que se respeite e que, ausentes as arbitragens, ficaram reduzidos ao vazio do que percebem de facto. E, de repente, percebemos todos que basta telefonar para ser possível trazer de volta Cubillas e Madjer, Valdo e Magnusson, Silas e André Cruz. Imaginem. Nós pudemos recordar de novo o tanto que nos deram e eles contaram-nos como foi.
Sou dos que tiveram a sorte de poder sair de casa, que o trabalho a isso obrigou na maioria destes dias estranhos, mas não deixei de aproveitar o tempo que o trânsito me tem dado de sobra, tal como o de tantos outros compromissos outrora inadiáveis e rapidamente adiados, para mergulhar em jogos antigos e debates com amigos sobre o que é mesmo o melhor do jogo: as memórias de quem dele gosta verdadeiramente. Voltou a fazer sentido discutir se Dasaev foi mesmo melhor que Schumacher, o Toni dos anos 80, da patada brutal em Battiston, insistir em que Zico foi o melhor, Sócrates o mais encantador, Falcão o mais completo, mas que, naquele meio-campo dos sonhos de tantos em 82, Toninho Cerezo não pode mesmo ficar como figura menor. E, a par do quadrado mágico brasileiro, havia o da primeira grande França – Fernandez, Tigana, Giresse, Platini – ainda antes do mundo inteiro se render a Maradona e uma parte dele também a Hagi, que bem merecia que lhe dessem uma bola de ouro. Podiam até inventar umas “de carreira”, como nos óscares, para entregar a quem merecia muito e não pôde ter. Fica a ideia, de borla, para quando puder voltar a haver galas da FIFA e alinho já, seguidos, Iniesta e Xavi, Baresi e Maldini, Ibrahimovic e Giggs, Riquelme e Robben, e sempre Bergkamp, o homem dos golos bailados, que o da Holanda à Argentina em 98 e o que marcou ao Newcastle pelo Arsenal mereciam moldura no Louvre. Ou no Rijks, para ser na terra onde nasceu fez agora 51 anos.
Dos portugueses, voltei a galgar metros de Futre e a fintar com o corpo como Chalana, mas descobri principalmente que houve jogadores a quem nunca demos o valor devido, que os olhos de adolescente eram encantados demasiado depressa por quem marcava mais golos. E como jogavam, por exemplo, Sousa e Pietra! Sousa, de FC Porto, Sporting e Beira-Mar, era o médio que sabia tudo, jogar por dentro ou por fora, passar curto e longo, finalizar com bola corrida ou a cobrar cruel o erro de uma falta. Pietra, do Belenenses e depois Benfica, era o defesa lateral que fintava avançados, espécie de Cancelo mas com mais competência defensiva, duro a roubar e craque a entregar. Também confirmei que Luisinho, o central que foi do tal Brasil de 82 e também do Sporting, pode partilhar a galeria dos melhores, onde estão sempre Mozer, Ricardo Gomes e Aloísio. E, alertado em boa hora, pude comprovar que Zahovic foi mesmo dos melhores de todos os que por cá passaram nos anos 90, que ao nível dele, e por largos anos também, só mesmo João Vieira Pinto, ambos geniais na percepção do espaço para criar e do tempo para executar. O tempo que nos afastou do jogo não nos tirou, longe disso, o melhor de jogo. Devolveu-nos até a essência, que celebro hoje, com nomes, uma vez mais."

Benfica After 90 - Re-Start

A Quinta da Bola...

Big Show Amaral !!!

O martelo de Nietzsche (II)

