Últimas indefectivações

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Obrigado a todos!

"Algumas horas depois do nosso apuramento para os oitavos-de-final da Liga dos Campeões, senti necessidade de expressar publicamente o meu agradecimento aos milhares de adeptos e sócios do Sport Lisboa e Benfica que ontem, em muitos momentos do jogo, nos fizeram duvidar se estávamos a jogar em Manchester ou na Luz.
Quero agradecer-lhes o esforço, o exemplo e, acima de tudo, a forma como durante todo o jogo apoiaram a equipa. São momentos como este, e não falo sequer do resultado desportivo, que me fazem sentir um tremendo orgulho por liderar este Clube.
É um orgulho ser presidente de um Clube com uma massa associativa que consegue fazer o que ontem fizemos em Manchester. Obrigado a todos os que estiveram no estádio, obrigado pela forma como sempre “empurraram” a equipa, obrigado por deixarem bem claro em Manchester a imagem do Clube que somos!"


Luís Filipe Vieira, in Site do SLB


Finalmente... consegui!

"Depois de quase 60 anos de sócio, fiz parte da comitiva do nosso SLB que se deslocou a Entschede, na Holanda, para jogar com o Twente. Bem, não foi bem parte integral, mas sim só meia dose, ou seja, fui ter a Entschede na véspera do jogo, fiquei com parte da comitiva no hotel escolhido pela Benfica Viagens, fui ao jogo e voltei no avião da equipa e acompanhantes.

Isto até nem é história, não tem o mínimo de interesse, milhares de outros benfiqusitas já o fizeram e muitos outros o irão fazer futuramente. Simplesmente há algumas particularidades que são interessantes de contar. Primeiro, é preciso ser mesmo muito, mas muito benfiquista para, depois de dois dias de reuniões importantes na Alemanha, escolher um jogo do Benfica e logo contra um adversário forte, como o Twente, para tentar relaxar um pouco um pouco. Mas a fé na nossa equipa foi superior a qualquer receio e lá fomos. Fizemos 650 Km nas grandes autoestradas alemãs e chegámos ao destino. Estávamos contentes, encontrámos amigos benfiquistas que não víamos há anos, outros que nem conhecíamos, a não ser de nome, voltámos a rir com as piadas habituais quando estes grupos se reúnem, ouvimos histórias mais ou menos verdadeiras - assim a modos que contos de grupo de pescadores -, enfim, descontraímos mesmo e sentimos que a família benfiquista tem o seu quê de especial.

No meio de tudo isto, lembrei-me da minha mãe. Bem, eu lembro-se dela todos os dias, pois com os seus 86 anos superlúcidos tem de saber todos os dias onde eu ando, o que faço, em que país estou, e isto há dezenas de anos que todos os dias - independentemente de onde estiver, em qualquer parte do mundo - falamos ao telefone, nem que seja só para dizer que está tudo bem. Mas desta vez lembrei-me dela por causa do Benfica.

Após o meu pai ter falecido muito cedo, com apenas 50 e poucos anos, a 'velha', como sempre a tratei carinhosamente, por influência dos meus contactos com os Fittipaldi nos anos 70, começou a viajar com o Benfica, indo para todo o lado com a equipa, assistindo aos jogos do nosso clube...

