Últimas indefectivações

terça-feira, 28 de janeiro de 2020

Um Mercúrio negro voando na Luz



"Eusébio faria anos neste dia 25 de Janeiro. Recordá-lo é a obrigação de todos os que o conheceram o puderam vê-lo jogar no seu estilo que não tem imitação. Como daquela vez em que marcou quatro golos ao seu bom amigo Vítor Damas

Dia 25 de Janeiro. Dia de Eusébio. Ele que nasceu no dia 15 de Janeiro de 1942. Há tantas formas de recordar Eusébio, e nenhuma delas faz justiça a Eusébio. Talvez ou seja suspeito de o dizer e de o escrever: tive a felicidade de o ter como amigo. E a ausência dos amigos dói-nos para sempre.
De repente, da memória, sai um encontro entre dois velhos companheiros de muitas conversas: Eusébio e Damas. Com ambos reparti momentos de tanta cumplicidade. Dois adversários; dois homens por inteiro.
Estádio da Luz: o Benfica venceu o Sporting por 4-1.
Era Outubro de 1972. Eusébio e o esplendor dos golos.
Mais de 70 mil pessoas nas bancadas. A festa vermelha em flor.
Uns atacavam; outros defendiam.
Simões e Toni e Jaime Graça em movimentos bruscos, incontroláveis. Manaca e Laranjeira e Carlos Pereira aflitos, desesperados.
Laranjeira perseguia Eusébio, e Eusébio voava como um Mercúrio negro, de asas nos pés.
O Sporting tinha um treinador inglês, Ronnie Allen. Sempre foram bem-vistos, os treinadores ingleses em Alvalade. O Benfica tinha outro inglês, Jimmy Hagan. Poucos foram como Hagan, Jimmy Hagan.
Damas, o solitário Damas. Entregue aos demónios que vestiam de encarnado. Demónios à solta; demónios terríveis; demónios esfomeados.
E Eusébio? Como falar sobre Eusébio? Bastos que o diga. Apanhou-o por segundos, fugindo isolado para o que seria o primeiro golo. O aviso estava dado. De pouco serviu.

Sublime!
Trinta anos já haviam passado desde que Dona Elisa trouxera Eusébio ao mundo, no bairro da Mafalala, em Lourenço Marques.
E Eusébio corria como um garoto debaixo das palmeiras.
A defesa dos leões rachada em pedaços. Por cada frincha que se abria, Eusébio entrava como uma rajada de vento. Toca de cabeça uma bola metida na sua frente, domina-a junto à relva, desliza para lá de Damas, fica com a baliza na sua frente, faz o golo e saiu para festejar no seu jeito felino de pantera.
Pouco depois, noutro gesto magnífico, chuta com força para o ângulo inferior que Damas não atinge. Firme, ergue os braços. Fica durante segundos socando o ar com ambos os punhos. A tarde é dele. Tão completamente dele.
Enquanto decorre o intervalo, as pessoas desesperam. Querem continuar a ver a vertigem avassaladora de Eusébio. Sentem-no num momento extraordinário, percebem que ainda há muito para acontecer sobre a relva da Luz.
Parece que a história se repete. Dois golos seguem-se aos dois golos. Dois golos de Eusébio. Quatro golos de Eusébio.
Yazalde perdia-se entre Humberto Coelho, Malta da Silva e Messias. Mas consegue o golo. Um golo que cala gritos, mas não cala a confiança.
Os minutos decorrem. Há quem comece a pensar que Eusébio se cansou. Que tolice! Salta de súbito, finta Carlos Pereira, foge a Manaca, deixa Laranjeira aos papéis. Aí vai Eusébio! Quem pára Eusébio!? Ninguém! Ninguém! Bem podem tentar agarrá-lo pela camisola, bem podem procurar morder-lhe as canelas como cães dominados pela raiva, pela fúria. O homem é etéreo. Mistura-se com a brisa da tarde e vai e vai e vai, a bola acompanhando a sua fuga sublime, dispondo-se ao seu remate violento e colocado. Golo! Golo! Golo! Terceiro golo de Eusébio!
Mas falta-lhe ainda o golpe derradeiro. Num penálti primoroso, mete a bola lá no alto da baliza do seu amigo Vítor Damas, todo vestido de negro, uma espécie de luto triste.
Levantam-se os homens que rodeiam o recinto. As palmas multiplicam-se em mais e mais palmas. Eusébio no centro da Luz.
Às vezes, perguntou-me: como continuar a recordar Eusébio? De que forma fazer-lhe justiça nestes dias em que voltaria a fazer anos? A resposta é dada pela memória. E Eusébio recorda-se a si próprio. Em toda a sua grandeza."

Afonso de Melo, in O Benfica

Uma segunda parte de sonho

"Quando parecia que o Benfica iria prolongar a má fase, em 45 minutos os 'encarnados' alcançaram uma vitória esplêndida

A volatilidade no futebol aplica-se a uma velocidade extrema e tem a duração de um fósforo. A intensidade com que os adeptos vivem as vitórias é a mesma com que criticam jogadores, treinadores e presidentes, nas derrotas. A paixão com que se vive este desporto é exacerbada. Em 90 minutos, transita-se do choro à alegria e o seu inverso também. Este será, talvez, o seu maior encanto.
O Benfica, no final da 4.ª jornada do Campeonato Nacional 1944/45, liderava a competição com quatro vitórias, 13 golos marcados e apenas 2 sofridos. A forma equilibrada como a equipa se apresentava merecia elogios por parte dos média: 'o Benfica merece o primeiro lugar. O bloco defensivo dos «encarnados» fez uma partida brilhante, quer propositadamente «a defender» quer na maneira como soube encaminhar a equipa no ataque, imprimindo-lhe o tom prático'.
Tudo foi posto em causa após dois jogos, em que os benfiquistas empataram um e perderam outro. O comentário à derrota era o resumo das duas últimas semanas: 'o Benfica sucumbiu. (...) Onde está o team português que sabia rematar às redes?' Na 7.ª jornada, o Clube deslocou-se a Setúbal para defrontar o Vitória e a prestação da primeira parte parecia dar razão à crítica. Os 'encarnados' era uma miragem dos quatro primeiras jornadas. Foram para o intervalo a perder, a defesa, antes sólida, consentiu três golos e o ataque, antigamente letal, enviou 'três bolas à trave' e apontou apenas um golo. O desacerto persistia.
No segundo tempo, foi diferente! O Benfica entrou em campo confiante de que conseguiria alterar o rumo da partida. As trocas de Moreira com Jordão, assumindo a posição de médio-centro, e a de Rogério com Brito, para interior-esquerdo, surtiram efeito, 'foram senhores absolutos do terreno, lançaram-se no ataque, destroçando a defesa setubalense com rapidez de acção'. Em dez minutos os benfiquistas empataram o jogo, com dois golos de Espírito Santo. A vantagem por 4-3 seria alcançada através de mais um golo do 'Pérola Negra'. Júlio que tinha marcado o primeiro golo dos benfiquistas, Arsénio, Rogério e Brito, com um tento cada, fixariam o resultado em 8-3, para gáudio dos adeptos. Os 'encarnados' passaram no inferno ao céu, com a sua perseverança a ser enaltecida: 'há poucos clubes em Portugal, talvez nenhum, com um espírito tão combativo e capaz de dar a volta, mesmo quando tudo parece indicar que ela não se dará', conseguiram 'transformar a derrota que se esboçava na vitória confortável que se veio a obter'. Impulsionados por esta reviravolta, o Clube conquistou o Campeonato Nacional, com três pontos de vantagem sobre o 2.º classificado. Saiba mais sobre este título na área 6 - Campeões Sempre do Museu Benfica - Cosme Damião."

