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terça-feira, 19 de janeiro de 2016

Como um deus antiquíssimo...

"Em Janeiro Eusébio nasceu e morreu. Janeiro é mês de Eusébio e é forçosamente obrigatório falar dele. Mesmo com o risco de nos repetirmos... Pouco importa...

Em Janeiro nasceu e morreu. Janeiro é mês de Eusébio. Vamos então falar de Eusébio. Já escrevi tanto sobre Eusébio que receio repetir-me. Pouco importa. Repito-me.
Eusébio merece.
15 de Junho de 1961.
Os Campeões da Europa não param. Em todo o lado se exige a presença das estrelas que cintilam nos céus do mundo. Cinco Benfiquistas extenuados - Costa Pereira, Germano, Santana, Águas, Coluna, Cavém - fazem parte da Selecção Nacional que perde com a Argentina (0-2) dois dias antes do jogo do Restelo. Depois, o Benfica segue para Paris para jogar no Torneio do Racing.
Primeiro, mais um nome importantíssimo: Béla Gutmann.
Bélla Gutmann: nasceu em Budapeste, em 1900; foi avançado-centro do MTK Budapeste e jogou pela selecção da Hungria nos Jogos Olímpicos de 1920 (Antuérpia) e 1924 (Paris). Exerceu a actividade de professor de dança e iniciou a carreira de treinador em 1933, no Twente Enschede, na Holanda, ganhando o campeonato. Chamaram-lhe «Feiticeiro», «Mago», «Bruxo», «Profeta»... Ser campeão parecia um vício: no Ujpest, campeão da Hungria e vencedor da Taça Mitropa, uma espécie de Taça dos Campeões da Europa Central; no Ciakanal, vencedor da Taça da Roménia; de novo campeão e vencedor da Taça da Hungria com o Ujpest; campeão italiano com o Milan; primeiro treinador estrangeiro de um grande clube brasileiro e campeão paulista com o S. Paulo; campeão português com o FC Porto na sua primeira época em Portugal. Adepto de um estilo de jogo moderno, ofensivo, privilegiando as trocas de bola constantes e a rapidez nas movimentações colectivas, Béla Gutmann não gostava se de manter durante muito tempo no mesmo clube. Em 1958 está no Porto: comanda uma época fantástica do FC Porto, vencedor do campeonato com 81 golos em 26 jogos. Em 1959 transfere-se para o Benfica por verbas invulgares para a época: cerca de 400 contos por ano. O toque de midas continua a acompanhá-lo em Lisboa: campeão nacional na primeira e segunda épocas - o seu terceiro título consecutivo; campeão Europeu nos dois anos seguintes, torna-se o técnico mais bem pago do Mundo - salário fixo anual de 500 contos, acrescido de prémios (100 contos pela vitória na Taça de Portugal; 250 pelo campeonato; 300 pela Taça dos Campeões). Treina a Selecção Nacional, ele que já fora treinador da Hungria. Zanga-se com os dirigentes do Benfica, vai para Montevideu e para o Peñarol, ganha a Taça Intercontinental, regressa à Luz em 1965. os tempos são outros. Um ano sem vitórias, o despedimento, a partida para Viena. Em 1973, nova experiência no FC Porto. Sem sucesso. Béla Gutmann morreu em 1981.

