"A Crónica: Apatia Encarnada Resulta Em Frente
Chegados a Roma, a Catedral que acolheu um dos jogos de cartaz foi outra mas nem isso impediu que, consumando-se o expectável, as equipas tentassem algo mais: jogo tático – aproveitando o termo técnico para fugir ao descaramento do calão – e um SL Benfica sem grande astúcia para impor aos ingleses o seu futebol.
Foram eles quem se assumiram como senhores da bola desde o apito inicial e a partir do momento que se aperceberam da melindrosa abordagem dos encarnados, que introduziram Lucas Veríssimo para completar a linha de cinco atrás, aproveitaram para pôr em prático o seu plano de controlar as operações e gerir o ritmo do encontro, já que o calendário aperta. Arteta, tão ou mais interventivo do que Jorge Jesus na linha lateral, percebendo o contexto, pediu mais atrevimento aos seus homens – eles corresponderam ao criarem a primeira grande oportunidade do encontro, quando Bellerín se vê sozinho nas costas de Grimaldo e assiste Aubameyang no coração da área, mas o gabonês falhou clamorosamente, certamente reavivando memórias duma noite negra que teve frente ao mesmo SL Benfica, em Lisboa, na primavera de 2017 (emendaria o desleixo nos 4-0 da segunda mão).
Estavam, então, completados 18 minutos quando o nulo foi ameaçado, e o ultimato inglês à apatia portuguesa teve efeito positivo – o SL Benfica, que até aí apenas tinha mostrado que a sua principal preocupação seria impedir a derrota, ganhou atitude e começou a equilibrar as forças, guardando a bola mais tempo em seu poder e usando e abusando do seu meio-campo compacto, com Adel e Pizzi lado a lado, escudados por Julian Weigl. O trio começou a ter mais influência a partir da meia-hora, principalmente, ao mesmo tempo que Lucas Veríssimo se ia impondo após um início inseguro.
Uma das grandes oportunidades surge nestas circunstâncias, aos 32 minutos, quando Darwin encontra espaço para remate na meia-esquerda, com Leno a defender a dois tempos. Cinco minutos passados, nova boa iniciativa dos encarnados, desta vez pela direita, consumada em tentativa de triangulação entre o uruguaio e Waldschmidt, terminada in extremis por Cédric Soares. As lutas que se iam passando a meio do terreno continuavam a dar a imagem dum jogo demasiado estratégico para o talento ofensivo das duas equipas, sensação que apenas se alterou quando já todos se preparavam para o descanso: Xhaka tenta (mal) a variação de jogo para David Luiz e a pressão alta encarnada resulta em situação de superioridade na grande área – mas Grimaldo vê o seu cruzamento interceptado para canto quando esperavam na zona de finalização Darwin, Waldschmidt e Pizzi.
O início da segunda parte prometeu desatar o nó estratégico e acabar com os bocejos dos adeptos, com muitas jogadas de perigo de parte a parte e um jogo muito mais aberto. Saka e Aubameyang ameaçaram a baliza de Hélton Leite – Vlachodimos continua ostracizado – e prometiam continuar até inaugurar o marcador não fosse o colega Smith Rowe levar a mão à bola dentro da área. Pizzi agradeceu, marcou como manda a lei a grande penalidade e, com o 1-0 na mão, esperava-se outra predisposição para alargar a vantagem e levar boa dose de golos como almofada para o confronto no Karaiskakis. Mas não houve tempo nem de conferir a suposta pedalada benfiquista, já que o Arsenal FC imprimiu logo o ritmo de Premier League a um jogo de segunda categoria – e demorou dois minutos a igualar a contenda.
Foi Cédric a assistir Saka, após a insistência dos Gunners meter a defesa encarnada aos papéis. Estavam completados 57 minutos. A monotonia tinha desaparecido, o SL Benfica tinha obrigação de ir para a frente e assegurar mais golos: Rafa, entrado ao intervalo, tem uma excelente iniciativa individual quando passa por dois adversários e finaliza sob forma de trivela, defendida a muito custo por Leno. Seria confirmação que os portugueses quereriam mais? Como se viu na restante meia-hora, não.
