Últimas indefectivações

quinta-feira, 31 de março de 2011

Inácio teve mais votos, Futre teve muito mais piada

"NÃO haja dúvida de que Frank Rijkaard tem uma relação com o Sporting. Mas é uma relação impossível.

Já são duas as vezes que lhe acontece ter estado quase em Alvalade sem nunca conseguir consumar a relação. No tempo de Jorge Gonçalves foi apresentado como unha do leão, vestiu a camisola mas nunca deu um pontapé numa bola por razões burocráticas impostas pela FPF, ao tempo de Silva Resende.

Agora foi apresentado pela lista de Dias Ferreira como treinador mas entendeu ser melhor nem aparecer por Lisboa porque (embora se trate de um provérbio difícil de traduzir para flamengo) gato escaldado de água fria tem medo e Rijkaard, a esta hora, já deve estar mais do que convencido de que com o Sporting só vai ter arrufos pela vida fora.

Ainda assim, a lista de Dias Ferreira colheu 16 por cento dos votos dos eleitores sportinguistas, o que é uma votação significativa e honrosa para o seu cabeça de lista, porventura o mais genuíno de todos os candidatos na corrida.

Fica apenas a dúvida de se saber se os 16 por cento dos votos foram para Dias Ferreira, pelo seu sportinguismo latejante, se para Frank Rijkaard pelo seu sportinguismo flamejante ou se para Paulo Futre, pelo seu sportinguismo hilariante.

Futre, que foi um caso único de talento no futebol português, revelou-se nas vésperas da eleição como um caso único de talento na área da comunicação.

Haja um canal de televisão que lhe dê rapidamente um programa semanal para o vermos o ouvirmos desfiar as suas memórias e analisar ao som de castanholas e ao ritmo frenético de seu portunhol as pequenas e as grandes ocorrências presentes do futebol português.

E Paulo Futre nem precisa de entrevistador ou de moderador. Era só pô-lo sozinho em frente ao microfone e, como sempre acontecia quando jogava à bola, é só deixar que a magia aconteça.

E agora? Será Domingos Paciência o próximo treinador do Sporting? É uma escolha lógica dentro de um certo espírito de continuidade que impera na casa.

Domingos, enquanto jogador, foi e é uma referência do FC Porto, qualidade muito apreciada em Alvalade. Costinha, embora, num outro cargo foi o último exemplo dessa saga.

E nas listas derrotadas no sábado havia em compita dois ex-campeões europeus pelo FC Porto: Inácio e Paulo Futre.

Inácio teve mais votos mas Paulo Futre teve, de longe, muito mais piada.



SEJA quem for o próximo treinador do Sporting vai ter de ter muita sorte ao jogo para que as sequelas desta campanha eleitoral não transformem o clube num Estado fragmentado por mil e uma quezílias.

A vitória de Godinho Lopes por um número inexpressivo de votos (melhor dito, de votantes) teve o condão de conferir aos derrotados de sábado um estatuto privilegiado da chamada Oposição qualificada.

E será necessária uma grande contenção de massas para evitar motins se os resultados não aparecerem com Domingos Paciência ou com qualquer outro responsável.

E é este o problema do Sporting: a contenção de massas nos seus dois significados possíveis, o popular e o financeiro.

José Maria Ricciardi, o banqueiro afecto à linha vencedora, já avisou com clareza: «Há que igualar as receitas às despesas e investir em jogadores jovens».

Ou seja, há que fazer uma contenção de massas porque a Banca não é a Santa Casa da Misericórdia.


A Noruega e a Dinamarca empataram e Paulo Bento respira de alívio vendo a sua vida mais facilitada. Bento não herdou de Carlos Queiroz uma qualificação complicada para o Euro 2012, deve-se dizer porque é esta a verdade.

Foi de uma gestão política lamentável da Federação Portuguesa de Futebol que nasceu triste arranque da Selecção nesta campanha. E não foi só lamentável, foi também mesquinha.

A vontade de despachar Carlos Queiroz sem lhe pagar a indemnização devida pela interrupção do contrato foi o fundamento de toda a acção da FPF.

Veio agora o Tribunal Arbitral Desportivo, uma organização internacional, dar razão a Queiroz mas o ex-seleccionador, no lugar de ficar contente e de se limitar a dar ordem ao seu advogado para prosseguir a contenda, resolveu responder taco-a-taco a Pepe, também ele bastante infeliz nas opiniões que resolveu proferir sobre os atributos do treinador que conduziu Portugal no Mundial da África do Sul.

Pepe é luso-brasileiro, como Deco e Liedson, e nunca ouvimos Carlos Queiroz, enquanto teve estes homens à sua disposição, protestar contra os naturalizados na Selecção ou desdenhar, com pretensa superioridade catedrática, do sotaque doce do outro lado do Atlântico.

Fê-lo agora e com um despropósito e uma falta de graça que até doeu. Se Paulo Futre não tivesse surpreendido o país com os seus dotes humorísticos que o alcandoraram a uma posição de super-estrela do youtube, Carlos Queiroz teria sido, com a sua muito desinspirada rábula em brasileiro, o palhaço triste da semana.

