"Azafama-se o futebol português em dissertações acerca do Cardozo. Se fica, se vai, se fica chateadinho ou vai satisfeitinho, se é um selo do apocalipse ou talvez não. Enquanto a turba se entretém nisso, esquecem-se os especialistas em futebol português e em “estruturas” (um dia alguém chegará à conclusão de que em Portugal a “estrutura perfeita” e o “sistema” são vocábulos do campo semântico da dourada corrupção – mas isso são outros quinhentinhos) de que o submundo da arbitragem (aquela gente que passa a vida a martelar as classificações dos clubes) se insurgiu contra o facto de eles próprios terem sido alvo de mais uma época de classificações marteladas.
Ou seja, há pouco mais de quinze dias, Vítor Pereira confirmou, sem corar de vergonha, que não foi a Comissão de Classificações da arbitragem a classificar os árbitros. Foi “alguém” institucionalmente acima do Conselho de Arbitragem e da Comissão de Classificações. Os árbitros protestaram contra esta “martelada” aparentemente legal. Foram muitos anos a viver e a serem promovidos e despromovidos com classificações urdidas em lupanares e cimentadas com trocas de favores e compadrios. Desta vez, a marosca fora mais longe, deram-lhe um ar sério. Assim não. Gritaram, protestaram, ameaçaram e conseguiram que a “martelada” se transformasse numa “chapelada”.
Aparentemente garantiram que a sua carreira durará mais cinco anos e que passarão a ser profissionais da coisa. A profissionalização é apresentada como a solução para todos os males de que enfermam. É como se alguém dissesse que a solução para a prostituição passaria pela obrigação da emissão de facturas pelo serviço prestado. Bem vistas as coisas, e como sabe qualquer Nandinho das Facturas, estas coisas até andam ligadas."
Pedro F. Ferreira, in O Benfica