Últimas indefectivações

quinta-feira, 10 de maio de 2018

Sabe quem é? - Entre metralhadoras - Saraiva

"1. Por vários sítios aparece como tendo nascido a 13 de Julho de 1934 no Peso da Régua. Mas não, não foi: «Foi a 3 de Maio, nessa altura eram normais essas diferenças nos registos». O seu primeiro ídolo foi Pinga e aos 12 anos, lembrou-se de aprender o ofício de torneiro-mecânico: «Ao fim de oito dias, entalei o dedo médio da mão esquerda numa máquina, ficou esmagado, tiveram de mo amputar...»

2. Aos 15 anos foi para o Reguenses - e tinha outra paixão: o cinema. Sobretudo, Greta Garbo. «Para ver um filme numa esplanada não comprei bilhete, fui empoleirar-me numa árvore. A certa altura a pernada caiu, partiu-se-me a perna, a costela...»

3. Famoso pelo seu pontapé canhão, aos 17 anos tornou-se jogador do Sport da Régua. No ano seguinte, a Lisboa o chamaram-no para a tropa. Leôncio, seu companheiro de caserna, jogava pelo Palmense - e desafiou-o para lá.

4. Os golos a fio no Palmense aqueceram-lhe o sonho - pelo que se atreveu a aparecer no Benfica para um teste. Otto Glória chegara do Brasil mas foi Valdivieso quem lhe fez a prova. Mandou-o passar pela secretaria, Albino Rato afirmou-lhe: «Veja se, na Régua, arranja a carta de desobrigação e, depois, volte cá». Não gostou do tom - e no Palmense continuou.

5. Tropa feita, foi oferecer-se ao Braga, Imbelloni não o quis. Apanhou a camioneta para Guimarães, ao cabo de 15 dias, Galloway revelou-lhe: «Não, rapaz, não serves para nós...»

6. Tinha amigo no Salgueiros, falou dele a Alfredo Valadas, que o treinava - e ao segundo treino acertou-se a sua contratação, dando-se 3000 escudos ao Sport da Régua.

7. Meses depois, o FC Porto foi buscá-lo à Régua, hospedou-o no Lar do Jogador, dizendo-lhe que a prova decisiva para ficar era jogo na Póvoa, contra o Varzim. Não chegou a fazê-lo, tio da mulher desviou-o para o Caldas, que subira à I Divisão.

8. Com Fernando Vaz a treinador arrancou para 55-56 como avançado-centro. Magoando-se Abel, passou ele para central. O FC Porto voltou à carga - a resposta do Caldas foi: «Não demos mais de 100 contos por um jogador para o utilizar só uma época». Num choque, com Cavém partira a cabeça - e na jogada seguinte mais um choque com Cavém voltou a parti-la: «Andei uma semana maluco, com tonturas quando andava na rua, chegando até a cair - mas não, não deixei de jogar nem um dia». Em 1958-59 foi médio-centro - e pelas Caldas apareceu-lhe Gastão Silva a dizer que Guttmann o queria na Luz. «Assinei, desci as escadas da sede a gritar: Já sou do Benfica. Com copo de três o comemorei numa tasca ao lado e, de braços no ar, continuei até ao Rossio, a gritar: Já sou do Benfica!»

9. Esteve na batalha de onde o Benfica saiu para a final da Taça dos Campeões. Vencera o Rapid na Luz por 3-0. 15 dias depois no Prater, havia 1-1, à beira do fim. Skocik caiu na área, o árbitro mandou seguir, Guttmann pôs as mãos à cabeça, pressentindo a ira. Águas também - e correu para o jiz a suplicar-lhe que assinalasse o penalty contra o Benfica, disse-lhe que não, que não fora nada. Após soco a um benfiquista, Skocik agrediu o árbitro a pontapé, ele deu o jogo por findo. Fugiu para a cabina, aconselhou os benfiquistas a fazerem o mesmo.

10. Espectadores rasgaram redes, saltaram das bancadas, desmontaram o placard do relógio, arrancaram cadeiras, precipitaram-se para o balneário onde os benfiquistas se barricaram. Ouviram-se gritos, vidros a estilhaçarem-se, pontapés na porta - e José Augusto contou-o: «Lá dentro, tínhamos martelos, ferros de bater nos pitons, navalhas de raspar as pernas. Os primeiros a entrar caíam. Depois era uma avalanche». O autocarro que levara o Benfica foi quase destruído por chuva de pedras, a comitiva teve de voltar ao monte nas carrinhas da polícia, protegidos por metralhadoras.

