Últimas indefectivações

sexta-feira, 7 de dezembro de 2018

Acto de coragem

"Num país onde ninguém se engana e raramente alguém tem dúvidas, assumir um erro, ou uma mudança de opinião, não é frequente. Com coragem, frontalidade e humildade, Luís Filipe Vieira não só confessou que na véspera pensara de modo diferente como, contra a opinião quase unânime dos benfiquistas, chamou a si a magna responsabilidade de manter Rui Vitória no comando da equipa.
É para isso que servem os líderes: para decidir e para correr riscos. E Vieira nunca teve medo de o fazer.
A avaliar pela exibição frente ao Feirense, pode dizer-se que o efeito imediato foi positivo. Podemos até estar perante um momento de viragem, a partir do qual a união da equipa resulte reforçada, e a sua confiança revitalizada para o resto da temporada.
O nosso presidente tem uma intuição incomum. E tem atrás de si o crédito de 6 Campeonatos, 3 Taças, 7 Taças da Liga, 4 Supertaças, 2 finais europeias, inúmeros títulos nas modalidades, um estádio, um centro de estágio, um museu, um canal de TV, uma fundação, entre outras realizações. Tem também a confiança reiterada da esmagadora maioria dos benfiquistas espalhados pelo país e pelo mundo.
Só ele dispõe de todos os dados para decidir. De fora é fácil emitirmos opiniões avulsas, sem conhecermos por dentro os problemas, e sem sermos confrontados com as consequências. Mas o futebol profissional não é como a PlayStation, em que se tira um e põe outro, e se a coisa correr mal desliga-se o jogo.
O presidente decidiu, está decidido. Rui Vitória  continua a ser o treinador do Benfica, logo, continua a ser também o meu treinador. Enquanto assim for, assim será."

Luís Fialho, in O Benfica

Luz sempre acesa

"Nos últimos dias muito tem sido analisada a decisão de manutenção de Rui Vitória no cargo do treinador. Só quem tem andado distraído pode ter ficado espantado com a decisão da SAD. Graças à estabilidade no comando técnico, conquistámos 16 títulos nos últimos 10 anos. Nesse período tivemos apenas dois treinadores - Jorge Jesus e Rui Vitória. Jesus conquistou 10 títulos, e Vitória já soma seis. Os factos falam por si, e os números não enganam. Por falar em números, não posso deixar de destacar a aprovação, por esmagadora maioria, na passada sexta-feira, das contas de 2017/18 da Sport Lisboa e Benfica - Futebol, SAD.
Foram aprovados o terceiro melhor resultado de sempre de receitas (205786 milhares de euros) e o segundo melhor resultado de sempre do Grupo SL Benfica (237401 milhares de euros).
Os melhores de sempre da SAD aconteceram nos dois exercícios anteriores: 253501, em 2016/17, e 211866, em 2015/16. E o melhor resultado da história do Grupo SLB ocorreu em 2016/17, com 285062. Com a particularidade de termos ultrapassado a barreira dos 200 milhões em 2014/15 (206260) e em 2015/16 (236719). Ou seja, nos últimos quatro exercícios, o Grupo SLB ultrapassou sempre os 200 milhões em termos de receitas. Além de 2017/18 ter sido o ano em que a SAD registou o segundo maior lucro de sempre (20,6 M€), assinalo os capitais próprios positivos de quase 87M€, e a continuação da forte redução da dívida bancária: menos 110,3M€. Ou seja, a Luz tem estado sempre acesa para quem administra o SL Benfica. Foi este luz que nos levou à hegemonia do desporto nacional e do futebol português."

Pedro Guerra, in O Benfica

O futebol é de todos

"Não é exactamente essa a tradução de Football for All, que em rigor seria 'Futebol para todos', mas se é preciso apostar em fazer chegar o futebol a toda a gente, isso não passa de repor a própria natureza do grande jogo.
O futebol é de todos e, sim, tem de ser para todos mesmo que não possuam todas as faculdades físicas ou intelectuais da maioria dos cidadãos. É que sendo a bola um objecto vulgar e empreguado numa vastidão de desportos e actividades lúdicas, na maior parte do mundo, quando se diz 'jogar à bola', todos reconhecem que é de futebol que se trata.
Não há nisso nenhuma estranheza, mas não deixa de surpreender o facto de, para os cidadãos portadores de deficiência, a bola estar tradicionalmente confinada às sessões de fisioterapia e a terapia várias em que desempenha um papel fundamental na estimulação, coordenação e motricidade.
Mas centremo-nos na primeira destas questões, que remete para o estímulo e aí facilmente percebermos que todo se passa no domínio da vontade e da motivação. Passos de gigante para a criação de objectivos a atingir, completude e superação. Aí, é pela autoestima e pela dignidade que se abrem os caminhos de felicidade também para tanas e tantas pessoas. E tudo isto com uma simples bola e com um jogo fantástico capaz de fazer brilhar os olhos de todos, mesmo de quem vive por vezes muito isolado do mundo.
Estas razões seriam bastantes, só por si, para que celebrássemos com garra o Dia Internacional das Pessoas com Deficiência, que se assinala a 3 de Dezembro.
Mas há mais uma: o Benfica, com a sua matriz solidária e humanista. Com a sua cultura inclusiva e de aposta no melhor de cada um para um resultado colectivo. Podem parecer palavra ocas quando pensamos de forma imediata e temos dificuldade em ver como, por exemplo, um cidadão tetraplégico totalmente dependente e sem capacidade de falar pode explorar o melhor de si e oferece à humanidade algum tipo de legado. Se mais não houvesse, haveria sempre Stephen Hawking, um físico notável, um génio brilhante que se atreveu com sucesso pelos caminhos de Einstein, ganhou um Prémio Nobel contribuiu decisivamente para o avanço da ciência.Ocupou nada menos que a cátedra de Isaac Newton em Cambridge. Ah, já agora, era um fervoroso adepto de futebol e chegou a contribuir com modelos matemáticos de análise de influência de contexto sobre a performance da selecção inglesa nos mundiais.
Não poderia haver melhor prova de que o mundo é de todos, e todos desempenham nele um papel, por mais inverosímil que isso pareça. E se o mundo, que também é redondo, é de todos, a bola, essa, é ainda mais, e o futebol também!
Por isso não se esqueçam e façam tudo o que poderem para levar esta mensagem bem longe: Football for All!"

