Últimas indefectivações

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Um grande clássico

"Mesmo depois de um período marcado por demasiadas ausências (apenas uma participação entre 1995 e 2005), e resultados de pouca expressividade (em 15 anos, só por uma vez foi ultrapassada a Fase de Grupos), o Benfica continua a deter um impressionante palmarés na principal prova internacional de clubes.

Qualquer ranking que abarque todas as edições da competição - quer sob designação de Taça dos Campeões Europeus, quer já como Liga dos Campeões -, apresenta o nosso Clube bem instalado no top-dez, tanto em termos de jogos disputados, como de vitórias conseguidas, de golos marcados, de pontos obtidos, de eliminatórias ultrapassadas, ou de finais alcançadas. Olhando para este último critério, somos, por exemplo, o quarto Clube com maior número de presenças na grande final (sete finais, marca apenas suplantada por Real Madrid com doze, Milan, com onze, e Bayern Munique com oito), sendo também o quarto que mais vezes atingiu os quartos-de-final (aqui, atrás de Real Madrid, Bayern e Manchester United). Mesmo nos últimos tempos, há que dizer que, em sete anos, esta é a quinta vez que marcamos presença na Fase de Grupos, registo que supera nomes como PSV Eindhoven, Juventus, Roma, Valência, Ajax, Celtic ou Dínamo Kiev. Esta é, pois, a 'nossa' prova, aquela que vencemos duas vezes, e que nos remete para as mais gratas recordações de todo um historial centenário.


O poderoso Manchester United

Ultrapassadas, com distinção, as eliminatórias prévias, a estreia na Fase de Grupos de 2011/2012 tem lugar já na próxima quarta-feira, no nosso Estádio. O adversário não podia ser mais motivador: o poderoso Manchester United, de Rooney, Nani, Scholes, Berbatov e Giggs, actual campeão inglês.

Nos últimos cinco anos, esta equipa conquistou quatro campeonatos, e chegou, pelo menos, às meias-finais da Champions também por quatro vezes. Foi campeã europeia em 2008, e vice-campeã em 2009 e 2011 - em ambas as ocasiões somente batida pelo super Barcelona de Pep Guardiola e Leo Messi. Creio que talvez seja, justamente atrás dos catalães, a segunda melhor equipa do Mundo da actualidade.

Diga-se que este embate entre 'Diabos' portugueses e ingleses, é já, na verdade, um clássico do Futebol internacional. Será a oitava vez que os dois grandes clubes se defrontam na prova maior, e uma delas ocorreu inclusivamente na final (designadamente no ano de 1968, em Wembley, com Eusébio e Mário Coluna de um lado, Bobby Charlton e George Best do outro). O balanço dos resultados não nos é particularmente simpático, registando seis derrotas (duas delas bastante expressivas) e uma só vitória.


A vitória de 2005

A vitória, essa vitória, não foi, contudo, uma vitória qualquer. Significou, na altura, a passagem aos oitavos-de-final, e teve como consequência a única eliminação do Manchester United em fases de grupos dos últimos anos. Nessa bela noite de Dezembro de 2005, jogavam pela nossa equipa entre outros, Anderson, Nuno Assis, Beto, Nelson, Geovani, Alcides ou João Pereira, enquanto do outro lado estavam figuras como Erwin Van der Sar, Rio Ferdinand, Paul Scholes, Ryan Giggs, Cristiano Ronaldo, Wayne Rooney e Ruud Van Nistelrooy. Só a vitória interessava. Era um jogo de tudo ou nada. Num Estádio cheio de gente e de fervor clubista, rapidamente a equipa britânica se colocou na frente, em lance infeliz do nosso guarda-redes. Mas a raça benfiquista conseguiu dar a volta à situação, alcançado aquela que foi uma das mais saborosas vitórias que me lembro de ter vivido enquanto benfiquista no novo Estádio da Luz.

Se aconteceu uma vez, pode perfeitamente voltar a acontecer. Hoje temos uma equipa substancialmente mais forte que a daquela época, e o Manchester United não será muito diferente do de sempre. A correlação de forças é, pois, agora menos desequilibrada.