11. Por se ter lesionado num joelho, em Berna, nos 3-2 ao Barça, o médio esquerdo não foi ele - foi o Cruz. Deixou o Benfica em 1963, três vezes campeão. Esteve dois anos jogador-treinador no Benfica de Castelo Branco. Treinador deixou de ser no Torralta em 1976, ficou responsável por piscinas no Alvor - e morreu, em Portimão, na segunda-feira."

António Simões, in A Bola

O Gil Vicente e a barca do inferno

"Um dos nossos maiores vultos da literatura, Gil Vicente, escreveu, no século XVI, o auto das barcas. Uma alegoria de imensa criatividade e que representava mais as misérias (muitas) do que as grandezas (poucas) do seu tempo.
No Auto da Barca do Inferno, talvez o seu texto mais reconhecido, mestre Gil Vicente embarcava as classes sociais da época, fazendo-se desfilar num enredo de imaginação genial. Todos os personagens estão mortos, mas nem por isso deixam de procurar o seu destino, quando se aproximam e tentam seduzir os seus barqueiros para ganhar lugar nas suas barcas.
O parvo é, sem surpresa, o povo. O que acredita e se deixa embarcar. Não que sem, antes, se anuncie ao Diabo:
«Furta-cebolas! Hiu! Hiu!
Excomungado das igrejas!
Burrelas, cornudo sejas...»
Gil Vicente mostra-nos que sempre soube que o povo se deixa facilmente enganar por quem tem artes de manipular e por quem tem o privilégio de mandar. Mas, sendo parvo, nem por isso é cego ou incapaz de entender as razões de quem o não deixa embarcar na barca do Anjo, que leva ao paraíso.
Leva bem mais gente a barca do Diabo, a tal que tem por destino o inferno. O que, apesar de tudo. Gil Vicente não nos diz, até porque se trata, sempre, de uma alegoria, é quando custa a viagem, qual o valor do bilhete para o paraíso e o preço da navegação até ao porto do inferno. Mas seria, muito provavelmente, incomportável o preço para chegar já ao paraíso. Por isso, Gil Vicente tem de ter a paciência de esperar. Um ano inteiro na barca do purgatório para, enfim, ser autorizado a entrar no céu há muito prometido."

José Manuel Delgado, in A Bola

Desmentido

"A Sport Lisboa e Benfica SAD desmente de forma veemente o conteúdo de uma denúncia anónima, hoje tornada pública, que afirma que o Benfica terá comprado parte dos bilhetes do jogo Marítimo-Sporting.
Essa denúncia é falsa, absurda e ridícula pelos próprios factos que descreve. Mas mesmo assim o Benfica exige que se reponha a verdade sublinhando que jamais se revê nessas práticas."

Quando as paredes falam

"Em 1952, Sugar Ray Robinson trocou o boxe pela dança. Sapateou com Gene Kelly e aborreceu as parisienses

