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segunda-feira, 29 de junho de 2015

Todos serão postos à prova

"A proliferação de articulistas e comentadores é reflexo do nosso tempo, ruidoso e impreciso. Vem isto a propósito do muito que foi dito e escrito precisamente há um ano. Do desastre previsto e das previsões falhadas. Vem igualmente a propósito do novo exercício que os mesmos hoje fazem sobre o futuro do Benfica e do seu treinador.
Há um ano, havia quem avançasse com os graves problemas que a queda do BES iria trazer ao Benfica. Questionaram a sustentabilidade do projecto e anteciparam incumprimentos em relação a obrigações assumidas pela SAD. Depois, foi a PT e a ameaça que pairava sobre os clubes em função da retirada da marca como main sponsor. Pelo meio disto tudo, não faltaram as repetidas referências ao 'monstro' do passivo.
Curiosamente, neste tempo, o Benfica conseguiu reduzir passivo, reestruturar dívida, substituir a PT pela Emirates, consolidar a BTV como player no mercado televisivo e, ao mesmo tempo, fazer a época mais conseguida do ponto de vista desportivo da sua história. Mais, o Benfica superou os 200 milhões de facturação, uma marca nunca antes atingida em Portugal. E tudo isto assumindo juros de mercado (e não de favor) pelos seus encargos financeiros, o que neste caso não é um pormenor irrelevante.
Falharam as previsões, mas ninguém, dos que anunciaram o desastre, fez qualquer errata. Repito, sinal dos tempos, ruidosos e imprecisos, que vivemos.
Há um ano, o Benfica tinha feito o inédito triplete, mas dois meses depois sentia-se um ambiente depressivo no ar. A 'desconstrução' do plantel alimentava o pessimismo que se tinha instalado entre os sócios e adeptos do clube. Este ano, com mais três títulos no futebol profissional, a história repete-se. Diz a sabedoria popular que não há duas sem três. Para o ano, voltaremos a ganhar e a entrar em depressão. Há coisas piores.
Quanto à 'desconstrução' do plantel, tão apregoada nos media, ela não é mais o que uma opção assumida, sem complexos nem equívocos, que tão bons resultados tem dado. Uma fórmula bem-sucedida nos últimos anos por parte de, pelo menos, dois clubes portugueses e que se traduz na descoberta de novos talentos, na sua valorização e na consequente renovação dos seus plantéis.
É uma realidade transversal a todos os clubes e, mais do que um problema, tem sido assumida como uma oportunidade. A história já nos provou que, quando lutamos contra o assédio de clubes europeus financeiramente mais apetrechados, perdemos sempre, quer do ponto de vista financeiro, quer do ponto de vista desportivo.
Ultrapassado o BES, a PT, a "desconstrução", segue-se, este ano, a mudança de treinador e a aposta na formação. Dois problemas na perspectiva de muitos, duas oportunidades do ponto de vista do Benfica. 
Agosto ainda vem longe, mas os comentadores já alinharam o discurso apontando para a herança e para o enorme desafio de Rui Vitória. E é, efectivamente, mas, mais do que uma situação conjuntural, o desafio de Rui Vitória é uma inevitabilidade. Chegar ao Benfica é sempre um tremendo desafio, independentemente de como ou quando se chega.
Mas, se quisermos ser sérios e factuais, o desafio não é menor para nenhum dos outros treinadores dos chamados 'grandes'. Um deles teve ao seu dispor - e a afirmação não é minha, mas do seu presidente - o melhor plantel dos últimos 30 anos e nada ganhou. Há dois anos que o clube não conquista o título mais desejado, o que é um lastro difícil de gerir. Não há nada pior de combater que a desconfiança das bancadas, esse será o seu maior desafio nos próximos meses.
O outro treinador aparece envolto numa espécie de mito sebastianista, desafiando as limitações financeiras e o regime de austeridade em que o clube vivia há vários anos.
Também não é irrelevante o facto de suceder a um treinador que sai em ruptura com a administração do clube, mas que é querido pelos seus jogadores. Não é, igualmente, saudável tentar importar de forma maciça know-how, porque isso é sinal de que o novo treinador não reconhece competência aos actuais quadros e, pior, não vê neles capacidade para o acompanharem no desenvolvimento interno do projecto. Afastar pessoas também não é a melhor forma de chegar a uma nova casa. O sebastianismo, como sabemos, não acabou bem! Perdeu-se a independência.
Todos vão ter desafios diferentes, mas todos vão ser postos à prova. Focar apenas em Rui Vitória essa responsabilidade não só é absurdo como totalmente falso.
Finalmente, a formação. Rui Vitória não chega ao Benfica com a obrigação de fazer entrar em campo cinco jovens do Seixal na equipa titular. Vem apenas com a missão de não os bloquear no seu processo de crescimento, de os conhecer, de lhes dar as oportunidades que merecem. Tão simples como isto."


