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quarta-feira, 14 de setembro de 2011

'Penalties' com hora marcada

"Nem os comentários de três especialistas no jornal que o presidente do Porto costuma passear debaixo do braço expressaram unanimidade


TODOS os dias podemos enriquecer os conhecimentos futebolísticos, confessando eu intolerável distracção por não me ter apercebido da eventual alteração na aplicação da lei 14, a que se refere à marcação de pontapés de grande penalidade. Despertado pelo chinfrim que o trabalho de Duarte Gomes suscitou, no Benfica - V. Guimarães, verifiquei que, antes de qualquer reparo sobre o acerto ou desacerto das decisões tomadas pelo árbitro internacional, de imediato emergiu uma vaga de estranho repúdio pelo atrevimento na marcação de três penalties, três, e - grave pecado - no curtíssimo espaço de dez minutos, o que, como disse, me alertou para suposta inovação que se me escapara. Em face da repentina lamuria cheguei a admitir que fora determinado pela FIFA um limite para o número de grandes penalidades a assinalar em cada jogo, independentemente da quantidade de prevaricações e que ficara também estabelecido um intervalo de tempo razoável entre elas, ou seja, espécie de penalties com hora marcada, ao sabor da conveniência dos interessados, uma no primeiro quarto de hora, por exemplo, e outro na última meia hora, mas somente duas, não mais. No resto, quanto a empurrões, rasteiras, puxões, apertões ou beliscões prevaleceria a sábia recomendação de virar a cara para o lado ou analisar as infracções com base no critério do faz de conta...

Voltando a Duarte Gomes, foi maior o barulho do vento do que o efeito da tempestade. No primeiro penalty esteve certo. O segundo foi duvidoso, em resultado de um quadro difícil em que, atendendo à velocidade de execução e desenho do lance e ao gesto brusco e instintivo do defesa vimaranense, 99 por cento dos árbitros julgariam da mesma maneira (excepção feita, provavelmente, aos sobredotados, como Benquerença). No terceiro, houve disparate, digo eu, como disparate houvera antes, ao não ter sido punido com grande penalidade o corte irregular de Alex.

É evidente que foi negativa a actuação de Duarte Gomes, unicamente por estes dois lapsos referidos e não pelo foguetório lançado com a intenção de promover a circulação de uma mensagem de alegado favorecimento a um dos intervenientes, na circunstância o Benfica, quando, em rigor, isso é uma falsidade. Registou-se até o pormenor curioso de Cardozo ter arrancado a tinta da barra da baliza na tal dúvida que apenas o recurso às modernas tecnologias permitiu escrutinar... Aliás, nem os comentários de três especialistas na matéria publicados no jornal que o presidente do Porto costuma passear debaixo do braço expressaram unanimidade, o que não deixa de ser significativo...

Estes cenários dão jeito. Convidam a prolongadas e ocas discussões, a ruidosos e empoeiradas debates, mas, esgotado o entusiasmo, tudo continua como antes até cena de próximo capitulo, como convém a quem pretende que as questões essenciais e verdadeiramente importantes se mantenham inertes por detrás destas densas nuvens, muito confusas e pouco esclarecedoras. A transparência incomoda e a verdade assusta os opositores da mudança. Entreter o povo com minudências é uma das estratégias normalmente utilizadas pelos que esgrimem com argúcia a separação entre o ser e o parecer, os que escondem de uma mão o que a outra faz. Assim tem sido ao longo dos anos...


NÃO sei se é agora que o Campeonato vai começar para o Sporting, mas continuo a pensar que o problema de Domingos, além do nó que alguém teve de ajudá-lo a desatar, chamado Hélder Postiga, fruto de uma teimosia mal calculada, se resume a tempo, ou à falta dele, para formar uma equipa mental, física e competitivamente capaz de, o mais depressa possível, se bater com FC Porto e Benfica e reunir argumentos necessários e suficientes para discutir o título em plano de igualdade. Quando isso suceder, e se a massa adepta revelar disponibilidade para mais um suplemento de tolerância, alguns dos obstáculos externos que hoje se deparam ao bom desempenho do futebol leonino diluir-se-ão com naturalidade. Havendo força, há respeito. Acredito em Godinho Lopes, se mais não faz é porque não pode, acredito em Carlos Freitas, cuja competência dispensa interrogações, e acredito em Domingos Paciência, a precisar de serenidade e protecção para se adaptar a uma complexa realidade e construir praticamente do zero uma equipa à dimensão da grandeza e da história do Sporting."


Fernando Guerra, in A Bola

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