Últimas indefectivações
sábado, 25 de outubro de 2025
Benfica: Lage, Mourinho, mas antes de tudo (a falta de) um rumo
"Se Lage e Mourinho se tornam os treinadores errados, é porque falta ao Benfica a identidade que o proteja das más decisões. Continua a trocar peças sem saber que jogo quer jogar
Antes dos jogadores. Antes do mercado. Antes do treinador, chame-se Mourinho, Lage, Schmidt ou Jesus. Antes de tudo isto estão ideia e rumo. Estabelecidos por quem lidera.
O Benfica tem investido muito. E vendido muito. Procura encontrar bom e barato — modelo cada vez menos sustentado, com os gigantes a eliminar intermediários, tornando-se eles próprios garimpeiros — e despachar caro, mantendo o nível com mais potencial adquirido. Falhou várias vezes, acertou menos e o atual plantel, não sendo fraco, continua desequilibrado.
Deixem que sublinhe: não se pode reclamar aos jogadores algo que estes não conseguem dar; ou que estes entreguem o que os treinadores deles não conseguem extrair. No entanto, repito, tudo começa no topo da pirâmide.
Na Luz, não há governo. Há quem se sente na cadeira do poder e assine papéis, mas tem a gaveta das decisões difíceis atulhada de ficheiros. Vive o dia a dia com o que lhe põem em cima da secretária e talvez passe o tempo abstraído a olhar pela janela, constatando quando se volta a sentar que precisa de mais uma gaveta ou de um móvel maior para tanto papel.
É na definição de um rumo claro que estará parte da solução dos problemas do Benfica. O presidente do clube tem de saber responder a esta pergunta: que identidade quero que a minha equipa tenha nos próximos cinco, dez anos? E a resposta não poderá ser uma frase-feita, não se pode esconder atrás de, por exemplo, «um Benfica ganhador».
Que tipo de equipa representa verdadeiramente os ideais do Benfica? Queres ajustar-te ao adversário ou preferes que o teu adversário se ajuste a ti? Será uma que jogue ao ataque, domine praticamente todos os jogos controlando a bola e defronte olhos nos olhos os tubarões continentais? Ou uma organizada ao pormenor, com sustentação defensiva e recuada no terreno, apostada em transições velozes para o ataque? Uma que entregue a jogadores da cantera papéis importantes ou os limite a cameos em jogos mais fáceis? É das respostas a perguntas como estas que se avança para a escolha do treinador e dos jogadores.
Rui Costa aceitou a sugestão Roger Schmidt e vinculou-se a essa ideia, mas nunca o suficiente para admitir queimar-se quando este começou a arder, fragilizado com o futebol que restava após as saídas de Enzo, Gonçalo Ramos, João Neves e outros. Despediu-o no início da época, com o mercado fechado. Entrou Lage, com ideias diferentes. É na transição que vive, no espaço, quando este já é negociado em alta por todo o lado. Tal como agora Mourinho. Aqui sim, o perfil manteve-se, Mas terá havido ganhos na troca? Já iremos olhar para os problemas.
A formação deve ser tema. Schmidt olhou com outros olhos para Florentino e Gonçalo Ramos, acreditou em António Silva e reconheceu de imediato o potencial de Neves. Já única medalha de Lage continua a ser Félix anos e anos depois, e Mourinho prefere jogadores feitos e a fisicalidade que tanto apregoa que o grupo não tem, abrindo já as portas para o mercado de janeiro. O rumo, se é que chegou a ser estabelecido, durou seis meses na vigência do germânico e o que se manteve para lá disso foi graças ao mesmo. Lage virou bombeiro pela segunda vez até também ele ser despedido fora de horas e o Special One o bombeiro do bombeiro, contratado para apagar dois fogos, os do relvado e os que ameaçavam as eleições.
Há muito que reconhecemos fragilidades ao plantel. O maior investimento de sempre, por culpa de alguns negócios acima do valor real, não chegou para resolver todos. Enumeremos. Sem bola, um eixo central defensivo lento, sobretudo quando Tomás Araújo não está aí, e erros individuais acumulados entre os habituais titulares António Silva e Otamendi. Com bola, dificuldades na primeira fase de construção quando pressionada de forma agressiva; resistência à pressão do meio-campo para a frente; ataque posicional previsível e pouco capaz de criar oportunidades de golo; falta de dribladores para o 1x1; escassez de largura no ataque; incapacidade de controlar o jogo através da posse.
Os encarnados não tocaram no eixo defensivo e renovaram com o capitão. Acrescentaram Dedic e forçaram Dahl a ser de vez lateral. A perda de Carreras, fundamental na saída, com passe ou transporte (e até mais à frente, na largura), ainda está longe de ser compensada pelo bósnio, que arrancou a todo o gás, mas, antes de ter de parar, já encontrou condicionantes físicas e até estratégicas, como a entrada de Lukebakio para o 11. Em tese, Enzo e Ríos faziam sentido para ajudar na resistência à pressão, mas acentuavam a ideia de um Benfica de aceleração e transição, porque o colombiano é um elemento de transporte e menos associativo. Entretanto, também se perdia Florentino e os seus desarmes. Ivanovic chegava para ser opção (e não só) a Pavlidis, Lukebakio então o principal desequilibrador e Sudakov o elemento mais criativo, o 10 definitivo.
