"O futebol profissional em Portugal enfrenta uma fase de decisões importantes. Os anos vão passando e a realidade é que a qualidade da nossa liga não melhora, os espetáculos não evoluem, os estádios estão, na sua maioria, vazios e o fosso entre grandes e pequenos é cada vez maior. O tempo passa e o cenário não melhora. Esta falta de visão e perceção da realidade pode fazer com que a nossa liga fique cada vez mais periférica. Se continuarmos nesta trajetória, ao invés de nos aproximarmos das Big-5, estaremos mais próximos de sermos ultrapassados pela Bélgica e ficarmos cada vez mais longe do lugar que já foi nosso.
A realidade
A saída de Pedro Proença abre uma nova oportunidade que os clubes devem agarrar com as duas mãos. Todos percebemos, pelos discursos dos candidatos, que o que a anterior administração da Liga nos pretendia vender não existe. Esta noção de realidade é fundamental para podermos dar passos certos. A dificuldade é enorme, até porque todos percebemos que os adeptos estão desiludidos com os espetáculos e com as condições de muitos estádios de equipas da primeira liga. Exemplo disto foi a última jornada da Liga. No domingo passado realizaram-se cinco jogos. No total estiveram presentes 23.400 espectadores, sendo que treze mil estiveram no Vitória e quatro mil em Vila do Conde. Quando não conseguimos atrair espectadores ao jogo, como vamos conseguir atrair investidores que valorizem os direitos de TV da nossa liga?
Todos percebemos que desperdiçámos tempo precioso nos últimos anos para dinamizar e transformar a nossa Liga. A questão é que os nossos concorrentes estão num caminho diferente e apresentam maior união. A Bélgica, por exemplo, percebeu que tinha de alterar o seu quadro competitivo. Diminuiu o número de equipas na sua liga principal (de 18 para 16) e dividiu a classificação em três grupos, dois de seis e um de quatro equipas que lutam por objetivos diferentes. Com este novo quadro competitivo todos ganham: o número de equipas enquadra-se na dimensão da população, existem mais jogos equilibrados e a emoção é superior. O resultado será sempre o crescimento da competitividade interna e a geração de maiores receitas que terá repercussões nas competições europeias.
Contexto diretivo
As eleições são uma oportunidade para podermos dar um novo rumo. Os primeiros discursos dos dois candidatos a presidente da Liga Portugal são conscientes e demonstram um corte com o passado recente. Esta pode e deverá ser a primeira grande alteração na nossa Liga. O próximo presidente terá a difícil missão de fazer com que os clubes percebam que têm de tomar decisões difíceis e estruturais, mas fundamentais para que possamos recuperar o tempo perdido.
Analisando o contexto desportivo em Portugal, percebo a dificuldade da missão. A renovação dos quadros diretivos de muitos clubes ainda é uma miragem, o que faz com que olhem para a liga como tantos outros o fizeram no passado. Assim, para muitos dirigentes, a liga é um veículo que lhes permite ter maior influência e poder no futebol português, que será convertido em benefício e facilidades desportivas, ao invés de se tornar num organismo cada vez mais independente e com autonomia para tomar as decisões corretas, para benefício de todos.
Candidatos
Não posso deixar de referir que a forma como as eleições foram marcadas é demonstrativa de vícios do passado. Por norma, as eleições intercalares na Liga são marcadas com celeridade e em prazos curtos. Hoje todos percebemos o motivo pelo qual, no dia 22 de fevereiro, José Gomes Mendes, atual candidato e ex-presidente da mesa da Assembleia Geral, anunciou o agendamento de eleições para o dia 11 de abril, ou seja, 48 dias depois!!! Fê-lo porque decidiu candidatar-se e porque apresentou a sua candidatura alguns dias depois. Aparentemente, José Gomes Mendes enquadra-se na forma de estar do futebol português que pensa primeiro em si próprio e depois no bem de todos, mas será que é isto que precisamos para o futuro? No lado oposto, Reinaldo Teixeira apresentou-se com um discurso consciente e até duro. Tocou em alguns pontos importantes, dos quais destaco dois. O primeiro são os valores. A transparência (algo que não existiu na marcação destas eleições), a credibilidade, o profissionalismo e a competência. O segundo foi a necessidade de melhorarmos a qualidade dentro dos gabinetes. Concordo totalmente com esta afirmação. Devemos, de uma vez por todas, deixar as politiquices de fora e apostar em quadros qualificados que, em conjunto, consigam dar um novo rumo à nossa liga.
FPF - As surpresas
A FPF anunciou a distribuição das pastas para os vice-presidentes e surgiram algumas surpresas. A primeira foi o facto de Rui Caeiro aparecer como vice-presidente cooptado. As eleições não são recentes? Então por que motivo Rui Caeiro não estava presente nos cadernos eleitorais para ir a votos? Para complicar ainda mais esta situação, Rui Caeiro foi nomeado vice-presidente sem direito de voto na FPF, mas será o representante da FPF na liga de clubes, onde terá direito de voto. Isto faz sentido??
Figura decorativa?
Pedro Proença, atual presidente da FPF, ficou com a supervisão da arbitragem. Isto significa que o conselho de arbitragem perde a sua independência e autonomia e que o seu presidente, Luciano Gonçalves, tem um cargo meramente decorativo?
Outro ponto estranho foi o facto de Fontelas Gomes, cuja experiência estava assente no conselho de arbitragem, ter ficado com as pastas do Futsal e Futebol de praia. Para complicar tudo isto, Pedro Proença, atual presidente da FPF, ficou com a supervisão da arbitragem. Isto significa que o conselho de arbitragem perde a sua independência e autonomia e que o seu presidente, Luciano Gonçalves, tem um cargo meramente decorativo?
A valorizar: Diogo Costa
Se ainda temos ambições na Liga das Nações tal deve-se ao guarda-redes do FC Porto, Diogo Costa.
A desvalorizar: Roberto Martinez
A Seleção Nacional não evoluiu desde a chegada de Roberto Martínez. Não há coerência nas decisões e as justificações do selecionador são lamentáveis. Martínez alimenta estatutos e não a competitividade."