A vitória é possível

Uma vitória seria um passo de gigante na luta pelo apuramento, até porque não creio que as restantes equipas possam retirar pontos ao conjunto de Alex Fergunson. Mas, nesta mesma medida, há que dizer que um empate também não assentaria mal, tendo que ser considerado - face a tão poderoso opositor - como um resultado deveras positivo.

Na próxima quarta-feira, estarão em campo onze jogadores de cada lado, perante uma bola redonda. A responsabilidade dos nossos será a de dar o seu máximo, e enfrentar, sem medos nem complexos, uma equipa que lhes é teoricamente superior. Num jogo desta natureza, ninguém poderá exigir qualquer tipo de resultado. Mas também ninguém poderá excluir qualquer possibilidade, e muito menos limitar-nos na nossa faculdade de sonhar.

Seja qual for o desfecho deste jogo, ao apito final do árbitro nada estará perdido. E, pelo contrário, muita coisa pode ser ganhar, inclusive uma dinâmica de vitória que se venha a tornar imparável para o resto da temporada, e para o resto das competições. É destes jogos que nós gostamos. Venham eles!"


Luís Fialho, in O Benfica

O xito

"As movimentações dos principais dirigentes dos clubes por causa das eleições da Federação Portuguesa de Futebol, em função das mudanças estatutárias, acrescentaram uma nova faceta ao 'milieu', confirmando a apagamento e perda de poder dos líderes associativos e o pânico do xerifado em relação à transferência do controlo dos árbitros.
Transportando-nos aos saudosos tempos dos xitos e das noitadas do Conde Redondo, anteriores à invenção do telemóvel e das escutas digitais, quando os principais dirigentes associativos se assumiam como pontas-de-lança dos emblemas apenas a pretexto do fervor emblemático e de umas generosas excursões europeias em regime de pensão muito completa. Eram tempos pré-históricos, em que a hierarquia das Associações correspondia às ambições dos clubes, por delegação, e em que uma 'manutenção' ou uma subida de divisão, nem que fossem por via administrativa, valia tanto como um título para os maiores. Os dirigentes associativos eram pardos e de falinhas mansas, mas agressivos e canalhas q.b., sem contemplações perante os objectivos supremos, deixando como legado uma lógica de poder e cariz familiar.
Com o advento da Liga 'profissional' e de mediatização frenética de competição entre clubes, os associativos desceram à condição de amanuenses e deixaram de projectar qualquer figura de referência. Fazem o seu trabalho meritório, dividem umas pequenas benesses que escorrem dos sucessos das selecções, mas mal conseguem resolver o problema da falta de árbitros para o futebol amador.
Observa-se assim com naturalidade este movimento dos clubes profissionais a impor os seus interesses tão particulares a um mundo que pode ficar bloqueado e caótico, quando os futuros executivos concentrarem o seu labor na chamada alta competição. A evolução estatutária e redefinição democrática são bem-vindas, mas a preocupação do legislador quase exclusivamente com a regulação do desporto profissional pagará um preço elevado.
O avanço dos nomes do actual e do anterior presidente da Liga é constrangedor. Traduz a capitulação de um mundo que há décadas deixou de formar dirigentes fora das turmas de Direito, com as perversidades que se conhecem. As candidaturas surgem de forma meramente circunstancial, sem conteúdo nem ideias, apostando apenas no reconhecimento por proximidade - desconcertante no caso de Soares Franco.
O controlo do Conselho de Arbitragem continua a ser a preocupação central e condicionará todas as 'alianças' necessárias a um desfecho satisfatório para os clubes mais poderosos, podendo voltar a chegar, no limite, à aceitação por parte dos adversários do sistema de um dirigente comprometido com o 'Apito Dourado'.
E representa, em última análise, a extrema pobreza de recursos humanos a que o futebol, ao contrário de outras modalidades desportivas, se deixou chegar, em contraciclo com a afirmação internacional dos jogadores e treinadores. O futebol português não consegue projectar um líder respeitável, desinteressado, insuspeito - e, assim, esta cultura de guerrilha, falta de desportivismo e de tráfico de influências manter-se-á por mais algumas gerações, fazendo-o perder terreno de forma irreversível para os campeonatos internacionais mais mediatizados."