Faltou quem fizesse as perguntas certas. Se Pavlidis continua a ser o 9, será Ivanovic, homem de área, o nome certo para fazer os apoios ou até partir da esquerda em ataque posicional? Se Dedic e Bah são profundos pelo flanco, é Lukebakio, o homem que assume sempre a definição (remate ou cruzamento) e depois também não ajuda a defender, o extremo ideal? E, já que veio, não faria mais sentido passá-lo para a esquerda — mesmo perdendo a diagonal para o remate — e ter aí a largura que Dahl e Aursnes não conseguem oferecer? A sério que se achou que um único jogador, mesmo sendo Sudakov, iria resolver o problema coletivo do ataque posicional? Repito: como é que o Benfica quer jogar? Repito: qual é o rumo?
Um rumo claro não teria trazido Lage ou este Mourinho ao Benfica. E, já que falamos dele, talvez seja hora de começar a tornar o processo mais rico do que apenas colocar a bola com espaço em Lukebakio, algo que Lage já fazia com Akturkoglu, por quem Mourinho agora admite suspirar, denunciando para que tanto o queria. Seja como for, o que é certo é que enquanto o Benfica continuar a escolher treinadores antes de saber o que quer ser, continuará a trocar bombeiros sem nunca apagar o incêndio que mais o ameaça."
Um clássico sem bola
"Eleições são um jogo com vários estilos em campo. Vieira é o veterano que regressa. Noronha é o médio de posse. Manteigas o defesa estudioso. Mayer a promessa da formação. Carvalho o jogador insatisfeito com o treinador. Rui Costa é o capitão que já está em campo de bancada
O Benfica vai a votos este sábado. E no Benfica uma eleição nunca é apenas uma eleição. É um clássico. Não há bola, não há árbitro, não há linhas de fora de jogo. Mas há nervos. Há ruído. Há aquele frio no estômago de quem sabe que está em causa mais do que um boletim. Cada sócio que entrar na assembleia de voto para votar vai sentir-se como quem caminha para a marca de penálti num momento decisivo. O jogo ainda não começou e já há suor nas mãos.
Se este sábado fica tudo decidido ou se será preciso segunda volta, ninguém sabe. O que já sabemos é que seis homens se chegaram à frente. E só isso merece respeito. Podemos gostar mais de uns do que de outros. Podemos achar melhores ou piores as ideias que trazem. É isso que decide o voto de cada um de nós. Mas quem se dispõe a servir o Benfica, mesmo sem ter garantias de vitória, merece o nosso reconhecimento. Pode não merecer o nosso voto. Mas merece a nossa admiração.
A campanha que agora termina não foi a melhor. Não trouxe luz ao futuro. Não foi uma corrida de ideias. Foi demasiado marcada por ataques pessoais, pelo passado que teima em não deixar que se discuta o futuro, pela espuma dos dias. E sim, a comunicação social ajudou a transformar o debate em espetáculo barato. Procurou mais o diz-que-disse do que a clareza. Preferiu as guerrilhas às propostas. Serviu-se mais do Benfica do que serviu os benfiquistas.
Mas a campanha já acabou. Agora é a sério. E ao jeito das 'Crónicas de bancada', aqui ficam algumas notas sobre quem vai este sábado a jogo.
Luís Filipe Vieira regressa como quem não aceita ser substituído. Para uns é o homem que ergueu a Luz moderna, para outros é o peso de páginas que ainda doem. É o avançado que marcou golos decisivos, mas também aquele que deixou a equipa em inferioridade no momento errado. Divide porque nunca poderia ser de outra forma. É impossível falar do Benfica recente sem falar dele. Vieira habituou-se a ser o centro da fotografia. Agora quer voltar à mesma fotografia, mesmo com muitos a preferirem virar a página.
João Noronha Lopes tenta de novo. Apresenta-se em jeito de médio cerebral, alguém que se propõe a pensar o jogo, uma espécie de organizador. No seu discurso tenta colocar a racionalidade de um gestor. Mas no Benfica, por vezes, não basta segurar a bola. É preciso arriscar no passe que decide. Noronha joga seguro, mas falta-lhe aquele golo que põe a bancada de pé. Continua a ser o candidato que convence alguns pela lógica, mas que não arrasta multidões pela paixão. E no Benfica a paixão vale tanto como a razão.
João Diogo Manteigas entra como defesa que conhece todas as regras do jogo. Conhece bem o Benfica, leva os dossiers bem estudados. Mas não é por se conhecerem bem os dossiers e regulamentos que se ganham clássicos. É com raça, com pressão, com resistência ao ambiente. O risco é ser visto como jogador que cumpre sempre a tática, mas que nunca arranca aplausos. É sólido, mas pouco excitante. No entanto a sua solidez pode ser um fator surpresa.
Martim Mayer aparece como uma promessa da formação. Já não tão jovem, é certo, mas cheio de energia, quer mostrar que há vida para além dos habituais titulares. Mas lançar um jogador pouco conhecido num clássico tem riscos. Pode surpreender e mudar o jogo. Pode tremer e perder-se. A camisola do Benfica pesa, e nem sempre a vontade chega. Mayer tem pela frente a dureza de um clube que, normalmente, prefere os mais conhecidos e mediáticos.