António Pinto, in O Benfica

Tóquio 2020

"No âmbito do Benfica Olímpico, como em todo o Clube, trabalho e ambição andam de mão dada. Tóquio 2020 começou logo após a cerimónia de encerramento no Rio de Janeiro. Ficaram aspectos positivos a relevar nos Jogos de 2016, mas, para a história, a única medalha lusa veio na bagagem de Telma Monteiro, exemplo particular de crença e mística benfiquista.
Há muito que o Sport Lisboa e Benfica investe forte no olimpismo e na potenciação de atletas na alta competição. É também por isso que caminha lado a lado, há longos anos, com a melhor judoca portuguesa de sempre, que já mostrou, por diversas vezes, capacidade de reinvenção e resiliência. Clube e atleta continuarão a partilhar emoções nestes Jogos Olímpicos.
Os portugueses chegaram ao Japão no século XVI, ultrapassando ventos e marés. A abordagem desportiva terá de ser, agora, igualmente focada na superação. De mês para mês, subirá de tom o tema olímpico em Portugal, possivelmente a exigirem-se medalhas à representação nacional. Só porque sim.
No Benfica estamos convictos que os nossos lá estarão a dar o máximo, cada qual à medida do potencial que possui. Valorizaremos aqueles que chegarem à glória e não esqueceremos quem dê tudo e, ainda assim, alcance "apenas" um quarto lugar ou uma meia-final. Quem se apurar merecerá ser equiparado a campeão, porque o processo de apuramento e obtenção de mínimos nunca foi tão exigente – no atletismo isto tem sido bem evidente.
São mais de três dezenas os atletas enquadrados neste ciclo do Benfica Olímpico: 18 no atletismo, cinco na canoagem, cinco no judo, quatro no triatlo, três na natação e um no taekwondo. Mas só seis têm já o bilhete garantido para Tóquio: Pedro Pichardo (triplo salto), Diana Durães (nadadora, 1500 m L), Fernando Pimenta (canoísta, K1 1000 m), Teresa Portela (K1 200 m), João Ribeiro e Messias Baptista (K4 1000 m).
Será muito difícil para alguns, mas ainda há tempo para sonhar. Nos próximos meses, os restantes investirão todos os esforços para alcançarem o apuramento. No judo, por exemplo, "bastará" evitar lesões, manter o nível competitivo e cimentar posições no ranking mundial.
Faltam pouco mais de seis meses para a cerimónia de abertura dos Jogos Olímpicos de 2020. Entre 24 de Julho e 9 de Agosto, Tóquio será a autêntica capital do desporto mundial, mas a chama acende-se já no dia 12 de Março, na mítica Olímpia, na Grécia. Uma semana depois, a tocha aterra em solo japonês, com passagem simbólica em várias cidades associadas a catástrofes naturais, com Fukushima a marcar a história recente, e aos bombardeamentos de Hiroshima e Nagazaki, na II Guerra Mundial.
A organização planeia uns Jogos que destacam a resiliência e a capacidade de reconstrução do povo nipónico, e no Sport Lisboa e Benfica habituámo-nos, há muito, a lutar por objectivos desportivos ambiciosos. A apontar alto, a trabalhar duro, a conquistar com suor, glória e gratidão. Algumas das modalidades representam isso mesmo – resiliência, nunca desistir. Os nossos atletas hão de estar em Tóquio com total foco e empenho, muita raça, muito querer e muita ambição. Perspectiva-se uma das edições mais difíceis de sempre, no entanto, a beleza e o espectáculo do olimpismo manter-se-ão como marcas intactas."

Gabriel anda a jogar com chuteiras antigas. Porquê? Apetece-lhe

"Gigantes como a Nike, Adidas e Puma estão a tentar negociar com o médio do Benfica, que está sem contrato de patrocínio porque gosta de jogar com as chuteiras que lhe apetece e ter a liberdade de escolher modelos "que sonhou ter" em miúdo, confessa à Tribuna Expresso. Gabriel tem jogado com botas que saíram no mercado há quase 10 anos, algo nada comum no futebol, onde os jogadores assinam acordos e jogam com os modelos, as cores e as últimas novidades que as marcas lhes enviam

Gabriel deambula pelo centro do campo em Alvalade, ei-lo como habitualmente, um volumoso conglomerado de músculos com arcaboiço para aguentar encostos, cargas e tentativas de desarme, um médio canhoto que cola a bola ao pé e, mesmo que às vezes deva à rapidez de execução, pisa, desvia, passa pela relva e corta-a para a levantar no ar e ser o pêndulo que voos controlados lhe dá.
No Sporting-Benfica, o brasileiro tem os pés amarelos, como antes já os tivera contra o Aves, o que pasmará ninguém porque não é de agora a apetência das marcas para o lado mais extravagante do mosaico de cores. Mas, no dérbi, Gabriel tinha calçado um par de Nike Total 90 II, modelo de chuteiras saído para o mercado em 2010 e uma anormalidade em 2020.
É incomum que hoje um titular de um clube grande, apoiado por milhões de adeptos, com todos os jogos televisionados, logo, visto por milhões, e que se mostrou na Liga dos Campeões, não tenha calçado o que uma marca quer - quase sempre o modelo mais moderno, na cor mais recente.
Gabriel, porém, não se importa. Está sem contrato e feliz da vida porque, em miúdo, ele e o irmão não tinham condições de ter as chuteiras e as bolas que queriam, mas, não impedidos de terem preferências, fixaram modelos. Um dia, queira a sorte e a vida, iriam tê-los. “Hoje que não tenho contrato com nenhuma marca, estou realizando o sonho que naquela época não era possível, então estou sempre a procura desses modelos antigos”, contou o jogador à Tribuna Expresso.
Estando sem contrato, dá-se ao luxo do desprendimento. Vai escolhendo as que tem na cabeça desde moleque, experimenta, descobre se gosta e testa-lhes o conforto. Antes de arranjar forma de ter o tal modelo da Nike, calçou umas Adidas Adipure, de 2009. “Ele usa a que vai bem, a que gosta mais e, às vezes, até brincamos com ele, dizendo que não é sensato. As que gosta mais hoje são as Mizuno”, explicou Nilson Santos, da Art Sports, agência que representa Gabriel.
O jus à palavra fez-se contra o Paços de Ferreira, este domingo. Gabriel calçou umas botas Mizuno, marca japonesa com muito menos pegada em futebolistas que jogam na Europa, um mercado que é dominado por Nike, Adidas e Puma, as três principais marcas que calçam os pés dos jogadores. "Temos algumas coisas muito bem encaminhadas com essas três marcas, mas o Gabriel ainda não decidiu. As propostas são muito boas, mas ele não quer. Por enquanto, vem forçando que quer Mizuno. Enquanto não escolhe, vai experimentando", explica a assessoria do brasileiro.
Para disfarçar, também já pintou de preto um modelo de chuteiras antigo, prática a que os jogadores recorrem quando estão em vias de assinar com outra marca, ou em negociações com várias ao mesmo tempo, sem querer denunciar preferências.

O Mundo De Quem Calça O Quê
Os anos passam e o dinheiro, cada vez mais, é o cerne que divide a questão no futebol. Os ganhadores e os perdedores descobrem-se entre quem o tem e quem não o tem, o fosso vai-se cavando com clubes, presidentes, empresários, direitos televisivos e marcas a digladiarem-se em lutas por zeros que ficam à direita de um número - e que cobrem os pés dos jogadores.
Não há chuteira que, factualmente, torne alguém melhor ou pior jogador. Há marcas a vender um modelo para o futebolista rápido, outro para o que chuta com força ou um feito especialmente para os pés de médios passadores de bola. Tendo um modelo desenhado especialmente para Lionel Messi, a Adidas faz crer que jogaremos como ele. O mesmo faz a Nike com Cristiano Ronaldo.
Ambos têm contratos vitalícios, valem dezenas de milhões de euros, mas são o topo de uma pirâmide obesa na base, porque lá está a maioria dos futebolistas profissionais. Nem todos recebem, em casa, pares do modelo de chuteiras na cor mais recente e são pagos, por uma marca, para os usarem em jogo, quando há câmaras de televisão a gravar e incontáveis pessoas a assistir.
Quando António Xavier subiu à equipa principal do Marítimo, na sua estreia na primeira liga, sempre gostara de chuteiras Nike e já as calçava, mas o empresário recebeu uma proposta da marca. “Tive a possibilidade de assinar um contrato de dois anos. Escolhes um modelo preferencial, depois, sempre que sai um novo, enviam-te pares. Além disso, tinha um plafond de 5 mil euros anuais para gastar em produtos Nike, à escolha”, explicou o português à Tribuna Expresso.
Fosse entrevistado ou falasse em público, “pediam que tivesse sempre um produto” da marca. Era obrigado a comparecer a eventos da Nike, caso o representante da marca assim o entendesse. “E personalizavam o nome só. O tipo de chuteiras moldadas ao pé acredito que só as grandes referências das marcas é que têm”, suspeitou, dando o exemplo de Ronaldo, “que joga com um tipo de piton misto”.
Xavier joga no Tondela, vai na sexta época seguida de primeira divisão e não mais teve um contrato de patrocínio. Continua a jogar com o mesmo modelo Mercurial, da Nike, mas compra as próprias chuteiras. Se, há coisa de 15 ou 20 anos, jogasse em Benfica, FC Porto ou Sporting, talvez isso lhe bastasse para receber fornadas de botas e equipamento da marca que patrocinasse o clube, prática que se foi tornando menos comum.
Algures entre 2002 e 2006, enquanto Ricardo Rocha lá jogou, os jogadores do Benfica tinham direito a chuteiras da Adidas que, coincidência, eram as predilectas (modelo Predator) do antigo defesa central. “Não me sentia bem com mais nenhuma. O Benfica era patrocinado e tinha direito a chuteiras, mas, depois, tive a felicidade de conseguir um contrato de patrocínio, o que para mim foi um sonho”, lembrou.
O contrato de Ricardo Rocha durou “quatro ou cinco anos”. A fidelidade à Adidas manteve-se, continuou a usá-la “com muito gosto”, porque “não conseguia colocar outras” nos pés ou “não [se] sentia bem”. A sensação nos pés, garante, é o mais valorizado por quem joga - “acima de tudo, o jogador vai para o modelo que lhe dá mais conforto, em que se sente melhor e lhe dá mais confiança”.
É, em parte, por isso que Gabriel já jogou com chuteiras de três marcas diferentes só em 2020. O brasileiro está a averiguar quais prefere e, mesmo que nos digam que as conversas apontam para um acordo com a marca que patrocina o Benfica, o brasileiro vai aproveitando uma raridade, procurando modelos antigos e “cumprindo um sonho” até ficar com os pés comprometidos."