Bem, a minha mãe desde sempre nos acompanhou, a mim e ao meu pai, aos jogos no Campo Grande e na Luz, não tendo ainda visitado a Catedral por questões de saúde. Portanto, a avó Linda é uma entendida no futebol. Lembro-me de que tinha muito mau feitio quando assistia aos jogos em Lisboa, participava nos insultos, nos assobios, mandava vir com os árbitros e com quem quer que fosse que não estivesse de acordo com a sua forma de interpretar as regras deste jogo de paixão. Mas a recordação de hoje tem a ver com um telefonema da minha mãe, há já muitos anos. Eu estava na Alemanha, a estudar em casa para exames de meio de curso. O telefone tocou, já tarde, atendi e a 'velha', do outro lado da linha, dizia, toda contente, ter visitado nessa tarde um vulcão e as terras cinzentas da Islândia, pois tinha ido a Reykjavik ver o nosso Benfica. E estavam lá várias pessoas nossas amigas, que me mandavam um abraço e força para os exames. Passei-me! A minha mãe na Islândia, para ver o Benfica (sim, a minha mãe só via o Benfica, OK?) em terras vulcânicas! Desde então, aqui na Europa, quando, já mais recentemente, e por telemóvel, nos falávamos, perguntando sempre onde estava, respondia: 'Conheço, já antes aí estive, fui ver o Benfica!' Desde Praga, Moscovo, Kiev, etc., a 'velha' tinha lá ido já antes de mim ver o Benfica. Hoje, liguei-lhe do Estádio do Twente para a Casa de Repouso de Vale de Lobos, tinha acabado de jantar. «Olá 'velha', estou na Holanda, em Enschede, para o jogo do 'glorioso' contra o Twente. Está tudo bem?», disse-lhe meio a gritar, porque o jogo estava quase a começar. Pareceu-me triste, achei eu. Mas não, não estava, disse-me: «É que eu aí nunca estive, tenho pena.» Pois eu não, disse para comigo, finalmente vou ver um jogo do Benfica fora de casa a um sítio a que a minha mãe nunca foi. Foram precisos quase 60 anos de sócio para conseguir tal feito. Viva o Benfica! E a minha mãe também...!"


Domingos Piedade, in Mística

Ser ou não ser 'penalty'

"Ou é impressão minha ou há uns bons anos não existia a costumeira querela dos penalties por bola na mão. Uma possível explicação (que não justificação) para esta avalanche de casos duvidosos residirá na exuberância tecnológica dos mil ângulos das câmaras.

Daí advém a diversão semanal se foi mão na bola ou bola na mão (e já agora braço e antebraço, usualmente esquecidos nesta frase feita...), se foi à queima-roupa ou se queimou a equipa, se embateu ou simplesmente raspou, se houve ou não intenção, se o braço estava dentro ou fora da área, se o jogador se mexeu, estava inerte ou de costas voltadas... Curioso é que se tudo isto for no meio-campo, já não há discussão sobre a anatomia do crime.

Discute-se até a subtil dança de palavras nas leis do jogo, tal como deliberadamente ou intencionalmente.

Esta nebulosa faz as delícias de comentadores que dissecam as imagens até um grau superlativamente antinatural. E é um domínio perfeito para o subjectivismo oportunista de certos árbitros e assistentes. Situações idênticas, umas vezes, assinalam-se por excesso, outras não se marcam por defeito. De memória ainda fresca, uma mão visível não dá penalty contra o Basileia na Luz, um braço colado ao corpo dá penalty no Braga-Benfica.

Tudo ficaria mais claro e objectivo se o penalty só fosse assinalado se a mão e o braço tivessem aumentado o espaço de intercepção da bola e esta tivesse alterado a rota. Evitava-se o penalty dos braços colados ao corpo que só um maneta evitaria. Eliminavam-se as apreciações sempre dúbias da intenção, bem como da distância de um remate muito perto afastado do faltoso. Ou seja, diminuía acentuadamente o caldo ideal para aldrabices e batota."


Bagão Félix, in A Bola

Francisco Ferreira - O verdadeiro atleta benfiquista



"Desde pequeno com a 'águia' empoleirada no coração, o eterno capitão do Benfica brilhou de 'encarnado' com a alma de lutador que lhe viria a garantir um lugar na história do clube e do País.

1949. Nesse ano, o Benfica comemora o seu 45.º aniversário e tem cerca de 15 mil sócios. A equipa de futebol é, então, comandada por Ted Smith, técnico inglês vindo do Charlton em 1948. As alterações na equipa técnica não produzem, porém, resultados imediatos, e as 'águias' quedam-se pelo segundo lugar no campeonato.

Já na Taça de Portugal, a história seria outra, com o Benfica a registar o seu quarto triunfo na prova, após vitória, por 2-1, sobre o Atlético. O jogo disputa-se no Jamor, palco onde todos os benfiquistas e, em particular, o capitão Francisco Ferreira sentem ainda, bem viva, a memória do 'Grande Torino'. E quem era, então, Francisco Ferreira?

O TIGRE DO TELHEIRO

'O mais popular jogador português do momento actual e aquele que melhor sabe encarnar as virtudes do verdadeiro atleta benfiquista', assim se descreve, à época, no jornal do clube, o capitão do Benfica e da Selecção Nacional.