Cristóvão Carvalho foi o que teve menos tempo de jogo. Continua a não gostar do treinador. Acha que com Mourinho nunca terá o tempo de jogo que julga merecer e arrisca tudo em Klopp. É uma jogada arriscada, num Benfica que quer vitórias, mas que não se anuncia que as mesmas venham de mudanças tão profundas.
Rui Costa. Não precisa de apresentações. Todos sabem quem é, todos sabem o que já deu ao Benfica. Foi maestro dentro de campo, é agora maestro fora dele. Não é de fintas exuberantes, mas é o médio que segura a equipa quando ela treme. Não é de discursos inflamados, mas sabe manter a calma em momentos difíceis. Rui conhece o jogo como poucos. Viveu o aplauso e o assobio. Sabe o que é a exigência de milhões. A sua força está na serenidade. Não promete fogos de artifício. Promete continuidade. E para muitos, isso é já meio caminho andado. No futebol, como na política, às vezes o mais importante não é quem fala mais alto. É quem sabe manter o grupo unido quando o resultado aperta.
Estas eleições são um jogo com vários estilos em campo. Vieira é o veterano que regressa. Noronha é o médio de posse. Manteigas o defesa estudioso. Mayer a promessa da formação. Carvalho o jogador insatisfeito com o treinador. Rui Costa é o capitão que já está em campo.
No fim, o que se decide não é só quem levanta a braçadeira. É o rumo do Benfica. É se os sócios querem voltar ao passado, apostar no novo, escolher a racionalidade fria ou manter quem segurou o clube nos dias mais duros.
No dia da eleição, cada voto será como um golo. Uns valerão pela memória, outros pela esperança, outros pela promessa de futuro. Mas como sempre na Luz, o que conta é o resultado final. O presidente que sair eleito vai ser aplaudido no apito inicial e questionado ao primeiro empate. É essa a lei da Luz.
E é talvez isso que torna estas eleições tão apaixonantes e tão difíceis. O Benfica não é apenas um clube. É uma forma de viver. É emoção pura. É exigência sem descanso. Cada candidato tem o seu estilo, cada um traz a sua promessa. Mas no fim, os sócios vão olhar para dentro de si e escolher não apenas com a cabeça, mas também com o coração.
O que todos querem é simples. Um Benfica que ganhe. Um Benfica que volte a dominar. Um Benfica que transforme promessas em vitórias. E talvez, para muitos, o segredo não esteja em quem prometeu mais nesta campanha eleitoral, mas em quem conseguiu demonstrar que consegue manter a equipa unida mesmo quando o jogo parecia perdido."
Fogo com fogo
"Não me surpreendeu a primeira derrota do FC Porto, a despeito do prometedor início de época, por duas razões essenciais: porque o jogar portista assenta em demasia na dimensão física e seria pelo menos igualado nesse plano - foi superado! - e porque o Nottingham tem mais argumentos de qualidade individual.
Só os mais desatentos ao futebol internacional podem desmerecer um meio-campo com Elliot Anderson, Douglas Luiz e Gibbs-White de início (e mais Sangaré, Dominguez e McAtee) no banco. Pressionar alto e roubar bolas depressa seria sempre muito mais difícil desta vez. Claro que os ingleses estreavam o terceiro treinador, mas se o momento não favorece a assimilação das novas ideias (o que tratando-se de Sean Dyche nem propriamente uma desvantagem), representa sempre um suplemento de motivação em jogos deste nível.
Ou seja, para contrariar estes sinais, era preciso um FC Porto tão forte como tem sido na disponibilidade para pressionar alto e ganhar duelos, mas ainda mais forte do que tem sido quando, em posse, não se sujeitando a perdas de bola rápidas face a um rival com mais andamento e talento. Combater fogo com fogo tinha tudo para correr mal.
E a aposta em Pablo Rosario no lugar de Gabri Veiga, uma vez mais desprezando Mora, só agravou o que já era árduo. Farioli saiu satisfeito com a parte defensiva do jogo, que foi aquela em que apostou. A desilusão está mesmo aí, e vem na linha da falta de audácia na segunda parte frente ao Benfica. Forte com os fracos há muitos. A ele próprio e ao FC Porto que está a construir já se exige bem mais. E melhor.
Ainda assim, não nos iludamos: não creio que mesmo o melhor FC Porto fosse, hoje por hoje, favorito a ganhar em Nottingham. Como ainda menos seria o frágil Benfica que foi, atemorizado, perder a Newcastle. Sei que já usei a palavra andamento neste texto, mas antes dele, do celebrado ritmo a que as equipas inglesas estão acostumadas e que não encontra paralelo por cá, conta a qualidade, de jogadores e de jogo.
Não falo sequer dos emblemas de topo ou do patamar seguinte, onde estão Tottenham, Aston Villa e Newcastle. Mesmo aquelas que vagueiam entre a fuga a despromoção e o sonho europeu - o Bournemouth, o Palace ou o Fulham, por exemplo - lutariam pelo título em Portugal. O equilíbrio só se consegue, e pontualmente, com um misto de grande competência em dois planos: na escolha de jogadores e no desenvolvimento de uma ideia.
E, por fim, coragem. E não tem sido fácil fazer com que coincidam em qualquer dos grandes portugueses."
