Últimas indefectivações

sábado, 27 de agosto de 2011

Rosas e armas

"Sempre pensei que os assobios dos adeptos benfiquistas a Cardozo eram piropos. Mas não. Desde que percebi o meu erro tenho esperado um bom momento para escrever algo sobre o assunto. Teria sido logo depois do jogo de quarta-feira, contudo acontece que esta coluna é aos sábado.

Ora bem, o próprio Jorge Jesus, numa das suas costumeiras achegas à arte, disse que Cardozo não tinha a magia dos outros, que a arte do paraguaio era o golo. Concordo. É, aliás, arte de mais 100 golos. São mais de 100 artes. Estranho é que, dizia eu, foi precisamente nesta quarta-feira que se deu uma inversão artística do fenómeno: Cardozo não marcou, fez uma assistência para Witsel e foi aplaudido. Não tocou a música dele, tocou a dos outros. E passou a ouvir, como recompensa, uma música diferente na Luz.

Para mal do Benfica, isto pode confundir o rapaz. Ele pode começar a pensar que deve assistir os artistas em vez de marcar golos, incentivando assim passos errados naquele que agora julga ser o caminho para a perfeição que, há tanto, injustamente lhe exigem. Cardozo não tem o talento musical dos colegas, é verdade. É o jogador do acaso, do improviso. Se lhe derem uma guitarra jamais tocará com a perfeição técnica de Carlos Paredes. Porém, do dedilhar constante e sem sentido aparente do paraguaio resulta muita coisa. O lendário guitarrista Slash, por exemplo, compôs o imediatamente reconhecível riff da canção Sweet Child of Mine, dos Guns n'Roses, enquanto treinava a agilidade dos dedos, depois de uma noite desgraçada - uma de muitas - que relata na biografia. E só se tornou música porque alguém se lembrou de gravar o exercício desconexo de Slash. Nasceu sem querer um dos melhores golos da bancada. A perfeição, se existisse, seria esse paradoxal domínio do acaso, faculdade que a ninguém se exige. Uns são rosas, outros são a arma."


Miguel Cardoso Pereira, in A Bola

Quem protege o jogo?

"O que há de mais fascinante no jogo é a imprevisibilidade do desfecho. Não sendo aleatório, é sempre impossível de determinar. Na esperança que antecede todos os jogos reside o fascínio do jogo. Antes do início de um jogo acreditamos que um desfecho é uma possibilidade e nunca uma certeza. Essa incerteza é o que nos faz ter a paixão pelo futebol.
Agora, imaginemos que deixamos de acreditar na imprevisibilidade, deixamos de acreditar que o desfecho do jogo se encontra no final do mesmo e passamos a saber que o desfecho do jogo foi determinado antes do seu início. Deixará de ser um jogo, passará a ser um embuste. Quando isso acontecer, matar-se-á o jogo, acabar-se-á o futebol, porque se acaba a inocência de acreditar.
Actualmente, o jogo está seriamente ameaçado. Declan Hill, em 2008, publicou “The Fix”, uma excelente obra sobre a falta de verdade no futebol. Essa obra foi recentemente publicada em Portugal e titulada “Máfia no Futebol”. Aconselho a sua leitura, sabendo que, após essa leitura, perdemos o que nos restava de inocência, mas percebemos melhor o comportamento de árbitros, dirigentes e futebolistas. Compreendemos melhor o que leva um determinado treinador, num qualquer minuto 58, a substituir os dois futebolistas que melhor estavam a jogar; compreendemos por que motivo um treinador se vê obrigado a substituir um excelente guarda-redes, ao intervalo, com o medo que esse futebolista facilite na segunda parte; compreendemos como a prostituição é tão importante para poder chantagear quem tem o poder de decidir um jogo…Percebemos que nem os jogos das fases finais dos Campeonatos do Mundo estão a salvo de serem decididos antes de terem começado.
Mais do que tudo, percebemos que a protecção do jogo não está na competência das regras, das leis ou dos regulamentos, está na seriedade das pessoas."


Pedro F. Ferreira, in O Benfica

O fanfarrão

"Quando foram tornadas públicas as gravações de Pinto da Costa que evidenciaram, para não dizer mais, a promiscuidade entre aquele dirigente desportivo e muitos árbitros, esperava uma posição pública da arbitragem para defender a honra de uma função sem a qual os jogos são impossíveis. Não aconteceu. Quando rebentou o escândalo do Apito Dourado esperava que fossem, antes de todos, os árbitros a lutar para que finalmente fosse separado o trigo do joio. Não aconteceu. Das muitas vezes que se debateu a mudança nas regras de nomeação de árbitros, esperava que estivessem eles na linha da frente na luta por regras claras. Não aconteceu. Quando se exigiram novas tecnologias para a arbitragem, esperava que fossem os árbitros a tomar a dianteira. Não aconteceu. De todas as vezes que árbitros foram agredidos e ameaçados nos estádios, esperava uma posição de força, sem concessões. Não aconteceu.
Sei que criticar as arbitragens é o mais fácil. Umas vezes com razão – foi o caso da primeira jornada –, outras para disfarçar más exibições. Mas parece haver na arbitragem portuguesa uma convivência demasiado fácil com as águas turvas. É por isso perturbante ver os árbitros a boicotar um clube apenas porque um deles é, como tantas vezes acontece, criticado pelo seu mau desempenho. Porquê esta reação desproporcionada? Porque o Sporting é, dos três grandes, aquele que não conta nas contas dos obscuros corredores do poder do futebol nacional. Os árbitros não mostram, com este patético boicote, a sua força. Tornam apenas evidente a sua fraqueza perante os poderes instalados. Compensam os silêncios e as cumplicidades de sempre, mostrando as suas temerosas garras à presa mais fácil. É o que faz o fanfarrão. Não é o que faz o corajoso."


Positivo



Esperava-se com algum optimismo um lugar no top-10, portanto o 9º lugar conquistado pela Marisa Barros, no Mundial de Daegu, acaba por ser um resultado positivo. É verdade que muitas das especialistas de Maratonas não marcaram presença, principalmente as Europeias, mas devido a um problema com o joelho, a Marisa esteve 'parada' alguns meses, condicionando e muito, a normal preparação para uma Maratona, portanto ser a melhor Europeia acaba por ser um excelente prémio (a Sueca que ficou em 7º, é uma Queniana naturalizada!!!). Apesar de todas as condicionantes, incluindo as meteorológicas, a Marisa não mostrou medo, e fez quase toda a corrida na frente, cedendo somente no momento do ataque das Quenianas, já depois dos 30 Km. Como quase todos os atletas presentes neste Mundial, o principal objectivo da Marisa são os Jogos Olímpicos do próximo ano, creio que sem lesões, a Marisa pode 'incomodar' as favoritas, e num dia bom, fazer uma surpresa...!!!