PS: Estou de regresso após uma curtas mas saborosas férias - como é habitual nesta altura do ano -, este ano o estaminé ficou a cargo do grande Capitão Redheart, que a boa hora regressou ao Indefectível... Publicamente, dou-lhe os parabéns pelo excelente trabalho.
As alterações/melhoramentos no Indefectível vão continuar, para já o agendamento dos post's é a principal novidade... hoje, devido ao meu regresso, e com muitos post's em 'espera', o tempo de intervalo entre artigos é curto, mas a partir de amanhã iremos voltar ao ritmo da última semana...

O recomeço

"Os benfiquistas, pelo menos alguns, vivem tempos de angústia. Entre certezas e dúvidas, casos como as possíveis partidas de Maxi, Gaitán, Jonas ou Lima constituem, depois da saída de Jorge Jesus, um autêntico desespero.
Nada de mais. Como se viu no FC Porto, equipas vencedoras têm de ser desmembradas: porque se completam ciclos, porque é preciso realizar mais-valias, porque não se podem 'cortar as pernas' a jogadores que tentam fazer um último contrato melhorado, que lhes garanta o futuro. Por outro lado, a chegada de outro treinador sempre agita as águas. Vem à tona o inevitável 'modelo de jogo', que talvez implique uma aposta nas alas, maior consistência no miolo, um número 10 mais criativo, uma dupla de pontas-de-lança, dois trincos, três centrais e só não dois guarda-redes porque os regulamentos não o permitem. Enfim, a mudança dispensa muita gente e tira outra tanta da zona de conforto, mas é com ela que as coisas avançam e o futuro começa. E não existe mudança que não traga alguma instabilidade.
A hora da verdade impõe ao Benfica - e eu diria ainda mais a outros - diminuição da despesa e controlo apertado de tudo o que não seja essencial para comprar melões. Mas a experiência de gestão da era LF Vieira dá garantias de que se privilegiará o investimento inteligente, que é aquele que pode conduzir ao sucesso desportivo sem dar cabo do equilíbrio das contas.
A incerteza criada com a contratação do novo técnico, a quem foi atribuída a difícil missão de substituir um colega carismático e que apresentou resultados, é normal. Problema seria se a estrutura que o amparasse fosse amadora e não lhe desse os meios de que necessita para ser bem sucedido."