Jorge Miranda, in O Benfica

Tudo perfeito? Não

"Desculpem-me os mais contentes da bancada, mas, se bem pergunto, tudo ficou resolvido na sábado passado e anteontem? A tal crise está ultrapassada? O que era lento deixou de ser, naqueles jogos? O que era larvarmente insuficiente ter-se-á transformado, por magia, num modo de jogar definitivamente absoluto ou bom? Já estará, então, tudo nos trinques? Tudo nos conformes?
Digo eu que se engana redondamente quem pensar assim... Eu vejo jogar o Benfica há já muitos anos. E, para me lembrar só do meio-campo, por exemplo, vi jogar Coluna, Jaime Graça e João Alves, e só seu seu as memórias que me deixaram. Também jamais esquecerei do que vi fazer a Cavém, Santana, Valdo, Toni ou Aimar. E lembro-me, como se tivesse sido ontem, do que fazia Rui, Rui Costa, nesses espaços! O Benfica sempre continuou a crescer e a desenvolver-se. Sempre soube reinventar a chama que cada um dos seus maiores jogadores lhe foi trazendo, à medida em que cada um deles cedia o seu lugar a outro, mais jovem.
Clube único e inigualável no mundo, o Benfica fez-se grande não tanto pelo exemplo que cada um dos seus atletas mais representativos ou mais geniais lhe aportava em cada época, para inegável felicidade de todos, mas, sobretudo, porque os seus sócios sempre tiveram o bom senso de certificar e preservar eficazmente o essencial que os unia, da mesma forma que sempre souberam dispensar e arredar o que, apenas sendo efémero e conjuntural, ocasionalmente, os separasse.
Essa ideia de como se fez, construiu e desenvolveu a grandeza do Benfica é, portanto, o factor absolutamente primacial que nasceu da Amizade entre pequeno círculo de companheiros, ainda antes da fundação formal do Clube, consagrada em 1904.
E é essa mesma idade que tem de continuar a fazer desenvolver, para sempre, o Grande Benfica. Sejam quais forem os seus conjunturais intérpretes. Seja em que jogo, em que torneio, ou em que modalidade jogar um jogador ou uma equipa do Benfica. A partir de então, nada ficaria como dantes no cenário do associativismo em Portugal; e duas décadas mais tarde - já sendo muito, muito forte e muito relevante no contexto da sociedade portuguesa - o Benfica se tornava no mais pujante organismo civil independente no seio do qual, por sua força própria, a Democracia era cultivada com eleições livres e regulares, ao contrário do caldo ditatorial em que Portugal se reduzia e definhava.
Quando, nos dias de hoje, vejo jogadores do Benfica jogarem a passo e em passinhos para o lado, mais preocupados com o penteado ou com os vincos da roupa de jogo do que com a responsabilidade de se entregarem à defesa e ao prestígio dos símbolos que lhes fora concedido representar, ou quando os vejo perder ou empatar sem chorarem de raiva e de tristeza, vêm-me à abençoada memória que conservo aqueles jogadores memoráveis e a interpretações viva que eles honradamente representavam do Grande Benfica.
Por isso me identifiquei e me reconheci tão inteiramente na sinceridade (e na coragem) do testemunho e dos esclarecimentos que Luís Filipe Vieira fez questão em prestar aos sócios, num dos momentos mais difíceis dos seus quinze anos de presidência. Afinal, cumprindo a sua nobre missão de eleito Benfiquista, no momento que entendeu mais conveniente, o presidente soube afastar alguns epifenómenos dispensáveis e (de novo) fez bem em conservar o que, entre nós, é verdadeiramente essencial. E, por mim,, simplesmente não aceito as reticências que vou percepcionado habilmente dissimuladas nos posicionamentos de alguns que são seus próximos pares."

José Nuno Martins, in O Benfica

Fernando Gomes e o tempo que foge

"Fernando Gomes, presidente da FPF, convidou os presidentes dos clubes representados na Liga para uma reflexão, a ter lugar no próximo dia 17 de Dezembro, sobre a «competitividade externa do futebol português». Trata-se de uma matéria relevante,a que só os irresponsáveis poderão ficar alheios. Os sinais de declínio são alarmantes e o que virá, no contexto europeu, a seguir, não se compadecerá com as fragilidades evidenciadas por um futebol português que se perde em questões menores e não se está a preparar devidamente para um futuro que se antevê exigente. Usando uma nova liga a nível continental, que agrupe os emblemas mais ricos, como arma de arremesso, os grandes da Europa estão a obrigar a UEFA a promover uma evolução que tem muito de apartheid económico. Na realidade, de forma mais nítida logo que chegue a terceira competição de clubes, os dados estarão lançados e as consequências não se presumem benévolas para Portugal. Fernando Gomes faz bem ao alertar os presidentes para o que está em causa. Se estes persistirem no tresloucado salto rumo ao abismo em que estão apostados, o presidente da FPF poderá, pelo menos dormir descansado. Mas será assim tão difícil ver que não há nenhum país na Europa tão mau como Portugal no que respeita às relações entre clubes, que ao invés de prosseguirem uma demanda comum em prol da indústria, se enfraquecem sucessivamente em derivas acéfalas, a toque de caixa das franjas mais radicais?
Concluída a política de terra queimada em curso, o debate que se seguirá será o da privatização dos maiores clubes. É isso que querem?"

José Manuel Delgado, in A Bola

Conversas à Benfica - episódio 46 (especial Rui Vitória)

Exposição com erros de arbitragem segue para a FPF e Liga de Clubes

"O Sport Lisboa e Benfica envia nesta sexta-feira para as entidades competentes uma relação (vasta) de lances ocorridos nos jogos da Liga NOS, com o propósito de contribuir para a melhoria das arbitragens e diminuir o número de falhas.

