Últimas indefectivações

segunda-feira, 4 de março de 2013

A camisola do ridículo

"Ser árbitro em Portugal é bom. É mais do que bom, é óptimo. Ser árbitro em Portugal também roça, na maior parte das vezes, o ridículo. Mas aí a culpa não é do País, é dos árbitros. Os árbitros em Portugal estão acima da lei. Isto é, não têm de prestar contas a quem quer que seja pelas poucas vergonhas que cometem. Ou melhor, prestam contas a si próprios o que vai dar no mesmo. Há países em que os árbitros vêm a público falar dos seus erros. São países onde não fica bem a um árbitro visitar um presidente de clube na véspera de arbitrar um jogo desse mesmo clube. São países onde não fica bem a um árbitro frequentar as casas dos presidentes ou dirigentes de clubes e ponto final. Em Portugal os árbitros não têm vergonha. Não têm vergonha de, em pleno relvado, tirarem as insígnias da FIFA para oferecerem ao treinador de uma das equipas que acabaram de dirigir.
O recato não é palavra importante. Pelo contrário, é o exibicionismo que lhes marca a existência. Em qualquer país civilizado, um árbitro teria vergonha de beijar os pescoços dos jogadores no final dos jogos. É uma questão de decoro. Em Portugal, o mais barato dos árbitros faz gala em abraçar jogadores (sempre os da mesma equipa) e ser fotografado com eles exibindo sorrisos macabros. É uma questão de decência. Neste caso, de falta dela. Poderíamos ter visto tudo, mas não. Em Portugal, os árbitros fazem sempre questão de nos surpreender. Por isso até já vimos um árbitro tirar a camisola no final de um jogo e, como se fosse um jogador, oferecê-la ao público. É por isso que ser árbitro em Portugal é bom. Mas mete nojo."

Afonso de Melo, in O Benfica

Rabo competitivo

"A frase é de Bélla Guttmann, proferida em 1962. Na altura, o Benfica bicampeão da Europa, depois de aviar Barcelona e Real Madrid, perdia o Campeonato Nacional para o Sporting. Como era possível? Na fortaleza de Costa Pereira, Germano, Cavém, Coluna, José Augusto, Águas, mais os emergentes e sensacionais Eusébio e Simões. “Não há cu para duas cadeiras”, judiciou o técnico austro-húngaro, ainda hoje considerado um mago da bola.
O Benfica acaba de perder a hipótese de reconquistar a Taça da Liga. Há meses, perante o mesmo adversário, o FC Porto foi afastado da briga na Taça de Portugal. O problema é de rabo e de cadeiras? É, é mesmo. Por mais consistente que uma equipa seja, o futebol tem uma lei terrorista, mesmo cruel, essa que reza o empeço de vencer todas as competições. Guttmann tinha razão. Os rabos, maiores que sejam, não cobrem todas as cadeiras competitivas.
Surpresa com a eliminação do Benfica na Liga? Surpresa na anterior eliminação do FC Porto na Taça? Sem fundamento. Afinal, que aconteceu, recentemente, ao Barcelona, a melhor equipa mundial da actualidade  O Real Madrid, dos nossos Mourinho e Ronaldo, esmagou a turma catalã, em recinto familiar, sem ponta de controvérsia. Faltou rabo ao colectivo de Messi? Faltou mesmo. A cadeira escaqueirou-se, outras se vão fragmentar. Com rabo alheio. Rabo competente que até não é síncrise de outro rabo não menos competente. Mas menos rabo para o imperativo de mais rabo.
Guttmann introduziu a doutrina do rabo. Fê-lo sabiamente. Já lá vão anos, muitos anos. Já lá vão rabos, muitos rabos. O povo adepto fica rabioso, mas não adianta rabujar. Rábula de Guttmann? Rabugice com rábida."

Sem espinhas

"1. Foi bem mais fácil do que se esperava o nosso triunfo de domingo passado e a equipa demonstrou sempre uma frescura assinalável para quem tem já tantos jogos nas pernas nas últimas semanas. Esta época, temos um 'banco' que nos dá confiança e que permite uma certa rotatividade no plantel. Mas não pode haver distrações, até porque o FC Porto possui uma boa equipa e continua a ter grandes penalidades assinaladas a seu favor e não as tem assinaladas contra (e desta vez houve uma que poderia ter mudado muita coisa).

2. Importante a vitória frente ao Bayer Leverkusen, que nos colocou nos oitavos-de-final da Liga Europa... e com hipóteses de sonhar. Grande golo (e exibição) do jovem Ola John e grande exibição, também, da nossa claque, desta vez apenas com motivos de elogios, já que guardou os bem dispensáveis petardos, que tão caros têm saído ao Clube. Os No Name provaram que é possível fazer a festa e apoiar a equipa sem petardos. Infelizmente, voltaram a prejudicar o Clube no jogo com o Paços de Ferreira. Lamentável. Que estranha forma de benfiquismo.

