"Mais vale tarde do que nunca. Foi preciso que se passasse quase um ano para o presidente do Sporting reconhecer publicamente que há contas por saldar do episódio incendiário da sua última visita ao Estádio da Luz. E se há contas por saldar é porque há responsabilidades atribuídas. Também é verdade que não foram nada felizes as circunstâncias nem os termos em que Godinho Lopes se referiu ao incêndio de uma bancada da Luz.
A despropósito da inflacionada questiúncula do adiamento do último “derby”, veio o presidente do Sporting explicar à nação que Luís Filipe Vieira não lhe terá atendido o telefone por “razões completamente ridículas” tais como “o facto de as contas do incêndio na bancada da Luz não estarem ainda fechadas”.
O ridículo mata, tem razão Godinho Lopes. Mas nem o incêndio de uma bancada, nem a continha por pagar podem ser considerados temas ou razões ridículas a não ser para pirómanos ou para caloteiros o que, com certeza, não é o caso. Está desorientado o presidente do Sporting e não é por causa do Benfica nem de Vieira, por muito que isso lhe fosse convenientemente. Do ponto de vista estratégico em prol da sobrevivência do seu projecto já uni-pessoal para o clube que o elegeu (ou não…), falhou-lhe estrondosamente a tentativa de engodar as hostes sportinguistas num assomo de ódio contra os vizinhos da Segunda Circular nas vésperas do clássico.
Nem os adeptos do Sporting, cansados de tanta realidade, embarcaram nessa fantasia, nem o próprio Benfica se dignou a dar o troco tão ansiosamente esperado no gabinete presidencial e no gabinete da comunicação de Alvalade. À guerrinha do adiamento respondeu o presidente do Benfica com uma notável falta de comparência. “Não há pão para malucos”, como diz o povo com a sua imensa sabedoria. Da Luz não houve uma palavra, um ai, um suspiro em resposta aos disparates de Godinho Lopes nas vésperas do jogo. E quando o jogo acabou, a preocupação do presidente do Benfica nem sequer foi responder a Godinho Lopes ou reavivar o tema com a enorme vantagem de ter ganho o clássico na casa do velho rival. Voando sobre as dores de Godinho Lopes, Vieira virou-se para o que realmente o interessa e o preocupa: o andebol. O resto é conversa.
ERRAR É HUMANO
Opiniões respeitáveis contra metáforas assassinas
No fim do jogo de Alvalade, sem nomear o FC Porto, o presidente do Benfica assumiu as dificuldades de lutar pelo título quando há equipas em prova que “jogam com dois guarda-redes”. A trezentos quilómetros de distância a absurda metáfora de Vieira causou comoção. Um conjunto de individualidades – um ex-jogador, o treinador e o presidente - depreenderam que as palavras de Vieira lhes eram dirigidas e, reagindo, enfiaram o garruço até às orelhas (deles).
Rodolfo Reis, um ex-jogador, clamou que o Benfica estava a “preparar os árbitros” para o futuro, Pinto da Costa, o presidente (…já a quilómetros-luz da sua proverbial ironia do costume), afirmou desconhecer essa possibilidade regulamentar e Vítor Pereira, o treinador, relembrou a arbitragem de Duarte Gomes no Benfica-Vitória de Guimarães da última temporada.
São opiniões. E todas muito respeitáveis. Ficámos assim a saber que para estas três figuras os árbitros Carlos Xistra, Olegário Benquerença e Vasco Santos tiveram nota positiva, e positiva alta, nos jogos em que apitaram o FC Porto, os dois primeiros em Braga, o terceiro no Dragão frente ao Moreirense. Já o presidente do Benfica pensa de maneira diferente e não admirará se vier a ser suspenso pela Liga. Há metáforas que não podem passar impunes.
POSITIVO
Cardozo matador
Na segunda-feira, em Alvalade, o paraguaio voltou a mostrar os seus dotes de mata-leões e de inimigo público n.º 1 de Rui Patrício. Dois golos mais um golo a meias com Rojo e mais 3 pontos para o Benfica.
Manita de Falcão
O colombiano está imparável. Marcou 5 golos ao Deportivo da Corunha, é obra. O presidente do Real Madrid já nem esconde a vontade que tem de desviar Falcão do Vicente Calderón para o Santiago Bernabéu.
NEGATIVO
Boulah… atroz
Mais um jogo desgraçado do infeliz Boulahrouz. É da sua responsabilidade o penalty com que o Benfica iniciou a reviravolta e que lhe valeu um vermelho directo. O holandês não acerta uma.
PÉROLA
“Estamos a fazer um trabalho de grande dimensão.”, GODINHO LOPES
Não será essa a opinião generalizada entre os sócios e adeptos do Sporting Clube de Portugal mas é de louvar a confiança e, muito principalmente, a auto-estima do presidente no momento mais conturbado da história do clube. E confiança e auto-estima é o que mais tem faltado à equipa de futebol."
PS: Na mesma semana, duas das melhores crónicas da 'nossa' Leonor!!!