"Juntar o Benfica a uma palavra - Morte - que historicamente foi passada a quase todos como sendo um assunto "tabu", é algo que poderá deixar algumas pessoas desconfortáveis.
Isto porquanto não entra no léxico habitual de grande parte das pessoas, talvez por desconforto, superstição ou eventualmente por nos (re)lembrar da inevitabilidade da mesma para todos nós.
Por tudo isto, ao que podemos eventualmente adicionar alguma tradição e antigos costumes, quando nos deparamos com a morte, normalmente de alguém que nos é próximo, a reação generalizada é de um certo desnorte. Não falo naturalmente do choque e tristeza pela perda, mas a incerteza subsequente acerca daquilo que o falecido gostaria em termos de cerimónia.
Perante o tema, é inegável a importância que o Benfica tem para muitos dos sócios e adeptos, um amor e ligação que, estou certo, muitos gostariam de ver relembrado e, se possível, eternizado.
É por isso habitual ver cachecóis, camisolas ou outros símbolos do Glorioso a acompanhar os seus adeptos em muitos momentos marcantes das suas vidas, seja em Portugal ou no estrangeiro, na praia, no cume de uma montanha milenar ou até debaixo de água.
Benfica é sinónimo de paixão intensa e são muitos os cânticos que fazem alusão a essa ligação "eterna", tais como as passagens "Benfica é nosso até morrer"; "sê-lo-ei até morrer"; "Benfica até morrer"; "para sempre, quero-te ver a ganhar"; "até morrer, Benfica até morrer"; "és o meu eterno amor"; "Benfica vais vencer, estamos contigo até morrer; "o amor da minha vida", cantados habitualmente com genuína emoção no apoio às equipas do Benfica.
Contudo, não existe nada que o Benfica proporcione aos seus adeptos quanto a este tema. Desconheço se nunca foi equacionado ou o motivo de não existirem alternativas, por isso fica dado o mote para que se pense neste ponto. Porque não o Benfica disponibilizar serviços relacionados com a morte de um sócio ou adepto?
As opções e possibilidade são várias, deixando desde já algumas: criação de um jardim da memória, com um memorial da eternidade "eternamente Benfica" com os nomes dos falecidos aí gravados para sempre; no início de cada época (creio que a Eusébio Cup seria apropriada) ler o nome de todos os sócios falecidos nesse ano com um enorme "minuto de palmas", possibilidade de criar um local de culto para velórios ou cerimónias junto ao Estádio; ponderar a existência de cemitério ou mausoléu em algum existente para acolher sócios falecidos no "cemitério Benfica", ponderar a possibilidade de ter alguém do Benfica presente nas cerimónias fúnebres, criação da "bandeira eterna", uma bandeira personalizada que acompanhe o caixão do falecido até á sua última morada, são alguns exemplos que merecem ser ponderados. Sem preconceitos e sem medo do inevitável.
Como já referi anteriormente, o Benfica não pode estagnar e deve estar na vanguarda do desenvolvimento de uma relação cada vez mais próxima com os seus sócios e adeptos. Sendo este um tema sempre sensível na sociedade portuguesa, conforme referi, terá de ser o Benfica o pioneiro daquilo que é obvio para muitos sócios e adeptos: querem ser relembrados no último adeus e se possível para sempre. Sem dramas e sem receios de inovar.
Por outro lado, e sem que sejamos tratados numa visão de "clientes", acredito que estes serviços e produtos serão uma nova e surpreendente fonte de receita para o Benfica a nível financeiro.
Tudo visto, haja determinação para avançar e recordar Cosme Damião: "Não sou Benfiquista de coração, porque esse um dia pára. ?Sou Benfiquista de alma, porque essa é eterna".
A morte trágica e prematura do jovem piloto André Serra, ocorrida há poucos dias quando combatia os incêndios, relembra-nos abruptamente como não controlamos esta aventura que é viver. E a fotografia do André com a camisola do Benfica vestida num momento claramente feliz da sua vida que circulou na comunicação social é particularmente impactante.
Sentidas condolências à família e votos que descanse em paz torcendo pelo Benfica no "quarto anel", com a certeza de deixar "aqui em baixo" uma nação agradecida pelo seu derradeiro sacrifício."