Jogador que encarna a genica e a alma, o apurado espírito de camaradagem de Francisco é um dos seus traços distintivos. Na revista Stadium, em publicação na altura, é apelidado de 'o mais popular e simpático jogador do futebol português'. Num plano mais vasto, é um ídolo e um símbolo do clube e do desporto nacional. Xico, diminutivo por que era tratado, nasce em Guimarães a 28 de agosto de 1919. Aos 12 anos passa a viver com a mãe em S. Mamede de Infesta. Mas as dificuldades económicas da família empurram-no para o mundo do trabalho, ficando, no entanto, livre para o futebol no tempo excedente. Por essa altura incita os camaradas de jogo a fundarem com ele um clube, para o qual propõe o nome de Tigres do Telheiro.

O então treinador húngaro do FC Porto, Jesef Szabo, assiste um dia a em encontro dos Tigres e não consegue desviar os olhos do extremo esquerdo. No fim do embate, lança-lhe o isco da camisola azul e branca e o jovem jogador, então com 15 anos, é incorporado nos escalões inferiores. Em 1937, é promovido à categoria de reserva. Metódico, disciplinado e cultivador de uma vida regrada, só não alcança a titularidade na equipa de honra porque tem três internacionais a taparem-lhe o caminho. Mas estrear-se-á ainda nesse ano, no Campo do Ameal, em jogo com a Académica de Coimbra para o Campeonato de Portugal. Em breve disputará a final da prova, contribuindo para a vitória, por 3-2, sobre o Sporting e conquistando, assim, o seu primeiro título.

Quando se reconhece como uma aposta ganhar, tenta, junto dos responsáveis do clube, melhorar as suas condições. Os dirigentes portistas não mostraram, porém, grande abertura nesse sentido. A sua atenção acaba por se focar no Benfica, emblema que desde pequeno o atrai. E é depois de ver gorada nova tentativa de acordo com os nortenhos que acaba por se transferir para o grémio encarnado.

A perda do promissor Francisco Ferreira para o Benfica é vista como uma falha de gestão do FC Porto. Na tentativa de colmatar o erro, o jogador portista Carlos Pereira desloca-se a Lisboa para demover o jovem Xico. Mas este não cede. E nem mesmo uma posterior tentativa do Sporting é bem sucedida. Cativa-o a 'águia'. Tem-na altivamente empoleirada no coração. De vermelho vestido, Francisco Ferreira faz a sua estreia no Campo Grande, em 18 de setembro de 1938, num jogo frente ao Belenenses para a Taça Preparação, torneio que visava a 'afinação' dos clubes para o Campeonato de Lisboa.

Depressa cimenta o seu lugar na equipa, de que não tarda a tornar-se ídolo.

A 'camisola das quinas' veste-a ainda na plenitude dos seus 20 anos. Algo que não estranha, pois nessa altura tem já lugar na Selecção de Lisboa.

Em fevereiro de 1942, diz-se dele no jornal do clube que 'foi um jogador feito para o Benfica, porque tem (...) todos os predicados que recomendam um atleta que sabe vestir uma camisola encarnada: energia que não cede, vontade que não quebra, dedicação que não cansa, generosidade que não hesita. Francisco Ferreira é o tipo verdadeiro do atleta do Benfica. Luta enquanto dura a competição. Não sente o esforço, nem recua diante das dificuldades. Finca os dentes - e marcha em frente'.

Efectivamente, o popular Xico veria, com natural justiça, a sua carreira reconhecida em todo o País. E, 1952 abandonaria os relvados, depois de conquistar, no Jamor, a Taça de Portugal, numa final considerada ainda hoje, a mais emocionante de sempre, com o Benfica a vencer por 5-4 o arquirrival Sporting.

Feitas as contas, Francisco Ferreira somou com a camisola do Benfica um total de 522 jogos e marcou 60 golos. Venceu quatro vezes o Campeonato Nacional e seis vezes a Taça de Portugal. A estes títulos acrescentou ainda 25 internacionalizações, número significativo para a época e que constituiu recorde durante alguns anos."

Luís Lapão, in Mística