O único apontamento de registo a seguir a esse foi de Everton, num remate em arco de belo efeito que tirou tinta ao poste. Fora isso, o Arsenal FC geriu como quis e como pode – há jogo domingo, frente ao Manchester City FC – o SL Benfica pouco tentou, sempre acomodado ao seu próprio meio-campo e com muito mais medo de sofrer o segundo que marcá-lo. Nessas circunstâncias, foi possível assinalar a grande aptidão e desenvoltura para lidar com os problemas da última linha encarnada, sempre sincronizada no controlo da profundidade, como ficou demonstrado sobretudo na quantidade de foras-de-jogo assinalados ao Arsenal FC – dez! – e nos grandes cortes de Otamendi aos 70’, impedindo bola teleguiada de Smith Rowe de prosseguir a trajetória rumo ao centro da área e de Veríssimo – aos 74’, quando Aubameyang tentava artimanha de calcanhar para ficar isolado.
Foi sempre essa a principal motivação benfiquista para esta primeira-mão. Jogando em função do adversário e impondo sempre toada mais lenta, no encontro do seu objetivo primordial de não perder. Esforço defensivo tão grande originou até que a equipa acabasse fisicamente de rastos, dando a ideia duma diferença abismal para os ingleses nesse capítulo – que se confirmou, mais uma vez, estarem perfeitamente à vontade na dificuldade máxima competitiva. Tamanhos e tão notórios contrastes complicam ainda mais a missão quando, aos lusitanos, lhes é pedido para abordar os jogos de tração atrás, representando um retrocesso competitivo de décadas e que, olhando à classificação interna do Arsenal FC (décimo posto), é um contrassenso na retoma europeia da equipa.
A Figura
Odegaard (Arsenal FC) – Interpretou excelente confronto com Julian Weigl – não é claro qual o vencedor, já que ambos assinaram exibições sólidas. O norueguês assinou vários bons pormenores, esteve sempre disponível para receber entrelinhas e ser ele o principal municiador dos homens da frente, encontrando espaços onde aparentemente não os havia. É dele a abertura para Cédric no golo do empate e é também dele o excelente passe a isolar Aubameyang, que atirou centímetros a rasar o poste numa das boas oportunidades dos ingleses. “Casamento perfeito”, a sua transferência para Londres.
O Fora de Jogo
Jorge Jesus (SL Benfica) – Nunca desfez a linha de cinco, demonstrou receio excessivo e protegeu-se na redoma do terreno neutro, aconselhando á equipa um respeito desmedido por um Arsenal FC que não é brilhante. Disputou o jogo, mas a aceitação descarada do empate não é um bom sinal para o jogo da segunda mão.
Análise Tática – SL Benfica
O 4-4-2 deu lugar a um 3-5-2, com Pizzi e Adel a encaixar no duplo-pivot gunner e Waldschmidt a tentar ligar entrelinhas o pouco que existiu ofensivamente. Diogo Gonçalves, principalmente, esforçou-se imenso no preenchimento da ala direita e anotou vários pormenores positivos. Veríssimo, Otamendi e Verthongen sempre extremamente coordenados na execução da armadilha de fora de jogo, Weigl voltou a cumprir na perfeição o papel de pêndulo da equipa, ainda que Odegaard lhe fosse sempre ameaça, sobretudo pelas movimentações e trocas posicionais com Smith Rowe.
Onze Inicial e Pontuações
Helton Leite (5)
Lucas Veríssimo (5)
Otamendi (6)
Vertonghen (6)
Diogo Gonçalves (6)
Weigl (5)
Taarabt (5)
Grimaldo (5)
Pizzi (5)
Darwin (4)
Waldschmidt (4)
Subs Utilizados
Everton (5)
Gabriel (4)
Seferovic (3)
Chiquinho (4)
Rafa (6)
Análise Tatica – Arsenal FC
Arteta manteve o 4-2-3-1, com Ceballos e Xhaka a controlar todas as ações a meio do terreno, entregando o último terço à criatividade de Odegaard, Smith Rowe e Saka no apoio a Aubameyang. Cédric Soares surgiu na esquerda, consolidando o seu posto nesta nova solução do treinador espanhol, que remete Kieran Tierney para um papel secundário. A capacidade associativa do português, que mais facilmente explora terrenos interiores fruto do pé direito preferencial , é o complemento perfeito à sua capacidade física, que assegura outra solidez defensiva.
Onze Inicial e Pontuações
Leno (6)
Bellerin (6)
David Luiz (6)
Gabriel (7)
Cédric (7)
Odegaard (7)
Ceballos (7)
Xhaka (5)
Saka (6)
Aubameyang (5)
Smith Rowe (4)
Subs Utilizados
Elneny (4)
Martinelli (4)
Nicolás Pépé (5)
Tierney (5)
Willian (5)"