"Aí temos, pois, o Ano Novo a chegar. Cumprindo-se o ciclo dos tempos, a pouco e pouco tinham diminuído os dias e fora-se restringindo a luz, até ao momento ancestral e mágico do solstício de Dezembro. Mas, a partir daí, como sempre, inverte-se o curso da física. O que era ténue, resulta mais definido; o que definhava, matura e cresce; o que se reduzira, volta a progredir. Amplia-se agora o ritmo dos movimentos e dinamiza-se a frequência dos gestos outrora adormecidos. E como a actividade do Homem sempre se acerta pela cadência da Natureza, de tristes, os dias passam a tornar-se conviviais; noites tempestuosas fazem-se alvoradas serenas. Prescindimos do Fogo que tivémos de levantar nós próprios, para que o calor nos aquecesse, e agora é varrer as cinzas que iremos lançar à terra, receptiva a medrar as sementes e raízes. Preparamos roupa leve. Guardamos agasalhos e resguardos. A cerração do Inverno começará a dar espaço à claridade e as nuvens irão abrir-se ao esplendoroso Sol nascente. Os dias, antes feitos negativos, vão ser a partir de agora, dias tornados positivos.
O que até há pouco antes era desânimo e lassidão e frio, vai poderosamente transfigurar-se em acções de afecto, de alento e de paixão. No nosso caso, incontida paixão. Paixão feita dessa vibrante e mágica pulsão com que há quase 107 anos se impulsionam os nossos Campeões que, em todo o caso, apenas parecemos querer controlar durante um tristonho Outono e um Inverno menos fácil...
Mas o solstício que antecede o fim do ano traz a esperança da nova luz que o novo ano sempre traz à Luz.
Que essa luminosa claridade constitua agora a melhor e mais ajustada saída do tempo das trevas e que, definitivamente, possa tocar as vidas de todos os portugueses. Ou, pelo menos, da extensa maioria dos portugueses especiais que por afecto e com paixão única, comungam da nossa Mística indefectível.
Para eles, para todos nós, FELIZ 2011 !"
José Nuno Martins, in O Benfica