Eleições 2025
"Esta edição da BNews é dedicada na íntegra às eleições do Sport Lisboa e Benfica agendadas para amanhã, 25 de outubro.
1. Debate
Veja ou reveja o debate entre os seis candidatos a Presidente da Direção do Sport Lisboa e Benfica, realizado na BTV e transmitido em sinal aberto.
2. Candidatos
Conheça todos os candidatos e os programas das várias candidaturas no Site Oficial.
3. Programas
Consulte os programas das listas candidatas.
4. Entrevistas
No Site Oficial pode ver as entrevistas aos candidatos a Presidente da Direção do Sport Lisboa e Benfica.
5. Informações úteis
Consulte a informação disponível no Site Oficial acerca do ato eleitoral do Clube.
6. A atividade eleitoral na história do Benfica
Um documento elaborado pelo Centro de Documentação e Informação do Sport Lisboa e Benfica."
MAG: informações aos sócios
"Caros sócios,
Amanhã, entre as 8h30 e as 22h00, em 108 locais, realizam-se as primeiras eleições para os Órgãos Sociais do Sport Lisboa e Benfica após a revisão global dos Estatutos, que, recordamos, alterou o processo global de votação.
Dos sócios que constam do caderno eleitoral, 160 182 têm a situação regularizada, distribuídos da seguinte forma:
3 votos – 46 421
10 votos – 30 013
20 votos – 56 703
50 votos – 27 045
Desta forma e que para todos votem de forma esclarecida, cabe comunicar o seguinte:
1. Os votos são diferenciados em função do órgão (Direção, Mesa da AG, Conselho Fiscal e Comissão de Remunerações) e do número de votos do associado (3, 10, 20 ou 50), pelo que cada sócio receberá 4 boletins;
2. O voto é expresso com uma cruz (e só com essa cruz) no quadrado à frente da lista que escolher, não devendo o sócio rasurar ou assinar o boletim de voto, sob pena de o seu voto ser anulado;
3. Deve cumprir as instruções de circulação nas secções de voto, respeitando a regra pública de prioridade nas filas de acesso aos recintos;
4. Pode escolher uma qualquer das 108 secções ao seu dispor, recordando que o sistema só permite votar uma vez;
5. Por último, mas não menos importante, deve munir-se, para exercer o direito de voto, do cartão de sócio e de documento de identificação válido no país da sua nacionalidade.
A Mesa da Assembleia Geral recorda que o dia de votação representa a expressão máxima da Democracia Benfiquista, saudando, assim, todos os que nele participam, dando-lhe a importância máxima que tem na vida do Sport Lisboa e Benfica.
A MAG"
Vencedores e derrotados do debate do Benfica
"Notas soltas sobre as mais de quatro horas em que estiveram frente a frente os seis candidatos às eleições deste sábado
Era quase impossível que surgissem rasgos de última hora, ou ideias saídas subitamente da cartola, ou ainda medidas desesperadas avulso, quando faltavam pouco mais de 24 horas para o arranque da assembleia eleitoral para a presidência do Benfica que, este sábado, definirá o nome que comandará o destino das águias nos próximos quatro anos, ou os dois nomes que seguirão para a segunda volta a 8 de novembro. Certo é que conseguir ter os seis candidatos no mesmo espaço e ao mesmo tempo, a debater e explanar ideias e propostas durante mais de quatro horas já seria sempre uma vitória, não só para a democracia do clube, mas também para os sócios e adeptos do emblema encarnado.
E é neste ponto que salta à vista o grande vencedor da noite: a BTV. Desde logo, por ter conseguido convencer todos os candidatos a participar num debate que poderia ajudar a esclarecer os eleitores, sobretudo os indecisos; depois, pela boa condução do debate e da gestão dos tempos cuidada e rigorosa; e, por fim, pelo registo cordial e de respeito entre os seis, sem exceção. Ficou provado, nesta noite de quinta-feira (que entrou pela madrugada de sexta) que a BTV pode e deve ter, também, este papel de moderação e de dar voz a todas as ideias, fações e propostas para o Benfica.
Alargando a análise às prestações de cada um dos seis candidatos, é natural que cada um dos que assistiram ao debate tenha a sua opinião sobre vencedores e derrotados; a que se segue é uma delas...
Rui Costa, por ser o presidente em exercício, foi o mais visado pelos ataques dos restantes cinco, mas acabou por sair-se quase sempre bem: manteve a postura, não fugiu a temas e demonstrou bom conhecimento dos dossiers.
Luís Filipe Vieira, entre a arrogância e a falta de preparação, perdeu-se muito nos temas e no discurso, entrando muitas vezes em diálogo (e em tom paternalista) com Rui Costa, quase como se ainda trabalhassem juntos, algo que não beneficia nem um nem outro.
Noronha Lopes, assertivo na defesa das suas listas e nos ataques a Rui Costa, apresentou poucos compromissos e ideias.
João Diogo Manteigas, inicialmente nervoso e pouco confortável, optou por respostas curtas e incisivas e foi por vezes eficaz, mas falta-lhe carisma.
Martim Mayer, megalómano q.b., deixa a imagem de um romântico a cavalgar contra moinhos de vento.
Cristóvão Carvalho, o mais populista, seguiu a estratégia de apontar a Noronha Lopes, muito mais do que a Rui Costa.