Gosto de ler paredes. Isto é: no tempo em que as paredes falavam, agora limitam-se a grafittis baratos e sem sentido que nada revelam que valhe verdadeiramente a pena. Por exemplo, certa vez em San Salvador, dei com letras negras num muro impecavelmente branco: «Salvadoreños, tanta tranquilidad me da miedo». Como se a violência fosse uma espécie de droga e obrigasse a uma dose habitual.
As paredes, às vezes, eram as cicatrizes do Erasmo Carlos: «Eu sei que as cicatrizes falam/Mas as palavras calam/O que eu não me esqueci». Em Belfast, havia uma que gritava uma pergunta: «Is there death after life?». Um recado que vinha da morte? Ainda uma esperança de sossego? Na Avenida de Berna, alguém escreveu uma sentença irreversível: «De Auschwitz a Beirute só a memória é curta». Em Londres, no Soho, citaram Sugar Ray Robinson: «Every move you make starts with your heart». 
Na verdade, a frase completa de Sugar foi: «Rhythm is everything in boxing. Every move you make starts with your heart, and that’s in rhythm or you’re in trouble». Um ensinamento sábio que nada lhe valeu no momento em que resolveu apresentar-se ao público parisiense como bailarino. Um desastre. O ritmo só lhe entrava no coração se estivesse no ringue. Há quem diga que foi ele que elevou o boxe a uma forma de arte. Há quem diga que foi o maior pugilista de todos os tempos. Até Mohammad Ali conseguiu dirigir-lhe elogios embora os tivesse quase todos guardados exclusivamente para si próprio.
Sugar começou por ser Walker Smith Jr. Mas não havia lugar no boxe para um Walker, muito menos Smith. Ainda por cima Jr. como qualquer candidato a governador do Arkansas. Então entrou o açúcar. Ou seja, Sugar.
Eduardo Ohata publicou no Jornal de São Paulo uma crónica que começava assim: «Hoje em dia é comum esse ou aquele pugilista preceder seu nome com o apelido Sugar. Pode ser por pura vaidade, um truque de marketing de seu empresário ou um apelido dado por membros da imprensa (geralmente precocemente). Há tantos que corre-se o risco de adquirir diabetes: Sugar Shane Mosley, Sugar Ray Leonard, talvez o mais popular, e Sugar Ray Seales estão entre os mais notáveis». Depois, como é óbvio, dedicou-se a falar sobre Sugar Ray Robinson.
Um artigo sobre Sugar Ray saído no The Ring, considerado a ‘Bíblia do Boxe’, dizia que ele só poderia ser melhor se andasse sobre a água. E foi mais ou menos isso que ele pretendeu fazer ao trocar o boxe pela dança em 1952.
Chegou a gravar umas cenas com Gene Kelly, o homem de Serenata à Chuva, e continuou a molhar-se quando fez uma digressão com a Count Basie Orchestra. Em Paris, o público não lhe foi simpático. Com alguma razão. Afinal fazer sapateado e saltar à corda ao mesmo tempo era mais coisa de circo do que de verdadeiro music-hall. É verdade que, durante o Maio de 68, foram as paredes de Paris que nos ensinaram várias lições importantes. Uma delas era «Il est interdit d’interdire», coisa que Sugar Ray levou à letra mais de dez anos antes. Outra, atribuída a Marguerite Duras, que viveu esse mês com uma dedicação infinita, alertava: «Não sabemos para onde vamos, mas isso não é motivo para não irmos».
Não terá sido completamente por acaso que casou com uma bailarina, Edna May Holly, que actuava no Cotton Club e fez uma famosa digressão pela Europa na companhia de Duke Ellington. Quando regressou ao boxe, em 1955, declarou que se encontrava em plena forma. Afinal, durante a sua temporada em França, corria dez quilómetros por dia e passava cinco horas consecutivas a dançar. Nunca fora habituado a perder. Os seus números eram impressionantes no dia da sua retirada, em 11 de Novembro de 1965: 173 vitórias, 9 empates e 6 derrotas. Gastou todo o dinheiro que ganhara e, tal como sugeria Eduardo Ohata, adquiriu diabetes. Afinal não se é Sugar por dá cá aquela palha. A insulina passou a fazer parte do seu dia a dia.
Nos Olivais Sul da minha adolescência, ali a caminho do inesquecível Porco Sujo onde passei muitas horas a falar de futebol com o meu amigo Aventino Teixeira, houve quem tivesse o cuidado de avisar nas traseiras de um prédio: «Ò drogado, olha a parede!»
Não faço ideia de quantos terão chocado com ela antes de a lerem. Ou se o berro urbano evitou cabeças rachadas e narizes partidos. Sei que Sugar Ray Robinson se movia ao ritmo do coração nos ringues, mas nos palcos punha-se, por falta de jeito, a jeito da ferocidade da crítica. As paredes falam e as cicatrizes calam. Sugar dançava como uma fera ferida no corpo, na alma e no coração. Erasmo Carlos tinha razão: «Animal arisco/Domesticado esquece o risco»."

Porquê três pontos?