O Sport Lisboa e Benfica envia nesta sexta-feira para a Federação Portuguesa de Futebol (Conselho de Arbitragem) e para a Liga de Clubes uma exposição com um vasto conjunto de lances ocorridos nos jogos da Liga NOS, com o objectivo de contribuir para a melhoria das arbitragens e diminuir o número de erros cometidos.
O relatório tem especial incidência em lances de partidas do FC Porto, com falhas, sempre em benefício daquela equipa, difíceis de compreender, como abaixo se documenta em vídeo e numa relação de incidências nesta edição da Liga NOS.
Luís Bernardo, director de comunicação do Clube, reforçou o intuito da exposição, em declarações à Antena 1. "O objectivo é contribuir para a melhoria das arbitragens, permitir que se analise os erros cometidos de forma a melhorar. São lances de diversos jogos e de várias equipas, mas não escondemos que os principais erros estão relacionados com o FC Porto, e foram erros que receberam unanimidade nos diversos painéis de especialistas e comentadores dos diferentes órgãos de Comunicação Social. Tal como tínhamos dito no início da semana, essa exposição segue hoje", afirmou.
A dualidade de critérios na arbitragem tem de ser combatida, enfatizou Luís Bernardo. "Alguns erros são de difícil compreensão, sobretudo ao nível do VAR, e estou a recordar especificamente o jogo do FC Porto com o Feirense em casa, no primeiro golo do FC Porto, e mais recentemente o Boavista-FC Porto, em que houve uma grande penalidade [contra a equipa portista] que o VAR incompreensivelmente não viu. Objectivamente, a nossa intenção é contribuir para a melhoria das arbitragens e para a verdade desportiva da competição", destacou Luís Bernardo.

Alguns dos erros incompreensíveis:
Jornada 2 (19 de Agosto de 2018)
Belenenses 2, FC Porto 3
Árbitro: Carlos Xistra
Assistentes: Paulo Soares e Pedro Martins
4.º árbitro: José Rodrigues
VAR e AVAR: João Capela e Venâncio Tomé
Descrição do lance:
90+2 minutos | A bola embateu num braço do jogador do Belenenses, Henrique Almeida, sem razão para penálti, mas o árbitro considerou que era falta. Na transformação, o FC Porto garantiu a vitória. O árbitro foi ao monitor.

Jornada 3 (25 de agosto de 2018)
FC Porto 2, V. Guimarães 3
Árbitro: Fábio Veríssimo
Assistentes: Nuno Pereira e Valdemar Maia
4.º árbitro: Vítor Ferreira
VAR e AVAR: Bruno Paixão e Paulo Ramos
Descrição do lance:
41 minutos | Penálti por sancionar contra o FC Porto. João Carlos Teixeira, do Vitória de Guimarães, foi rasteirado dentro da área do FC Porto por Otávio. 42 minutos | O segundo golo do FC Porto, marcado por André Pereira, foi obtido em fora de jogo.

Jornada 5 (22 de Setembro de 2018)
Vitória de Setúbal 0, FC Porto 2
Árbitro: Manuel Oliveira
Assistentes: Pedro Ribeiro e Tiago Leandro
4.º árbitro: José Rodrigues
VAR e AVAR: Vasco Santos e Luciano Maia
Descrição do lance:
21 minutos | Felipe fez falta para cartão vermelho sobre Hildeberto Pereira (o FC Porto estava em vantagem por 0-1 e jogaria mais de uma hora com menos um jogador).

Jornada 8 (28 de outubro de 2018)
FC Porto 2, Feirense 0
Árbitro: Rui Oliveira
Assistentes: Paulo Vieira e Nélson Cunha
4.º árbitro: Marco Cruz
VAR e AVAR: Vasco Santos e Pedro Fernandes
Descrição do lance:
22 minutos | Felipe fez o golo em fora de jogo. Árbitro considerou golo irregular e o VAR chamou o juiz da partida, que muda a sua decisão, validando o golo (erro grave). O resultado estava 0-0 e foi o primeiro golo do FC Porto.

Jornada 10 (10 de Novembro de 2018)
FC Porto 1, SC Braga 0
Árbitro: Artur Soares Dias
Assistentes: Rui Licínio e Paulo Soares
4.º árbitro: Manuel Oliveira
VAR e AVAR: Luís Ferreira e Valdemar Maia
Descrição do lance:
57 minutos | Soares fez falta, atingindo o adversário (Claudemir) na cara com um braço, num lance para segundo cartão amarelo. O árbitro não puniu a cotovelada. O resultado estava 0-0 e Soares não teria sido o autor do golo do FC Porto aos 88'.

Jornada 11 (2 de Dezembro de 2018)
Boavista 0, FC Porto 1
Árbitro: Hugo Miguel
Assistentes: Ricardo Santos e Bruno Trindade
4.º árbitro: João Malheiro Pinto
VAR e AVAR: Fábio Veríssimo e Pedro Martins
Descrição do lance:
69 minutos | Brahimi rasteirou Rochinha dentro da área, fazendo falta para penálti. O resultado estava 0-0."

Piratear informação: do pirata da perna-de-pau a Sir Francis Drake

"Ninguém parece preocupar-se com isso, só com discutir, repetir e glosar a informação pirateada, sem querer saber se foi pirateada nem sequer se é ou não verdadeira

Vivemos em tais tempos de abundância e frenesi de informação, e de necessidade dela – mais e mais! –, e também em tempos de deleite opinativo sobre tudo e mais alguma coisa (o tempo em que cada um é “tudólogo”), que parece que ninguém já quer saber qual a origem da informação e se a mesma é fidedigna ou não. Vem isto a respeito do que por cá e pelo mundo vai circulando, muitas vezes com origem em verdadeiros actos de pirataria (ou outros furtos, fraudes, violações, etc.) e mesmo de manipulação. Mas ninguém parece preocupar--se com isso, só com discutir, repetir, glosar (ou mesmo gozar), opinar, valorar, dissecar – quantas vezes até à náusea – a informação pirateada, sem querer saber se foi pirateada ou não e se é sequer verdadeira ou não. É como se o ato de piratear perdesse qualquer importância quando comparado com a necessidade de encher de “informação” a folha em branco ou o espaço vazio, com o ímpeto de opinar sempre e sobre tudo e, também, com o ancestral e incontornável desejo de espreitar pelo buraco da fechadura ou de, abusando da cortina mal dobrada, ver uma nesga de sombras. E a culpa é de quem? É de todos, desde logo por consumirem os frutos da pirataria sem sequer se questionarem sobre a origem (e, já agora, a qualidade ou fidedignidade) da coisa. É como se pirata de informação não fosse realmente pirata (alguém que furta, engana, viola, etc.), mas um ser útil e eticamente neutro, quando não mesmo um ser benigno, amigável – por exemplo, o engraçado e inofensivo pirata da perna-de- -pau da composição musical de Zeca Baleiro. Tem olho de vidro e cara de mau, mas nem nos lembramos do que ele faz. Ávidos, entretidos e deleitados, acolhemos o saque e por aí andamos com ele, sem nos perguntarmos acerca da pirataria. Que alegre, informativo e divertido é tudo isto! Tem na origem crimes? Não interessa, the show must go on. Tenho pena que assim seja, e é grave, e cada qual só dará talvez por isso quando, um dia, tarde demais, o pirata lhe bater à porta, para lhe levar ou manipular ou forjar a sua informação. Aí quero ver se não dói e se não se lembram do problema. Mas mais grave do que esta indiferença (mesmo anomia) acerca da pirataria da informação é a tentativa de a justificar argumentando com a pretensa relevância do que é pirateado. Sim senhor, bom ponto, gosto desta argumentação. O problema é que, primeiro, os fins não justificam os meios, parece-me. Ou será que justificam? E, se justificam, isso vale só para a pirataria ou também vale para outras coisas? E quais? Segundo, mesmo que possa, porventura, ser relevante ponderar o valor do saque para avaliar a gravidade e a censura da pirataria, é preciso ver bem a proporcionalidade e o equilíbrio. E é bom não esquecer que quando certos fins justificam certos meios, então está aberto o caminho para que todos os fins justifiquem todos os meios. É dar carta de corso e um título a um pirata, transformando-o em corsário e cavaleiro. É autorizá-lo a tudo, a bem da nação. Como fez Isabel I a Francis Drake."