Quem foi o grande vencedor? Já estava mencionado: a BTV."
O estado das contas e as seis visões para o futuro do Benfica
"Sport Lisboa e Benfica aproxima-se das eleições de 25 de outubro de 2025 com uma situação financeira globalmente estável, tanto no Clube como na SAD. Os relatórios e contas de 2024/25 confirmam a solidez das suas estruturas financeiras, embora continuem a existir desafios que exigem prudência e visão estratégica.
No caso do Benfica Clube, o exercício terminou com um resultado líquido positivo de 40,7 milhões de euros e um resultado operacional de 13,5 milhões, refletindo uma gestão equilibrada das suas atividades correntes. Quando consideradas as operações com direitos de atletas, o resultado operacional sobe para 59,7 milhões, demonstrando o peso das participações desportivas na sua rentabilidade.
O ativo total do Clube atingiu 568,1 milhões de euros, face a um passivo de 533 milhões, traduzindo-se em capitais próprios positivos de 35,1 milhões de euros. O Clube apresenta um património líquido moderadamente positivo, uma estrutura financeira estável e uma margem de solvência dependente do bom desempenho da SAD, que é a sua principal participada.
Benfica em eleições com saúde financeira relativamente sólida
Já a Benfica SAD encerrou o exercício com um resultado operacional positivo de 3,9 milhões de euros e um lucro líquido de 34,4 milhões, registando pela primeira vez em sete anos uma operação corrente equilibrada, sem depender integralmente de vendas de jogadores.
As receitas extraordinárias provenientes de transferências, como a de João Neves para o Paris Saint-Germain, contribuíram de forma decisiva para o resultado final. Em termos patrimoniais, a SAD detém um ativo de 591,2 milhões de euros, um passivo de 474,9 milhões e capitais próprios de 116,3 milhões, superando o capital social de 115 milhões.
Assim, o Benfica chega às eleições com uma saúde financeira relativamente sólida, atestada pelos números da SAD: resultado líquido positivo, capitais próprios superiores ao capital social e dívida líquida controlada (196,9 milhões de euros). Os rendimentos operacionais sem vendas de jogadores atingiram um recorde histórico, impulsionados pelos resultados alcançados na Liga dos Campeões e no Mundial de Clubes.
Aumento dos gastos com pessoal reforça necessidade de rigor e ponderação
Ainda assim, a dependência dos rendimentos europeus, o nível de endividamento, o aumento de 11,1 por cento nos gastos com pessoal face ao período homólogo e a ainda crucial contribuição das vendas de jogadores para a rentabilidade constituem desafios reais para a administração que sair vencedora das eleições.
O aumento expressivo dos gastos com pessoal explica-se, em grande parte, pelo acréscimo de 10,1 milhões de euros em indemnizações pagas à anterior equipa técnica, na sequência da rescisão contratual. Este facto reforça a necessidade de que as escolhas a este nível sejam objeto de uma análise rigorosa e ponderada, de modo a prevenir desfechos que se traduzam em prejuízo financeiro.
Com base no atual cenário, é possível afirmar que a solidez financeira atual do Sport Lisboa e Benfica fornece uma base de partida muito interessante, não dispensando, ainda assim, uma gestão prudente e estratégica dos riscos futuros. É sobre esta base sólida, mas com desafios de crescimento e controlo salarial pela frente, que os seis candidatos à presidência constroem as suas visões financeiras.
Rui Costa defende modelo atual, Noronha Lopes quer mais profissionalização
Rui Costa, presidente em funções, defende a continuação da estratégia atual. O seu programa, «Só o Benfica Importa», enfatiza a sustentabilidade, o controlo da dívida e a ambição de atingir os 500 milhões de euros de receitas consolidadas. Propõe ainda a criação de uma empresa-veículo para o Benfica Campus e a exploração de novas fontes de receita através do projeto «Benfica District».
João Noronha Lopes, da lista «Benfica Acima de Tudo», aposta na profissionalização da estrutura. Promete auditorias interna e externa às contas, a criação de um Comité de Auditoria e Risco e uma política de dividendos para os sócios-acionistas. A sua meta é alcançar 600 milhões de euros de receita, com foco no crescimento comercial e no aumento da capacidade do estádio.
Cristóvão Carvalho, da candidatura «Pelo Benfica», centra o discurso na transparência e na responsabilidade. Propõe a redução da dívida para menos de 150 milhões de euros, a auditoria a todos os contratos e a criação de uma holding para gerir os ativos do clube de forma mais eficiente, incluindo a reavaliação das parcerias com a SAD.
Vieira e Manteigas querem crescimento comercial e de marca, Mayer defende novo modelo
Luís Filipe Vieira, que regressa à corrida eleitoral, defende um «modelo de negócio inovador». A sua visão passa por aumentar as receitas comerciais e de merchandising, otimizar a estrutura de custos e reforçar a marca Benfica no panorama internacional, embora sem apresentar metas financeiras concretas.
Martim Borges Coutinho Mayer, do movimento «Benfica no Sangue», apresenta uma abordagem crítica à gestão da SAD. Promete uma «revisão profunda» do relacionamento entre o clube e a SAD, maior escrutínio sobre as transferências e uma gestão mais austera, privilegiando a formação e a sustentabilidade de longo prazo sobre o investimento avulso.