"1- Perante a falta de respostas das estruturas do vértice estratégico do desporto nacional (Ministério da Educação, Conselho Nacional do Desporto, Secretaria de Estado da Juventude e do Desporto, Instituto Português do Desporto e Juventude, Confederação do Desporto de Portugal e Comité Olímpico de Portugal) surgiu, inopinadamente, mais um grupo ad-hoc de gestação espontânea constituído por quatro Federações ditas de pavilhão (andebol, basquetebol, patinagem e voleibol). Entretanto, o Presidente do Comité Olímpico de Portugal, na sua competência, considerou ser a iniciativa das quatro Federações uma “união que é útil ao desporto português.” !!! (O Jogo, 2020-05-11). Tenho para mim que a reunião das quatro Federações não passa de uma aliança de circunstância que, independentemente da ausência do futebol (futsal), só vai animar o ambiente de luta de todos contra todos e revelar a falta de liderança e orientação estratégica do desporto nacional.
2- Era mais do que certo que a entrada de Mário Centeno de cachecol da selecção nacional no Eurogrupo, após a vitória portuguesa no europeu de 2016, para além de ridícula ia dar maus resultados. Ridícula porque própria de uma cultura do ponto de vista desportivo subdesenvolvida que caracteriza a generalidade dos políticos portugueses. Maus resultados porque Mário Centeno, devido ao seu amor platónico ao futebol, vai ficar para a história como o Ronaldo das Finanças enquanto metáfora de incompetência uma vez que para além da sua liderança ter sido considerada incapaz pelos pares do Eurogrupo, o Presidente Marcelo, há dois dias, aquando da visita à Autoeuropa, encarregou-se de lhe aplicar o carimbo vermelho da qualidade dos serviços prestados.
3- As actividades físicas e desportivas em Portugal têm um volume de 2 milhões de praticantes. São enquadrados por, certamente, mais de 60 mil dirigentes profissionais e técnicos de diversas especialidades para além de todo o enquadramento humano no domínio do apoio logístico directo. Se considerarmos que, segundo os dados mais recentes, cerca de 3% do emprego na Europa está, quer directa, quer indirectamente, relacionado com actividades físicas e desportivas significa que em Portugal o desporto gera cerca de 140 mil postos de trabalho. Acontece que a generalidade daqueles cuja fonte de rendimento depende directamente do funcionamento de ginásios e clubes encontra-se numa situação de grandes dificuldades. A pergunta é: O que é que os dirigentes políticos e desportivos estão a fazer a fim de menorizarem este problema?
4- Decorre da sétima regra de previsão do futuro que se aprende mais com o processo do que com o produto. Se em princípios de Janeiro a economia estava a funcionar com sucesso numa lógica deliberada que vinha do passado, a saúde só podia funcionar numa lógica emergente porque aquilo que se conhecia do COVID-19 era insuficiente para se tomarem decisões a prazo. A partir de meados de Fevereiro a situação começou a inverter-se. Os conhecimentos científicos relativos à pandemia e ao seu combate melhoraram, mas a economia começou a dar os primeiros sinais de recessão. Ora, perante a certeza de que a vacina só seria possível no prazo de um ano ou mais, a estratégia, a partir de Março, devia ter sido invertida passando a saúde a ser objecto de uma estratégia deliberada e a economia objecto de uma estratégia emergente. Tal mudança teria permitido, no quadro das regras de higiene social que vai ser necessário respeitar nos próximos tempos, considerar muitas actividades económicas de uma maneira diferente entre elas as actividades físicas e desportivas uma vez que a generalidade dos grupos etários envolvidos não fazem parte dos grupos de risco. O Governo tem suportado a pandemia com relativo sucesso. Mas mais importante do que o sucesso é identificarem-se todos os tempos e movimentos que nas diversas circunstâncias do processo conduziram ao resultado final. Só assim, como refere o xadrezista Garry Kasparov, por paradoxal que possa parecer, uma vitória não acaba por determinar a próxima derrota.
5- Quando assisto aos jogos de poder, de vaidade e de vendetta que caracterizam a vida política nacional vem-me à memória a cultura de competição desportiva e social que animava a sociedade na Grécia antiga. Os gregos antigos quando alguém morria não perguntavam se ele era rico ou pobre, bonito ou feio, alto ou baixo, gordo ou magro. Perguntavam, simplesmente, se o defunto tinha vivido com paixão. Hoje, dou por mim a questionar se aqueles que detêm o poder desportivo vivem, realmente, as suas vidas de serviço público com paixão ou limitam-se a gerir uma olímpica competência para: (1º) circularem entre as portas giratórias do poder; (2º) o exercício da força autocrática de que estão investidos; (3º) a exibições narcisísticas de acordo com a agenda dos seus próprios interesses. Para além das mordomias do poder, qual foi o sentido e o significado que dão às suas vidas públicas? O que é que fazem de realmente útil para a sociedade e os portugueses que os sustentam?
6- Augusto Santos Silva, ministro dos negócios estrangeiros, numa reunião no Parlamento, foi filmado num momento em que protagonizou um conflito com a sua máscara de protecção social que era azul. E numa espécie de “stand-up comedy” afirmou: "É a minha aversão ao azul". As hostes do Futebol Clube do Porto perceberam a metáfora e manifestaram imediatamente a sua má disposição. Deviam ser mais condescendentes para com o ministro na medida em que, hoje, os políticos divertem mais do que governam. Alguns há que até já só divertem.
7- Declarar o desporto um olímpico desígnio nacional é abrir as portas para transformar: o desporto num antro de esquizofrenia; os praticantes de base em fanáticos alienados; os atletas de alto rendimento em escravos submissos; as famílias em produtoras de matéria prima; os treinadores em verdugos ao estilo da idade média; os dirigentes em lanistas do circo romano; os clubes em presídios do século XXI; as políticas públicas em instrumentos fascistas de domínio social; e a sociedade numa espécie de quinta dos animais.
8- Manuel Alegre, o poeta, recomenda no portal da Federação Portuguesa de Futebol “futebol com alma” e subscreve Vinicius de Moraes: “futebol se joga com alma”. Mas a pergunta que hoje se coloca é a seguinte: Ainda existe quem se importe que o futebol já não se jogue com alma? Infelizmente, hoje, o futebol para os adeptos é tão só uma válvula de escapa que lhes permite sublimar as agruras da vida; para os futebolistas um palco do qual se servem para exibirem vaidades e conseguirem melhores contratos; para os dirigentes uma oportunidade de negócios a fim de subirem na vida; e, finalmente, para alguns políticos o último reduto que, na economia global, ainda lhes permite pensar que têm algum poder através da exploração de um nacionalismo execrável que, como referiu o jornalista Samuel Johnson, é o último refugio dos canalhas.
9- Hoje, como diria Max Weber, é o espírito capitalista que condiciona o desenvolvimento do desporto. E é no espírito capitalista que devem ser encontrados os princípios e os valores de ordem ética que, do ensino ao alto rendimento, hão de organizar o desporto do futuro. E porquê? Porque, numa perspectiva sociobiológica que, para além das ideologias, comanda a vida, o espírito capitalista representa a dimensão socioeconómica da luta pela sobrevivência inscrita no código genético da humanidade que deve ser culturalmente condicionada nos seus excessos pelo altruísmo que, segundo Edward O. Wilson, é uma das características fundamentais da condição humana. Desporto sem ética tal como capitalismo sem altruísmo não passam de selvageria social.
10- Manuel Fernandes, presidente da Federação Portuguesa de Basquetebol, na já referida reunião das quatro federações (andebol, basquetebol, patinagem e voleibol,) afirmou: “Cada cêntimo investido pelo Estado terá um retorno fantástico” (O Jogo, 2020-05-10). Mas que retorno? E para quem? A Taxa de Descarte do desporto nacional quando os jovens portugueses atingem a idade dos dezoito anos, em termos globais, segundo dados oficiais, é de mais de 86%. Esta taxa significa que, à revelia do Septuagésimo Nono Constitucional, o dinheiro que o Estado, sem qualquer sentido estratégico, despeja no desporto destina-se a um reduzidíssimo número de portugueses que, por motivos económicos e sociais ou, simplesmente, geográficos, têm possibilidades de continuar a prática desportiva para além dos 18 anos de idade. Se considerarmos que a Taxa de Descarte por modalidade desportiva chega a ultrapassar os 96% percebe-se o desastre que são as Políticas Públicas em matéria de desporto e compreende-se o silêncio olimpicamente instituído pelas entidades públicas e associativas. Por isso, na minha opinião, cada cêntimo investido pelo Estado no desporto tem um retorno que deixa muito a desejar."