Infalível ou à medida?

"A margem de erro do fora-de-jogo analisado pelo VAR pode atingir os 38.8cm e não é sequer um algoritmo eficaz.
"The technology used in trying to determine when a ball was passed and when a run was made is actually not advanced enough - with a margin for error that could be as big as 38.8cm" 
Em caso de dúvida evidente, beneficia-se o ataque. Tendo em conta os supostos 4cm, a colocação da linha sobre a chuteira do jogador do P. Ferreira e o frame ter a bola já a sair do pé do jogador do SL Benfica, deveria ter-se tido em conta a margem de erro do sistema e beneficiado o atacante.
Mas na Liga #Portoaocolo nada disto é relevante quando se trata de prejudicar o SL Benfica."

Os erros e os méritos de Sérgio Conceição

"Se há característica que é uma raridade nos adeptos de futebol é a ponderação. Num clube grande, ganha contornos fatalistas a máxima de que um treinador está sempre à distância de duas ou três derrotas da demissão.
Ainda assim, não deixou de causar espanto a forma como Sérgio Conceição colocou o seu lugar à disposição após a segunda derrota numa semana frente ao Sp. Braga – perdendo a Taça da Liga depois de comprometer o campeonato.
Divisões internas não se resolvem em público. No entanto, evocando-as, há que ser explícito. Uma mensagem dúbia deixa margem às mais diversas interpretações.
Há críticas, naturalmente.
A equipa do FC Porto joga muitas vezes de forma previsível, assente na dimensão física dos jogadores e no ataque à profundidade, num futebol de combate cujo exemplo máximo é Marega. Mesmo quando chega com facilidade ao último terço, revela carências na definição. Mostra também dificuldades em lidar com as transições ofensivas dos adversários, tornando-se evidente o vazio deixado por um central veloz e implacável no desarme, capaz de cobrir amplos espaços, como era Éder Militão. Sacrifica o seu jogador mais criativo (Corona) ao lugar de lateral-direito, apesar de em época e meia ter contratado quatro jogadores para a posição sem que nenhum se aproximasse minimamente do rendimento de Ricardo Pereira. Para lá disso, mais recentemente, a equipa parece voltar a apostar num meio-campo a diesel, sobretudo quando junta a Danilo, limitado fisicamente, Sérgio Oliveira.
Estes e outros erros poderão ser apontados (ou não, consoante as opiniões) a Sérgio Conceição, tal como outros – da posse de bola estéril à incapacidade de chegar a zonas de finalização – o foram a Nuno Espírito Santo, Lopetegui ou Paulo Fonseca.
Em todo o caso, mesmo deixando já de parte as duas épocas anteriores (cuja análise foi feita aqui), noutro prato da balança têm também de pesar os méritos inequívocos do treinador.
O FC Porto terminou a primeira volta com 41 pontos, em linha com o que o Benfica alcançou nos três últimos campeonatos que conquistou: 40 em 2015/16, 42 em 2016/17 e 39 em 2018/19.
Em termos de impacto negativo nos resultados, tanto desportivos e financeiros, o grande desaire aconteceu em Agosto, na pré-eliminatória da Liga dos Campeões frente ao Krasnodar. Uma derrota com um rombo potencial de 80 milhões de euros abala qualquer estrutura e marca de forma profunda, no mínimo, o resto da temporada.
Quanto ao resto, o FC Porto encaminha-se para pela segunda época consecutiva estar nas finais das duas taças nacionais – embora não seja de menorizar a forma como as tem perdido.
Posto isto, o grande problema para Sérgio Conceição é que o Benfica de Bruno Lage está a fazer um campeonato absolutamente anormal (51 pontos, 48 no fim da primeira volta), tendo perdido apenas um jogo, precisamente para os dragões. E o ainda maior problema para o FC Porto é o de não ter as mesmas armas do que o Benfica, que, por exemplo, pode permitir-se a contratar a meio da época um médio ao Borussia Dortmund por 20 milhões de euros.
Um dos grandes méritos de Conceição é o de ter recuperado a identidade de equipa ultracompetitiva. Um grupo onde exigência e compromisso não faltam e que se mostra capaz de disputar diversas frentes, mesmo depois da saída de meia equipa titular, como aconteceu no início da época.
Outro dos méritos de Conceição é a inequívoca identificação com o ADN do clube, algo sublinhado pelo próprio presidente Pinto da Costa com a recente comparação a José Maria Pedroto.
Mesmo o adepto mais crítico valoriza como Sérgio Conceição coloca os interesses do FC Porto acima da preservação de uma boa imagem ou lhe descortina uma preocupação indisfarçável com os próximos passos da sua carreira, ao contrário do que era perceptível em quem lhe antecedeu.
Aliás, em Conceição mesmo alguns dos excessos são enquadrados como a encarnação de um lema escrito nas paredes do Olival, qualquer coisa como «Adoramos os que detestam perder».
É também por isso que uma eventual rotura, sobretudo no momento actual, deixaria ambas as partes a perder.
Num momento em que não dispõe das mesmas armas do que o grande rival, o FC Porto não pode dar-se ao luxo de prescindir de competitividade e identidade.
No fundo, com um futebol umas vezes mais avassalador, outras mais claudicante, essa garantia Sérgio Conceição sempre deu."

Barroso, sobre Kobe...

KB24, Mamba Forever

"O que faz um atleta ser especial? É o talento? É o trabalho? É a atitude? É o ego?
Sou Laker desde pequeno. O basket sempre foi uma das minhas paixões e os óculos de Kareem Abdul-Jabbar e os passes fabulosos de Earvin “Magic” Johnson moldaram horas e horas a jogar basket nos intervalos da escola, na rua com amigos.
Kobe Bryant foi o último dos grandes heróis dos Lakers, que trouxe anéis de campeão, junto a Shaq O’Neal e depois ao meu mui adorado Pau Gasol.
O que não havia para admirar em Kobe? Não só os seus recordes, os seus maravilhosos 81 pontos contra os Raptors em 2006, que irão perdurar por muito tempo, mas também o seu carácter e força condutora, serão lembrados.
Kobe era um líder. Foi-o, do estilo da liderança que aprecio. A do exemplo. Kobe tinha um saber enciclopédico sobre os seus oponentes, era obstinado nos treinos, preciosista com os seus colegas, exigente com os outros, mas, principalmente, consigo mesmo. Bem para lá do seu período áureo – e do da sua (nossa) equipa, ainda carregava as decisões, os buzzers, ainda puxava, ainda carregava o peso de uma forma abnegada. Era amor à sua camisola, ao seu clube e à sua História, mas era também a sabedoria de liderar pelo exemplo, de saber que, superando-se, ajudaria a que os seus companheiros de equipa fizessem o mesmo.
Kobe é uma lenda por direito próprio, pela fé em si mesmo e pela saudável arrogância positiva de encarar ídolos – como Jordan em 1998 – de frente, sem se julgar pior ou temer perder. No entanto, nunca se desculpou nos outros, não lateralizava problemas. Deixava que o rigor, foco e disciplina o levassem para a frente.
The Black Mamba será lembrado – como já seria para sempre – não pelo seu trágico acidente, mas pelos seus 5 anéis de campeão, por se ter sempre tentado superar, mesmo perante lesões complicadas, e ter ido a lutar até ao fim da carreira, olhos nos oponentes e no cesto.
Obrigado Kobe, pela referência que foste e serás para mim e para toda a Laker Nation. O teu sorriso franco, o teu humor desconcertante, a capacidade de liderança, de superação, até mesmo o teu gosto por outros desportos, a tua dignidade e o teu respeito pelos colegas – que eles souberam retribuir – vão fazer sempre parte do meu coração de adepto.
A vida levou-te cedo demais, como a muitas lendas, mas a tua obra é eterna.
Mamba Forever."

Desporto: da euforia ao conflito... da paixão à agressão!...