João Diogo Manteigas centra a sua proposta na independência financeira. O seu programa destaca a necessidade de aumentar as receitas próprias do clube, reduzir a dependência das vendas de jogadores e investir em ativos que gerem rendimentos permanentes, como o imobiliário associado ao estádio.
Escolha do presidente também define caminho para os 500 milhões de receita
Seis candidatos e seis abordagens distintas. As propostas dividem-se entre quem defende a continuidade do modelo atual (Rui Costa), quem aposta numa profissionalização e numa auditoria profunda (Noronha Lopes e Cristóvão Carvalho), quem critica a gestão da SAD e aponta um modelo diferente (Mayer) e quem propõe uma visão de crescimento comercial e de marca (Vieira e Manteigas).
Independentemente do vencedor de sábado, o caminho para atingir os 500 milhões de euros de receita será, sem dúvida, o fio condutor do próximo mandato. A compatibilização entre as novas regras de sustentabilidade financeira da UEFA e a contratação de jogadores de elite, necessários para competir na Champions League, requer, no mínimo, 500 milhões de euros de receita. O percurso para lá chegar será definido pela escolha do próximo presidente e pelas estratégias que este decidir implementar."
Repetir 1926
"Benfiquistas, no próximo sábado, dia 25 de outubro, o Sport Lisboa e Benfica irá a eleições. Num momento particularmente difícil da vida e história do clube, teremos as eleições mais participadas de sempre da nossa história. Muito graças à aprovação dos estatutos ocorrida no passado dia 8 de março, que permitiram, entre outras coisas, a possibilidade de concorrência em listas separadas e a existência de uma segunda volta eleitoral, caso nenhuma candidatura atinja a maioria absoluta de votos a primeira volta.
Gostaria de fazer um paralelismo, com 1926, em que após a inauguração do estádio das amoreiras, o primeiro campo do qual o nosso clube foi totalmente proprietário, o mesmo encontrava-se dividido entre duas formas de ver o futebol e o clube em si:
Por um lado, a continuidade do amadorismo do nosso futebol, defendida por Cosme Damião, símbolo maior do Benfiquismo e Bento Mântua, Presidente em funções desde 1917.
Por outro, o início da profissionalização do futebol no Benfica, defendida por Ribeiro dos reis, Ferreira Bogalho ou Manuel da Conceição Afonso.
Estes 5 nomes que indiquei são considerados 5 das maiores figuras da nossa gloriosíssima história e independentemente de defenderem visões diferentes de como o clube deveria seguir, acima de egos, acima de vontades e acima de tudo, defendiam o bem do Sport Lisboa e Benfica.
Em 1926 acabaria por vencer a lista da profissionalização, que representava também uma rutura total e geracional com os hábitos de gestão vividos no clube até então. Porque o campo das amoreiras foi um sonho cumprido, mas ao mesmo tempo muito caro e que asfixiou o clube durante cerca de década e meia. Esta lista, assumida por Ávila de Melo, assim que entrou em funções começou logo a trabalhar para voltar a colocar o Benfica num rumo ganhador e que cumprisse os desígnios fundadores do clube.
Chegamos a 2025 e encontramos um clube igualmente dividido, só que mais endinheirado do que em 1926, o que torna ainda mais incompreensível a crise desportiva, podendo passar também a financeira e a mais grave, uma crise de valores que o clube nunca havia atravessado.
A 2025 concorrem a 6 listas à direção, em que 2 delas representam o status quo, 2 são ambíguas naquilo que representam e as outras 2 representam mudança, embora mudança com caminhos diferentes. Pessoalmente, e é por isso que deu o título que dei este texto, considero que temos que repetir 1926, no sentido que precisamos de uma rutura total, geracional E temos que fazer voltar o Benfica encontrar-se a si próprio, devolver o Benfica aos Benfiquistas, devolver a democracia plena ao clube e acima de tudo, voltar a honrar os ases que nos honraram o passado.
Sábado vai ser um dia muito importante na nossa história, pois poderemos iniciar um novo capítulo ou então continuar a caminhar para este abismo do qual já estamos bastante próximos.
Benfiquistas, leiam os programas eleitorais, ouçam e vejam diversas entrevistas feitas pelos candidatos, informem-se e acima de tudo, votem em consciência.
Se o Benfica venceu em 1926, se o Benfica venceu em 1957, em 2025, o Benfica Vencerá!!
Viva o Velho Clube Campeão,
Viva o Incomparável Sport Lisboa e Benfica."
Benfica, Eleições e Luta Livre
"Há pouco mais de 20 anos, no meu 10º aniversário, tive a sorte de receber das mãos do meu pai algo que não esperava absolutamente nada, um kit sócio do Benfica! Fiquei em êxtase, pois tínhamos acabado de ser campeões ao fim de 11 longos anos de jejum e eu já só pensava na possibilidade de podermos vir a ser bicampeões. No entanto, as coisas não correram bem assim e o que ficou mesmo dessa época foi uma Supertaça e a ida a Anfield onde eliminámos um Liverpool campeão europeu em título. A par do Benfica, havia um outro desporto que me chamava a atenção, e que em Portugal estava a ganhar notoriedade: a luta livre profissional.
