"O incrível Shrek e a sua cáfila de cafajestes acham que é de bom tom espancar um pobre pai de família que se dedica ao cumprimento do seu ofício. Vai daí, o incrível Shrek e a sua banda filarmónica de sopradores de tíbias, avançam como hordas de hunos enfurecidos destruindo tudo à sua passagem, de uma forma que faria inveja ao própria Átila, Flagelo de Deus, mas menino de coro ao pé desta corja de selvagens sem açaime. O incrível Shrek é um bom aluno da Escola Superior de Trampolinice, Dolo, Burla, Trapaça e Tratantada dirigida por D. Palhaço.
O incrível Shrek não tem culpa, vendo bem. Foi-lhe dito, a si e à sua súcia de calinos, que o País dos Homens de Cócoras se governava a golpes de funda, à custa de pedradas, pauladas e assaltos de clavina em punho na orla das florestas ou dos viadutos sem vigilância. O incrível Shrek e a sua caterva de valdevinos aprenderam depressa a regra número um dos cobardes: atacar em grupo um indivíduo sozinho, fugir depressa mal o tenham espezinhado, negar com veemência quando os acusarem do gesto.
Foi-lhes ensinada como os rudimentos do abecedário dos alarves por Madaleno, o rei dos poltrões. O incrível Shrek e a sua récua de facínoras levaram à letra tudo o que lhes foi inculcado: pontapearam estoicamente as rótulas de um infeliz, insultaram-lhe pai e mão e restante família até à quinta geração, pisaram-lhe as carótidas até o verem arroxear. Depois do trabalho feito, o incrível Shrek e a sua alcateia de cáfaros fugiram a sete pés como pusilânimes que são. E recusaram a culpa. E teimaram na inocência. E fincaram pé na vergonha do silêncio. O problema do incrível Shrek, e da sua chusma de inimputáveis, não é uma abertura de instrução. É a própria instrução; ou falta dela. É o civismo ou a animalidade. Tudo aquilo, enfim, que distingue os homens das bestas."
Afonso de Melo, in O Benfica