Benfiquismo (MDXXVII)

Amizades...

Pandemia vitalícia

"O campeonato deverá ser decidido em campo, as subidas e descidas serão disputadas no relvado. Não pode haver prémios para os truques

Ainda não rola a bola nos relvados, mas já abunda a polémica. O futebol português é incorrigível. Não adianta a Fernando Gomes fazer um esforço de consenso, tentar conciliar interesses e projectar o negócio, porque haverá sempre quem apenas se vê a si mesmo.
Agora entramos no já conhecido jogo de sombras, no qual mesmo quem diz uma coisa e concorda em reuniões decisivas boicota activamente a implementação das suas decisões numa esquizofrenia conhecida e gasta. Ao contrário dos que se ofendem com algumas atitudes de vários intervenientes eu aprecio que estas épocas possam também revelar o carácter dos protagonistas. A crise sanitária é uma preocupação passageira, a falta de sanidade no nosso futebol arrisca ser uma pandemia vitalícia.
Está decidido, vamos cumprir de forma honesta e honrada. Começa dia 4 de Junho, quem não quiser cumprir terá que ser excluído. O campeonato deverá ser decidido em campo, as subidas e descidas serão disputadas no relvado, os lugares europeus têm que ser merecidos, não pode haver lugar para os craques dos esquemas, nem salvo conduto aos especialistas dos ardis.
Esta semana, dia 13, o Benfica festejou o aniversário do tetra. Foi interessante ver Jonas, Salvio e Luisão a conversarem em Luís Filipe Vieira sobre detalhes que não sabíamos, curiosidades que não eram públicas, sem filtros nem receios.
Na falta de desporto é bom ver desportivismo.
Com a falta de oferta e com alguma preguiça, dei comigo esta semana a ver no Canal 11 a repetição da final do Euro-2016 contra a França, e na BTV o jogo com da meia-final contra o Fernerbahçe que carimbou a nossa final da Liga Europa em Amesterdão. Dois jogos com uma intensidade competitiva, com uma incerteza e emotividade únicas. Duas maravilha aos meus olhos de adepto, dois exemplos da razão de gostar tanto do jogo. Por isso Óscar Cardozo e Éder fazem parte do meu imaginário até ao fim dos meus dias. Confesso que até nas repetições e sabendo o desfecho dei comigo algo nervoso.
Será racional? Claro que não, mas também não é racional esta paixão pelo jogo e pelos nossos emblemas, pelas nossas tribos.
Não é racional porque é extraordinário. E eu gosto de gostar assim porque a razão não é racional."

Sílvio Cervan, in A Bola