Quem é da minha geração certamente se lembra de ligar a tv e ver os programas semanais onde as histórias se iam desenrolando estilo novela e onde dentro de um ringue víamos alguns tipos oleados a esgrimirem argumentos ao microfone e passados uns minutos estavam a trocar socos e pontapés, algo que, visto pelo prisma de um miúdo de 10 anos algo inocente, era incrível, mesmo mais tarde descobrindo que não era totalmente real. Mas algo que era real ali, a emoção que eu sentia a ver tudo aquilo a desenrolar-se, algo que, à altura, só tinha mesmo paralelismo com os jogos que eu via do Benfica. Dando aqui o exemplo: o John Cena a enfrentar o Shawn Michaels num combate iron-man de 1 hora e sair por cima estava ao mesmo nível emocional de termos vencido o Porto com um chutão do Laurent Robert. Ambos faziam-me acreditar e, meio bêbado de ilusão, achar que um dia poderia fazer algo parecido. Entretanto, os anos foram passando, desliguei-me da luta livre durante mais de 10 anos e o Benfica, felizmente, subiu o nível no que toca a vitória e títulos, mas, para lá da inocência de infância, senti que houve algo que se perdeu durante esse tempo.
O Benfica foi-se, gradualmente, tornando numa caricatura de si mesmo, um clube cada vez mais aburguesado, onde quem mexia as peças do tabuleiro o fazia de forma ardilosa, trazendo para o clube gente desaconselhável, nunca havendo total clareza sobre o porquê de algumas coisas acontecerem, mesmo quando confrontados pelos sócios, ao ponto de todo este contexto me fazer abdicar durante alguns anos de continuar como sócio do clube.
Isto leva-nos a 2020, tempos de pandemia (eu sei…) e onde a única coisa que estava a passar regularmente em termos de desporto era… o wrestling. Voltei a ver tão religiosamente como quando era miúdo, e pese embora faltar aos eventos o calor humano do público, sempre era algo que me permitia ocupar o tempo e entreter-me durante todo aquele contexto dantesco da altura. Ao mesmo tempo, começavam os primeiros movimentos para a assembleia eleitoral de 2020 (o equivalente à Wrestlemania na vida política do clube), e nisto surge um “ilustre desconhecido”: João Noronha Lopes. Tinha estado no cargo de vice-presidente durante o mandato de Manuel Vilarinho, apesar de durante um curto período, e foi, ao longo dos meses, e mesmo tendo em conta todas as limitações da altura, ganhando cada vez mais elan e reconhecimento por parte dos sócios, ao ponto de cada vez mais ser visto como uma opção válida para suceder a LF Vieira, mesmo partindo como “underdog” na corrida. A 28 de Outubro, quase 40000 sócios foram às urnas e, sob circunstâncias duvidosas, LF Vieira foi declarado vencedor. JNL, mesmo tendo isso em conta, concedeu a vitória ao seu oponente e seguiu com a sua vida, e LF Vieira ao fim de meses seria afastado da presidência do clube devido a motivos judiciais, e deixando o clube num vazio institucional, que veio a ser ocupado por Rui Costa.
Saltamos aqui para 2024, a pandemia já tinha ficado no passado, Rui Costa cumpria o seu 3º ano como presidente, tendo o Benfica sido campeão em 2023, e eu já de volta enquanto sócio, tendo agora até a sorte de ter RedPass para ir ao nosso estádio regularmente e continuando a acompanhar wrestling, sendo que o produto estava cada vez melhor a cada semana que passava. Estava em Filadélfia, cidade onde JNL fez um intercâmbio nos seus tempos de liceu, a cumprir um dos sonhos da minha vida: assistir ao vivo a uma Wrestlemania. Calhou ser em dia de derby, Sporting x Benfica, estando aqui em jogo um potencial bicampeonato a nosso favor. Infelizmente, como é apanágio do Benfica pós-1994, perdemos o jogo e demos ao Sporting um campeonato de borla. Mesmo não tendo assistido ao jogo, senti muita tristeza pelo momento e tentei ao máximo abstrair-me de forma a tirar proveito da experiência que tive a sorte de poder viver. Naquele fim-de-semana, no estádio dos Eagles (coincidências engraçadas) e com uma dimensão bastante semelhante à nossa catedral, eu e mais de 140 mil pessoas pudemos assistir a um evento maravilhoso, onde chorámos, rimos, cantámos e gritámos pelos nossos lutadores favoritos, pese embora o frio que se fez sentir naquelas noites. O destaque foi o main-event entre Cody Rhodes e Roman Reigns pelo título de pesos-pesados, sendo que era a reedição do main-event do ano anterior, onde Cody Rhodes, tal como João Noronha Lopes em 2020 no papel de candidato principal, perdeu sob circunstâncias duvidosas. No entanto, e tal como Cody Rhodes, João Noronha Lopes concedeu a vitória, mas não desistiu de lutar, voltando em 2025 a candidatar-se à presidência do clube. Assim como Cody, João aparenta estar mais sábio e bem mais ciente do que o espera no próximo dia 25, ao ponto de ter reunido à volta do seu projeto uma equipa de profissionais de créditos firmados nas suas áreas, e prontos para quaisquer circunstâncias duvidosas que possam surgir, sendo que desta vez o adversário é um “príncipe herdeiro” que, nos últimos 4 anos, desbaratou por completo toda a boa vontade dada por quem o elegeu, e mergulhou o clube numa crise desportiva, institucional e associativa cujas repercussões ainda se farão sentir no futuro (se bem que, ao contrário de Cody, João não teve de atirar 29 homens para fora de um ringue para ter direito à sua oportunidade de redenção).
