"O aparato entre árbitros no activo, polícias no activo e polícias fora do activo, em Alvalade, no intervalo do Sporting - Marítimo, sugerem que, finalmente, o Sporting terá o seu guarda Abel
A personalidade do ano do futebol português não joga à bola desde 1998. Em Março de 2011, por outras artes e obra de um acaso feliz, redescobriu-se não o jogador que foi mas a personalidade que é.
Naquele que foi o melhor momento de stand-up comedy em Portugal, o sonho de qualquer humorista, bastou-lhe uma frase - «Se vier o melhor chinês, vai vir charters todas as semanas.» - para que Paulo Futre se transformasse, pela segunda vez na sua vida, num ídolo.
E um ídolo pelas melhores razões. Porque nos fez rir e porque, como grande artista e grande pessoa, assumiu a responsabilidade que logo lhe foi confiada por uma geração que, provavelmente, nunca o viu jogar futebol mas que o elegeu como o maior desopilante da nação e que o reclama de norte a sul do país.
Futre teve, como jogador, todas as honras da sua profissão. Foi campeão, foi uma grande estrela, foi uma fenómeno graças ao seu pé esquerdo.
Mas apenas um bom pé esquerdo não chegaria para conferir a Futre o seu estatuto actual. Futre dá conferências em universidades sobre a disciplina da motivação, Futre vai ao Pavilhão do Conhecimento falar sobre Física para explicar como o futebol e a ciência andam de mãos dadas. Futre tem uma legião de fãs para quem é absolutamente indiferente se Futre é do Sporting, do FC Porto, do Benfica, do Carcavelinhos ou do Mira-Coelhos Futebol Clube.
Futre é de todos.
Futre rocks. Montijo rules.
Bom ano a todos.
ELIAS é um bom jogador. Tem qualidade internacional que tem sido convenientemente aproveitada em Alvalade e não está nada arrependido de ter trocado o Atlético de Madrid, de grossas riscas vermelhas verticais pelo Sporting, de grossas riscas verdes horizontais.
Enfim, toldos de praia, dirão sempre maldosamente os rivais dos dois emblemas em equação.
Elias está contente com a vida, está à espera de um filho que vai nascer lisboeta, gosta da cidade, da comida, dos colegas, tudo lhe tem sabido bem nestes seus primeiros meses de experiência portuguesa.
Apenas com uma excepção. Elias ainda não digeriu a derrota do Sporting no Estádio da Luz e garante que «quem ganhou o derby não foi o Benfica, foi o Artur».
Elias refere-se, certamente, à extraordinário defesa com que o guarda-redes do Benfica o impediu de empatar a partida, já na segunda parte, até porque, de resto, Artur pouco ou mais nada teve que fazer durante o jogo.
Elias é bom jogador mas, com a devida consideração e respeito, não tem razão no seu desabafo. Compreende-se porque chegou agora mesmo ao futebol português.
Artur é excelente mas não foi só por causa do guarda-redes que o Benfica venceu pela sexta vez consecutiva o seu rival.
Enfim, como diz um amigo meu, João Gonçalves, benfiquista com certeza: «Olha-me bem para este Elias, então ainda ninguém lhe explicou que com o Quim, com o Moreira, com o Júlio César e até com o Roberto, tem sido sempre a mesma coisa.»
FOI já há mais de uma década que o Benfica teve o seu momento FC Porto. Foi quando, à míngua de sucessos, se entendeu que o melhor caminho para os ditos sucessivos era levar para a Luz o maior número possível de ex-jogadores ou de ex-funcionários do rival nortenho.
Foi, sem dúvida, uma grande parvoíce, um atraso de vida, uma enorme perda de tempo.
Por razões que são suas, o Sporting vive esse momento e já o vive há algum tempo. Por isso mesmo não causa grande espanto que os jornais insistam na possibilidade de Bruno Alves trocar o Zenit de São Petersburgo por Alvalade nesta abertura do mercado de Inverno.
O próprio pai do jogador já falou sobre o assunto e veria com bons o regresso do filho ao futebol português.
Bruno Alves no Sporting, na verdade, parece a coisa mais natural deste mundo. Nem sequer seria uma proeza política ou desportiva.
Menos natural, no entanto, seria o Sporting, sempre à imagem do FC Porto, cometer a proeza de ter, finalmente, o seu guarda Abel para todo o serviço.