"Como temos vindo a constatar, o Desporto e as actividades que dele fazem parte, de forma categoricamente evolutiva, tem tido um forte impacto na sociedade, despertando paixões, suscitando críticas, inspirando artistas, tudo isto justificado pelo maior impacto social transmitido pelos media, envolvendo directa e indirectamente toda a sociedade, quer pelo valor da sua prática, quer na condição de adeptos e profissionais pelos serviços prestados. Daí que qualquer jogo, em especial no âmbito do Futebol e especialmente quando se apresenta como um fenómeno de consumo como expressão de alta popularidade, gera forte impacto nos hábitos e atitudes de um povo, podendo mesmo constituir-se como um laboratório de análise social.
De facto, o Futebol neste contexto assume-se como um fenómeno de grande complexidade, servindo de espaço de união ou dispersão, alicerçando de forma abrangente toda uma sociedade sem fronteiras, onde a sua linguagem universal se documenta e exalta.
Como tenho vindo a referir nesta oportunidade comunicativa, perante a dinâmica que o jogo faz incidir e da importância excessiva atribuída tanto às vitórias como às derrotas, pode desempenhar um papel projectivo e coletor de frustrações dos adeptos quando perdem e exaltação desmedida daqueles que simplesmente ganham, abrindo espaço para ondas de violência como feridas abertas, prontas a latejar como rastilho para o conflituoso uso de maneiras que não se desejavam.
A dinâmica imprimida pela conquista da posse da bola, a inquietude revelada nos lances falhados, a má interpretação pelo julgamento do jogo, a confirmação dum mau julgamento via informação prestada pelas novas tecnologias, a conquista do resultado positivo como única garantia para premiar o sucesso, associado a demais causas, tais como: deficiente formação educativa, acompanhada duma degradante iliteracia desportiva; impreparação cívica e humana dos intervenientes; natureza do recinto desportivo; obscuridade, ruído, álcool e outras drogas; rivalidade e racismo; historial qualificativo de violência claques inseridas por grupos ultras e hooliganismo, etc … apresentam-se como índice de causalidade mais evocativo para a violência.
Por vezes o estado de alma, como eco libertador da consciência de quem joga ou assiste, dirige ou treina, julga ou comenta, pode gerar festa e tragédia, esperança e medo, dúvida e razão e da euforia ao conflito, como da paixão à agressão, vai a distância dum tempo favorável para a criação de situações conflituosas, dando lugar à euforia e à cólera perante as fases mais relevantes: marcação ou não de penalty, o golo marcado ou invalidado, a falta inexistente e o estádio transforma-se numa labareda de opiniões com efeitos por vezes dramáticos.
Cria-se à volta e por dentro do espaço de jogo um ambiente propício ao conflito, dado que proliferam escondidos nas próprias sombras, um contingente de inadaptados e marginalizados, que sempre estão dispostos a reincidir as regras do bom senso, incitando ao conflito, tendo ali uma boa oportunidade de provocar o tumulto. São como bestas humanas que se infiltram na multidão, estendendo tapetes de sangue por onde passam, cobrindo de luto a essência pacífica e emuladora que sempre o belo jogo deve promover.
Agressões de forma continuada a árbitros por parte de jogadores e adeptos, absurdas incongruências de ira e raiva portadoras de graves conflitos corporais entre assistentes, discussões acesas em alguns programas de comunicação social que nos entra pela casa dentro documentadas por imagens que enganam e disfarçam com a falta de vergonha como são expostas, o Futebol, este belo jogo, também sugado pelo trânsito das palavras e das ideias, demente entre as pessoas que espreitam o conflito, dele se alimentam e se revisitam no espelho da própria ignorância … eis a loucura de trato misturada por uma linguagem rasca entre alguns figurões, prisioneiros pelas malhas da animalidade, grosseria e bestialidade.
É urgente e necessário tomar mediadas severamente punitivas para quem não é capaz de viver de forma social e pedagógica o compromisso do Fair – Play, que implica o respeito pelas regras, a garantia de cumprimento de um conjunto de deveres, obrigações e comportamentos, um modo de pensar e actuar, perante uma filosofia de vida que enriquece de forma exemplar a identidade individual ou colectiva, pelas manifestações de orgulho cooperante e participativo.
Verificamos que a tutela quase sempre de forma não tão eficaz como o deveria, tendo em conta os últimos acontecimentos das “labaredas de infortúnio” em chama ardente entre público transformado em heróis por habitar em zonas de tanta insegurança, tem vindo a reunir com os responsáveis para tomar medidas punitivas de urgente responsabilidade a fim de se assumir uma adequada e exemplar correcção.
Já o referi e volto a insistir, quanto a mim e a título de exemplo, dever-se-ia exigir um maior reforço de segurança, a identificação e imediata punição do agressor, ( dada a facilidade de identificação pelas câmaras de vídeo colocadas em pontos estratégicos dos estádios e ou pavilhões), eliminando-lhe o acesso ao recinto do jogo, (deslocando-se para o efeito à esquadra ou comando policial, possibilitando-lhe a audição em relato ou visualização do mesmo), formação e educação cívica e desportiva e trabalho comunitário congruente até à irradicação absoluta, podendo e devendo fazer constar na comunicação social os arautos da desgraça e a possibilidade de analisar o estado de resposta ao arrependimento.
Creio que deste modo, estariam criadas as condições para deixarmo-nos envolver por este belo sentimento de amor ao Desporto em geral e ao Futebol em particular, transferindo-o para um jogo fantástico, apelando a raros e únicos momentos de inspiração em movimento, onde a harmonia do gesto, insubordinado umas vezes, inspirador e ousado noutras, mas sempre emocionalmente excitante, nos vai facultando, transformando o jogo num encontro de cultura, vida e …festa!..."

Benfiquismo (MCDXXV)

Contra um Pana repleto de Galácticos!!!

Benfica FM #98 - Paços...

Derrota na Amoreira...

Estoril 1 - 0 Benfica B


Não ajuda sofrer um golo aos dois minutos...! Fomos tentando dar a volta, mas o golo escapou...
Noto para a falta de opções ofensivas no banco, com as lesões do Umaro e do Csoboth, estamos limitados.

PS: Esta manhã a partida da Liga Revelação Famalicão - Benfica, foi adiado.

O efeito Rafa

"Rafa oferece à equipa mais velocidade no último terço do relvado e melhor finalização

Convincente
1. Vitória convincente da melhor e mais forte equipa. Não foi, tecnicamente, um grande jogo, muito por culpa do relvado muito irregular, que prejudicou as duas equipas e o espectáculo. Com um golo e uma assistência (e muito mais que ofereceu ao jogo do Benfica), Rafa foi o homem do jogo.

Oportunidades
2. P. Ferreira conseguiu equilibrar o jogo nos primeiros dez minutos. O Benfica criou, nesse minuto, duas oportunidades de golo, por Grimaldo e Carlos Vinícius, e passou a ser a equipa mais forte, mais segura e com capacidade de criar ocasiões de inaugurar o marcador. Ricardo Ribeiro evitou, com grandes defesas, golos de Pizzi (21) e Ferro (26), Benfica chegou mesmo a atirar a bola para o fundo da baliza, mas o lance foi anulado por fora de jogo de Pizzi (39). O volume de oportunidades traduzia-se no golo de Rafa: excelente movimento de desmarcação, pormenor técnico ao tirar o defesa da frente antes de atirar para a baliza. Apesar de alguma passividade da defesa do P. Ferreira, deve sublinhar-se o mérito da acção.

Mudança
3. A entrada de Rafa no lugar de Chiquinho ofereceu ao Benfica mais velocidade no último terço do campo e outra capacidade de finalização. Os encarnados foram muito fortes nas transições ofensivas. O P. Ferreira procurou pressionar, subiu a linha defensiva e correu riscos. Quando o Benfica recuperou a bola, foi sempre muito perigoso em transições muito rápidas ou em bolas a explorar as costas dos defesas. No corredor direito, o entendimento entre Rafa e Pizzi foi perfeito. Mas também no corredor central a velocidade de Rafa criou muitas dificuldades aos adversários.

Tranquilidade
4. O golo de Carlos Vinícius no início da segunda parte (47) não matou o jogo porque o P. Ferreira nunca desistiu, acreditou sempre que poderia discutir o resultado se marcasse um golo, mas a vantagem deu mais tranquilidade ao Benfica. Bruno Lage também identificou o perigo e o crescimento do P. Ferreira. Quando substitui Pizzi por Taarabt (76) protegeu-se dos riscos que estava a correr. E a verdade é que, apesar de o P. Ferreira ter jogado mais no meio-campo do Benfica nos últimos minutos do jogo, a organização defensiva dos encarnados não deu hipótese e foi resolvendo sem problemas as iniciativas da equipa da casa. O P. Ferreira bateu-se bem, nunca desistiu, mostrou um bom colectivo, do qual é justo realçar Ricardo Ribeiro, cujas intervenções impediram mais golos do Benfica."

