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sábado, 25 de outubro de 2025

Um clássico sem bola


"Eleições são um jogo com vários estilos em campo. Vieira é o veterano que regressa. Noronha é o médio de posse. Manteigas o defesa estudioso. Mayer a promessa da formação. Carvalho o jogador insatisfeito com o treinador. Rui Costa é o capitão que já está em campo de bancada

O Benfica vai a votos este sábado. E no Benfica uma eleição nunca é apenas uma eleição. É um clássico. Não há bola, não há árbitro, não há linhas de fora de jogo. Mas há nervos. Há ruído. Há aquele frio no estômago de quem sabe que está em causa mais do que um boletim. Cada sócio que entrar na assembleia de voto para votar vai sentir-se como quem caminha para a marca de penálti num momento decisivo. O jogo ainda não começou e já há suor nas mãos.
Se este sábado fica tudo decidido ou se será preciso segunda volta, ninguém sabe. O que já sabemos é que seis homens se chegaram à frente. E só isso merece respeito. Podemos gostar mais de uns do que de outros. Podemos achar melhores ou piores as ideias que trazem. É isso que decide o voto de cada um de nós. Mas quem se dispõe a servir o Benfica, mesmo sem ter garantias de vitória, merece o nosso reconhecimento. Pode não merecer o nosso voto. Mas merece a nossa admiração.
A campanha que agora termina não foi a melhor. Não trouxe luz ao futuro. Não foi uma corrida de ideias. Foi demasiado marcada por ataques pessoais, pelo passado que teima em não deixar que se discuta o futuro, pela espuma dos dias. E sim, a comunicação social ajudou a transformar o debate em espetáculo barato. Procurou mais o diz-que-disse do que a clareza. Preferiu as guerrilhas às propostas. Serviu-se mais do Benfica do que serviu os benfiquistas.
Mas a campanha já acabou. Agora é a sério. E ao jeito das 'Crónicas de bancada', aqui ficam algumas notas sobre quem vai este sábado a jogo.
Luís Filipe Vieira regressa como quem não aceita ser substituído. Para uns é o homem que ergueu a Luz moderna, para outros é o peso de páginas que ainda doem. É o avançado que marcou golos decisivos, mas também aquele que deixou a equipa em inferioridade no momento errado. Divide porque nunca poderia ser de outra forma. É impossível falar do Benfica recente sem falar dele. Vieira habituou-se a ser o centro da fotografia. Agora quer voltar à mesma fotografia, mesmo com muitos a preferirem virar a página.
João Noronha Lopes tenta de novo. Apresenta-se em jeito de médio cerebral, alguém que se propõe a pensar o jogo, uma espécie de organizador. No seu discurso tenta colocar a racionalidade de um gestor. Mas no Benfica, por vezes, não basta segurar a bola. É preciso arriscar no passe que decide. Noronha joga seguro, mas falta-lhe aquele golo que põe a bancada de pé. Continua a ser o candidato que convence alguns pela lógica, mas que não arrasta multidões pela paixão. E no Benfica a paixão vale tanto como a razão.
João Diogo Manteigas entra como defesa que conhece todas as regras do jogo. Conhece bem o Benfica, leva os dossiers bem estudados. Mas não é por se conhecerem bem os dossiers e regulamentos que se ganham clássicos. É com raça, com pressão, com resistência ao ambiente. O risco é ser visto como jogador que cumpre sempre a tática, mas que nunca arranca aplausos. É sólido, mas pouco excitante. No entanto a sua solidez pode ser um fator surpresa.
Martim Mayer aparece como uma promessa da formação. Já não tão jovem, é certo, mas cheio de energia, quer mostrar que há vida para além dos habituais titulares. Mas lançar um jogador pouco conhecido num clássico tem riscos. Pode surpreender e mudar o jogo. Pode tremer e perder-se. A camisola do Benfica pesa, e nem sempre a vontade chega. Mayer tem pela frente a dureza de um clube que, normalmente, prefere os mais conhecidos e mediáticos.
Cristóvão Carvalho foi o que teve menos tempo de jogo. Continua a não gostar do treinador. Acha que com Mourinho nunca terá o tempo de jogo que julga merecer e arrisca tudo em Klopp. É uma jogada arriscada, num Benfica que quer vitórias, mas que não se anuncia que as mesmas venham de mudanças tão profundas.
Rui Costa. Não precisa de apresentações. Todos sabem quem é, todos sabem o que já deu ao Benfica. Foi maestro dentro de campo, é agora maestro fora dele. Não é de fintas exuberantes, mas é o médio que segura a equipa quando ela treme. Não é de discursos inflamados, mas sabe manter a calma em momentos difíceis. Rui conhece o jogo como poucos. Viveu o aplauso e o assobio. Sabe o que é a exigência de milhões. A sua força está na serenidade. Não promete fogos de artifício. Promete continuidade. E para muitos, isso é já meio caminho andado. No futebol, como na política, às vezes o mais importante não é quem fala mais alto. É quem sabe manter o grupo unido quando o resultado aperta.
Estas eleições são um jogo com vários estilos em campo. Vieira é o veterano que regressa. Noronha é o médio de posse. Manteigas o defesa estudioso. Mayer a promessa da formação. Carvalho o jogador insatisfeito com o treinador. Rui Costa é o capitão que já está em campo.
No fim, o que se decide não é só quem levanta a braçadeira. É o rumo do Benfica. É se os sócios querem voltar ao passado, apostar no novo, escolher a racionalidade fria ou manter quem segurou o clube nos dias mais duros.
No dia da eleição, cada voto será como um golo. Uns valerão pela memória, outros pela esperança, outros pela promessa de futuro. Mas como sempre na Luz, o que conta é o resultado final. O presidente que sair eleito vai ser aplaudido no apito inicial e questionado ao primeiro empate. É essa a lei da Luz.
E é talvez isso que torna estas eleições tão apaixonantes e tão difíceis. O Benfica não é apenas um clube. É uma forma de viver. É emoção pura. É exigência sem descanso. Cada candidato tem o seu estilo, cada um traz a sua promessa. Mas no fim, os sócios vão olhar para dentro de si e escolher não apenas com a cabeça, mas também com o coração.
O que todos querem é simples. Um Benfica que ganhe. Um Benfica que volte a dominar. Um Benfica que transforme promessas em vitórias. E talvez, para muitos, o segredo não esteja em quem prometeu mais nesta campanha eleitoral, mas em quem conseguiu demonstrar que consegue manter a equipa unida mesmo quando o jogo parecia perdido."

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