E desse ponto de vista, as imagens e as notícias que deram conta do aparato entre árbitros no activo, polícias no activo e polícias fora do activo, à entrada do túnel de Alvalade, no intervalo do Sporting - Marítimo, sugerem que, finalmente, o Sporting terá o seu guarda Abel.
Na verdade, estava a fazer falta.
Tenho amigos portistas que, de repente, passaram a adorar o David Luíz pelas piores razões. Incansáveis detractores do central brasileiro quando jogava no Benfica, encontram-lhe agora nesses defeitos um rol de virtualidades.
É no que dá o fanatismo. Também no ano passado adoravam o André Villas Boas e agora...
-O vosso David Luíz está em grande!
-O vosso David Luíz anda-nos a vingar!
Mas que coisa tão estranha, ouvir isto de amigos portistas. Onde é que eles quererão chegar? Até que se fez luz:
-O vosso David Luíz anda a enterrar o André Villas Boas!
Ah, pronto, já percebi.
Referiam-se ao lapso do nosso David Luíz que, por ter chegado um bocadinho atrasado ao lance, permitiu que Dempsey assinasse o golo do empate do Fulham no jogo que o Chelsea empatou em casa e que o pôs a milhas da discussão do título de Inglaterra.
Nestas conversas de bola nada é por amor. É tudo por interesse.
DE férias no seu país, Kaká aproveitou a época festiva para dar ânimo ao seu colega de equipa Cristiano Ronaldo. Numa entrevista à revista brasileira Band Sport, Kaká disse preferir o português ao argentino porque «sendo diferentes, Ronaldo é muito mais completo, joga muito com a perna direita, joga muito com a perna esquerda e joga muito bem de cabeça», o que é verdade.
Ronaldo é mais completo mas Messi tem outras virtudes que o tornam num objecto ainda mais raro.
Qualquer jogador que se quiser comparar a Ronaldo tem de ter pé esquerdo, pé direito e cabeça. E alguns têm. Qualquer jogador que se quiser comparar a Messi tem de possuir virtudes mecânicas e poéticas, com um não-sei-quê de irreal e, por isso mesmo, virtudes de um modo geral inalcançáveis.
Por tudo isto, é dever de quem dá apreço à juventude saudar efusivamente a entrevista concedida por Ricardo Viegas, de 19 anos, que está a viver o seu primeiro ano como sénior do Belenenses e que sonha jogar no Barcelona.
«Tenho coisas parecidas com Messi», diz o jovem Viegas, exemplo de alguém que acredita em si próprio.
Se Ricardo Viegas falhar como novo Messi pode sempre vir a ser um excelente diplomata de carreira. Vejam como o miúdo foi cuidadoso para não ofender (com a sua comparação com Messi) o seu compatriota Cristiano Ronaldo (sempre muito susceptível quando há comparações com Messi):
«Gosto muito do Ronaldo, mas identifico-me mais com o argentino a jogar», acrescentou com grande tacto.
Força Ricardo Viegas!
ALGUÉM se deve ter distraído destes pormenores importantíssimos do panorama geográfico e político do futebol português. E, por isso mesmo, este ano termina com uma agradável e surpreendente demonstração de força competitiva dos clubes de Lisboa nas divisões secundárias.
Na Liga Orangina, o Estoril e o Atlético ocupam os dois primeiros lugares da tabela e na Zona Sul da 2.ª Divisão é o Oriental quem lidera com dois pontos de vantagem sobre o Pinhalnovense e o Torreense.
Será da crise? Será para continuar?
Ficam as respostas em suspenso até ao final da Primavera, quando tudo se decide e aí se verá que promessas que foram cumpridas e que promessas não passaram disso mesmo, de promessas vãs sem sustentação válida.
Para esta abertura do mercado de Inverno, fica a curiosidade de sabermos se o Benfica e o Sporting, os maiores da capital, decidem apostar no sucesso dos seus vizinhos mais pequeninos presenteando-os, por exemplo, com excedentários dos seus valiosos plantéis.
Ou se, pelo contrário, não estão minimamente focados nestas questões do panorama geográfico e político do futebol português.
E, se assim foi, é caso para se dizer que também eles andam distraídos, o que é uma pena.
JOSÉ MOURINHO disse que irá voltar ao futebol inglês que é a sua grande paixão e Fábio Coentrão disse que um dia regressará ao Benfica que é a sua grande paixão.
Disseram, está dito."
Leonor Pinhão, in A Bola