Vítor Pontes, in A Bola

Rafolucionário

"Em Alvalade a entrada do foguete do Barreiro marcou o jogo com um antes e um depois; na Capital do Móvel, ele foi o dedo espetado na ferida aberta na defesa adversária pelos movimentos que arrastaram Carlos Vinícius e pela temporização e movimentos do capitão. Rafa a nove e meio não é jogador óbvio, assim como também não o é Pizzi na posição sete. Juntos, em combinações rápidas, suportadas pelas subidas criteriosas de André Almeida, fazem a coisa fluir com simplicidade, mais ainda quando a linha defensiva do Paços de Ferreira não teve qualquer folga pela sua direita, não podendo, por via disco, bascular à esquerda para estreitar os canais a Rafa. É que Cervi, muito agressivo na reacção à perda de bola e extremamente ético e empenhado nas transições, proporcionou o equilíbrio táctico que desencorajou a exploração das subidas pela linha de Grimaldo e não só, e antecipou a ocupação de espaços que significam ameaças ou oportunidades. Isto, associado aos movimento de ruptura de Vinícius, ora nas costas de André Micael, ora entre este e Jorge Silva, obrigava a que o defesa-direito do Paços jogasse muito fechado com o seu central.
Bloqueado nas laterais, o Paços nunca se subjugou às sobrecargas ofensivas provocadas pelas dinâmicas da equipa de Bruno Lage. Tentou explorar situações em que conjunturalmente Eustáquio, Diaby e Pedrinho se vissem em situações de equilíbrio pelo corredor central e tentando explorar o espaço que Gabriel abria quer para cobrir as subidas de Grimaldo.
Quem viu o jogo percebe que os processos de jogo deste Benfica estão cada vez mais oleados e até simplificados. A rapidez também impressiona e o Benfica, no seu todo, foi a equipa célere nas reacções e decisões, Vinícius confere a superioridade física que intimida os adversários e Rafa parece ser aquele agitador que, com as sua acções, subverte o decurso dos acontecimentos e empolga toda a equipa para uma dinâmica claramente superlativa relativamente à qualidade média das restantes equipas da Liga. A reentrada de Rafa no onze não basta para justificar todas as virtudes deste Benfica, mas é certamente simbólica das mesmas e, mais importante que isso, tem sido ele a apertar o gatilho."

Nuno Félix, in Record

Weigl e Gabriel dão segurança e equilíbrio

"- Como foi possível, num jogo tão intenso e equilibrado, o Benfica vencer com tanta autoridade?
- OIhando para os números do jogo, o equilíbrio foi, de facto, a nota dominante, embora com ascendente encarnado. A supremacia benfiquista foi construída a partir da opção do P. Ferreira em discutir o jogo, em ter bola e querer atacar. Essa feição do jogo permitiu à equipa de Bruno Lage jogar em sucessivas transições, mesmo em contra-ataque, aproveitando o que de melhor Cervi, Rafa e Vinícius têm para oferecer.
- Onde começou a consistência do campeão?
- Na segurança defensiva e, principalmente, no acerto da dupla de médios. Ganriel foi determinante para o equilíbrio da equipa mas Weigl foi de uma eficácia extraordinária a roubar bolas na intermediária. O alemão está em acelerado processo de integração.
- O peso de Rafa na vitória esgota-se no golo e na assistência que assinou?
- Não. A presença de Rafa na equipa confere-lhe acutilância ofensiva muito maior. Antes, com Chiquinho, o Benfica jogava com mais intérpretes na construção do jogo mas tinha menos eficácia na zona de finalização. Rafa, que é mais vertical, cria espaços pr profundidade e eficácia na relação com o golo.
- Pizzi estava mesmo 4 centímetros adiantado no golo anulado?
- O VAR disse que sim e sugere a infalibilidade científica. Certo. Permitam-me apenas não acreditar. É só ver o lance."

Rui Dias, in Record

Sangue na água

"Qual tubarão a sentir sangue dos rivais na água, o Benfica conseguiu uma exibição categórica em Paços de Ferreira, ao nível do melhor que fez época, criando várias oportunidades de golo diante de um adversário que não tinha sofrido nenhum nos quatro jogos anteriores. Sem lesionados, Bruno Lage parece ter encontrado uma fórmula que atemoriza qualquer adversário doméstico, com Weigl e Gabriel a ligarem muito bem todos os fios no meio-campo e Rafa a dinamitar defesas nas costas de Carlos Vinícius. O Benfica somou ontem a 15.ª jornada consecutiva a vencer, tem 10 pontos de avanço (provisórios) sobre o segundo e 20 sobre o actual terceiro. Números que levam à constante reflexão sobre a falta de competitividade do futebol português, como se isto fosse alguma novidade - na verdade, a única novidade é aquilo que esta equipa de Lage tem feito.
O mudo do Desporto voltou levar um soco no estômago com a morte de Kobe Bryant, um dos maiores desportistas da história, muito mais do que um magnífico jogador de basquetebol. Partiu aos 41 anos e de forma trágica, deixando em choque toda a gente. A vida é feita de acontecimentos como este, mas a morte das nossas maiores referências culturais acaba por nos matar um bocadinho a todos."

Da falta de união e outras coisas mais...

"Com uma coragem e frontalidade própria de Pedroto, Sérgio Conceição insurgiu-se contra a falta de união no FCP. E agora?

Menos de um mês depois de ter sido comparado, por Pinto da Costa, a José Maria Pedroto, Sérgio Conceição insurgiu-se contra a falta de união dentro do FC Porto e pôs o lugar à disposição do presidente. Pela frontalidade com que assumiu o que o clube, por canais oficiais, oficiosos e similares, sempre negou, o gesto de Conceição foi pedrotiano. Mas o Zé do Boné sempre soube - e na crise do verão quente em parceria com o então chefe do departamento de futebol, Pinto da Costa - tirar consequências das suas acções e, dessa vez, mudou-se para Guimarães onde, sob a presidência de Pimenta Machado e com o apoio de Pinto da Costa, fez uma travessia do deserto que precedeu o regresso, dois anos depois, às Antas, já com o sucesso de Américo de Sá no poder. E que consequências serão tiradas das afirmações de Sérgio Conceição? Ou seja, qual a fórmula mágica que vai restaurar a união no universo do Dragão? A resposta simplista será sempre, «os resultados positivos, uma vitória sobre o Benfica e tudo retornará aos eixos». Porém, no ocaso da liderança de Pinto da Costa, a questão é bem mais vasta e complexa, tem a ver com a força e influência que alguns sectores, nomeadamente os Super Dragões, ganharam no clube, sem esquecer a complicada teia de influências tecida na órbita presidencial, nem os putatvos pré-candidatos à sucessão que, a cada vela mais que Pinto da Costa, coloca no bolo de aniversário, procuram a melhor colocação para o dia em que se iniciar essa corrida.
Afinal de contas, depois de tudo o que se viu, Sérgio Conceição veio dizer apenas o óbvio.
A pergunta que os portistas mais devem querer ver respondida é esta: Pinto da Costa, que já não exerce a liderança com o impacto, interno e externo, de outros tempos, tem condições para promover a unidade reclamada por Sérgio?
A verdade é que o FC Porto, subjugado pelo despesismo estéril de um passado ainda recente e espartilhado pelo fair play financeiro da UEFA, não possui um plantel tão forte como noutros tempos, e depois do cataclismo Krasnodar ver-se-á obrigado a prescindir de mais alguns anéis (e não são muitos...) para salvar os dedos. Percebe-se, desta forma, que o que Sérgio Conceição gritou ao mundo foi mais do que um mero desabafo, depois de uma derrota.

Ás
Rúben Amorim
Primeiro a vencer a Taça da Liga como jogador e treinador, o jovem técnico do SC Braga está na crista da onda, apesar da falta de certificação e da situação pouco prestigiante para as instituições, que está a protagonizar. Mas uma coisa é certa: tem queda para este negócio e sabe da poda. Veio para ficar, está mesmo a ver-se.

Ás
Júlio Velásquez
Venceu, em Tondela, com autoridade, o duelo espanhol com Natxo González, e viu o seu Vitória de Setúbal colocar-se onze pontos acima da linha da água. Pelos vistos, os sadinos já recuperam plenamente da virose que os limitou, e há que contar com este clube histórico para uma boa segunda volta do campeonato.

Ás
Paulo Jorge Pereira
Sexto lugar no Europeu, três jogadores - Alfredo Quintana, Rui Silva e João Ferraz - na short list para a melhor equipa do evento, e qualificação para o torneio pré-olímpico, são razões mais do que suficientes para que a Federação de Andebol de Portugal e especialmente o seu treinador estejam de parabéns. Well done!

O problema do Sporting não é de treinador...
«Depois de treinar nestes dois desafios (B-SAD e Sporting) vou ter capacidade para trabalhar em qualquer lado...»
Jorge Silas, treinador do Sporting
Antes fosse culpa dos treinadores, a crise do Sporting. Mas não é. E foi por aí, aliás, que começou a desdita de Varandas quando decidiu despedir Peseiro. Por isso, não valerá a pena fazer contas ao prazo de validade de Silas, enquanto não estiverem resolvidos os verdadeiros problemas do Sporting, a quem falta dinheiro, sobra divisionismo e possui um plantel muito limitado.

