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quarta-feira, 19 de fevereiro de 2025

Vermelhão: o sofrimento não nos larga!!!


Benfica 3 - 3 Mónaco


Esta equipa é incapaz de vencer uma partida tranquilamente! Como já afirmei em crónicas anteriores, parece que é de propósito! Hoje, se o Trubin e o Otamendi tiveram algumas culpas, o Lage na minha opinião foi o principal culpado, com a incapacidade de mudar a equipa ainda na 1.ª parte, quando foi perfeitamente visível, que o meio-campo do Benfica estava completamente perdido... Houve um jogo até aos 60m e outros jogo, após a dupla substituição, com a entrada do Dahl e do Amdouni!

Se com o Tino, é possível jogar em inferioridade numérica na zona central, porque o Tino vale por dois (às vezes por três!), sem o nosso polvo, jogar com 2 (Barreiro, Kokçu), contra 4 adversários, foi suicida! E o resultado só não foi pior, porque o tivemos alguma sorte com aquela bola no poste e com os monegascos, a definirem mal algumas das cavalgadas do Minamino!

Até as bancadas perceberam imediatamente, que com o Dahl no meio, a marcar praticamente individualmente um dos adversários (com o Barreiro e com o Kokçu, também com marcação individual definida), o Benfica ficou por cima do jogo, começamos a recuperar a bola rapidamente, e acabámos por chegar ao golo do empate 2-2...

A eliminatória devia ter ficado fechada, mas no outro lado, também mudaram a estratégia, e num lance onde existe clara falta sobre o Nico (além de parecer que o avançado do Mónaco controlou a bola com o Braço), o Trubin voltou a decidir mal (devia ter defendido com o pé), e ficámos novamente em desvantagem no jogo, empatados na eliminatória! Felizmente, ainda houve força para ir à procura do golo, antes do prolongamento (que na minha opinião seria fatal, devido à nossa falta de capacidade física), com o Pavlidis novamente decisivo (esteve nos três golos), o Amdouni 'esperto', e com o Kokçu oportuno, marcámos o golo decisivo!

Pavlidis o MVP merecido, está com a confiança toda... se tivesse confiança em rematar com a canhota, seria um dos melhores avançados na Europa (e provavelmente não estaria no Benfica!). O Aktur na direita não é a mesma coisa, mas pelo menos marcou um golo... que seja suficiente para a confiança regressar!

Ficou provado que o Barreiro a '6' rende muito menos, o Schjelderup fez um jogo péssimo... O Carreras muito sozinho, melhorou muito com o Dahl! A falta de matreirice do Aurnnes nos duelos corpo a corpo é irritante! Mas é impossível não gostar do 'bacalhau': até na recuperação de lesões, o Aursnes, aparentemente é o único no Benfica, que recupera antes do tempo previsto! Uma máquina!

O António ficou marcado por alguns passes errados, mas defensivamente foi decisivo, tal como o Araújo... O Nico, apesar da falta no 3.º golo (minha opinião) esteve nos 3 golos sofridos: no 1.º está mal posicionado; e no 2.º vai à queima, e deixou um buraco na linha defensiva...
Ainda não vi repetições, do penalty revertido pelo VAR (no estádio pareceu-me claramente penalty), mas mais uma vez a puta holandesa tentou lixar o Benfica! Como é que é possível ele ter chamado o árbitro no penalty sobre o Aursnes?! Depois no lance com o Nico ficou calado... O facto das equipas portuguesas continuarem a ter árbitros Holandeses em praticamente todos os jogos, deveria provocar uma reação da FPF, mas está tudo calado...

O Sorteio é na Sexta, eu pessoalmente prefiro o Liverpool, porque  não gosto de jogar contra equipas com o estilo de jogo do Barça! Além disso, a forma como surpreendemos o Barça na partida da Luz, dificilmente se repetirá... O Liverpool está a jogar muito bem, mas é uma equipa que 'deixa' jogar, este Benfica, com o bloco mais baixo, pode surpreender os Ingleses... como já aconteceu em vários jogos esta época, na Champions!

