"Uma hospedeira angelical, uma 'mistela' que sabia a limão e um livro aterrador, no início da digressão a África.
A digressão que o Benfica fez a África no Verão de 1950 durou quase dois meses e foi fértil em peripécias dignas de registo. Mas comecemos pelo início: o voo de Lisboa e Lourenço Marques.
No avião Constallation 65 seguiam a 'caravana encarnada' e dois jornalistas, um do jornal O Benfica e o outro do Record, que pareciam estar numa disputa de quem tiraria mais e melhores notas. Enquanto o da casa conversava alegremente com os jogadores, o do Record já tinha meio bloco preenchido. Mas não foi por isso que o testemunho do nosso jornalista ficou aquém do colega. Muito pelo contrário! Foi graças a ele que chegaram até nós sumarentas observações do ambiente vivido no voo. A saber: estava bem-disposto e ninguém mostrou uma pinga de medo por estar a milhares de metros do solo. Aliás, houve até quem dissesse que era homem suficiente para 'dar uma volta pelo «exterior» para apreciar melhor a paisagem' mas, felizmente, ficou-se só pelas palavras. Não que lhe faltasse a coragem mas, provavelmente, pelas vistas dentro do avião serem um bocadinho mais interessantes que as lá de fora. Escreve o nosso que a hospedeira que lhes calhou em sorte era 'um anjo louro de sorriso permanentemente aberto'. Era simpática e solícita mas felizmente, não percebia português ou, caso contrário, teria corado com os piropos da comitiva. 'A todos atende, numa impressionante actividade. E a muito mais ela teria de atender se soubesse entender todos os portugusíssimos «atiranços» da rapaziada'. Alheia a tudo o resto, lá serviu o almoço que até estava bom mas a que faltava... vida. E por vida entenda-se vinho ou, como escreve o nosso enviado, 'pinga'. Em vez disso, tinham à disposição 'uma mistela fresca, a saber a limão'. Provavelmente limonada.
O relato do percurso terminou com uma curiosidade deliciosa, ao contrário das bebidas: um dos jogadores, o Gil, recebeu de um amigo um livro para se ir entretendo durante o voo. E que entretenimento! A história era sobre um avião que se despenhava mar adentro e o narrador, que fazia parte da tripulação, descrevia a sua própria morte. 'Bons amigos, os do Gil', diz o nosso jornalista e dizemos nós!
Desta digressão o Benfica trouxe, entre outras coisas, um exótico dente de elefante que pode ser visto na área 26. Benfica universal, no Museu Benfica - Cosme Damião."
Marisa Furtado, in O Benfica
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