Diego Simeone parado no tempo
Inapresentável, o futebol do Atlético de Madrid, perfeitamente incompatível com o plantel dos colchoneros. Ontem, empataram a zero no Wanda como o colista Leganés, depois de terem sido eliminados a meio da semana, da Taça do Rei, pela secundária Cultural Leonesa. Simeone parou no tempo e não percebeu...

Kobe é eterno
Dizem notícias chegados de Los Angeles que Kobe Bryant perdeu a vida num acidente de helicóptero. Impossível. Kobe é imortal, é lenda, é inspiração para milhares e, por tudo isso, nunca há de morrer. Bryant estará sempre vivo em quem o viu desafiar o impossível, não só nos cinco anéis que conquistou na NBA, em vinte anos com os Lakers, como, também, nos 33.653 pontos que obteve, nos 7047 ressaltos que ganhou e nas 6306 assistências que realizou. A partir das 'suas' camisolas 8 e 24, retiradas pelos Lakers e colocadas no Staples Center no dia 17 de Dezembro de 2017, Kobe Bryant vai continuar a reinar na Cidade dos Anjos."

José Manuel Delgado, in A Bola

A falta de unidade interna no dragão

"A parte mais surpreendente do perturbado e perturbador discurso de Sérgio Conceição, após a derrota em Braga, é a que se refere à falta de unidade no clube, fora do grupo de trabalho. Tanto mais que é perfeitamente claro que se mantém um clima de empatia e de confiança entre o treinador e o presidente do FC Porto.
Daí que não seja surpresa em Pinto da Costa tenha dado um imediato voto de confiança a Sérgio, quando este decidiu pôr o lugar à disposição.
Mas se a falta de unidade interna não é no grupo de trabalho e se também não existe na relação entre o treinador e o presidente, então, fica claro que a falta de unidade de que fala Conceição não atinge, apenas e só, o treinador, mas também o presidente Pinto da Costa. E isso, sim, é novo no FC Porto, onde o extenso mandato presidencial sempre conheceu um carácter de linha única e decisão unipessoal.
De facto, alguma coisa de verdadeiramente importante está a mudar no Dragão. E se aqueles que mais se perto conhecem a realidade do clube, e da sua SAD, não verão nas declarações do treinador razões especiais de admiração, pelo menos importa considerar que a grande novidade é a de vermos um clube que nos habituou a ter paredes de betão, à prova de luz e de som, a ter, agora, pelo menos, uma ampla janela de frágil vidro.

Não sei se, em função desta súbita, embora honesta, originalidade, Sérgio Conceição terá longo futuro no FC Porto. É verdade que tem sido o homem certo no lugar certo, conseguindo verdadeiros impossíveis, mas os seus inimigos internos não lhe vão perdoar que tenha sido um homem da casa a colocar o dedo na ferida."


Vítor Serpa, in A Bola

[FR] After Match Jornada 18

A prevenção, a autoridade e o resto que também conta

"Luta por aquilo que está certo e não por aquilo que pensas poder alcançar" é um dos princípios expressos por Vaclav Havel há muitos anos. Na verdade, foi Ursula von der Leyen quem se lembrou daquela citação, mas para o caso em apreço também serve. Aplica-se a tudo na vida. Ou devia aplicar-se.
Vem isto a propósito da tão falada necessidade de erradicar a violência dos palcos desportivos, com particular destaque para o futebol que, queira-se ou não, serve de modelo para praticamente tudo o resto. Ora, na actual situação, é um péssimo modelo. Parece ter-se metido num labirinto dentro do qual anda desesperadamente à procura de uma saída.
Depois de mais umas tochas para os relvados, lá voltou a conversa que se arrasta há anos, sendo que, nos mais recentes, com maior insistência. É natural, porque a paciência tem limites. Já era pouca, agora é nenhuma.
Eduardo Cabrita dá uma entrevista à TSF e DN para sublinhar que o problema é dos clubes, porque o Governo já fez a sua parte. Equívoco: ao Estado compete legislar, claro, mas também fazer cumprir a lei, até porque é o único com meios para tal. E incumbência, já agora. Portanto, não pode ficar a meio do caminho e terá de impedir - de facto - a invasão pirotécnica dos estádios.
Já os clubes, pela voz de Pedro Proença (que voltou a ver tochas a voar na recente final da Taça da Liga), sustentam que a responsabilidade pelo combate à violência é de quem zela pela ordem pública, o Governo. Em síntese, estamos assim. Azar nosso, porque este "não-sou-eu-que-tenho-de-resolver-isto" não augura nada de tranquilo.
No entretanto, o presidente da Liga teve uma reunião urgente com a Administração Interna e a secretaria do Desporto, com direito a prolongamento daqui a um mês. Não se esperava nada de muito transcendente e nada de muito transcendente aconteceu.
Fica, no entanto, a instauração de uma auditoria de segurança aos estádios para introduzir todas as alterações necessárias nos recintos de forma a permitir a realização de jogos na próxima época. Aguardemos para conferir o que, em rigor, isto significa. Juntamente com a avaliação de todos os sistemas de CCTV dos estádios (será que finalmente esta ferramenta começa a dar resultados?).
Mas é para a Autoridade para a Prevenção e Combate à Violência no Desporto que convergem todos os olhares. Contudo, apresentar um saldo de 60 adeptos com interdição de entrada nos estádios só dá para um sorriso amarelo, quando aquilo que as últimas semanas nos mostraram é que muitas mais dezenas de "banning orders" deviam estar em execução. Ainda assim, reconhecendo que a missão até pode ser espinhosa, está cada vez mais clara a ideia de que se não for desta, provavelmente, nunca mais será.
Se o Governo tem bastante mais para fazer do que aquilo que se viu até agora, o mesmo se poderá dizer em relação aos clubes. Quando Proença garante que a autorregulação está a funcionar ao impor sanções aos membros da Liga, pode concluir-se que as multas do costume são perfeitamente satisfatórias? E que sempre que as punições vão para lá das multas, o facto da resolução se arrastar de recurso em recurso, até sabe-se lá quando, não é propriamente um problema?
A questão é que fica sempre a sensação (ou mais do que isso) de que os clubes colocam os seus interesses individuais acima dos da competição, em vez de colocarem primeiro os interesses da competição como forma de defender os seus. Há quem entenda que uma e outra coisa vão dar ao mesmo, mas é óbvio que não. Basta olhar para a Premier League ou para La Liga para perceber as diferenças.
No fundo, sem uma convergência de esforços de todos os envolvidos nesta "guerra", como diz o presidente da Liga, dificilmente acabará este fantasma que nos assombra todas as semanas. Já mostrámos no Euro2004 e, há poucos meses, na Liga das Nações que somos suficientemente bons a travar a violência em competições de curta duração. Só falta a capacidade para aplicar a receita ao ano inteiro. Trata-se mesmo de fazer o que é justo (para todos) e não apenas aquilo que se pensa poder alcançar (para alguns)."

Eu vi o adeus de Kobe Bryant. E ele é eterno

"Porque hoje faleceu tragicamente Kobe Bryant, a Tribuna Expresso republica um artigo de um jornalista português esteve lá quando ele se despediu dos campos de basquetebol, em 2016, com uma exibição memorável que o manteria vivo para sempre na história do desporto