Pela salvaguarda e protecção do património desportivo

"O património desportivo é um legado de valor inestimável, muito vasto e disperso geograficamente, onde a singularidade, mas também a diversidade é extensa. Integram este património todos os bens materiais e imateriais de reconhecido interesse para a construção da identidade e memória desportiva.
Com a missão de preservar a história e a memória do desporto em Portugal, nomeadamente no que diz respeito ao Movimento Olímpico, o Comité Olímpico de Portugal tem vindo a desenvolver diversos projectos e a realizar acções concretas neste domínio.
Como expoente máximo destas iniciativas destaca-se o Arquivo Histórico. Neste espólio de inegável riqueza podemos encontrar documentação produzida e recebida ao longo de mais de cem anos, documentos e imagens de personalidades desportivas que marcam a história, Chefes de Estado, Presidentes do Comité Olímpico nacional e internacional, Atletas Olímpicos, e ainda outras personalidades de relevo, quer político, quer desportivo.
Através do estabelecimento de parcerias tem sido possível fazer o tratamento de filmes, trajes olímpicos e materiais desportivos. As doações pessoais e institucionais, que têm acontecido ultimamente, têm permitido dar continuidade a este desígnio da salvaguarda do património desportivo.
Pretende-se assim, com a colaboração das mais diversas entidades e personalidades, aprofundar o conhecimento do Movimento Olímpico em Portugal como elemento crucial para a valorização do desporto, reforçando o envolvimento da sociedade portuguesa em torno das dimensões educativas, sociais e culturais expressas no património e legado histórico do Olimpismo.
Para dar a conhecer este vasto património e sensibilizar a comunidade educativa para a importância da preservação da história e da memória implementaram-se acções no âmbito da Educação Olímpica. São já 161 estabelecimentos de ensino e 407 os professores que, utilizando conteúdos previamente preparados pelo Comité Olímpico de Portugal, trabalham directamente com os seus alunos, nas diferentes áreas curriculares, desde o 1.º ciclo ao nível universitário.
Trabalhar a Educação Olímpica a partir deste vasto e rico património é construir um caminho por um tempo que é passado e é presente pois, apesar de distante na cronologia, carrega em si proximidades com representações, conceitos, formulações teóricas, construções estéticas, políticas e ideológicas desse tempo que é hoje e que é nosso.
Pretende-se, ao fomentar a investigação, o conhecimento e a memória da história do Movimento Olímpico em Portugal, que faz parte da nossa história e do percurso desportivo do nosso País, contribuir para a Valorização Social do Desporto.
O legado patrimonial do desporto é uma parte da sua história. Protegê-lo e valorizá-lo é respeitar a memória desportiva de um país."

A força do surf português

"E é de facto de aplaudir o trabalho que tem sido feito e que criou condições para o surf ser mais um factor de atracção turística, de diversidade na procura, dando uma força absolutamente decisiva a localidades outrora esquecidas mas que, graças a este novo “fenómeno”, viram as suas economias crescer exponencialmente

Quem é que praticava surf em Portugal há 20 anos? Meia dúzia de “malucos” que vestiam fatos isotérmicos justinhos e se lançavam ao mar frio quando a maior parte dos outros chegava a casa depois de uma noite de copos. Frases como “o mar está flat” ou palavras tipo “swell” , “drop” ou “shaper” faziam parte de um léxico praticamente inexistente por cá. Nessa altura, ir para a Nazaré estava completamente fora de moda. O mar estava sempre com ondas grandes e o cheiro a peixe seco ao sol era pouco convidativo. Ninguém fazia ideia das provas que compunham o campeonato nem sequer eram do conhecimento comum os nomes dos principais surfistas.
Mas em poucos anos tudo mudou. Mudou ao ponto de, hoje, o surf ser no nosso país o desporto que, supostamente, mais adeptos ganha por ano. E é de facto de aplaudir o trabalho que tem sido feito e que criou condições para o surf ser mais um factor de atracção turística, de diversidade na procura, dando uma força absolutamente decisiva a localidades outrora esquecidas mas que, graças a este novo “fenómeno”, viram as suas economias crescer exponencialmente. Basta ver os resultados da já referida Nazaré, mas também Peniche, Ericeira, entre outros… E essa explosão torna-se mais impactante porque o público que leva atrás é repleto de gente gira, que gosta de viver e estar de bem com a própria vida e com os outros, que ama a natureza e a respeita, que cultiva os aspectos mais saudáveis e terrenos da nossa essência - e isso só pode trazer coisas boas.
No meu caso, que pouco percebo de surf (nem devia dizer isto porque cresci ao lado de um primo que sempre carregou a prancha, e nem mesmo as duas hérnias discais que ganhou o fizeram demover desta paixão, que o levou a montar uma surf house na Costa da Caparica ), é interessante ver que já fico acordado até tarde se preciso for, influenciado por amigos, para ver os heats (rondas a eliminar) do Frederico Morais, melhor surfista português da actualidade, e que, mesmo não percebendo muito bem as regras (pareço os chineses a ver futebol), espero ansiosamente pelas pontuações dos juízes para aplaudir e incentivar no meu sofá o atleta luso.
É, por isso, para mim de extrema importância referir o nome do “Kikas”, único representante português no principal quadro do surf mundial, mas também do Tiago “Saca” Pires, que durante anos representou as nossas cores lá fora. Exemplos de profissionalismo para os mais jovens e incentivo primeiro para os que se iniciam nas ondas. É, no entanto, o nome de Francisco Spínola que quero aqui salientar. Porque devemos apoiar, elogiar e incentivar os portugueses que se distinguem nos mais altos quadros. Foi ele que trouxe, de uma forma definitiva, as maiores competições do surf para Portugal, mas também tem levado o desporto do nosso país pelos quatro cantos do mundo - uma luta de anos que vê agora ser reconhecida ao ser nomeado pela Liga Mundial de Surf (WSL) como director-geral para a Europa, África e Médio Oriente, sobretudo pela sua “reconhecida contribuição para o desenvolvimento do surf profissional”. E, não contente com o feito, conseguiu ainda trazer para cá a sede da liga mundial.
Eu, que tenho acompanhado, umas vezes mais de perto, outras mais de longe, este percurso, devo--lhe o meu humilde reconhecimento porque, ao mesmo tempo que se vai notabilizando como personalidade mundial do desporto, consegue manter uma postura positiva de consensos de humildade e de respeito pelos outros, o que lhe vai granjeando simpatia por onde quer que passe. O que ele tem dado ao desporto português no geral, mas também ao nosso turismo, é inestimável, sem precisar de se pôr em bicos dos pés ou de chamar para si as atenções. Também na Federação Internacional de Wakeboard temos uma pessoa que muito admiro, o Nuno Eça, que acumula as funções de director-geral com as de juiz. É nestes valores e nos seus percursos que devemos apostar e focarmo-nos em criar condições para que eles nos ajudem a elevar bem alto o nosso desporto, que tantos jovens move e que tão importante é para a nossa economia e bem-estar."

