Últimas indefectivações

quarta-feira, 31 de maio de 2017

Números elucidativos

"Terminou a época dos clubes, ainda que o futebol continue por via das selecções. Com o Benfica a erguer a Taça e o Vitória a ser um honroso vencido. Agora é o defeso, com noticiários abundantes sobre aludidas transferências e mudanças de treinadores. Até ao lavar dos cestos, 31 de Agosto, vai ser um fartar de vilanagem.
Por hoje, limito-me a referir estatísticas a propósito de alguns mitos urbanos-futebolísticos que acompanharam este nosso campeonato no que aos três grandes diz respeito, e que deram azo a muitas análises e serviram de aparente justificação para desaires.
O primeiro desses mitos relaciona-se com os penalties marcados. Os perdedores sempre se queixando da raridade dos mesmos. Às dezenas, diga-se de passagem. Pois aí estão os números finais. A favor, o campeão foi o Sporting com 13, seguido do FC Porto com 9 e o Benfica com 7. E não se culpem os árbitros de o Sporting ter falhado 4 (31%), o FC Porto 2(22%) e o Benfica nenhum.
Na época anterior muito se falou de o Benfica acabar muitos jogos com mais um jogador em campo do que o adversário. Este ano, os mesmos observadores ficaram mudos. Eis os eloquentes números: expulsões a favor, FCP 9 (total de 284 minutos, portanto mais de 3 jogos completos, em superioridade numérica!), SCP 2 (100 minutos) e SLB 1 jogo (e 1 minuto)!
Já ao contrário - expulsões das equipas dos grandes - o Benfica esteve 50 minutos em inferioridade numérica (2 expulsões) e o Sporting e FC Porto (apesar de 3 expulsões) apenas tiveram mesmo um jogador em campo 26 e 5 minutos, respectivamente.
Tudo culpa do Benfica, evidentemente. Qual a dúvida?"

Bagão Félix, in A Bola

PS: O consócio Bagão, compreensivelmente 'enganou-se'!!! A 'conversa' de o Benfica jogar em superioridade numérica, não aconteceu na época anterior... a 'narrativa' do colinho, já tem 2 anos, foi na época 2014/15 (o bicampeonato)! Desde então, o Benfica não tem nenhum minuto 'útil' em superioridade numérica!!! Março de 2015, no Benfica 2 - 0 Braga, Tiago Gomes expulso, com duplo amarelo, ao minuto 59...
Nunca mais, aconteceu algo parecido!!!

Fim de época...

Sporting 25 - 23 Benfica
(14-8)

Não foi o Benfica que entregou o campeonato aos Lagartos, foram os vários 'desaires' dos Corruptos que lhes 'retiraram' o título... a 'começar' pelo recente empate na Madeira!!! O Benfica, nesta recta final, deu tudo o que tinha... mas no final, os 'orçamentos' mandaram! A diferença é brutal... Hoje, as duas equipas em campo, que lutaram pelo resultado até ao final, estão separadas por um múltiplo de 5!!!

Em relação ao jogo de hoje, voltámos a ter um período muito mau (2.ª parte do 1.º tempo!!!), estivemos a perder por 9 golos de diferença... no resto da partida equilibrámos, e até fomos superiores em vários momentos...

Além da troca de treinador (o problema do Benfica nunca foi o treinador... que aparentemente até pode ir para o Sporting!!!), já existem alguns rumores sólidos para a próxima época... e parece-me que vamos ter um plantel mais forte! Pessoalmente, penso que precisamos de alguns 'retoques', não muitos, principalmente na 1.ª linha, mas apesar das diferenças orçamentais, julgo que com a qualidade dos nossos jovens, vamos ter equipa para lutar pelo título... Aliás, este ano, se não tivesse sido duas 'brancas' com equipas do fundo da tabela, e teríamos chegado à Fase Final a lutar por muito mais...!!!

PS: Se o sistema de play-off's se tivesse mantido, o Benfica estaria neste momento a lutar pelo título... seguramente!