Naquela noite fria de abril, assisti naquele estádio de Filadélfia, cidade onde João Noronha Lopes passou alguns dos melhores momentos da sua juventude, a um homem que enfrentou 17 anos de desafios, dor, agonia, lágrimas, trabalho e sacrifício a chegar ao topo da montanha, cumprindo assim o seu desígnio, e com 70000 pessoas, de todos os lados do planeta, a apoiá-lo durante todo aquele caminho e no final daquela contagem de 3 a gritarem de alegria por ele. Só espero que, naquela que se prevê ser uma noite chuvosa de outubro, ver João Noronha Lopes, naquelas que se preveem ser as eleições mais participadas da história centenária do Sport Lisboa e Benfica (e talvez até da história do futebol mundial) no mesmo papel de Cody Rhodes, e com o apoio dos sócios do clube por todo o mundo, chegar ao cargo com o qual sonha e ambiciona, e que, tal como Cody esteve no final daquele incrível combate, de título nas mãos e rodeado de amigos e família, João Noronha Lopes, após a contagem dos milhares de votos, possa subir ao palanque do Pavilhão da Luz, juntamente com a sua equipa, amigos, família e apoiantes, no papel de 35º Presidente do Sport Lisboa e Benfica."
As «FIFA Bans»: enquadramento, aplicabilidade e consequências
"Nos últimos anos, o termo FIFA Ban passou a fazer parte do léxico do futebol internacional. Quase todos os adeptos já ouviram falar de clubes proibidos de inscrever jogadores ou de federações sancionadas. Mas o que são, afinal, estas sanções impostas pela FIFA, quando se aplicam e que efeitos produzem?
As chamadas FIFA bans têm fundamento em vários instrumentos normativos da FIFA, nomeadamente nos respetivos Estatutos, no Código Disciplinar e no Regulamento sobre o Estatuto e Transferência de Jogadores (RSTP).
O Código Disciplinar confere à FIFA poderes amplos para sancionar clubes, jogadores e federações que violem decisões anteriores ou obrigações regulamentares. O artigo 21 é particularmente relevante: o incumprimento de uma decisão definitiva de um órgão da FIFA ou do Tribunal Arbitral do Desporto (TAS/CAS) pode resultar em medidas como proibição de registar novos jogadores, dedução de pontos ou até descida de divisão.
Já o artigo 12bis do RSTP prevê sanções para casos de salários ou compensações devidas por transferências em atraso - as chamadas overdue payables. Nestes casos, a FIFA pode impor ao clube uma proibição temporária de inscrever novos jogadores, válida tanto a nível nacional como internacional, até que a dívida seja liquidada.
Em Portugal, as sanções sobre as SAD também se aplicam ao clube
As FIFA bans podem recair sobre diferentes intervenientes. Os clubes são os principais visados, sendo comum a aplicação de transfer bans por incumprimento de decisões do Tribunal do Futebol da FIFA (FIFA Tribunal). Os jogadores podem ser suspensos por infrações disciplinares graves. Também as federações nacionais podem ser alvo de sanções quando falham na execução de decisões ou permitem ingerências externas.
Em Portugal, Sociedades Desportivas e Clubes são entidades juridicamente independentes. No entanto, para a FIFA, ambas fazem parte de uma única entidade desportiva e, concretamente no que diz respeito a sanções disciplinares, as punições atribuídas à sociedade também se aplicam ao clube, como ocorreu no caso do Boavista SAD. Assim, a autonomia jurídica nacional não é considerada pela FIFA na execução das suas decisões internacionais.
Ora, um dos aspetos mais relevantes destas medidas é o seu efeito global. Assim que a FIFA comunica a decisão à federação nacional, esta é obrigada a executá-la no seu território. Isto impede que o sancionado contorne a punição noutro país, garantindo uma aplicação uniforme das regras em todo o mundo.
Execução das punições financeiras são imediatas
Além disso, o artigo 24 do RSTP prevê a execução automática das decisões financeiras: se um clube não cumprir no prazo fixado, a proibição de registar jogadores entra em vigor sem necessidade de instauração de processo disciplinar. Esta automaticidade reforça a eficácia do sistema e a credibilidade do mecanismo de execução da FIFA.
As consequências práticas de uma FIFA bans são significativas. Um clube impedido de contratar perde competitividade e valor de mercado. Todavia, estas medidas nem sempre são irreversíveis: nas sanções relacionadas com incumprimento de obrigações pecuniárias, uma vez cumprida a obrigação - geralmente o pagamento devido -, a sanção é levantada de imediato. Assim, as FIFA bans funcionam menos como castigo e mais como instrumento de coerção e responsabilização.
Em suma, as FIFA bans tornaram-se um pilar essencial na disciplina e na integridade do futebol global, servindo para garantir que as decisões são cumpridas, passam do papel e impactam diretamente aqueles que não respeitam as regras."
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