Apesar da felicidade pela chegada do Benfica, a mais uns Oitavos, da Champions, hoje assisti à partida, com algum 'conforto' emocional, apesar de todos os altos e baixos! Pois, com esta vitória, será muito mais complicado o Benfica ser Campeão! A eliminação seria uma vantagem para o Campeonato! Eu sei que os românticos acham que os jogadores ganham muito e só tem que correr mais que os outros, mas pragmaticamente, as coisas não se passam assim...


Com as lesões e o calendário sobrecarregado, será praticamente impossível competir com um Sporting sem Europa! Os Oitavos, também vão ser jogados em 1 semana, até podemos voltar a jogar Quarta e depois Terça, com um jogo no meio (Nacional na Luz) e depois em Vila do Conde após o 2.º jogo dos Oitavos! Uma nota importante, o 2.º lugar deverá dar ao Benfica a entrada direta na Champions, tal como aconteceu o ano passado: com o Campeão da Champions, muito provavelmente qualificado diretamente no seu Campeonato, abre-se uma vaga, que será usada pela equipa com melhor ranking nas pré-qualificações, e neste momento o Benfica está em clara vantagem...


Mas o jogo mais importante, é o de Sábado, contra o Boavista! Eu, jogava com o Dahl e o Amdouni, tal como jogámos nos Açores, com o Bruma ao lado do ponta-de-lança... Com o Aursnes e o Kokçu no meio-campo, é importante reforçar o miolo com mais um jogador e o Dahl tem mostrado ser taticamente inteligente...

Vitória importante...

Benfica 36 - 31 Ystads
18-14

Estamos na luta pelo 1.º lugar, mas temos que voltar a vencer na Suécia e depois decidir tudo com os Espanhóis na Luz, e esperar que a diferença de golos nos seja favorável!

10 minutos para a história


"1. Há efemérides e efemérides. Cumpriram-se na última quarta-feira, dia 13 de Fevereiro, 47 anos sobre um dos acontecimentos mais fabulosos ocorridos no relvado do antigo Estádio da Luz. Ao minuto 54 do dérbi de Lisboa, o muito do parou.

2. Recordemos como a imprensa desportiva registou, no dia seguinte, o lance que resultou no golo que daria a vitória do Benfica sobre o Sporting: 'Cavungi centrou do lado direito, Vítor Baptista recebeu a bola no peito antecipando-se a Inácio e disparou uma autêntica bomba com o pé direito ao ângulo superior esquerdo de Botelho'. A esse minuto fabuloso de um ponta de lança fabuloso seguiram-se 10 minutos de pura poesia.

3. Um dérbi. O Estádio da Luz com lotação esgotada. Uma bela tarde de sol. A explosão de alegria. Bandeiras ao alto. O árbitro prepara-se para reatar o jogo, mas não, não consegue. Vítor Baptista, deambulando de olhos no chão na área do Sporting procurava o brinco que perdera nos festejos do golo. O árbitro no centro do terreno à espera. Os jogadores do Benfica à espera. Toda a gente à espera. Foram 10 minutos únicos, uma disrupção magnificamente protagonizada por um jogador disruptivo, um génio a quem a vida não trataria bem.

4. Foi maravilhoso, acreditem os que não viram. O árbitro no centro do relvado, e a bola no centro do terreno, e os jogadores do Benfica e os jogadores do Sporting ajudando Vítor Baptista, e os apanha-bolas no mesmo afã de olhos no relvado. O brinco nunca apareceu. Vítor Baptista chorou-o no fim do jogo: 'O brinco custou-me 10 contos, o prémio do jogo são 8 contos, estão a ver isto? É pagar para trabalhar'. 

5. Foram 10 minutos para a história. Podiam ter sido mais. Foi pena não terem sido mais minutos, horas, meses, anos. Por mim, ainda podiam lá estar todos de olhos na relva à procura do brinco de Vítor Baptista. Aliás, para mim, nos seus sonhos, ainda lá estão todos no relvado à procura do brinco, e nós todos na bancada à espera, e eu com 20 anos ao lado do meu avô, que repetia baixinho: 'Este tipo é doido, este tipo é doido'.

6. Voltemos ao presente. Vencendo o Moreirense, no último fim-de-semana, o Benfica aproximou-se do líder do Campeonato. Neste sábado, joga-se a 22.ª jornada, e o Benfica vai a Ponta Delgada discutir com o Santa Clara os 3 pontos em jogo. Que seja uma boa e produtiva discussão.