Era uma vez 200 milhões

"Na última segunda-feira, com kick-off às três da tarde, defrontaram-se em Wembley, perante 76.682 espectadores, Huddersfield Town e Reading, na disputa pelo derradeiro lugar de acesso à Premier League de 2017/18. O triunfo sorriu, no desempate da marca de grande penalidade, ao Huddersfield Town, clube histórico, tricampeão de Inglaterra entre 1923 e 1926 (treinado pelo mítico Herbert Champman), onde militou o virtuoso Denis Law nos últimos anos da década de cinquenta do século passado. Ao sair de Wembley vencedor, o Huddersfield Town, que não jogava entre os maiores há 45 anos, ganhou 200 milhões de euros em direitos televisivos, uma verba entendida como suficiente para se preparar e manter viva a competitividade da Premier League, afinal o segredo de um negócio bem-sucedido. Portimonense e Desportivo das Aves, os nossos promovidos, vão receber cerca de 50 vezes menos...
De facto, não temos nada a ver com os valores praticados não só em Inglaterra mas também nos outros quatro que compõem os big five, nem nos aproximamos, em vil metal, de campeonatos como os da Turquia, Ucrânia e Rússia. Por tudo isto, aos clubes portugueses é exigida criatividade financeira e malabarismo aritmético para manterem as naus a navegar sem risco de naufrágios. E mesmo assim... Não estranhemos, pois, acompanhado por algum desencanto, com as vendas a superarem exponencialmente as compras e com os treinadores a terem de baralhar e dar de novo. E por falar em treinadores, a única coisa que o bom senso aconselha a dizer que quase nada é completamente certo."

José Manuel Delgado, in A Bola

Uma questão de confiança “no” e “do”... “mental coach”

"Confesso que, ao pensar no título deste artigo, o primeiro insight foi colocar palavra "psicólogo" no lugar de "mental coach", mas, atendendo a que existem um conjunto de outras áreas distintas, a promover serviços na área do treino de competências psicológicas para a performance (convido-vos, nesta etapa a reler este artigo, para melhor entendimento), entendi que esta designação seria mais abrangente.
O tema desta semana surge a propósito duma mesa redonda onde tive o prazer de participar na passada sexta-feira, naquele que foi o 4.º Congresso Internacional de Treino de Guarda Redes.
O propósito da mesa previa a partilha de diferentes perspectivas, acerca das necessidades do desporto de alto rendimento, no caso, o futebol profissional - para o efeito, estiveram presentes na mesma mesa, os guarda-redes Moreira e Helton.
O debate foi, naturalmente, muitíssimo enriquecido pelo cruzamento de uma perspectiva científica face aos relatos dos dois profissionais e, como seria de esperar, debateram-se aspectos relacionados com as competências psicológicas associadas a desporto com elevados índices de stress, associados a uma performance que se pretende de elevadíssimo nível.
Da discussão, e para o efeito deste artigo, um dos temas mais pertinentes a questão da confiança e, em dois sectores que agora se apresentam, por achar que, de facto, este é um tema de interesse geral.
Devemos confiar ou não no "mental coach" que se encontra no clube?
Este é, de fato, um tema complicado, na medida em que, à partida, pode haver, de facto, um conflito de interesses latente, na medida em que atletas/treinadores e "mental coach" acabam por ter a mesma entidade patronal, a quem prestam serviços.
Dois argumentos (a título de exemplo) podem, no entanto, salvaguardar esta situação:
a) se existir uma cláusula de confidencialidade que proteja a actuação do "mental coach", face aos clientes internos com que possa trabalhar garantindo, a estes últimos, a possibilidade de responsabilizar legalmente o mesmo, no caso de fuga de informação (na realidade, e desconhecendo a legalidade desta hipótese, por certo seria, antes de mais, uma medida de credibilidade para os próprios profissionais);
b) uma medida mais "qualitativa" que passa pela maturidade e segurança que o próprio "mental coach" demonstra, uma vez que, com a experiência/maturidade acresce normalmente mais competência em gestão de informação - fundamentais para garantir a confidencialidade entre os diferentes clientes - e, menos necessidade de protagonismo e validação externa, muitas vezes, a principal razão das ditas "fugas de informação".
Devemos confiar ou não nos "mental coachs" que, agora, inundam o mercado? Ou, por outras palavras, como escolher um "mental coach"?
Esta é, de facto, uma questão complexa, na medida em que, em Portugal, de repente parece que, agora, "temos" esta área... quando, na realidade, há profissionais a trabalhar, seja em contexto de terreno ou de investigação, há mais de 40 anos em Psicologia do Desporto.
Há, no entanto, um conjunto de directrizes que podem ser úteis para escolher o profissional "certo": 
1. Identifique claramente as suas necessidades.
2. Identifique 3 ou 4 profissionais com quem alguém seu conhecido tenha trabalhado (e que tenha gostado) - peça referências.
3. Investigue essas pessoas na internet
4. Que certificações possuem?
5. Há quantos anos trabalham no terreno? Que argumentos possuem para serem considerados "especialistas"?
6. Existem artigos/livros da sua autoria? Faça uma revisão dos mesmos.
7. Solicite uma sessão de teste para ouvir os diferentes profissionais e tentar definir com qual deles(as) se sente mais "alinhado(a)", seja em termos de pensamento, seja em termos de "energia" (não se comprometa imediatamente com o primeiro, avalie todas as possibilidades antes).
8. Exija um acordo de confidencialidade acerca do conteúdo das suas sessões por escrito.
Acima de tudo, desconfie de promessas de melhoria rápida de performance e/ou qualidade de vida - esta é mais uma área de treino e, da mesma forma que não se transformou em "atleta" numa semana, a elevação dos seus níveis de "mental skills" não ocorrerá de um momento para o outro.
De facto, resultados rápidos (e, muitas vezes, inconsistentes) revelam, muito mais frequentemente, a instalação de uma relação de dependência entre "mental coach" e cliente e não a verdadeira aquisição de skills, por parte deste último (o atleta/treinador, etc.).
Por último, e em jeito de "brincadeira":
Se nos detemos horas a investigar e recolher informação sobre o telemóvel, a casa, o carro ou as férias que pretendemos fazer...
O que diria que deve fazer... para escolher o profissional que irá (desejavelmente) ajudar a impulsionar a sua vida?"