Um nome para não esquecer
Béla Gutmann, portanto. O treinador de um Benfica, campeão da Europa que viaja para Paris, agora já com Eusébio integrado na equipa. A primeira jornada opõe o Santos ao Racing de Paris e o Benfica ao Anderlecht. Vencem os mais fortes: na final, pela primeira vez na história deste jogo fantástico que o mundo adora, Eusébio defrontará Pelé. O Parque dos Príncipes será palco de reis.
Eusébio recordou por várias vezes esse tempo fascinante: «Paris seria, se jogasse, o local do meu grande exame. Se jogasse, claro! Senti que o meu futuro se decidiria ali. E não me enganei. Contra o Anderlecht, joguei no lugar do Coluna, que adoecera com anginas. Foi complicadíssimo! O Anderlecht era uma grande equipa em formação: veloz, combativa, com força. Uma surpresa para nós, que contávamos com facilidades. Eu estava cheio de nervos, não joguei muito bem, mas ganhámos 3-2 e marquei um golo».
Eusébio fez.
Dois dias depois, a final. O Benfica entra em campo com a linha avançada de Berna: Coluna, Santana, José Augusto, Águas e Cavém. Eusébio fica no banco. Terá de esperar pelo seu momento. E que momento!
O Santos entra em campo com a linha avançada que soa como uma letra de samba: Dorval, Mengálvio, Coutinho, Pelé e Pepe. Aos 20 anos, Pelé está  no auge do seu jovem esplendor. Derrama-o em campo: ao intervalo, já os brasileiros vencem por 4-0, como golos de Lima, Coutinho, Pepe e Pelé. O público de Parque dos Princípes delira com a gala da melhor equipa do Mundo.
Eis agora um daqueles episódios extraordinários que faz do futebol um pasto fértil para lendas.
Exaustos por um final de época alucinante, os jogadores do Benfica parecem desistentes. Logo no início do segundo tempo, Pepe marca o quinto golo. A hecatombe é, tudo leva a crer, inevitável.
Eusébio entrara para o lugar de Santana. Ergue-se no centro de uma equipa em destroços com o vigor de um deus antiquíssimo: é Hércules e os seus trabalhos, Atlas com Terra sobre os ombros, Sísifo empurrando a rocha pelas escarpas da montanha.
Eusébio: ninguém mais esqueceria este nome.
Durante meia hora foi verdadeiramente avassalador. Absoluto: é capaz de ser esta a palavra certa. Ao minuto 63 marca o seu primeiro golo; no minuto seguinte, inventa um «penalty» que José Augusto desperdiça; três minutos depois reduz para 2-5.
O Parque dos Príncipes entra em delírio. De dentes cerrados, absorto na bola, no jogo, nos movimentos próprios e alheios, Eusébio é maior do que Pelé, rouba~lhe o protagonismo, força-o a um papel secundário, subalterno. Milhares de pessoas, encantadas, enfeitiçadas, gritam o seu nome. Ele não as ouve. A sua obra está ainda incompleta. O seu esforço é monstruoso: por si só, reconstrói um conjunto em seu redor, carrega-o consigo no trilho de uma recuperação espectacular. A luta pode ser desigual, mas ele ignora-o. É um vendaval de músculos, tendões, ossos e cartilhagens que desaba sobre um opositor entontecido. O seu entusiasmo desperta a rebeldia dos companheiros. O Benfica domina, agora, os acontecimentos. Eusébio marca mais um golo, faltam dez minutos para o final do jogo, há quem acredite ainda no impossível. Dez minutos não chegam. Pelé é Pelé e teima em recordá-lo àqueles que por momentos, o esqueceram: faz o 6-3 final.
Dia 15 de Junho de 1961: o Benfica-Santos ficará riscado a giz na lousa dos acontecimentos inesquecíveis."

Afonso de Melo, in O Benfica

O animado voo Lisboa-Lourenço Marques

"Uma hospedeira angelical, uma 'mistela' que sabia a limão e um livro aterrador, no início da digressão a África.

A digressão que o Benfica fez a África no Verão de 1950 durou quase dois meses e foi fértil em peripécias dignas de registo. Mas comecemos pelo início: o voo de Lisboa e Lourenço Marques.
No avião Constallation 65 seguiam a 'caravana encarnada' e dois jornalistas, um do jornal O Benfica e o outro do Record, que pareciam estar numa disputa de quem tiraria mais e melhores notas. Enquanto o da casa conversava alegremente com os jogadores, o do Record já tinha meio bloco preenchido. Mas não foi por isso que o testemunho do nosso jornalista ficou aquém do colega. Muito pelo contrário! Foi graças a ele que chegaram até nós sumarentas observações do ambiente vivido no voo. A saber: estava bem-disposto e ninguém mostrou uma pinga de medo por estar a milhares de metros do solo. Aliás, houve até quem dissesse que era homem suficiente para 'dar uma volta pelo «exterior» para apreciar melhor a paisagem' mas, felizmente, ficou-se só pelas palavras. Não que lhe faltasse a coragem mas, provavelmente, pelas vistas dentro do avião serem um bocadinho mais interessantes que as lá de fora. Escreve o nosso que a hospedeira que lhes calhou em sorte era 'um anjo louro de sorriso permanentemente aberto'. Era simpática e solícita mas felizmente, não percebia português ou, caso contrário, teria corado com os piropos da comitiva. 'A todos atende, numa impressionante actividade. E a muito mais ela teria de atender se soubesse entender todos os portugusíssimos «atiranços» da rapaziada'. Alheia a tudo o resto, lá serviu o almoço que até estava bom mas a que faltava... vida. E por vida entenda-se vinho ou, como escreve o nosso enviado, 'pinga'. Em vez disso, tinham à disposição 'uma mistela fresca, a saber a limão'. Provavelmente limonada.
O relato do percurso terminou com uma curiosidade deliciosa, ao contrário das bebidas: um dos jogadores, o Gil, recebeu de um amigo um livro para se ir entretendo durante o voo. E que entretenimento! A história era sobre um avião que se despenhava mar adentro e o narrador, que fazia parte da tripulação, descrevia a sua própria morte. 'Bons amigos, os do Gil', diz o nosso jornalista e dizemos nós!
Desta digressão o Benfica trouxe, entre outras coisas, um exótico dente de elefante que pode ser visto na área 26. Benfica universal, no Museu Benfica - Cosme Damião."

Marisa Furtado, in O Benfica

Redirectas IV - Glu Glu Glu

Então o gajo vai e dá um PERU daqueles?  E eu que ontem não lhes liguei nenhuma como é hábito. Que pena. Tinha passado uma boa noite de gargalhadas. Tenho para mim que este ano já eram. Não gosto de deitar foguetes antes da festa mas pelo andar da carruagem tempos uma luta a 2. Será? Eu cada vez mais acredito no tri...nta e cinco. #rumoao35 #carregabenfica