7. No Mónaco, o Benfica começou a construir aquilo que todos esperamos que seja a qualificação para os oitavos-de-final da Liga dos Campeões. Até para a semana, Benfica europeu!"

Leonor Pinhão, in O Benfica

Augusto Manuel Carlota, um homem singular


"A extraordinária proeza do jovem adepto que desceu o Tejo em dois bidões, para ir assistir a um Benfica-Sporting

Vem de longe a velha máxima 'ser do Benfica não se explica, sente-se', e a verdade é que, ao longo dos tempos, os periódicos registaram ecos desse amor incondicional, dessa entrega total ao Clube.
A história que hoje se resgata do anonimato das páginas de jornais amarelecidos pelo tempo é provavelmente uma das mais singelas provas de tenacidade e amor ao Clube, protagonizada por Augusto Manuel Carlota, um ribatejano de 31 anos.
Estávamos em Fevereiro de 1969, quando o nosso protagonista resolveu descer o Tejo até Lisboa em cima de dois bidões, envergando uma camisola das águias, com o propósito de assistir ao dérbi entre o Benfica e o Sporting. Carlota percorreu o trajeto em 27 horas e 30 minutos. Diga-se, em abono da verdade, que não era nenhum novato nestas andanças. No ano anterior tinha tentado efetuar esta mesma proeza com uma simples boia, mas as coisas não lhe correram de feição.
Homem decidido e de rija têmpera, partiu ao meio-dia de domingo, dia 23, da sua Coruche natal, tendo chegado a Benavente pelas 21 horas, onde o esperava uma multidão que muito o aclamou. No dia seguinte rumou até ao Porto Alto, onde chegou pelas 17 horas.
A terceira etapa foi feita a dois tempos. Ao final da manhã, Carlota atingiu sem grandes problemas a Ponta da Erva e, da parte da tarde, aproveitando as correntes do Tejo, atingiu a doca dos Olivais pelas 19:30. Na fase final do trajeto, contou com a ajuda da sempre flamejante chaminé da SACCOR, sinalizando-lhe o local da chegada.
A última etapa, dos Olivais ao Cais das Colunas, apesar de ser a mais curta do longo périplo, acabou por ser também a mais exigente e penosa. Nessa manhã, o Tejo estava picado, e a forte corrente levou Carlota a desvia-se da sua rota e embater num portão. Valeu-lhe o rápido auxílio dos tripulantes de um navio, que lhe lançaram uma corda, permitindo ao nosso herói encontrar novo rumo. Ao longo do percurso, foram muitos os que o incitaram até ao Cais das Colunas, gritando vivas ao Benfica. Ali chegado pelas 14:30, foi saudado por muito público que o aguardava. Era visível, porém, o cansaço de Augusto Carlota.
Fisicamente debilitado, foi transportado para o Estádio da Luz, onde recebeu mensagens e foi o alvo de todas as atenções. Dedicou a proeza ao Clube do seu coração, mas optou por não estar presente no jogo, tendo regressado de autocarro a Coruche, onde uma multidão o esperava, orgulhosa do seu feito.
Conheça mais sobre os sócios do Benfica, na área 16 - Outros Voos, do Museu Benfica - Cosme Damião."