Quando Kobe Bryant partiu para os minutos finais do jogo de despedida, a noite já era especial, mas o que se seguiu serviu quase como uma faixa escondida no final de um dos melhores álbuns de sempre.
E ouvi-la, ao vivo, sem perceber até onde iria ou quando acabaria a canção, é indescritível. É de levar as mãos à cabeça, olhar em volta e perceber que todos têm a mesma pergunta na mente: “Mas como é que isto é possível?” Na noite de 13 de Abril não fui jornalista, não fui adepto dos Celtics, não fui espectador. Fui testemunha. Misturado com tantos outros que tiveram a mesma sorte. Sim, porque para nós aquelas duas horas e meia foram uma questão de sorte.
Sorte de quê? De comprar os bilhetes em Outubro com o pressentimento de que seria o último jogo, de resistir ao azar de ficar sem o e-mail para onde seriam enviadas as entradas a 9 de Abril; e de ter passado por três idas às bilheteiras até resolver a coisa a menos de duas horas do arranque. Mas essa foi só a minha sorte particular. Depois houve a outra, aquela que teve a assinatura de um génio que quis garantir uma última noite de glória.
Digo-o sem hesitar: foi o melhor momento desportivo que já vivi. Supera finais da Liga dos Campeões (de Madrid e Lisboa), Mundial de basquetebol e muitos outros jogos de NBA, basebol, hóquei no gelo ou futebol americano. O que Kobe Bryant fez não foi normal. A lenda dos Lakers começou por ser humano, falhando lançamentos. Mas depois começaram a entrar. Cedo se percebeu que aquele não era mais um jogo dos Lakers com Kobe Bryant. Era ‘o’ jogo de Kobe Bryant. O jogo que o ajudaria a manter vivo depois da era Jordan.
Quando não estava em campo, perdia interesse. Poucos eram os que queriam saber e só mesmo a perspectiva de regressar ao court alimentava a esperança. Cedo os 10 pontos se transformaram em 20. E os 20 em 30. E os 30 em 40. Aí, já no último período, todos pensámos que ia aos 50. A partir dos 47, a 3’05” do final, tornou-se impossível ficar sentado. Era como se no fundo todos soubéssemos e sentíssemos que a história estava ao virar da esquina e ninguém a queria perder. Com uma diferença: estávamos muito enganados quando pensávamos que a marca redonda seriam os 50. Kobe, o humano genial, transformou-se em Kobe, o extraterrestre sobredotado.
Uma exibição deve ter altos e baixos mas Kobe afundou a lógica e aumentou o patamar de euforia incrédula a cada intervenção. Era Mamba, era Rei Midas, era Kobe, um adolescente da Pensilvânia com o sonho de ser o melhor Laker da história. E de cada vez que segurava a bola com as duas mãos a caminho do cesto, só me restava levar as minhas à cabeça, em estado de assoberbamento total. 
Ainda é difícil perceber o que aconteceu. E acreditar que aconteceu. Kobe transformou uma noite que já era especial numa impossível de esquecer. Não voltou a falhar um lançamento e fechou a contagem com 60 pontos. Mas não foi só isso: sozinho deu mais uma vitória, pela última vez, aos Lakers. Sem pressão? Pelo contrário. O que acham que significa ir para a linha de lance livre a 15 segundos do fim com a possibilidade de chegar aos 60 pontos?
Ao contrário de mim e de todos os outros na bancada, Kobe não tremeu. Não podia tremer. Porque Kobe não é deste mundo, é de um outro, um especial. Nós só passamos por aqui, somos apenas testemunhas. Ele é eterno."

Durante 20 anos, o meu quarto teve uma janela aberta para Kobe

"Este texto acompanha a vida de um rapaz que se fez homem em frente à televisão a ver todos os jogos de Kobe Bryant. Começa nos TPC da escola, com refrigerantes e posters, namoradas e desilusões amorosas, e acaba num adulto que não entende o absurdo de uma morte trágica.

Querido Kobe,
Nem sei por onde começar. Tenho um nó na garganta. É tudo altamente absurdo. Ter ídolos é ridículo. E eu não sabia que tinha ídolos até teres desaparecido, embora tenha sentido um abalo quando um dos teus tendões de Aquiles rebentou.
Chorei.
Percebi logo ali que a tua carreira estava perto do fim. Pior, percebi que afinal de contas eras humano como eu. Não penses que me esqueço dos airballs frente aos Jazz e logo no playoff. E os Lakers foram eliminados. Sim, está bem, só tinhas 18 anos. Mas aquilo foi uma barracada monumental. 
Enquanto faço este exercício doloroso de rebobinar na minha cabeça os teus jogos, lançamentos, dribles, campeonatos e falhanços, muitos falhanços, percebo ainda melhor o quão determinante foste para parte do meu insucesso escolar na adolescência.
Hoje, volvidos uns 15 ou 20 anos, consigo dizer, muito assertivamente, coisas como “eu ficava a estudar até às 5:00, enquanto via os jogos dos Lakers”. Um gajo quando é novo não vai ao médico nem faz análises. É de ferro. Mas tenho a certeza absoluta de que devo ter andado todo cheio de diabetes ali entre 2000 e 2011, dadas as quantidades absurdas de coca-cola que eu ingeria para ficar acordado. Na altura não me dava bem com o café.
Estás a ver, Kobe? Cresci. Agora bebo café. E refrigerantes muito raramente. Apaixonei-me quanto ainda tínhamos cabelo e tu jogavas com o 8. Houve outros momentos, mas a final com os Pacers quando o Jalen te lesiona é mítica. Uns jogos depois, o Shaq é excluído e tu apareces assim de repente para arrumar o assunto. Que pinta. Que classe.
Era assim que eu fazia com os TPC, não sei se estás a ver, mas era até à última, enquanto a professora fazia a chamada. Mas eu fazia aquilo bem, atenção. E depois participava.
Eu achava que eras um génio, mas não tanto quanto o Alex com quem partilhei carteira na escola. Repara, ele também não fazia os TPC, ele limitava-se a copiar o enunciado. Ou seja, respondia às perguntas com as próprias perguntas, mas com uma caligrafia horrível para a professora não topar quando passava pela sala.
Vais dizer-me que isto não é de génio? Queres tu ver que de génio é aquele teu movimento em que fazes um spin no pé de apoio? Aquele em que pareces uma bailarina de um qualquer bailado russo? 
Não sejas tolo. Pronto. Pronto. Este lance é de génio. Até me esqueço que medes 2 metros e tal. Eu devo ver este lance várias vezes por ano. É mesmo bonito. Até tem o Spike Lee a rir que nem um perdido. Ah, ó Kobe, o meu amigo Terêncio também adora este lance. Espero que agora lhe mostres como o fazer, não espero outra coisa de ti.
Bem, lembro-me perfeitamente do meu primeiro contacto com o basquetebol e a NBA em particular. Acho que ainda não estávamos em 1994, uma vez que tenho perfeita memória de estar a beber um Sumol de laranja no exacto momento em que o Roberto Baggio tentava partir os dentes de um adepto na final do mundial de futebol.
E este momento que agora vou relatar surge antes: sou eu, pequeno, a entrar em casa de um primo do meu primo. Ora, este primo do meu primo tinha uma grande fotografia a cores com uma montagem em que aparecia a cabeça do primo do meu primo no corpo de um jogador dos Lakers. Era o Magic Johnson.
Depois deste acontecimento que viria a mudar a minha vida, arranjei VHS com jogos dos Lakers e dos Celtics, revistas e tudo o resto. Sim, colei logo uns posters do Michael Jordan no quarto. E pouco tempo depois estava a assistir ao Space Jam e a cantarolar R. Kelly. Mais ou menos nesta altura o MJ metia férias e aparecias tu, magricelas de um raio.
Não foi amor à primeira vista, que tu só foste para o cinco inicial a sério na terceira temporada. Enfim, tu e o Shaq ou o Shaq e tu (depende de quem está a contar a história, não é?) varreram a liga: quatro finais, três títulos. Um absurdo. Pelo meio, armas zaragata fora da quadra. Dás uma conferência de imprensa embaraçosa, mudas de número e atribuis a ti próprio uma alcunha pomposa. Que cromo.

81 Pontos. Oitenta e Um Pontos
Feitas bem as contas, tu és capaz de ter assinado o melhor desempenho ofensivo da história do jogo moderno. E a cereja no topo do bolo? O Jalen teve de ver isto na primeira fila. Que delícia.
Mas não fiques todo convencido, é que andaste ali dois ou três anos a jogar para o boneco. Se não me engano, eras tu quem dizia que um ano sem ser campeão era um ano desperdiçado. Não eras? Que cromo. Desculpa, mas és.
Deve ter sido duro regressar às finais e perder logo com os Celtics... tão duro que foste a mais duas com o Gasol. Cinco campeonatos é um número bem bonito e aquele teu .gif a contar cada um dos títulos é mesmo engraçado.
Kobe, somos cada uma das experiências que temos ao longo da vida. Vamo-nos construindo ao lado e com outras pessoas, animais e coisas. Ficamos maiores e, se tudo correr como é minimamente expectável, melhores. De todos os momentos que me proporcionaste, e olha que devo ter visto quase todos os teus jogos ou em direto ou em diferido, há um que nunca vou esquecer.
Nesta altura já eras um homem maduro, seguro, conformado e realista. O sexto título já era uma miragem, quanto mais os oito que tanto querias. Tens uma tirada absolutamente brilhante e simples, e aposto que te lembras de ter dito isto: o mais importante não é o resultado, é o caminho que se percorre.
Andavas, salvo erro, no processo de recuperação após a lesão no tendão de Aquiles. Pode parecer estúpido, mas foi a fase em que mais te admirei. Eu sabia que não voltarias a ser o jogador de outrora. Fisicamente, era impossível. Até artigos científicos andei a ler sobre lesões no tendão de Aquiles. Nem aquele médico alemão que te fazia milagres aos joelhos tinha como te safar desta.
Estavas velho e tinhas uma equipa desastrosa. Aquilo foi um circo até ao teu último jogo. Mas não deixou de ser enternecedor ver todas as homenagens que te fizeram. Eu, nesta altura, já sabia que eras humano, como eu, mas mais alto, e ainda tinha uma pequena esperança de que o meu super-herói aparecesse.
E apareceste.
Aquele teu último jogo, curiosamente frente aos Jazz, é de um romantismo sem igual. Kobe, não dá para te ficar indiferente.
É esta a tua grande marca dentro e fora do campo, companheiro.
Todos temos um momento ou uma coisa, um disco sei lá, que nos transporta para determinado acontecimento das nossas vidas. Algo que nos ajuda a superar uma dificuldade. Ou que nos aconchega. 
Por exemplo, o videojogo Mortal Kombat lembra-me a minha avó. Não fosse a Mega-Drive e tinha sido mais difícil perceber o que faziam aquelas pessoas todas a rezar na sala dos meus avós. O Kobe Bryant é o Mortal Kombat da minha vida desde os 10 ou 11 anos.
É absolutamente certo que pensei em miúdas da escola enquanto te via a lançar triplos com a mão esquerda.
É garantido que chorei desgostos de amor ao mesmo tempo que tu e o Allen Iverson se batiam no pavilhão. Preparei apresentações e estudei para testes enquanto tu ouvias cânticos de MVP em todos os pavilhões. O dia de Natal ganhava mais alguma magia sempre que te via jogar durante a noite.
O meu quarto teve uma janela aberta para ti durante 20 anos. Ajudaste-me a combater as saudades dos amigos e da família, e a ultrapassar os dias menos bons. A olhar em frente. A perceber que o caminho se faz caminhando.
Kobe, eu sorri contigo. Saltei contigo. Gritei contigo. Agora, choro contigo. E tudo isto é absolutamente absurdo. E triste. Afinal, sou só um homenzinho feito que acaba de descobrir que tem um ídolo no dia em que ele desaparece.
Do sempre teu,
Diogo"