105x68... resumo da época

Rui Vitória na SIC



PS: Já nem sequer me surpreende!!! O Benfica continua a ter uma política de relações com a comunicação social muita estranha!!! Não consigo compreender como é que o Benfica continua a 'entregar' audiências, a pessoas e organizações, que passam a época toda a destratar o Benfica e os seus funcionários... mas pronto, eu não mando no Benfica, sou um simples sócio!

​Chegar ao triplete

"Este desfecho foi também a afirmação de um trabalho construído na base de muito empenho e muita capacidade profissional e, por acréscimo, o reconhecimento de um grupo de qualidade orientado por um técnico de excelente craveira.

Correspondendo a previsões instaladas no país do futebol, o Benfica encerrou ontem a temporada arrebatando o último troféu, a Taça de Portugal.
O adversário, o Vitória de Guimarães, embora perdendo, não saiu apoucado do embate do Estádio Nacional, onde perdeu pela diferença mínima, após um jogo muito prejudicado pela forte bátega de água que fustigou o Vale do Jamor durante uma boa parte da tarde.
Não tivemos o jogo de qualidade que se esperava e justificava, dada a qualidade das equipas em presença. Só que, em circunstâncias como esta, há muitas razões que justificam por vezes um maior empenho no resultado do que propriamente na qualidade.
E foi isso que aconteceu. Tivemos uma primeira parte que praticamente não aconteceu, e um arranque fulgurante do Benfica no segundo tempo que lhe valeu um golo logo aos três minutos e a repetição da dose seis minutos depois.
E aí ficou instalada a sorte do jogo, ainda que a doze minutos do fim, o Vitória tenha conseguido reduzir a diferença. Ficou assim reposta uma boa parte da verdade do jogo, ganho com justiça pelo já campeão nacional.
Este desfecho foi também a afirmação de um trabalho construído na base de muito empenho e muita capacidade profissional e, por acréscimo, o reconhecimento de um grupo de qualidade orientado por um técnico de excelente craveira, capaz de unir uma equipa e mantê-la coesa até ao derradeiro pontapé na bola.
Só por manifesta má vontade não serão compreendidos e aceites os sucessos do Benfica na época que agora termina.
E, cremos, há também boa razões para que a concorrência mais directa não se distraia e, muito menos, deixe adormecer."