Ricardo Ferreira, in O Benfica

Lastimável


"Vejo futebol há 50 anos e não tenho memória de algo assim: em apenas quatro minutos, dois jogadores romperam os ligamentos do joelho e deixaram o relvado em maca. Não acredito em bruxas, mas...
É uma lástima, em primeiro lugar, para os próprios - que vão ter pela frente um longo período de recuperação. É uma lástima para o Benfica, que, na primeira partida após o fecho do mercado, fica sem dois titulares.
Resta-nos a convicção de que há soluções no plantel para suprir estas ausências, a desejarmos que Bah e Manu Silva possam, em Maio, estar connosco e com os seus colegas no Marquês e comemorar o 39.º título.
Lastimável é também a campanha negra que a imprensa (falada e escrita) tem feito contra Bruno Lage. Quando perde, é porque perde; quando ganha, é porque devia ganhar por mais. Lage é preso por ter cão e por não ter.
Ora, quando o técnico setubalense pegou na equipa (e num plantel que não construiu), estávamos a 5 pontos do 1.º lugar. Agora estamos a 4, depois de já termos ido a Alvalade. Pelo meio, ganhámos a Taça da Liga, prosseguimos na Taça de Portugal, e apurámo-nos para a fase a eliminar da Champions League. Com Bruno Lage no banco, assistimos a algumas das melhores exibições do Benfica dos últimos anos, como as goleadas ao Atlético de Madrid e ao FC Porto, ou o maldito jogo com o Barcelona - que podia, e devia, ter tido outro desfecho. Como o próprio treinador tem referido, falta a dar consistência e regularidade a esta equipa. Isso vem com o tempo e com o trabalho. As contas fazem-se no fim. Mas, apesar da sua cordialidade, não querem ouvi-lo.
Se eu pudesse dar um conselho ao nosso treinador, era que tratasse a comunicação social da mesma forma que esta o tem tratado a ele. Para mim e, estou em crer, para a maioria dos benfiquistas, quando menos conversa, melhor."

Luís Fialho, in O Benfica

Uma enorme responsabilidade


"A responsabilidade social de uma instituição é proporcional à sua dimensão, o que quer dizer que o Benfica tem, neste capítulo, uma enorme responsabilidade. Por isso, chegado o Natal, tempo da família e do reconciliação social, ficam expostas muitas das fragilidades que o nosso país ainda tem e de que nenhum de nós está isento, seja uma instituição, seja um simples individuo. E não apenas por imperativos éticos ou religiosos, mas porque, de facto, uma sociedade funcional vive de equilíbrio e é tanto mais rica quanto consegue aproveitar o máximo potencial de cada um de nós, do mais dotado e brilhante ao mais humilde e limitado. Do mesmo modo, cada sociedade deve ser capaz de proteger os seus mais fracos, libertando outros para funções produtivas e de devolver a cada um de nós, na doença e na velhice, aquilo que deu ao bem comum durante a sua vida ativa. Falo, claro está, dos idosos que muitas vezes perdem os seus entes queridos e que ficam tantas vezes sós e isolados, dependentes da solidariedade e do calor humano que lhes podemos dar. Ou então das pessoas sem abrigo, muitas vezes com problemas de saúde física e mental e agravar-lhes a solidão. Todos, sem exceção, precisam (e merecem) de um acolhimento caloroso na falta da sua verdadeira família. Não é que se substitua o insubstituível, mas é de grande valor o que o Benfica faz ao abrir a sua casa principal para uma Consoada em Família, na tribuna, com o seu presidente, e nas Casas do Benfica nos espalharam a chama imensa por todo o Portugal. Por isso ganhámos merecidamente e agradecemos esse prémio da Fundação do Futebol: é um reconhecimento do que são e de como sentem e agem os benfiquistas."

