Últimas indefectivações

sábado, 27 de agosto de 2011

Quem protege o jogo?

"O que há de mais fascinante no jogo é a imprevisibilidade do desfecho. Não sendo aleatório, é sempre impossível de determinar. Na esperança que antecede todos os jogos reside o fascínio do jogo. Antes do início de um jogo acreditamos que um desfecho é uma possibilidade e nunca uma certeza. Essa incerteza é o que nos faz ter a paixão pelo futebol.
Agora, imaginemos que deixamos de acreditar na imprevisibilidade, deixamos de acreditar que o desfecho do jogo se encontra no final do mesmo e passamos a saber que o desfecho do jogo foi determinado antes do seu início. Deixará de ser um jogo, passará a ser um embuste. Quando isso acontecer, matar-se-á o jogo, acabar-se-á o futebol, porque se acaba a inocência de acreditar.
Actualmente, o jogo está seriamente ameaçado. Declan Hill, em 2008, publicou “The Fix”, uma excelente obra sobre a falta de verdade no futebol. Essa obra foi recentemente publicada em Portugal e titulada “Máfia no Futebol”. Aconselho a sua leitura, sabendo que, após essa leitura, perdemos o que nos restava de inocência, mas percebemos melhor o comportamento de árbitros, dirigentes e futebolistas. Compreendemos melhor o que leva um determinado treinador, num qualquer minuto 58, a substituir os dois futebolistas que melhor estavam a jogar; compreendemos por que motivo um treinador se vê obrigado a substituir um excelente guarda-redes, ao intervalo, com o medo que esse futebolista facilite na segunda parte; compreendemos como a prostituição é tão importante para poder chantagear quem tem o poder de decidir um jogo…Percebemos que nem os jogos das fases finais dos Campeonatos do Mundo estão a salvo de serem decididos antes de terem começado.
Mais do que tudo, percebemos que a protecção do jogo não está na competência das regras, das leis ou dos regulamentos, está na seriedade das pessoas."


Pedro F. Ferreira, in O Benfica

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