Últimas indefectivações

quarta-feira, 16 de março de 2011

Carlos Velasco

Perguntam vocês que em é Carlos Velasco? Se eu fosse o Sousa Cintra diria que o Benfica não precisa de mais pontas de lança!!! Mas felizmente não sou... ( e os Guns 'N Roses também não têm concerto marcado para o Estádio da Luz!!!)
Ontem, estava a ver a parte final do Manchester United-Marselha, num local público, numa televisão com pouca definição, quando uma das 'decisões mais normais do mundo futebolistico' foi tomada(!!!):
Aos 72 minutos, Wes Brown defesa do Man United afasta a bola da sua zona defensiva com um pontapé para a frente, Valbuena pequeno médio do Marselha pressiona o adversário, e já depois da bola sair do pé do Inglês, o diminuto Francês não evita o contacto com o adversário!!! Wes Brown cai, fica chateado, levanta-se, e empurra o opositor. Valbuena recua, e levanta os braços. Carlos Velasco o árbitro, aproxima-se, e mostra amarelo ao Valbuena!!!
Extraordinário, Valbuena tem uma entrada sobre o adversário muito parecida, com a maneira como Alan entrou sobre Javi Garcia, de uma maneira menos agressiva, é verdade, sem cotovelo, mas a forma foi muito idêntica. Wes Brown legitimamente irritado pela forma perigosa, e desnecessária, como o Francês entrou, resolveu empurrar o adversário, isto é, reagiu de uma forma muito mais agressiva do que Javi Garcia fez em Braga!!!
Enquanto em Portugal, o jogador que sofreu a falta foi expulso!!! Em Inglaterra o jogador que cometeu a falta levou amarelo!!! Enquanto em Portugal a corja dos anti's racionalizou de todas as maneiras mais hipócritas, e cretinas o mais do que evidente erro do árbitro, em Manchester ninguém discutiu a justiça da decisão, inclusive o Valbuena...
Carlos Velasco não é nenhum super-árbitro, limitou-se a aplicar as leis do jogo, interpretando de forma correcta o lance, o curioso é que os anti's que defenderam a expulsão do Javi, ao observarem esta jogada de forma desapaixonada, sem hipocrisia, e sem cretinize, tenho a certeza absoluta que nem sequer a questionaram...!!!

A matemática e a toalha

"Há duas expressões que, no desporto, se usam quando já não se acredita no que se diz. Uma espécie de certidão negativa de «profissão de fé». Refiro-me ao «enquanto for matematicamente possível» e ao «ainda não atirámos a toalha ao chão». Agora que se aproxima o fim das competições, ouvimo-las a toda a hora, seja porque não se ganha, seja para não descer, seja para o que for.
A primeira é a medida aritmética do défice de expectativa. Uma espécie de PEC, Pontos Em Crise. Está para as competições como as sondagens para os derrotados. Ou, como «as contas públicas em ordem» estão para o Estado. Acontece que a suposta possibilidade da matemática é o modo não assumido da impossibilidade da realidade. Como alguém disse, «na matemática, para saborear com prazer o fruto é preciso conhecer bem as suas raízes.» Mesmo que as raízes quadradas...
A segunda é a medida higiénica da não aparência de desistência. Não atirar a toalha ao chão, pressupõe desde logo, que haja toalha. E que haja toalheiro. É uma frase para se evitarem outras formas de se atirar. Por exemplo, atirar a primeira pedra, ser atirado às feras, ou atirar às malvas o esforço. Ou, ainda, atirar à cara dos jogadores o insucesso, embora os adeptos não possam atirar o dinheiro à rua, ainda que, às vezes, atirem com tudo ao ar (incluindo a toalha). No fundo, diferentes modos de atirar o barro à parede...
Misturando as duas asserções, por que não passar a dizer, com mais rigor geométrico, «ainda não atiramos matematicamente a toalha ao chão»? Ou, mais rasteiramente, «enquanto a matemática for possível no chão»? Ou, por fim, em expressão surrealista, «enquanto o chão for matematicamente uma toalha»?"
Bagão Félix, in A Bola

Viva o campeão

"E, mais uma vez, a estatística e a perspetiva histórica vingaram. O futebol pode não ser uma ciência exata, expõe-se frequentemente a estranhos ataques de ilógica, chegou a criar milionários nos jogos de adivinhação de resultados, mas no cômputo das temporadas raramente descarrila dos prognósticos.
À 4.ª jornada, após o pior começo de sempre do Benfica, a possibilidade de o Porto não vencer este campeonato já não passava de uma ínfima probabilidade aritmética. Só muita incompetência de dirigentes, treinadores e jogadores do Porto poderia possibilitar uma inversão do que, realmente, estava escrito no plano de retoma que o clube engendrou após a pequena crise gerada pelo excesso de zelo de algumas instâncias disciplinares – que lhe terá custado um ano sabático da Liga dos Campeões.
Agora, nos meses que faltam para concluir o campeonato mais desequilibrado da história do futebol português, assistiremos a um esforço patético de legitimação da reconquista, balanceando já os anos do porvir e um novo ciclo triunfal.
A arrogância foi o mais nobre dos sentimentos que décadas de vitórias instilaram na família portista, consolidando a noção de que só é possível perder, de vez em quando, por motivos marginais e ilegítimos, como a violência dos guardas pretorianos dos túneis de acesso aos balneários que, segundo os bons espíritos, teria proporcionado a glória efémera de Jesus e seus discípulos. Em contraste com essa embófia congénita de profundo desprezo pelos adversários principais, potenciada pelas repetidas consagrações, todos os outros atributos do futebol portista chegam a passar despercebidos, para desespero dos que gostavam de sentir mais carinho e reconhecimento nacional, sem esquecer a desproporcionalidade comercial e a colagem de uma identidade grotesca que demora em compaginar-se com os novos tempos.
É com naturalidade que se assiste nestes dias à exaltação de uma pequena, quase irrelevante, manobra de intimidação de alguns vigilantes pelos bons costumes na pessoa de um notório adversário, na circunstância vice-presidente do clube que tem o tal túnel perigoso. No ano Cardinal, apenas mais um número de circo, o dos palhaços ricos, os menos engraçados da arena.
Apesar de alguns pensadores da bola insistirem em não conseguir analisar os acontecimentos à luz das estatísticas, o campeonato português continua em retrocesso competitivo agudo, como o demonstram as enormes diferenças pontuais entre os vários níveis da classificação. Mas, da Liga, não se ouve o mais pequeno comentário, um murmúrio, um lamento, nada.
Na última jornada, foi possível seguir em direto pela televisão cinco jogos que primaram pela falta de qualidade técnica, desinteresse competitivo e baixo nível espetacular, com realce para a cobardia da maioria dos treinadores e para a gritante falta de frescura física das equipas, particularmente as que não estão envolvidas nas provas europeias.
O futebol é mau, as bancadas esvaziam, as audiências caem, os dirigentes encenam, as arbitragens tresandam, os treinadores amocham, os jogadores emigram. E, no entanto, o país tranquiliza-se na miragem do cenário ideal: viva o campeão!"