Jorge Miranda, in O Benfica

Pinto da Costa é a pior coisa que aconteceu ao futebol português


"Compreendo o silêncio de Benfica e Sporting perante a morte de Pinto da Costa. Ensaiei na minha cabeça várias reações oficiais, e todas tinham o mesmo problema. As palavras queimam e perseguem-nos quando são mal escolhidas. Seria estranho resumir a duas linhas de circunstância uma reação quando há tanto por dizer, se quisermos ser sinceros. Uma instituição deve representar os seus membros, e seria difícil, provavelmente inadequado, ser uma extensão do que estes pensam no momento atual.
É complicado encontrar algo estruturalmente positivo para dizer acerca de Pinto da Costa, alguém que, com ocasional elegância, irónica souplesse e a tal cultura acima da média que o tornou uma referência entre filisteus, fez do ódio aos rivais uma figura de estilo amplamente apreciada. Tanto que produziu efeito como cultura e forma de estar. Tanto que foi copiada por outros dirigentes, inclusive no meu clube.
Já aqui escrevi que o ex-presidente do FC Porto inventou um clube, mas aquilo que fez, e sobretudo o modo como o fez, alastrou-se em forma de doença. Mais do que uma identidade clubística, a cultura materializada por Pinto da Costa tornou-se um padrão a seguir, a forma correta de fazer as coisas. Essa foi a sua maior conquista enquanto protagonista. Quantas vezes ouvi pessoas justificarem práticas dúbias no futebol com expressões como «as coisas têm de ser assim», «não podemos ser anjinhos», porque, se assim for, «vamos ser comidos», recorrendo às palavras históricas de José Maria Pedroto. O futebol português permitiu que se consensualizasse a ideia de que os «bons rapazes» são comidos e que só os maus ganham. Patrocinou uma nova era de competições em que essas eram as regras do jogo.
Posso recuar até à minha infância. Não me lembro de outro futebol competitivo em Portugal. O que hoje acontece assenta na seguinte dialética: as vitórias dentro de campo nunca são apenas isso. Desde que me recordo, assisto a uma engrenagem imparável de operações nos bastidores, negociatas estranhas, nomeações inexplicáveis, decisões escandalosas, personagens sinistras, critérios desiguais e, no final de tudo, uma série de platitudes proferidas pelas lideranças sobre um desporto aparentemente imaculado. Porque toda a gente tem contas para pagar, a vida continua e o povo mantém-se interessado. O povo, aliás, abraçou tudo isto como parte da diversão.
Criou-se uma nova camada de entretenimento em torno da trama, com muitos vilões, todas as suspeitas e nenhum culpado. Se o termo «verdade desportiva» ganhou relevância, é porque muitos precisaram dele para expor as mentiras em que o futebol português labora, e também porque tudo isto se tornou parte de uma discussão, o mal a combater enquanto parte de uma sociedade do espectáculo. A distinção entre licitude e ilicitude perdeu-se pelo caminho. O que sobra é uma construção social aceite por todos, onde a esperteza e a manha são tão importantes quanto o atleticismo e a vontade de competir.
Eu vejo um legado indissociável de Pinto da Costa e uma herança deixada a todos os que não o aplaudiram com fervor religioso: um futebol em que quase ninguém aceita o resultado final de um jogo, um desporto seguido apaixonadamente por milhões, mas no qual poucos acreditam piamente no que veem. Por muito que se elogie esta indústria pelos seus proveitos financeiros e desportivos, por muito que se reconheça que o desporto cumpre uma função social importante alheia à sua faceta mais pantanosa, o lugar em que o futebol nacional se instalou ao longo dos anos, naquilo que tem de mais doentio e antidesportivo, deve muito a Pinto da Costa. Foi ele quem demonstrou que era possível recorrer a quaisquer meios para atingir os fins pretendidos. Está para chegar o dia em que me sinto convencido de que essa cultura foi absolutamente erradicada do desporto e das principais esferas de decisão.
É natural que muita gente se sinta obrigada a dizer algo mais simpático neste momento. Aqui chegados, depois de tudo o que vimos ou deixámos acontecer com um piscar de olho maroto ou com um assobio para o lado, será mesmo altura de falar a verdade? Mais vale deixar ficar como está. Já passou. Esse foi um enorme mérito de Pinto da Costa: trabalhou nos corredores mais sombrios para vencer vezes suficientes. Fê-lo até conseguir cristalizar como verdadeiro e lícito, até admirável, aquele que foi o seu percurso no desporto. Por isso, se as últimas 72 horas nos mostraram algo, é que os adeptos de um clube não estão prontos para falar abertamente sobre o que se passou ao longo das últimas décadas. Arrisco dizer que nada mudará nesse capítulo, porque, muito antes de clamarmos pela verdade desportiva, já o então presidente do FC Porto mostrava o seu engenho na prática da pós-verdade.
Hoje, parece não ter havido escuta que o desmentisse, da mesma forma que não parece haver pessoa capaz de convencer outra de que uma coisa azul é amarela ou de que a Terra é mesmo redonda. Para o que der e viver, o futebol continuará a ser, depois de Pinto da Costa, um ajuntamento de terraplanistas: uns porque negam o amplo corpo de evidências, outros porque a vida lhes continuará a dar motivos para desconfiar. Talvez seja só isso e não valha a pena aspirar a mais.
Eu percebo. Se um presidente do meu clube vivesse até aos 87 anos e, no entretanto, me tivesse permitido celebrar a conquista de duas Taças dos Campeões Europeus e duas Taças UEFA, eu também estaria grato e tenderia a ignorar o resto. Assim se explica que, após uma eleição que viu Pinto da Costa ser derrotado sem apelo nem agravo, o FC Porto apareça aos olhos do comum adepto de outro clube como uma entidade em profunda angústia existencial. Pudera. O presidente que inventou tudo isto deitou fora o manual. Um clube que durante 40 anos fez da corrupção, das agressões, do ódio aos «vermes que merecem desprezo», da intimidação e da violência, dimensões não escritas da sua identidade. Conseguiu até que tudo isto se tornasse socialmente aceite, uma espécie de mal necessário, uma excentricidade em forma de clube de futebol com a qual tínhamos todos que aprender a viver.
Compreendam por isso o silêncio oficial, sem elogios nem críticas. Compreendam também que os demais adeptos ou as instituições que os representam não sintam o mesmo carinho por esta pessoa que agora nos deixa. O respeito institucional pelo qual tantos clamam hoje não encontrou reciprocidade nos últimos 40 anos. Compreendam que os adeptos questionem as conquistas de um clube ou de um presidente quando estas foram manchadas por décadas de práticas antidesportivas. Compreendam que esses adeptos jamais venham a considerar imaculada uma herança deixada nestes termos.
Pinto da Costa fez tudo o que estava ao seu alcance para ser a melhor coisa que aconteceu aos portistas. Não tenho dúvidas de que conseguiu. No processo, tornou-se a pior coisa que aconteceu ao futebol português. Parece-me que viveu sempre bem com esta minha opinião. Paz à sua alma."