Bernardo e Telma

"1. O futebol jovem português está de parabéns. Depois da campanha relevante dos sub-20 no Mundial da Nova Zelândia conquistámos, ontem, com brilhantismo, a presença, vinte e um anos depois, na final do Europeu de sub-21. Terça-feira em Praga poderemos ambicionar, legitimamente, a conquista de um troféu que ficaria, e muito bem, na sala de troféus da nossa Federação e seria uma das peças mais emblemáticas da futura - e cada vez mais próxima Cidade do Futebol, ali bem perto do complexo desportivo do Jamor e, naturalmente, do Estádio Nacional.
2. Na tarde de ontem a nossa selecção de sub-21 pareceu-me, em certos momentos, o Barcelona de Pep Guardiola. Ou, agora, e em certos jogos, também o Bayern de Munique. Uma contínua troca de bola. Cada jogador sabendo onde está o colega. Geografia no passe e no jogo. Visão global do relvado. Passes curtos e eficazes. Um sentido colectivo impressionante. E com notas de brilhantismo e de magia proporcionadas por Bernardo Silva e de eficácia e posicionamento únicos em William Carvalho. E a segurança de José Sá e de Paulo Oliveira. E o sentido posicional de Sérgio Oliveira e de João Mário. O faro de golo de Ricardo e de Ivan Cavaleiro. Sem esquecermos todos os outros jogadores que ajudaram a projectar, na Europa e no Mundo, e nestes dias, o futebol português. Foram momentos de verdadeiro esplendor na relva. Um tarde para repetir na próxima terça feira em Praga. E, no final dessa noite, um abraço imenso reunirá, desejo-o convictamente, e como ontem, toda a estrutura de uma equipa que é, de verdade, uma equipa de todos nós. E que tem em Pedro Pauleta um verdadeiro e permanente elo de ligação. Entre todos. A começar no seleccionador nacional Rui Jorge. Que bem merece uma referência particular pela sua liderança e, acima de tudo, pela excelência que o seu percurso vitorioso nesta e desta selecção evidencia. Com a certeza de que no próximo ano, no torneio olímpico de futebol, Rui Jorge liderará um conjunto de jogadores que poderão erguer, bem alto, o nome de Portugal. O que também é uma boa notícia, na linha e na sequência dos Jogos Europeus de Baku, para o Comité Olímpico de Portugal.
3. Peço desculpa mas neste Europeu de sub-21 as exibições de Bernardo Silva deixaram-me, ao mesmo tempo, feliz e triste. Feliz pelo talento que deixou nos relvados nestes quatro jogos. Talento e virtuosismo. Capacidade e eficácia. E triste por saber que partiu do seu clube do coração - e de sempre - sem ter uma oportunidade de evidenciar no Seixal ou na Luz estas exibições que agora deixam muitos da Europa do futebol a olhar para o Mónaco. Sei bem que Bernardo Silva foi vendido por um valor bem significativo. Tal como João Cancelo e, ao que se sabe, Ivan Cavaleiro. Mas nem o relevante valor da transferência afasta a minha legítima tristeza. Que só é vencida pela certeza de que o futuro próximo de Bernardo Silva nos proporcionará tardes e noites de vitórias, tardes e noites de portentosas exibições. E alguns de nós que sabemos combinar paixão com razão o que desejamos, com Rui Vitória, é que os novos Bernardos Silvas - dos sub-19 e sub-20 das nossas selecções nacionais - tenham muitas oportunidades no Seixal e, em crescendo, algumas outras no Estádio da Luz. Conheço, mesmo que seja de forma indirecta, - mas através de vozes de amigos de sempre e que são de uma dedicação única! - o imenso benfiquismo da dedicada família de Bernardo Silva. E é também, e em razão deste facto singular, que continuo a conciliar a alegria com a tristeza. Com a convicção que a sua transferência para o Mónaco de Leonardo Jardim foi no tempo, no momento e nas circunstâncias adequadas. É, aqui, bem verdadeira a frase de Ortega y Gasset, que «somos nós e as nossas circunstâncias».
4. No desporto aprendemos, e muito, o que são, na e de verdade, as pessoas. Percebemos a angústia daqueles que nunca foram dirigentes desportivos benévolos mas proclamam, sistematicamente, os valores mais profundos do desporto. Sentimos a imensa tristeza que invade a pretensa alma de alguns que enriquecem à custa do desporto mas não percebem, acreditem, as lágrimas vertidas no bonito rosto de Telma Monteiro quando conquistou a medalha de ouro nos primeiros Jogos Europeus que estão a terminar na capital do Azerbaijão. Aquelas lágrimas ao escutar o hino nacional, como ontem na sua sempre bela escrita o nosso director evidenciava, levam-nos, sempre, às lareiras do nosso passado. Com os nossos saudosos entes mais queridos aprendemos a sentir o hino, a ter orgulho nas nossas conquistas, a partilhar a alegria dos atletas vitoriosos. Telma Monteiro, que é também um dos símbolos do actual e correto ecletismo do Benfica, mostrou-nos, como todos os outros medalhados, que temos razões, e muitas, para os felicitarmos vivamente, para reconhecermos o esforço das respectivas Federações e das suas estruturas de apoio e para acreditarmos no empenho organizativo do nosso Comité Olímpico. E olharmos, com esperança mas com realismo, para os próximos Jogos Olímpicos que decorrerão na atractiva e histórica cidade do Rio de Janeiro. Que continua sempre linda!
5. Um dos princípios que ensinei a muitos no âmbito do Direito Internacional era o da não ingerência nos assuntos internos de outros Estados. Principio cheio de permanentes e constantes violações. Por mim, e neste domingo em que o Sporting concretiza uma assembleia geral para abordar auditorias realizadas às últimas gestões, não vou violar aquele princípio. Os indícios quase se assemelham ao referendo grego acerca das posições europeias. Mas, aqui, o problema toca-nos, a todos, em razão da moeda comum, o euro. Que é, também, e em números relevantes, a questão implícita às auditorias em ponderação!
6. Parabéns a Miguel Oliveira o homem do momento no nosso motociclismo!"

