"A UEFA sabe que tem um conjunto de questões pela frente e uma delas será, acredito, o adiamento do Europeu de futebol
1. Nós que escrevemos - e, por vezes, comentamos no espaço público - temos uma acrescida responsabilidade nestes tempos em que um vírus, em coroa, nos faz romper as nossas rotinas. Sim o que julgávamos certo tornou-se, num instante, incerto. Parece que o universo nos diz para deixarmos o eu e assumirmos que só a junção, e a verdadeira conjugação, entre o eu e o tu, permitirá o exigente nós. Este vírus, que de verdade nos mete medo, exige reciprocidade e solidariedade, sentido de comunidade e responsabilidade partilhada. E cada um de nós, em casa, deve fazer um exercício de história! Sim devemos, como sugere o Professor Miguel Monjardino, homem do coração do Atlântico (Angra do Heroísmo), fazer o nosso diário desta vivência inesperada e surpreendente. E devemos, no papel, - no meu caso - dar nota do que sentimos e do que pressentimos, do que lemos e do que recebemos, do que escutamos e do que valoramos. E tem a consciência que há notícias que valem e outras que não valem. Há notícias que retratam o que acontece e outras que falseiam a verdade. Nestes tempos dizem-se fake news para nos situarmos na realidade comunicacional em que vivemos. Nada como conhecer a verdade das notícias falsas e delimitar um plano de ataque de forma a que, perante esta crise que nos atinge e abala, elas não sejam nem uma nova droga nem sequer ajudem a construir, ainda mais, gente falsa. Sob pena das fake news nos levarem, num ápice, e com doeres lancinantes, a um mundo falso! Façamos o nosso diário e, depois, façamos, aqui, o resumo do que lemos e do que vimos, do que escutámos e do retiramos das redes sociais a que temos, directa ou indirectamente, acesso. Sabendo bem que em 1898 não havia nem Internet, nem Twitter, nem WhatsApp, nem Facebook, por exemplo. Nem televisão nem, ainda, rádio. Mas havia, nos EUA, uma disputa para o controle do quarto poder entre dois patrões de media, Joseph Pulitzer e William Hearts. Este último inventou uma guerra entre os EUA e a Espanha acerca de Cuba. E levou a que os EUA declarassem guerra a Espanha, o que levou, mais tarde, à independência de Cuba! Façamos a nossa semana 1!
2. Que é, por excelência, a semana 0 no que respeita a competições desportivas. Semana em que tudo parou. O futebol e o andebol, o basquetebol e voleibol, o hóquei e o râguebi, o futsal e o ténis, o ciclismo e o automobilismo, entre tantas e tantas modalidades, olímpicas ou não olímpicas! Sabemos, na linha do grande treinador italiano Carlo Ancelloti, que «o futebol neste momento conta zero (...) tendo em conta a tragédia que se desenvolve na frente dos nossos olhos»! E os principais dirigentes desportivos portugueses - da Federação à Liga, dos grandes aos pequenos clubes - estão a saber dar as mãos e a realçar a responsabilidade partilhada que cabe a cada um de nós. E a UEFA sabe tem um conjunto de questões que tem um conjunto de questões pela frente e uma delas será, acredito, o adiamento do Europeu de futebol. Será o Europeu de 2021 e, porventura, com uma nova calendarização de competições, como será o caso da Liga das Nações. E o que ocorre no futebol europeu será efectivo em outras modalidades, principalmente naquelas com maior relevância televisiva! Mas, mesmo aqui, a nossa atenção centra-se nas notícias, nos números que nos angustiam, na alegria dos que recuperam e na convicção que uma vacina estará mais próxima. Mas o que importa, agora, é ficar em casa. Limitar os contactos. Acreditar nas palavras de quem nos governa.
3. Há amizades que nos perturbam e impressionam. Ontem o meu amigo de há sessenta anos, o Tó Rique, médico da primeira linha no combate e este vírus, em coroa, enviou-me uma mensagem, que aqui reproduzo em parte, que me tocou profundamente: «Juízo, Fernando, Fica Em Casa. Tu és um gajote com factores de risco. Protege-se»! Ele que só trabalho no serviço de urgência do hospital da minha - nossa - cidade natal, Viseu sabe muito bem do que fala. Ele que nunca me faltou nos momentos difíceis em que os saudosos Senhores meus Pais precisaram de amparo médico e de presença pessoal. E no meio dos dramas que trata o Tó Rique teve tempo para se recordar do colega e amigo de infância e de o avisar para ter cuidado. Ficarei por casa, Tó Rique. E tu tem cuidado. Tens os teus netos a sorrir, as tuas filhas a ajudar e a tua querida Mulher a amparar já que, também ela médica, está na primeira linha deste combate, em entreajuda fraterna, a um vírus que, mesmo em coroa, não nos vai derrubar. É que nesta vida vivida quero continuar a saber que és leão e eu águia, que vimos grandes penalidades diferentes e que o VAR não nos ajuda a ultrapassarmos as cores dos nossos olhos. Como escreveu Francis Bacon «a amizade duplica as alegrias e divide as tristezas». Duplica Tó! Mas, no final e afinal, este gajote vai ter cuidado. Prometo. Na semana 1 deste vírus!"
Fernando Seara, in A Bola