O silêncio que se exige


"O respeito está reservado a quem o merece. Há quem nunca irá entender isto, e venha com a mesma lengalenga das vitórias, dos títulos, sem perceber que outros que também nos derrotaram em campo sempre tiveram a nossa admiração.

Pinto da Costa é o maior símbolo do FC Porto. Ninguém mais na história daquele clube, desde a sua fundação em 1906, teve tanta preponderância como ele na identidade do clube. Após o seu falecimento, vêm agora alguns moralistas (que de algum modo estão/estiveram ligados ao clube), exigir "elevação" de instituições que foram, durante 4 décadas, o principal alvo da máquina de propaganda montada por Pinto da Costa, e que foram vezes sem fim prejudicadas para atingir os seus objectivos.

"O nosso inimigo está a 300 kms", no evento 'Dia do Clube' (2023).

Parte desses objectivos era conquistar títulos a qualquer custo. Para tal, normalizou-se a intimidação a árbitros, a adversários, a jornalistas, e a demais elementos ligados ao futebol. Aliás, intimidou inclusive adeptos e rivais dentro do seu próprio clube! Na sua tomada de posse em 1982 dava já o mote: "Lisboa não pode continuar a colonizar o resto do país. O desejo deles é que o FC Porto desça de divisão." Quem diria que, 40 anos volvidos, o discurso ainda não tivesse mudado?

"Para Portugal é muito importante ter um FC Porto forte porque, infelizmente, é um dos poucos baluartes do Norte que resiste ao centralismo", Pinto da Costa na tomada de posse para o seu último mandato como presidente do FC Porto (2020)

A vitimização e a retórica do "contra tudo e contra todos" foi a doutrina que usou para facilmente arregimentar hordes de apoiantes. Se formos ao Chat GPT procurar pela principal figura responsável pelo clima de guerrilha e de ódio no futebol português, a inteligência artificial rapidamente irá identificar um único homem. E esse sim, é o principal legado de Jorge Nuno Pinto da Costa, um homem que provou que o futebol não tem tanto a ver com os golos que se marcam, mas com a narrativa que se cria, e com os amigos que se vão fazendo ao longo do caminho.

"Querem-nos matar, mas não vão conseguir. Se nos atacam tanto é porque não nos consideram mortos. Temos de pagar o preço do nosso sucesso.", in Jornal de Notícias. 2016.

Quando comecei a gostar de futebol, os membros da minha família adeptos do FC Porto tentaram-me convencer a ser portista, como eles. Os argumentos eram quase sempre por oposição a um inimigo que lhes queria mal, um centralismo que os impedia de alcançar grandes feitos. O seu apelo era pela negativa. Um dos amigos da família, ex-internacional português e com vasta experiência futebolística, explicou-me aliás que o Benfica nunca iria rivalizar com o FC Porto em termos de mentalidade, porque os miúdos eram incutidos desde crianças a odiarem o Benfica. Este também é o legado de Jorge Nuno Pinto da Costa, o mesmo do "Lisboa a arder" e de várias outras palavras de ordem que levavam os seus adeptos a ultrapassarem vários limites.