Obrigado, Kobe Bryant

"“Legends never die”, costumam dizer. Pelo que nunca se pare de gritar “Kobeeee!” quando se atira um papel amachucado para dentro de um balde do lixo, que nunca se deixe de querer inspirar o próximo.

Querido Kobe,
Palavras serão sempre poucas para fazer jus à consternação que é ver-te partir. Desta forma. É engraçado que em miúdo muitos queriam ter a força do Super Homem, a agilidade do Homem Aranha, voar como o Peter Pan… eu só queria introduzir um esférico cor-de-laranja dentro de um cesto, envolto por uma rede branca. Obrigado por isso.
Obrigado por nos teres ensinado que não importa de onde somos, mas sim para onde queremos ir. Obrigado por nos teres ensinado que quando gostamos realmente de uma coisa, é nossa obrigação correr atrás dela. Obrigado por nos teres ensinado que só se descansa quando as coisas estão feitas e não quando estamos cansados. Obrigado por nos teres ensinado que, por maior que seja, a dor é temporária e a consagração é eterna. Obrigado.
É engraçado que enquanto estavas aqui, entre nós, ganhaste tudo o que havia para ganhar. Mais do que uma vez. Se fosse a enumerar todas as tuas conquistas, certamente que teria de tirar o dia porque a lista nunca mais ia acabar… mas sabes o que é que é mais engraçado no meio disto tudo? Não foi isso que por si só fez de ti um verdadeiro campeão.
Nas últimas horas têm sido imensas as fotografias, testemunhos e lembranças que quem privou contigo de perto teve o privilégio de partilhar. Nenhuma fala dos 81 pontos que num só jogo marcaste aos Toronto Raptors. Nenhuma fala da mão cheia de anéis da NBA. Nenhuma. E sabes porquê? Porque a tua grandeza transcende um simples jogo, que de simples não tem nada, ainda que provasses constantemente o contrário. É esse o legado que deixas.
“Legends never die”, costumam dizer. Por concordar tanto com esta frase, proponho o seguinte: que nunca deixem de ser vestidas as camisolas do Kobe Bryant, que nunca se pare de gritar “Kobeeee!” quando se atira um papel amachucado para dentro de um balde do lixo, que nunca se deixe de querer inspirar o próximo, porque, afinal de contas, era esse o sonho deste grande Homem que continuará sempre bem vivo dentro de nós.
Para sempre nos nossos corações. Tu, a tua filha, e todos os que estavam contigo.
Obrigado."

Consistente

"Frente a um adversário, a jogar em casa, que vinha de um ciclo de quatro jogos em que obteve duas vitórias e dois empates e não consentiu qualquer golo, a nossa equipa, mais uma vez, demonstrou toda a sua competência. Fez uma exibição segura e consistente, dominou a partida e criou várias oportunidades claras de golo, conseguindo concretizar duas delas.
O resultado – 0-2 – espelha bem o que se passou em campo, tratando-se de uma vitória justa e sem qualquer contestação ante o Paços de Ferreira, condizente com as pretensões da nossa equipa em iniciar bem a segunda volta do Campeonato e, pelo menos, manter a distância de sete pontos para o segundo classificado.
Notou-se pela concentração e determinação dos jogadores, assim como pela forma como a partida foi preparada por Bruno Lage e sua equipa técnica, que a filosofia “jogo a jogo” continua a nortear o trabalho do nosso plantel.
Os números comprovam a excelência do percurso feito na principal prova nacional, conferindo justiça à liderança exercida presentemente.
As 17 vitórias em 18 jogos constituem-se como o segundo melhor desempenho da história do Benfica. Os seis golos sofridos e os 13 jogos em que os adversários não marcaram qualquer golo são ambos o melhor registo benfiquista de sempre, a par de outras três temporadas. E as marcas estabelecidas na jornada anterior, de vitórias consecutivas em deslocações no Campeonato (máximo histórico) e de triunfos seguidos (segundo melhor de sempre), foram aumentadas agora para 18 e 15, respectivamente.
A mentalidade e a competência da nossa equipa só encontram paralelo no extraordinário apoio dos nossos adeptos, que ajudam o Clube, semana após semana, a cimentar a sua posição na liderança do Campeonato.
A indiscutível força do nosso colectivo demonstrada em Paços de Ferreira convida a relegar para segundo plano alguns aspectos individuais, mas não resistimos a apontar os desempenhos de Rafa, autor do primeiro golo e do passe para Vinícius marcar o segundo, e de André Almeida, por ambos terem regressado recentemente de um período de inactividade devido a problemas físicos. E também de Weigl, que chegou à equipa este mês e já se apresenta plenamente entrosado com os colegas (num relvado em mau estado, completou 49 dos 54 passes tentados), além de Odysseas, essencial num desempenho defensivo da equipa, até ao momento, ao melhor nível da história do Benfica.
Por outro lado, sentimo-nos obrigados a ter de falar sobretudo do VAR. O lance mais polémico terá sido, porventura, o golo de Pizzi anulado por fora de jogo. Em bola corrida dá a sensação de inexistência de qualquer irregularidade no posicionamento de Vinícius, que assistiu o nosso 21. A imagem parada pela Sport TV não motiva qualquer inflexão nessa percepção de legalidade do lance. Mais tarde, ficou-se a saber que o nosso avançado estaria supostamente em fora de jogo por quatro centímetros.
Este lance e a forma como foi escrutinado motiva perplexidade. Não é claro que as linhas, para aferir a existência, ou não, de fora de jogo, tenham sido bem colocadas. Há dúvidas quanto ao posicionamento da linha no corpo do defesa pacense (no pé ao invés de no ombro, como no caso de Vinícius) e até do momento exacto do passe. E frisamos novamente que o golo foi invalidado por quatro centímetros, quando a própria empresa fornecedora da tecnologia admite a necessidade de se considerar uma margem de erro de cinco centímetros na avaliação de foras de jogo.
E depois houve o caso da grande penalidade por assinalar a nosso favor numa falta evidente sobre Rúben Dias.
Todos vimos, em bola corrida, que Rúben Dias sofreu falta. As eventuais dúvidas foram, depois, dissipadas ao vermos as repetições do lance. Pensámos que o árbitro, talvez devido ao emaranhado de jogadores na área lhe obstruírem a visão do lance, não pudesse ver a falta, mas o VAR não deixaria de a indicar, pois todos a vimos.
Soube-se posteriormente que "uma falha de gerador após quebra de energia impediu a utilização da tecnologia das linhas de fora de jogo entre 23:33 e 45:00+1 minutos do Paços de Ferreira-Benfica". 
Qualquer um destes casos contribui para a necessidade de reflexão sobre o uso da tecnologia do VAR, em particular os aspectos técnicos, o protocolo de aplicação e a uniformização dos critérios, para que não constatemos, como tem vindo a acontecer, que no deve e haver haja clubes com mais "sorte" do que outros. A bem da verdade desportiva!

P.S.: Na próxima sexta-feira, às 19 horas, receberemos o Belenenses, SAD. Reiteramos a importância do Estádio cheio a apoiar a nossa equipa e relembramos os detentores de Red Pass que, caso não possam estar presentes no Estádio, podem partilhar o seu lugar ou disponibilizá-lo no mercado secundário."