"Na Tua Opinião, o Que é Que Falta Para Que Haja Um maior Aproveitamento Das Joias Encarnadas Da Formação?
Há uma semana, o Sport Lisboa e Benfica fez história e conquistou finalmente a sua primeira Youth League. Esta conquista voltaria a colocar a formação encarnada no mapa e voltaria a lançar a questão no ar de que se o SL Benfica estaria realmente a aproveitar toda a sua qualidade nas camadas jovens.
As camadas jovens do Sport Lisboa e Benfica começariam a ganhar notoriedade aquando da criação das equipas B e da Youth League, que foram passos dados no sentido de que os jogadores da formação tivessem mais visibilidade, projeção e competição que lhes permitisse crescer e ficarem mais preparados para patamares superiores.
E foi então aí que começaram a destacar-se os primeiros jovens que começaram a ser apontados à equipa principal, tais como João Cancelo, Bernardo Silva, Ivan Cavaleiro ou Hélder Costa. Todos eles tiveram minutos de jogo pela equipa principal, mas nenhum deles foi aposta a sério, visto que acabaram por ser vendidos antes que pudessem ter uma oportunidade a sério.
Seria com a chegada de Rui Vitória no comando técnico da equipa que começaria a haver uma maior rentabilização desportiva da “prata da casa”.
Nélson Semedo, Victor Lindelof, Renato Sanches e Gonçalo Guedes foram aposta regular na equipa principal neste período, tendo sido jogadores que tiveram a sua importância na conquista do Tri e do Tetracampeonato. No entanto, este sucesso também viria a ter o seu preço, resultando na venda destes jogadores e a aposta na formação viria a perder alguma continuidade.
Na “Reconquista” da época 2018/2019, Rúben Dias e João Félix foram peças chave no 37º título, Gedson Fernandes foi habitual titular na equipa na primeira metade da época com Rui Vitória ao leme, enquanto Ferro e Florentino foram promovidos por Bruno Lage, sendo aposta regular na segunda metade da época, enquanto Jota também começou a ganhar minutos.
Na temporada seguinte, foi altura de Nuno e Tomás Tavares começarem a ser aposta na equipa principal, sendo que na temporada passada, Diogo Gonçalves teve uma nova oportunidade e Gonçalo Ramos começou a ter alguns minutos na equipa principal, sendo que nesta época, tem sido Paulo Bernardo o jogador que começou a conquistar o seu espaço.
No entanto, fazendo um balanço geral destes últimos anos em que vimos vários jogadores da formação serem lançados na equipa principal, verifico que a rentabilização das sucessivas gerações de jogadores formados no SL Benfica não foi devidamente feita.
Uns, foram vendidos antes que tivessem uma oportunidade a sério de mostrar o seu valor (João Cancelo e Bernardo Silva). Outros, chegaram a ser aposta regular na equipa principal, mas acabaram por ser descartados após quebras de forma (Ferro, Florentino e Gedson).
E depois houve outros que foram lançados na equipa principal de forma prematura, mostrando uma clara falta de andamento para o seu nível (Nuno e Tomás Tavares).
O facto do aproveitamento ser pouco face ao talento produzido deve-se acima de tudo ao contexto, sendo que este pode ser causado por vários motivos. Entre os quais, o facto da equipa principal ter sido treinada por um treinador que olha pouco para a formação e que é incapaz de ter uma visão e uma linha de pensamento a longo prazo.
Outro motivo que leva a este desaproveitamento é que a política desportiva do SL Benfica não promove uma aposta na formação de forma gradual e sustentada, de modo a permitir que os jogadores tenham o tempo certo para se preparar e terem uma competitividade de forma contínua que promova o seu crescimento.
Isto deve-se a dois factos: primeiro, porque vários jogadores têm tido as suas carreiras mal geridas na sua fase de transição pós-equipa B, não tendo o estímulo competitivo necessário para crescerem e prepararem-se; segundo, a contratação de jogadores para para posições onde há jovens da formação à espreita de um lugar também dificulta esta aposta.
Para que a aposta na formação possa ocorrer de forma sustentada e progressiva, é preciso haver uma minuciosa gestão do plantel principal do SL Benfica, de modo a abrir espaço para os jovens que entendam estar preparados para a equipa principal. Mais do que isso, é necessário haver um total alinhamento entre a estrutura e o treinador e as suas ideias, de modo a que possam fazer uma avaliação mais criteriosa dos jogadores.
O Sport Lisboa e Benfica pode ter um aproveitamento muito melhor dos talentos que a formação produz, mas para isso é necessário criar um contexto que favoreça essa mesma aposta e que estes jogadores não sejam vendidos à primeira oportunidade como se fossem dadores de órgãos para os ricos."