3. O Boavista ganhou um recurso ainda do tempo do Apito Dourado. Não que lhe tenha sido dada razão nos motivos que levaram à sua descida de divisão em 2008, mas por questões meramente processuais. É claro que o Boavista tem razão num ponto: então e os outros? Mas que os dirigentes que estiveram na altura e que, por sinal, lá voltaram agora estiveram metidos em práticas condenáveis, isso é inegável. E por isso deveriam ter sido castigados. Mas a nossa justiça é o que é, as escutas contam o que contam, siga tudo como se nada se tivesse passado. Se o grande responsável, Pinto da Costa, passou praticamente incólume e por aí continua a 'poluir' o ambiente futebolístico nacional...

4. Ainda agora houve disso mais um exemplo. Após o jogo com o Benfica (2-2), PC fez de um erro da empresa que trata do site da Liga de Clubes um grande 'caso', afirmando que 'o resultado foi este, não foi o que a Liga queria que acontecesse'. Agora, ouvido pela Liga, afirmou que não quis prejudicar a imagem da instituição e que não houve mais que um erro. E o processo foi arquivado.
Enfim, mais uma triste actuação de quem há muito devia estar irradiado do desporto."

Arons de Carvalho, in O Benfica

Objectivamente (Afro-Benfica)

"África continua a evidenciar grande paixão benfiquista e a cada visita que faço a esse incrível continente trago experiências de paixão e exemplos de dedicação que emocionam qualquer um.
Na Guiné vão proliferando as novas «Gerações Benfica« e o «Embaixador» Mantorras não tem mãos a medir para as solicitações dos ferrenhos adeptos do Glorioso. De cada visita às Escolas de Formação o entusiasmo vai redobrando e a vontade dos jovens entrarem no Universo Benfiquista é cada vez maior.
É este o ponto fulcral que quero realçar: nunca o Benfica deve deixar aliviar a sua presença no mundo da Lusofonia, fortalecendo esses laços com presenças de nomes que estejam ligados à história do SLB nos núcleos que reclamam cada vez maior aproximação ao emblema-mãe.
Está ainda na retina a festa inesquecível que foi feita em Bissau e arredores numa visita da Equipa B para defrontar o Estrela Negra. Foram milhares e milhares de pessoas que se mobilizaram para estar perto dessa representação com os velhos ídolos Chalana, José Henrique e Reinaldo no centro de todas as atenções. Ou as manifestações espontâneas de benfiquistas em Moçambique para verem um simples jogo de futebol, basquetebol ou futsal na Televisão, promovendo tertúlias já bem famosas no país de centenas e centenas de pessoas que se reunem sempre que «há Benfica»!
Regressado muito recentemente de Angola vejo o retorno de uma maior «intensidade benfiquista» no desejo da conquista do título deste ano, após algum domínio do azul e branco nos últimos anos devido aos títulos alcançados. Voltam a agitar-se os corações encarnados.
As crianças andam equipadas a rigor na rua. Os pais mostram com orgulho a preferência clubística dos filhos e acreditam cada vez mais no êxito do Glorioso já para esta época! É por isso que a equipa deve manter esta chama que lhe tem valido bons pontos na presente época!"

João Diogo, in O Benfica

Grândola vermelha

"Foi a mais carismática senha do 25 de Abril, era uma canção de protesto, falava de fraternidade, de igualdade, de vontade, em tempos difíceis  tempos cruéis, com uma ditadura de feição rural e prática obsessiva, ainda que agonizante nos seus anos terminais. "Grândola Vila Morena", de José Afonso, está de regresso à ribalta. Cada vez que um ministro sai do gabinete, cada vez que participa numa sessão pública, povo descontente entoa a canção, sinónimo de protesto numa sociedade desumanizada, ademais com governantes que se mostram incapazes de reabilitar o País, ao invés acentuam as desigualdades, os desequilíbrios, contribuem para uma verdadeira e dolorosa depressão nacional. Num mero exercício mental, há dias, lembrei-me do que seria se os associados e simpatizantes do Benfica, na Luz ou noutros recintos desportivos, decidissem cantar "Grândola Vila Morena", nos últimos trinta anos, sempre que a nossa equipa foi vítima de injustiças. Já se percebeu o que teria acontecido? O tema seria repetido até à exaustão, tantas foram, nesse período, os atentados à verdade desportiva, perpetrados nos campos ou nos corredores institucionais da bola.
Nunca se cantou "Grândola Vila Morena"? Oportunidades não faltaram. Pior ainda, oportunidades continuam a não faltar. Só recentemente, a memória regista, há dois anos, a forma como o Benfica, no início da Liga, foi empurrado para a desilusão. A memória regista, na temporada passada, a forma como o Benfica, numa fase capital, foi prejudicado ao ponto de hipotecar as suas possibilidades na reconquista do Campeonato. A memória regista, já esta época, desempenhos arbitrais, com o Sporting de Braga em casa e com a Académica fora, a título de exemplo, jogos bastantes para podermos dizer que somos os líderes morais da competição. E para cantarmos, cobertos de razão, "Grândola Vila Morena"..."

João Malheiro, in O Benfica