Mas, felizmente tivemos Futre que, sem a mania das grandezas, não disse mal de ninguém e nos fez rir com gosto.


O novo presidente do Sporting, acusou o jornalista Nuno Luz, da SIC, ter sido o responsável pela confusão em Alvalade, na noite eleitoral, provocando acesos momentos de pugilato sem regras, coisa rara de se apreciar num clube de viscondes.

Segundo Godinho Lopes, o jornalista Nuno Luz terá induzido em erros milhares de sportinguistas ao anunciar, erradamente, que o candidato Bruno Carvalho tinha recolhido a maioria dos votos.

O que, aparentemente, não aconteceu.

Terá havido até muitos sportinguistas que se foram deitar absolutamente convencidos de que Bruno Carvalho tinha ganho as eleições.

No domingo à noite, pronto, já tenho programa.

Se o FC Porto ganhar na Luz e se sagrar campeão na nossa casa, resta-me ligar para a SIC Notícias para ouvir o bom do Nuno Luz dar a notícia.

E como foi o Nuno Luz a dar a notícia, então é porque não é verdade e uma pessoa sempre pode dormir descansada.

Estão a ver como os jornalistas são indispensáveis nesta indústria do futebol?"
Leonor Pinhão, in A Bola

A minha Selecção

"Desde que há mais de 50 anos leio A BOLA, sempre me deliciou acompanhar os campeonatos das divisões ditas secundárias e até de algumas de nível distrital. É, na mesma lógica, que muito aprecio um tão diferente quanto eloquente programa televisivo, A Liga dos últimos, verdadeiro serviço público, feito com sensibilidade e inteligência.

Por estes dias - e para me distrair um pouco dos PEC e similares - revisitei essas competições. E fiz um exercício: tentar seleccionar duas equipas virtuais de entre jogadores da 2.ª Divisão (em boa verdade, da 3.ª), escolhendo-os pela originalidade ou conveniência do seu nome pessoal ou artístico. Num quadro multinacional e bem sul-americanizado que invadiu todas as divisões, não foi tarefa fácil. Muitos tiveram de ficar de fora. Novas oportunidades surgirão.

Ora ai vão os plantéis, depois de uma aturada observação onomástica:

Equipa A: guarda-redes - Passarinho; defesas - Gancho, Mocas, Moisão e Bulhão; médios - Canelas, Nuno Meia, Bijou e Xavi; avançados - Makhtar e Ruça.

Equipa B: guarda-redes - Fifas; defesas - Lixa, Micas, Lapinha e Nabor; médios - Rateira, Traquina, Talala e Gambé; avançados - Marafona e Mamadou.

Banco de suplentes da equipa A: guada-redes - Boubacar; defesas e médios - Bruninho, Huginho, Baixinho e Ruizinho (creio que ainda juniores); avançados - Xico Trabuca e Kifuta (se tivesse um r entre o f e u, grandes voos o esperariam).

Banco de suplentes da equipa B: guarda-redes - Piteu; defesas e médios - Taroco, Cobó, Badará e Atabu; avançados - Pituca e Zongo.

Os árbitros poderiam ser, como de costume, da firma Olegário, Benquerença & Xistra, Lda., acolitados por Espadinha e Lamares.

O seleccionador, Lampião Félix."


Bagão Félix, in A Bola

Fim-de-semana chocho

"Arriscando-me a ser politicamente incorrecto, acho que um fim-de-semana com um jogo amistoso (mas não são todos?) da nossa Selecção e sem competições entre clubes é cinzentão, sem a adrenalina própria do futebol entre muros. É certo que houve eleições no Sporting (a propósito, continua-se a ouvir gente a dizer «Sportem»!), que, no entanto, animaram apenas os seus adeptos.

Mas vendo os jogos da nossa Selecção, lembrei-me de algumas medidas, que aplaudiria se o próximo presidente da FPF as tomasse. Ei-las:

1. Trocar de fornecedor do equipamento da Selecção para que, de uma vez por todas, nos fixássemos em cores e design discretos e duradouros, como fazem, por exemplo, a Itália e Inglaterra, em vez de mudarmos constantemente e oscilarmos entre o principal tipo Liverpool e o alternativo modelo Estrela da Amadora.

2. Evitar fazer jogos de preparação(?) com as Ilhas Faroe, Lichtenstein, Luxemburgo e Andorra, por pudor e poupança.

3. Diminuir, drasticamente, a pletora de técnicos, subtécnicos, infratécnicos, observadores, preparadores, similares, afins e correlativos que têm, na FPF, um refúgio bem remunerado.

4. Apoiar, por razões práticas, o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa (que eu... só obrigado) para se ajustar ao seleccionado luso-brasileiro e ao conflito Queiroz/Pepe.

5. Fazer respeitar A Portuguesa e o Hino Nacional das outras selecções, que alguns teimam em misturar alarvemente com impropérios e apupos.

6. Por fim, ser muito selectivo nos minutos de silêncio nos estádios, desde que estes se transformaram numa vergonha de desrespeito e javardice, como se sessenta segundos sem vozearia e gritos fossem uma eternidade."


Bagão Félix, in A Bola