A Argentina e o seu futebol

"A Argentina que tem um dos melhores jogadores de futebol do Mundo – Messi – está com enormes problemas para realizar a 2.ª mão da final da Taça dos Libertadores entre o River Plate e o Boca Juniors.
Não deixa de ser irónico, uma Taça que começou a jogar-se em 1960, em que o seu nome homenageia vários heróis da América do Sul: Simón Bolivar, José de San Martin, José Bonifácio, José Artigas, Bernardo O´Higgins, entre outros, tenha que ser jogada fora da Argentina, em Espanha. 
Os argentinos entendem esta situação como um fracasso e uma traição, mas a culpa é toda deles pelos desacatos do 1.º jogo.
O que deveria ter acontecido era ter-se avaliado as condições para jogar e tudo fazer para que o jogo se realizasse com o mínimo de segurança. Se tal não fosse possível a COMMEBOL (Confederação Sul-Americana de Futebol) deveria sancionar desportivamente o River Plate pelos incidentes ocorridos a 24 de Novembro. Em 2015 nos oitavos-de-final da Taça Libertadores houve um ataque de gás pimenta dos adeptos do Boca a jogadores do River e terminou com a desclassificação do Boca. 
Não tem jeito nenhum realizar um jogo entre dois clubes argentinos em Madrid. É passar um atestado de menoridade e de falta de capacidade aos argentinos resolverem os seus diferendos e problemas.
Os espanhóis já foram colonizadores dos argentinos, mas no séc. XXI essa situação não se devia colocar.
Esta decisão da COMMEBOL conseguiu o feito notável de pôr de acordo o Boca e o River, o que parece um milagre. Depois do que se passou não deveria haver final nenhuma e não se entregaria o troféu a nenhuma das equipas. A indisciplina e a violência devem ser banidas do futebol.
É incompreensível e não tem nexo nenhum que o clássico do futebol argentino não possa ser jogado em solo argentino com normalidade. Como reagiriam os portugueses se a UEFA obrigasse a jogar um Porto- Benfica no Rio de Janeiro?
O ataque ao autocarro do Boca Juniors perpetrado pelos adeptos do River quando este chegava ao estádio do River é inqualificável. As imagens passadas na televisão auguram o pior para o futebol argentino, há muita tensão e agressividade.
No futebol, como em tudo na vida tem que haver responsáveis e um clube tem que ser responsabilizado pelos seus adeptos. Se não o é quem tem que o ser?
Passar o jogo para Espanha, é passar um atestado de incompetência a um país que recentemente recebeu a reunião do G20. A Argentina tem capacidade para organizar uma reunião dos políticos mais poderoso do mundo e não tem capacidade para organizar um jogo de futebol entre dois rivais!
O futebol argentino não pode estar à mercê de um bando de adeptos violentos e arruaceiros que impeçam a realização de um jogo de futebol. Passar um jogo de uma final para outro país, por muito boas intenções que se possa ter, desvirtua a competição, prejudica quem quer ver o jogo no estádio e afecta a igualdade de condições por não permitir o factor casa.
É uma decisão inédita e a polémica não acabará depois do jogo se realizar em Espanha, vai continuar a via legal e a pôr em causa a decisão da COMMEBOL.
O que aconteceu em Buenos Aires foi os excessos que não respeitaram os limites, a violência tomou conta do futebol argentino. A culpa foi da claque do River, Barras Bravas, mas também da incompetência das forças de segurança.
A moral da história é que 100 fanáticos em acção ganharam a 60.000 pessoas que esperaram sete horas pelo começo do jogo que não se chegou a realizar.

Nota: no futebol para se ser Bola de Ouro tem que se jogar no Real Madrid. Ronaldo é muito mais jogador do que Modric."