"À partida todos os jogos são iguais, mas uns valem 3 pontos e outros apenas 2. Porquê?
Porque foi entendido que, face à postura super defensiva de muitas equipas, era de privilegiar o jogo de ataque bonificando os vencedores com mais um ponto.
A ideia até pareceu lógica: face à incapacidade (ou falta de vontade) de penalizar o jogo passivo e o anti-jogo, a solução seria atribuir mais um ponto a cada vitória.
Acontece que, com essa decisão, os jogos empatados – mesmo que seja a 5-5 ou 6-6, em que todos jogaram abertamente ao ataque –, traduzem-se no paradoxo de as equipas amealharem um ponto e perderem dois! Além de nunca ter ficado provado que as vitórias resultam sempre de mais e melhores ataques (relembro um célebre União da Madeira-Sporting, 1-0, de há uns anos atrás...), quer-nos parecer que o princípio da igualdade levou aqui um grande abanão...
Vejamos o que acontece noutras modalidades.
Em Portugal, apenas o hóquei em patins utiliza o sistema 3-1-0 (V-E-D) idêntico ao futebol; no basquetebol não há empates e utiliza 2-1 (V-D), isto é, cada jogo vale 3 pontos e penaliza com zero a falta de comparência; e o andebol utiliza 3-2-1 (V-E-D), valoriza o empate com 2 pontos e a derrota com 1, pelo que cada jogo vale 4 pontos; haverá aqui alguma discrepância, já que 3 empates (6 pontos) equivalem a 2 vitórias, enquanto no futebol e no hóquei os 3 empates (3 pontos) equivalem a uma única vitória. Não nos referimos ao râguebi, pois estava em vias de aplicação (julgamos que ainda a título experimental) um sistema para valorizar também o número de ensaios.
Mas voltando ao futebol: como tantas vezes acontece, a necessidade aguça o engenho, pelo que um pontinho ajuda muito na contabilidade das equipas mais modestas, ainda que seja com o autocarro à frente da baliza; e se para alguns um ponto é ganho, para quem quer ser campeão dois pontos são enorme perda!
Que fazer, então, para repor o tal princípio da igualdade?
O mais lógico seria voltar ao sistema antigo (2-1-0 para V-E-D) e acabar com os 3 pontos por vitória; que passaria apenas a funcionar como forma de desempate na classificação final, bastando considerar o número de vitórias como primeira regra.
Outra maneira seria acabar com os empates: cada jogo valeria sempre 3 pontos, atribuídos à vitória; em caso de empate ao fim dos 90 minutos, haveria desempate por pontapés de penalti, sendo atribuídos 2 pontos ao vencedor do desempate e 1 ao derrotado.
Em jeito de conclusão, esta crítica ao sistema de 3 pontos centra-se nos campeonatos longos, com mais de 12 equipas, por se nos afigurar desnecessário e injusto; mas reconhece-se que é muito útil nas poules mais pequenas – com 4 equipas, a uma ou a duas voltas, por exemplo – já que oferece muito mais opções para os desempates."

E assim nasceu uma estrela: Pelé

"O melhor e mais famoso futebolista de todos os tempos espantou pelo primeira vez o mundo como estrela da equipa que deu o primeiro campeonato do mundo ao Brasil no Suécia 1958. Com apenas 17 anos (Esta é a sexta história na nossa série enquanto Portugal não entra em campo no Mundial da Rússia)

"Quando o Pelé marcou o quinto golo na final, tenho que ser honesto. Só me apeteceu aplaudir", confessou, muitos anos mais tarde, Sigvard Parling. O sueco falava como testemunha em primeira mão na emergência do maior talento que o futebol já tinha visto na maior palco do futebol, o Mundial. Que para muitos ainda é o melhor jogador de sempre (sim, já sabemos que isto é coisa para muita discussão) e o maior embaixador de sempre do desporto sem a benesse das redes sociais. Falamos, claro, de Edson Arantes do Nascimento, Pelé para os amigos.