"No dia em que não ganhemos nada aí seremos amigos de toda a gente. A partir do momento em que fomos campeões europeus tudo mudou. Os nossos principais inimigos estão na comunicação social. O centralismo de Lisboa é um estado de alma do próprio país.", in TVI (2020)

Pinto da Costa intrometia-se nas escolhas da selecção nacional. Quem o disse foi o próprio Luís Felipe Scolari. Pinto da Costa ia a banhos com árbitros, e fazia saídas à noite com os mesmos. Pinto da Costa combinou com a PSP uma data para as buscas à SAD do FC Porto, com o alto patrocínio do Ministro do Ambiente (Matos Fernandes). Pinto da Costa controlava a arbitragem em Portugal durante vários anos. Pinto da Costa aceitava "empréstimos" de um presidente da SAD de outro clube da Liga, o mesmo clube que nunca ganhou ao FC Porto em 35 anos! Pinto da Costa "negociou" para que a autarquia de Gaia (e seus contribuintes) gastasse 16 milhões de euros a erguer o centro de estágios sem qualquer participação do clube. Pinto da Costa levava à despromoção de árbitros que não beneficiassem o seu clube em campo. Pinto da Costa aprovou o doxing de jornalistas críticos à sua presidência. Depois de acusações de ex-jogadores, Pinto da Costa foi também o presidente de um dos maiores escândalos de doping do desporto nacional (W-52). Pinto da Costa é o presidente de pagamentos a adversários em dias de jogos. Pinto da Costa orquestrou o roubo de e-mails e documentos privados aos rivais, para daí tirar frutos em contratações e ter informações privilegiadas sobre as estratégias dos clubes contra quem competia. Não sou eu quem o diz, são TODOS os tribunais para os quais o FC Porto recorreu, inclusive o Supremo Tribunal de Justiça, que condenou, pela derradeira vez (sem recurso possível) o clube chefiado por Pinto da Costa de roubar e espiar o adversário.

"Quando apoiamos um candidato e ele vence da forma tão clara, é natural que fique satisfeito. (...) Ninguém no mundo do futebol português tem mais prestígio do que Pedro Proença.", Pinto da Costa sobre a 1ª eleição do presidente da LPFP

Perante estes factos, tenta-se agora uma vez mais manipular a narrativa e criar uma imagem de figura incontornável do futebol nacional. Pinto da Costa, num país sério, estaria atrás das grades. Acrescento: atrás das grades, há já muito tempo, e por vários anos. Isso sim, é a realidade. Mas tal tornou-se impossível para alguém com ligações fortes na política, na polícia, e na justiça portuguesas.
Alfredo Quintana. Fernando Gomes. Atletas do FC Porto que várias vezes nos enfrentaram, e merecem todo o nosso respeito como rivais. De igual modo, outros símbolos do FC Porto que por vezes possam ter cometido excessos e faltado ao respeito ao nosso clube – Pepe, Villas-Boas, João Pinto – também eles terão a devida homenagem pelo Benfica quando falecerem (isto se não resolverem, até lá, fazer alguma parvoíce). Pinto da Costa não entra neste leque. Tentou, por várias vezes, destruir o clube que amo recorrendo a todo o tipo de expedientes. Nunca merecerá o respeito deste benfiquista.
Disse Pinto da Costa, em Março de 2023, a propósito do silêncio a que se autopropôs o então treinador do FC Porto após denúncia da APAF, que "Sérgio Conceição calado fez um bom discurso". Palavras que, dois anos volvidos, podem ser recicladas e usadas para explicar a posição institucional do SL Benfica a todos os falsos moralistas que tanto idolatra(va)m a figura que dominou os bastidores do futebol durante 42 anos. Não desejei que morresse.
Não celebrei a sua doença nem o seu falecimento. Mas não exijam agora hipocrisia."