Um Olímpico mercantilismo

"Durante a sessão de abertura da II convenção MEMOS (Executive Masters in Sport Organisations Management) que se realizou no Estoril o presidente Constantino do Comité Olímpico de Portugal (COP), destacou a importância da gestão do desporto no combate à “mercantilização do desporto”. E, num discurso de carácter moralista, afirmou: “A mercantilização do desporto a que assistimos, que acentua a avidez pelo lucro e pelo dinheiro, traz com ela o aparecimento de fenómenos que lesam a boa imagem do desporto, como a dopagem, a corrupção ou a manipulação de resultados. Portanto, se o desporto deve estar ao serviço do desenvolvimento humano, a governação não pode viver apenas em função da obsessão pelos resultados desportivos e descurar a credibilidade, a integridade e a democraticidade das suas organizações”. (Cf. Sapo, 2018-12-6).
O mercantilismo, enquanto sistema económico, do ponto de vista lato, teve diversas interpretações desde que Adam Smith, em 1776, publicou “A Riqueza das Nações”. Do ponto de vista estrito significa a tendência para, a partir de interesses pessoais ou corporativos, subordinar tudo ao comércio. Desde Adam Smith que políticas mercantilistas foram desenvolvidas e postas em prática por comerciantes e governos nos mais diversos países. O desporto não escapou ao mercantilismo pelo que, desde inícios do século XX, que o comercialismo afligia aqueles que lideravam o Movimento Olímpico (MO) tanto a nível internacional quanto nacional. Pierre de Coubertin, ao longo da sua vida, foi um inquebrantável lutador contra o mercantilismo que já ameaçava tomar conta dos Jogos Olímpicos. Repare-se que ele não era contra a economia associada ao desporto mas, simplesmente, contra os abusos da sua exploração comercial.
Postas estas premissas, temos de dizer que não se percebe o discurso do presidente do COP. Em primeiro lugar, porque, nos tempos atuais, à revelia do espírito de Coubertin, têm sido as organizações do MO aquelas que mais têm mercantilizado e comercializado o desporto como qualquer pessoa minimamente atenta pode constatar. Em segundo lugar, se existe organização que mais tem demonstrado avidez pelo dinheiro tem sido o Comité Olímpico Internacional (COI) com os seus cadernos de encargos destinados às cidades candidatas e os seus contratos milionários com as cadeias de televisão em todo o Mundo. Em terceiro lugar, o evento que mais tem descredibilizado o desporto, lamentavelmente, tem sido os Jogos Olímpicos (JO) desde os velhos comportamentos da URSS e da RDA que, no Rio de Janeiro (2016), tiveram um epílogo monumental com a questão do doping que envolveu o Comité Olímpico Russo, o Estado Russo e os atletas russos. Em quarto lugar, quanto à credibilidade, integridade e democraticidade das organizações, só podemos estranhar a posição do presidente do COP quando, ele próprio, chefia uma organização em que o processo eleitoral decorre com listas solidárias (Assembleia Plenária, Comissão Executiva, Conselho de Ética e Conselho Fiscal) e, como se não bastasse, a Assembleia Plenária e a Comissão Executiva são presididas pela mesma pessoa, quer dizer, ele próprio. Acresce que o Conselho de Ética, incompreensivelmente, não segue o padrão democrático de eleição livre e independente da Comissão de Ética do COI. E, por isso, não merece qualquer credibilidade.
Todavia, o discurso do presidente do COP tem a virtude de levantar uma das questões mais críticas que, de há vários anos a esta parte, caracteriza a práxis do MO nos mais diversos países do Mundo. Trata-se do mercantilismo e da sua dimensão comercialista. Qualquer observador minimamente atento sabe que as organizações desportivas que mais têm mercantilizado o desporto têm sido, precisamente, as do MO. E de tal maneira que, para além da máquina mercantilista em que os atletas são envolvidos e, até, explorados, quando se chega aos cadernos de encargos absolutamente exorbitantes exigidos pelo COI às cidades candidatas a receberem os JO e respectivos países, é confrangedor verificar, posteriormente, o rasto de miséria que fica da realização dos JO como, entre outros, foram os casos de Atenas (2004), Sochi (2014) ou Rio (2016) em que, como referem os brasileiros, o COI ficou com os lucros e eles com as dívidas para pagar.
Apesar dos inúteis esforços posteriores à Grande Guerra (1939-1945) desenvolvidos por Siegfried Edström, Michael Killanin e Avery Brundage, o que aconteceu foi que Antonio Samaranch resolveu abrir as portas do COI ao mercantilismo iniciando uma política, diga-se em abono da verdade, que reanimou o MO que, ao tempo de Killanin, ameaçava extinguir-se. Na realidade, o mercantilismo começou a tomar conta do MO a partir dos JO de Roma (1960) quando a televisão entrou, pela primeira vez e em força, no JO. Mais tarde, o mercantilismo assentou verdadeiramente arraiais no MO quando, em 1980, Antonio Samaranch foi eleito para a presidência do COI. E não foi por acaso que ele foi eleito, sobretudo, com o apoio dos países socialistas e dos países africanos que, na sua generalidade também eram socialistas. A partir de então, Samaranch instituiu uma dinâmica mercantilista no MO que, com uma estratégia comercial de grande agressividade, encheu os cofres do COI e abriu a caixa de Pandora. Mas, pelo que nos foi dado observar ao longo dos anos, nem os CONs, nem as Federações Internacionais (FI), nem os Comités Organizadores dos JO (COJOs) alguma vez manifestaram qualquer preocupação relativamente às avultadas somas de dinheiro que que passaram a receber da máquina mercantilista organizada por Samaranch. E os próprios governos que, como se viu nos JO de Montreal (1976), ficavam com as facturas para os contribuintes pagarem, a partir de então, aderiram à nova dinâmica mercantilista de Samaranch que passou a ser recebido nos mais diversos países como um autêntico chefe de Estado. E, deste modo, os CONs, numa lógica neo-mercantilista, passaram a ser considerados um instrumento da política económica dos respectivos governos a fim de estes, no domínio do “soft power”, ganharem vantagem competitiva nas relações internacionais. E Samaranch, já no final do seu mandato, na 108ª Sessão do COI, realizada em Lausana, a 17 e 18 de março de 1999, esclareceu a sua estratégia com uma simples metáfora: “… we said yes to commercialisation...”. O problema é que parece que ninguém reparou ou quis reparar que, entretanto, os diabretes que tinham fugido da caixa de Pandora já estavam, por todo o Mundo, a corroer a alma do desporto moderno instituída por Coubertin em finais do século XIX.