Não é fácil separar a história do ícone brasileiro da lenda que o rodeia mas, numa coisa, é possível convergir. O mito começou a ganhar forma no Mundial 1958 na Suécia perante o espanto dos adversários que, não só viram uma estrela nascer, como o Brasil atingir o primeiro título na competição.
Se hoje o pentacampeão mundial é visto como a potência mais reconhecida do universo futebol, há 60 anos era mais vista como uma nação do "tenta", sobretudo após o famoso débacle frente ao Uruguai em pleno Maracanã no Mundial de 1950 e outros saídas inglórias da prova. Aliás, as camisolas amarelas que hoje são tão exemplificativas do Brasil nasceram precisamente como forma de expurgar o equipamento branco que até ao "Maracanazo" tinha sido o principal.
Ao contrário do amadorismo verificado noutras edições do Mundial, os canarinhos prepararam esta edição quase como um desígnio nacional, com Vicente Feola a reunir todos os atletas um mês antes (o que na altura não era muito comum) para afinar tudo ao pormenor. Era uma seleção recheada de craques, com nomes míticos como Nilton Santos, Didi ou Garrincha. E que, só após muita pressão popular, incluiu o menino que se tinha estreado um ano antes com apenas 16 anos.
Pelé lá acabou por seguir na comitiva para o país nórdico onde a atenção mediática da competição era cada vez maior e daria ao então atleta desconhecido uma fama global sem paralelo. Se por estar tocado, se por Feola ainda não confiar no jovem de 17 anos, certo é que o herói desta trama só se estreou no último jogo da fase de grupos (juntamente com Garrincha). Jogo onde fez uma assistência e, segundo os relatos que chegam da época, deixou logo água na boca. Não mais saiu do onze inicial. 

Futebol de ataque
O Brasil jogava num inovador 4-2-4 (na altura, a esmagadora maioria das equipas europeias atuava com 3 defesas) que lhe permitia estar um passo à frente dos adversários que terão sido dos mais equilibrados em qualquer edição do Mundial. Além da anfitrião Suécia que, com a sua melhor geração de sempre, chegou à final, havia ainda a França de Kopa e Fontaine (melhor marcador de sempre numa só edição da prova, com 13 golos em seis jogos), a reforçada Alemanha campeã em título ou um País de Gales também a deixar a sua marca.
Foi uma competição com recorde de golos marcados e onde, mesmo com todo o talento à sua volta, Pelé rapidamente se assumiu como um talento inédito. O menino de sorriso tímido encarregou-se de ludibrirar os defesas adversários rumo ao título que faltava ao seu país. Após ter marcado o único golo na vitória por 1-0 sobre os galeses, seguiu-se a França nas meias-finais, jogo encarado quase como uma final antecipada. Se dúvidas ainda havia sobre o nascimento de uma estrela, foi aqui que elas se dissiparam.
O Brasil saiu a ganhar 2-1 para a segunda parte num jogo muito equilibrado, até que o génio se soltou . Em 23 minutos, Pelé fez um hat-trick e apresentou-se ao mundo em todo o seu repertório de fintas e finalização.


Na final, restava a Suécia a jogar em casa e, não querendo repetir o trauma de 1950, os canarinhos procuraram evitar o ambiente festivo que os havia recebido dessa feita. Fechados na concentração, chegaram a colocar em causa a entrada em campo se houvesse cheerleaders como estava previsto, por exemplo. Pedido que foi aceite após alguma diplomacia.
Para não confundir com o equipamento amarelo da equipa que jogava em casa, a equipa teve que entrar em campo com camisolas azuis (que ainda hoje são o equipamento secundário do Brasil) compradas com a brevidade possível. Sem o seu recente amarelo talismânico, os canarinhos rapidamente se viram em desvantagem mas, também rapidamente, igualaram a contenda por intermédio de outro craque desta geração, Vavá, que bisou antes do intervalo para colocar o resultado em 2-1.
Mais uma vez, seria após o intervalo que Pelé se mostraria, desta feita com um bis que inclui um dos golos mais icónicos da sua carreira. Sem deixar cair a bola no chão, recebe de peito, passa a bola por cima do defesa e remata para o fundo das redes. Não admira que este lance tenha levado o público sueco a aplaudir de pé e Sigvard Parling a proferir a frase que abre este texto. O mundo nunca tinha visto nada assim.


No final, a vitória fixou-se nos 5-2, com a Taça Jules Rimet finalmente a ser levantada pelos brasileiros. Foi a primeira vez (e única) que uma selecção não europeia venceu a competição no Velho Continente e os festejos do outro lado do atlântico foram imensos.
Em Pelé, ainda hoje o mais jovem de sempre a marcar na final da prova, estava encontrado a bandeira da selecção que ganharia dois dos três mundiais seguintes e que passou a carreira a deslumbrar públicos como verdadeiro embaixador do futebol. Reinado do Rei que só começou em 1958."

Alvorada... do Martins

A Cor do Dinheiro... Vamos ver se a 'estória' está bem contada !!!

Benfiquismo (DCCCXXIII)

Lá dentro...

Lanças... Colectânea de Roubalheiras!