João Querido Manha, in Record

'Penalties' com hora marcada

"Nem os comentários de três especialistas no jornal que o presidente do Porto costuma passear debaixo do braço expressaram unanimidade


TODOS os dias podemos enriquecer os conhecimentos futebolísticos, confessando eu intolerável distracção por não me ter apercebido da eventual alteração na aplicação da lei 14, a que se refere à marcação de pontapés de grande penalidade. Despertado pelo chinfrim que o trabalho de Duarte Gomes suscitou, no Benfica - V. Guimarães, verifiquei que, antes de qualquer reparo sobre o acerto ou desacerto das decisões tomadas pelo árbitro internacional, de imediato emergiu uma vaga de estranho repúdio pelo atrevimento na marcação de três penalties, três, e - grave pecado - no curtíssimo espaço de dez minutos, o que, como disse, me alertou para suposta inovação que se me escapara. Em face da repentina lamuria cheguei a admitir que fora determinado pela FIFA um limite para o número de grandes penalidades a assinalar em cada jogo, independentemente da quantidade de prevaricações e que ficara também estabelecido um intervalo de tempo razoável entre elas, ou seja, espécie de penalties com hora marcada, ao sabor da conveniência dos interessados, uma no primeiro quarto de hora, por exemplo, e outro na última meia hora, mas somente duas, não mais. No resto, quanto a empurrões, rasteiras, puxões, apertões ou beliscões prevaleceria a sábia recomendação de virar a cara para o lado ou analisar as infracções com base no critério do faz de conta...

Voltando a Duarte Gomes, foi maior o barulho do vento do que o efeito da tempestade. No primeiro penalty esteve certo. O segundo foi duvidoso, em resultado de um quadro difícil em que, atendendo à velocidade de execução e desenho do lance e ao gesto brusco e instintivo do defesa vimaranense, 99 por cento dos árbitros julgariam da mesma maneira (excepção feita, provavelmente, aos sobredotados, como Benquerença). No terceiro, houve disparate, digo eu, como disparate houvera antes, ao não ter sido punido com grande penalidade o corte irregular de Alex.

É evidente que foi negativa a actuação de Duarte Gomes, unicamente por estes dois lapsos referidos e não pelo foguetório lançado com a intenção de promover a circulação de uma mensagem de alegado favorecimento a um dos intervenientes, na circunstância o Benfica, quando, em rigor, isso é uma falsidade. Registou-se até o pormenor curioso de Cardozo ter arrancado a tinta da barra da baliza na tal dúvida que apenas o recurso às modernas tecnologias permitiu escrutinar... Aliás, nem os comentários de três especialistas na matéria publicados no jornal que o presidente do Porto costuma passear debaixo do braço expressaram unanimidade, o que não deixa de ser significativo...

Estes cenários dão jeito. Convidam a prolongadas e ocas discussões, a ruidosos e empoeiradas debates, mas, esgotado o entusiasmo, tudo continua como antes até cena de próximo capitulo, como convém a quem pretende que as questões essenciais e verdadeiramente importantes se mantenham inertes por detrás destas densas nuvens, muito confusas e pouco esclarecedoras. A transparência incomoda e a verdade assusta os opositores da mudança. Entreter o povo com minudências é uma das estratégias normalmente utilizadas pelos que esgrimem com argúcia a separação entre o ser e o parecer, os que escondem de uma mão o que a outra faz. Assim tem sido ao longo dos anos...


NÃO sei se é agora que o Campeonato vai começar para o Sporting, mas continuo a pensar que o problema de Domingos, além do nó que alguém teve de ajudá-lo a desatar, chamado Hélder Postiga, fruto de uma teimosia mal calculada, se resume a tempo, ou à falta dele, para formar uma equipa mental, física e competitivamente capaz de, o mais depressa possível, se bater com FC Porto e Benfica e reunir argumentos necessários e suficientes para discutir o título em plano de igualdade. Quando isso suceder, e se a massa adepta revelar disponibilidade para mais um suplemento de tolerância, alguns dos obstáculos externos que hoje se deparam ao bom desempenho do futebol leonino diluir-se-ão com naturalidade. Havendo força, há respeito. Acredito em Godinho Lopes, se mais não faz é porque não pode, acredito em Carlos Freitas, cuja competência dispensa interrogações, e acredito em Domingos Paciência, a precisar de serenidade e protecção para se adaptar a uma complexa realidade e construir praticamente do zero uma equipa à dimensão da grandeza e da história do Sporting."


Fernando Guerra, in A Bola