O “sucesso” de Samaranch ficou a dever-se ao facto de ter escancarado as portas do MO ao mercantilismo que, para além do comercialismo, envolveu, contranatura, os governos dos países tanto na obtenção de resultados de prestígio nos JO como na candidatura das cidades a receberem a organização dos JO. Por isso, não percebemos a posição do presidente do COP quando no seu discurso se manifesta contra o mercantilismo acusando-o de ser o responsável pelos diversos estigmas do desporto porque, para além da organização que chefia receber muitos milhões de euros do Estado, numa entrevista ao jornal O Jogo (2018-06-16), afirma: “Eu veria, com muito bons olhos, uma candidatura ibérica à organização de uns Jogos Olímpicos. Espanha já foi candidata e não correu bem, mas tem capacidade para isso e acho que Portugal poderia ser parceiro desse desígnio, permitindo que se aproveitasse muito daquilo que nos é comum”. Lindo!
Independentemente de não serem nem regiões nem países a candidatarem-se não à organização mas a sediarem os JO, a opinião do presidente do COP revela acerca do assunto a mais genuína perspectiva mercantilista que ele critica no discurso que reproduzimos inicialmente. Direi mesmo que, do ponto de vista ideológico, considero a perspectiva do presidente do COP relativamente aos JO Ibéricos do mais genuíno neo-mercantilismo uma vez que, por contraditório que possa parecer, o neo-mercantilismo é uma fase avançada do neo-liberalismo em que os Estados através dos governos, numa lógica proteccionista, actuam ao estilo de empresas na competição económica internacional como, hoje, está a acontecer, por exemplo, entre a RPC e os EUA. Nestas circunstâncias, os CONs passam a ser uns meros instrumentos da ação política do Estado o que nos parece uma perfeita aberração tendo em conta os princípios da Carta Olímpica que, embora indirectamente esclarece: Ao Estado o que deve ser do Estado, ao MO o que deve ser do MO.
Entretanto, é bom recordar que o mercantilismo comercial de Samaranch, embora possamos admitir que trouxe vantagens para o desenvolvimento do desporto, o que aconteceu foi que, o COI, tal qual novo rico, perdeu o controlo da situação e de tal maneira que, cerca de vinte anos depois, em 1998, o mundo tomou consciência de que as coisas tinham descambado para o lado da corrupção quando o membro do COI de seu nome Marc Hodler teve a coragem de afirmar publicamente aquilo que há muito já se suspeitava: que, de 5 a 7 por cento dos membros do COI eram compráveis. Infelizmente, embora tivessem sido expulsos do COI vários dos seus membros o que é facto é que, porque a dinâmica mercantilista fora de controlo continuou, passados cerca de 10 anos, surgiram novamente os mesmos problemas. No dia 2 de Outubro de 2009, na Sessão do COI em que se decidia a cidade que receberia os JO da XXXI Olimpíada, depois da cidade de Chicago, conjuntamente com outras, ter sido preteria relativamente ao Rio de Janeiro, Barack Obama manifestou o seu descontentamento ao afirmar ser o COI similar à FIFA e a decisão, relativa à cidade que iria receber os Jogos da XXXI Olimpíada (2016), como "little bit cooked". Em consequência, Obama decidiu não assistir às cerimónias de abertura dos JO de Londres (2012), Sochi (2014) Rio (2016). E as palavras de Obama até foram premonitórias. As instalações de milhões de dólares construídas para os JO do Rio (2016) acabaram no mais degradante abandono e, por suspeita de compra de votos, o Presidente do Comité Olímpico Brasileiro (COB) que, simultaneamente, sob o beneplácito do governo, presidia à Comissão Organizadora dos Jogos, acabou preso e acusado de corrupção. Na realidade, na luta neo-mercantilista, o Brasil ganhou aos EUA, todavia, foi uma vitória de Pirro.
Hoje, o discurso neomercantilista quer seja produzido consciente ou inconscientemente, está a superar o discurso pedagógico, cultural, económico e social por muito que, na maior das hipocrisias, alguns dirigentes digam que o MO está ao serviço do desenvolvimento humano. Desde logo porque, para além dos discursos moralistas, os CONs estão ao serviço daqueles que os patrocinam. E, muitas vezes, para não dizer todas, as grandes empresas que os patrocinam não passam de multinacionais mercantilistas que se limitam a defender os seus próprios interesses. E, depois, sob a indiferença dos governos, facturam lucros extraordinários que disfarçam através do patrocínio de organizações e eventos desportivos a fim de credibilizarem e notabilizarem junto das populações que exploram o respectivo logotipo. E não é necessário sair de Portugal para se constatar esta triste realidade.
Mas, simultaneamente, as populações também estão a atingir o limite da sua paciência como temos estado a ver em França um País cujo orçamento previsto para os JO de Paris (2024) é de 6,8 bilhões de euros, sabendo-se, desde já, que a pressão dos prazos vai fazer disparar os custos para valores astronómicos. O que está a acontecer é que, enquanto os dirigentes desportivos e políticos vivem na mais pura irresponsabilidade a candidatarem as suas cidades, países e regiões a fim de receberem os JO e outros grandes eventos, felizmente, as populações, cada vez mais conscientes dos seus interesses, estão, simplesmente, a rejeitar a organização de tais eventos como já aconteceu com Nova Iorque (2012); Roma (2024); Hamburgo (2024); Boston (2024); Budapeste (2024); Graubünden (cantão suíço) (2022 & 2026); Innsbruck (2026); Graz/Schladming (Austria)(2026); Cracóvia (2022); Munique (2022); Oslo (2022); Roma (2020 & 2024); Sion (2026); Estocolmo (2022); Viena(2028).
Felizmente, as populações já começaram a perceber que, depois da festa e da condecoração dos dirigentes políticos e desportivos, ficam as despesas para elas pagarem. Por isso, no que diz respeito aos JO Ibéricos e ao Mundial de Futebol (2030), espero que os portugueses tenham aprendido a lição com o Euro 2004 cujos estádios ainda estão por pagar e, se necessário for, seja desencadeado um movimento nacional contra esses eventos que só servem para depauperar o País, prejudicar o desenvolvimento do desporto e deixar dívidas inúteis para as futuras gerações.