Risco de apuramento envenenado


"Nenhum treinador pode renunciar assumidamente à frente europeia, mas a praga de lesões pode fazer com que a campanha na UEFA tenha influência acrescida na luta interna

Dias decisivos para as equipas portuguesas nas provas da UEFA, com cenário de aposta tripla para Sporting, Benfica e FC Porto, tendo em conta os resultados com que encaram a segunda mão do play-off de acesso aos oitavos de final.
Na teoria do Totobola as águias reúnem maiores probabilidades de sucesso, até por jogarem em casa, mas sobretudo pela vantagem com que entram em campo diante do Mónaco.
Bem mais difícil afigura-se a tarefa do outro representante português na Champions League, o Sporting, verde a perder tom de esperança, uma vez que vai a Dortmund enfrentar a muralha amarela com três golos de desvantagem.
Já o FC Porto, na Europa League, visita Roma em aparente igualdade de circunstâncias, depois do empate caseiro, porventura com a equipa exponenciada pela vontade de prolongar a homenagem a Pinto da Costa, depois de uma despedida que acabou por ter mais dignidade do que chegou a temer-se, dada a passagem do cortejo pelo Estádio do Dragão, incontornável escala na homenagem de milhares de adeptos, devotos à figura mais marcante da história do emblema azul e branco.
Em condições normais as campanhas europeias já requerem uma gestão apurada das equipas portuguesas, com plantéis menos apetrechados do que os parentes ricos do futebol europeu, mas as circunstâncias atípicas (ou nem tanto assim) da presente temporada fazem com que essa conciliação assuma dificuldade acrescida. O Benfica ficou privado agora de Florentino, o Sporting lamenta novas lesões de St. Juste e Daniel Bragança, o FC Porto lastima a fratura sofrida por Vasco Sousa — três talentosos médios portugueses neste sumário de infortúnios.
Quero acreditar que os representantes portugueses na UEFA — incluindo o V. Guimarães, já garantido na próxima fase — conservam a ambição de seguir em frente nas provas continentais, até porque isso será crucial para as difíceis contas do ranking, mas parece inegável que esse cenário pode comprometer a energia necessária para atacar os objetivos internos, a avaliar pelas limitações que os plantéis evidenciam.
Renunciar à frente europeia — pelo menos de forma assumida — seria um risco para qualquer dos treinadores envolvidos, no contexto de instabilidade atual, mas um eventual apuramento pode revelar-se também um sucesso envenenado. O tempo dirá."

Competência


"Competência é a palavra que melhor define a semana do Benfica que, ao contrário do que tantas vezes aqui assinalei, mostrou lá, no Mónaco, como cá, nos Açores, que é capaz de manter a concentração nos 90 minutos e nas duas competições. Depois de um jogo onde o único reparo que se pode fazer é não ter resolvido a eliminatória, foi um Benfica com menos de 72 horas de intervalo entre os jogos e só com cinco potenciais titulares no onze que se apresentou frente a um grande Santa Clara, quinto classificado da Liga a apenas a cinco pontos do terceiro classificado à entrada para o jogo, que não merece o relvado do seu estádio, impróprio para um jogo de uma Liga do “primeiro mundo”, ganhou merecidamente, sem os tais erros não forçados que assolaram a equipa nas últimas jornadas, e mostrou que se reforçou bem em janeiro. Com Bruma a provar que é reforço para “ontem,” Belloti a mostrar que pode ser útil e Dahl, mesmo fora de posição, a surpreender pela qualidade nas bolas paradas, arrancou uma vitória importante e, sem tempo para treinar quanto mais descansar, mostrou que tem equipa, plantel e jovens capazes de lutar por todos os títulos. Agora que só dependemos de nós para atingir os oitavos de final da Champions pela terceira vez nos últimos quatro anos e vencer todos os troféus internos, só se pode pedir que mantenha essa competência e que o sentido de responsabilidade chegue a todos, pois será sempre muito mais o que nos une daquilo que nos poderá a vir separar.
(...)"

Terceiro Anel: Diário...

Zero: Tema do Dia - «Inferno» de Ruben Amorim no Man. United terá fim?

DAZN: The Premier Pub - Que banco é este, Amorim?

L'Équipe: Benfica...

SportTV: O Futebol é Momento - S03E28

Rabona: Dembelé...

Entrevista: Diogo Ribeiro vs. Alexandre Yokochi

Namorados (com atraso)!