Fernando Seara, in A Bola

Relatórios, notas e árbitros

"A despromoção de Marco Ferreira, o árbitro que ajuizou a final da Taça de Portugal, para além da surpresa e da interrogação, trouxe a lume o funcionamento do Conselho de Arbitragem (CA) presidido por Vítor Pereira e, em especial, o relacionamento entre a Secção Profissional e a Secção de Classificações (em que avulta a figura do vice-presidente Ferreira Nunes). Esta será a oportunidade para superar uma crise evidente e clarificar (ou cumprir...) os procedimentos que respeitam às nomeações e às avaliações dos árbitros. E também melhorar. O que salta à vista é demasiada opacidade e conflitualidade pessoal. O "meio" não ajuda mas há necessidade de comunicar e mostrar transparência - custe o que custar, será sempre o melhor caminho num terreno cheio de egos. Digo eu.
Comecemos pelo pecado original, que reside na eleição dos membros do CA através do "método de Hondt" (vício reiterado pelo Governo-legislador na última revisão da lei), que acabou por resultar numa vivência em regime de facção. Prova-se que não resulta. Continuemos pelo meio dos regulamentos, norteados pela distinção entre quem nomeia e quem avalia e classifica. A Secção Profissional designa os árbitros tendo em conta a classificação da época anterior, a "avaliação do seu desempenho na época em curso" e o "grau de dificuldade dos jogos". Para esse efeito, deve ter acesso aos "relatórios de avaliação técnica" dos árbitros existentes em "plataforma electrónica" e às decisões sobre as reclamações dos relatórios apresentadas junto da Secção de Classificações pelos árbitros. Por outro lado, essa Secção de Classificações estabelece os critérios de nomeação dos "observadores" e de classificação dos árbitros e desses observadores, designa os "observadores" que avaliam as equipas de arbitragem, recebe e valida os relatórios dos observadores e transmite-os aos árbitros, dá nota à prestação dos árbitros com base nesses relatórios e faz a respetiva classificação final. Neste quadro bipartido de competências e obrigações, o que está a correr mal? O que é que se deve conhecer e não se conhece porque não se dá a conhecer ou não se solicita? Será só o "grau de dificuldade dos jogos" declarado pela Secção de Classificações, omissão que, ao que relata a imprensa, motivou interpelação da FPF ao Governo? Ou será que falta informação para acompanhar com igualdade de armas o desempenho dos árbitros ao longo da época e traduzir isso nas nomeações? Dar respostas com clareza "será sempre melhor do que a habitual especulação do "meio". Digo eu."

Obrigados a ganhar

"Aproxima-se um dos campeonatos mais interessantes dos últimos anos. O Benfica está sob forte pressão. Depois de Vieira ter deixado sair Jesus para ir buscar Rui Vitória, se não for campeão toda a gente lhe apontará o dedo acusador. Há seis anos, nenhum benfiquista lhe exigiria o título. Depois da conquista do bicampeonato, porém, todos querem o tri. E se, além de não o conseguir, o Benfica ficar atrás do Sporting, então será o fim da picada.
O Sporting também está sob forte pressão. Depois da "loucura" de ter ido buscar Jesus, as expectativas dos adeptos ficaram altíssimas. Noutras circunstâncias, ninguém pediria à equipa mais do que um 2.° ou 3.° lugar. Mas tendo em conta o que se passou, todos pensam no título. E se o Sporting não o ganhar (e, por hipótese, não se apurar para a Champions), então a operação-Jesus será vista como um fiasco e Bruno de Carvalho ficará com a cabeça a prémio.
O FC Porto está igualmente sob forte pressão. Depois de dois anos a ver navios, Pinto da Costa tem de ser campeão. E ao insistir na continuidade de Lopetegui contra a vontade de muitos adeptos, o velho presidente pôs a cabeça no cepo. Se perder a aposta, a hegemonia portista no futebol português terá mesmo acabado - e o homem que fez do Porto uma potência futebolística acabará por sair pela porta baixa.
As circunstâncias conjugaram-se, pois, para que os presidentes dos três grandes, Luís Filipe Vieira, Bruno de Carvalho e Pinto da Costa, estejam obrigados a ganhar no mesmo ano. Como não podem ganhar todos, a pressão sobre cada um será fortíssima - prometendo um dos campeonatos mais disputados de sempre."

Conta, conta...!!!



Numa pré-época, com tanta turbulência, não deixa de ser significativo, que umas declarações, com este teor, passem praticamente despercebidas... Seria estranho, mas vendo bem as coisas, até não é!!!

Joel...



PS: Com algum atraso, aqui fica a entrevista do Joel, que no seu primeiro ano no Benfica, ganhou tudo... com competência, e com um discurso, que deixa os Benfiquistas orgulhosos...