Contudo, muito embora a ideia de uma candidatura Ibérica a receber os JO seja perfeitamente idiota, a situação é, deveras, preocupante porque o COI, como referimos, está a receber cada vez menos candidaturas pelo que, na maior das irresponsabilidades, no sentido de estimular o aparecimento de novas candidaturas, até podem surgir incentivos a fim de, artificialmente, sustentar a candidatura ibérica. Só assim se compreende as dramáticas palavras do presidente do COI Thomas Bach quando, durante os JO da Juventude realizados em Buenos Aires (2018-10-06- 201810-18), sugeriu que a cidade estava em condições de se candidatar a receber a edição dos JO de 2032 (globoesporte, 2018-10-19). Tal sugestão é, no mínimo, despropositada para não se dizer trágica uma vez que é do conhecimento geral que a Argentina tem a economia em colapso ao ponto de, em Maio de 2018, devido à queda da sua moeda (peso), ter sido obrigada a receber um empréstimo de 50 mil milhões de dólares do FMI. Para além do mais, o orçamento dos JO da Juventude Buenos Aires (2018), em 2017, já tinha derrapado mais de 700% (A Bola, 2017-01-10) relativamente ao orçamentado em 2013. Mas a sugestão de Thomas Bach também revela a mais absoluta falta de sentido de oportunidade na medida em que foi realizada na Argentina país vizinho do Brasil que vive uma profunda crise económica, social e política da qual os JO têm grande responsabilidade.
Não vale a pena a oligarquia olímpica chorar lágrimas de crocodilo quando já ninguém acredita nos seus lacrimosos discursos acerca de um desporto ao serviço do desenvolvimento humano. Desde logo porque, ao contrário da afirmação do presidente do COP, não é o mercantilismo que está na causa dos graves problemas que o desporto tem de enfrentar. O mercantilismo é, eventualmente e tão só, mais um dos estigmas que decorrem das opções políticas que apostaram mais na angariação de espectadores desportivos que alimentam a economia (veja-se o IVA dos espectáculos de futebol a 23% em Portugal) do que na formação de novos praticantes desportivos através do financiamento de políticas públicas direccionadas para os grupos sociais mais desfavorecidos, sobretudo num país como Portugal em que a taxa de prática desportiva é muito baixa e cerca de 25% das crianças são pobres.
Por isso, o maior problema do MO moderno não é o mercantilismo. Nem vale a pena transformá-lo em bode expiatório. O maior problema do MO moderno é, salvo as devidas excepções, a falta de coerência dos seus dirigentes que, à semelhança dos dirigentes políticos, passaram a desenvolver um discurso de convenientes incoerências a fim de se desculpabilizarem e, simultaneamente, ganharem a notoriedade necessária de modo a embarcarem no elevador socio-político. Por um lado, proclamam os valores pedagógicos e culturais do desporto e reclamam um desporto livre do doping, da corrupção, dos resultados viciados entre outros malefícios, mas, por outro lado, subordinam toda a sua acção a critérios do mais puro mercantilismo comercial desde logo instituindo um sistema híper-competitivo porque o que interessa é facturar seja do Estado seja das entidades comerciais. E, assim, para além de todas as competições nacionais e internacionais promovidas pelas Federações Desportivas, o COP já anunciou que, em 2019, vai chefiar cinco Missões Olímpicas (Portal/COP, 2018-08-02). E compreende-se porque, se por um lado, é necessário satisfazer os patrocinadores, por outro lado, é conveniente manter o País entretido. Em conformidade, entre outras medidas, os prémios de mérito desportivo até foram devidamente alterados para privilegiarem os resultados obtidos nos JO relativamente aos obtidos nos Campeonatos do Mundo ou da Europa. (Portaria nº 103/2014 de 15 de maio) A este respeito, F. Pacheco Torgal investigador da Universidade do Minho, levantou as seguintes questões: “Faz algum sentido que um país tecnicamente falido pague mais do que pagam vários países muito mais ricos do que o nosso por uma medalha olímpica? Faz sentido Portugal pagar 40.000 euros por uma medalha de ouro (e 25.000 por uma de prata) e Alemanha pagar 20.000 euros ou o Canada pagar 12.900 euros? E porque é que o mesmo Estado Português paga literalmente zero a algum cientista que faça importante descoberta científica ou que consiga tornar-se uma referência a nível mundial?”. (Novembro de 2018 /mail). É claro que não faz sentido. O problema é que o alto rendimento desportivo nacional como não é, naturalmente, alimentado a montante já não funciona sem doping financeiro.
Por isso, temos de dizer que o verdadeiro problema do desporto moderno não é o mercantilismo. O verdadeiro problema é falta de coerência, em matéria de políticas públicas para o desporto, da generalidade dos dirigentes políticos e desportivos. Aliás, basta ver quem são os grandes patrocinadores do COI e os dos CONs por esse mundo fora para se perceber o padrão de incoerência que, hoje, reina, no MO à escala do Planeta. Por um lado criticam os malefícios do mercantilismo, mas, por outro lado vivem à custa dele. Mas, até se pode levar a análise mais longe. Basta realizar uma breve consulta ao que se passa nas minas de cobalto na República Democrática do Congo que, exploradas por empresas estrangeiras, alimentam a industria das novas tecnologias ou ao que se passa em vários países orientais nas “fábricas familiares” da industria têxtil e outras que alimentam as grandes marcas de material desportivo que, por sua vez, financiam o MO nos mais diversos países do Mundo, para se perceber que os verdadeiros problemas do desporto estão a montante no mercantilismo e dos fenómenos que, segundo o presidente do COP, dele decorrem e que lesam a boa imagem do desporto, como a dopagem, a corrupção ou a manipulação de resultados. Os grandes problemas do MO estão na falta de coerência (falta de educação e de cultura) dos dirigentes que criticam o mercantilismo, acusam-no dos mais diversos crimes e, depois, colocam as organizações que chefiam e os eventos que promovem precisamente, por um lado, ao serviço do mercantilismo, quer dizer, ao serviço de grandes empresas multinacionais que até exploram o trabalho infantil e, por outro lado, ao serviço dos negócios mercantilistas do Estado quer sejam financeiros quer sejam políticos quer sejam desportivos.
Por tudo isto, com a actual incultura dos actuais dirigentes políticos e desportivos, não acredito que, salvo as devidas excepções, seja possível construir um desporto que, verdadeiramente, esteja ao serviço da generalidade dos cidadãos e não dos interesses das grandes empresas neo-mercantilistas. Todavia, também sou daqueles que acredita que Pandora quando viu todos os diabretes a fugirem da caixa que, por curiosidade, abriu, ainda foi a tempo de a fechar conseguindo reter lá dentro a esperança. Pois é na esperança de contribuir, ainda que modestamente, para a construção de um desporto melhor que, apesar de tudo, continuo a acreditar que o Olimpismo é uma filosofia de vida que coloca o desporto ao serviço do desenvolvimento humano."

Benfiquismo (MXXVII)

King em Newcastle, 1971

Vitória na Grécia...

Iraklis 0 - 3 Benfica
13-25, 12-25, 15-25


Mais fácil do que na Luz...

Nos Oitavos-de-final vamos defrontar os nossos conhecidos Romenos do Zalau... Temos equipa para chegar aos Quartos!