Watford? What for?

"Houve um tempo não muito distante em que o FC Porto perdia treinadores para o Chelsea, mas só depois de vencer na Europa e batidas as respectivas cláusulas de rescisão.
Foi assim com José Mourinho, em 2004, após conquistar consecutivamente Taça UEFA e Liga dos Campeões; tal como foi com André Villas-Boas, em 2011, na sequência do triunfo na Liga Europa – ambos foram também campeões nacionais, mas isso para os azuis e brancos chegou a ser quase tradição.
Mourinho e Villas-Boas saíram para um projecto ambicioso não só em termos financeiros mas também desportivos, mesmo assim sob a incompreensão de largos sectores de adeptos portistas, indignados, exclamando que, com exceção do orçamento (e projecção, vá), os blues de Londres eram em tudo inferiores aos da Invicta.
Agora, apesar de versões contraditórias, dá-se a novidade de que o FC Porto terá perdido um treinador para o Watford.
Watford?! What for?
Ao longo da última semana, boa parte da opinião pública tentou justificar por A mais B a lógica de um treinador preferir lutar pela manutenção na Premier League a lutar pelo título de campeão em Portugal e disputar a Liga dos Campeões.
Lamento discordar.
Espantar-me-ia se Jorge Jesus fosse alguma vez tentado a trocar o Sporting pelo Burnley ou se Rui Vitória estivesse a considerar uma proposta, vá lá, de um clube um bocadinho mais a meio da tabela, do género do Stoke City – ao qual, para não perdermos o devido enquadramento, o FC Porto emprestou Martins Indi ou despachou Imbula.
Mesmo considerando os mais de 100 milhões de euros que o FC Porto terá de encaixar para cumprir o fair-play financeiro e o previsível grande investimento em contratações que fará o Watford (e de todos os seus concorrentes, sublinhe-se), previsivelmente os dragões continuarão a ter um plantel de nível muito superior ao do clube inglês.
O que motiva então esta aparente opção? Provavelmente, o grau de exigência do Dragão para Vicarage Road.
Ao fim de quatro anos de seca de títulos e perante a impaciência dos adeptos, no Porto Marco Silva teria conviver com a pressão de ser campeão, tendo previsivelmente menos argumentos em relação pelo menos a um dos candidatos ao título. Além disso, teria de alguma forma de «dar o peito às balas» e arriscar a sua boa imagem cá na terra, comprometendo um eventual regresso a médio prazo a Portugal – por outra porta, evidentemente.
Marco Silva tem toda a legitimidade para definir as suas opções de carreira; tal como, deste lado, cada um de nós tem a possibilidade as analisar publicamente.
O problema está sobretudo no FC Porto, que não deveria sequer considerar como hipótese um treinador que ficasse inclinado a assumir um clube de fundo da tabela, por mais encanto que tenha a Premier League.
Se Marco Silva é cerebral, calculista até, Sérgio Conceição é sanguíneo e portanto mais propenso a arriscar trocar o conforto de três anos de contrato com o Nantes (que não só salvou da descida como guindou até ao 7.º lugar da Ligue 1) pela oportunidade de treinar o FC Porto.
Há também como hipótese Paulo Sousa, que tem sérias reservas por parte de um largo espectro de adeptos, justificadas pelo afastamento do futebol português, pela falta de afinidade com o clube e sobretudo pela facção interessada na sua contratação.
A cadeira de sonho, onde qualquer um se arriscava a ser campeão, perdeu a estabilidade, como agora tivesse o encosto partido e uma perna bamba.
No entanto, nesta amálgama de cogitações e dúvidas, acentuadas por uma semana inteira de indefinição, o FC Porto poderia, ainda assim, optar por alguém experiente, com um discurso ponderado, que já provou ser capaz de colocar equipas a jogarem bom futebol. Alguém conhecedor do clube e da realidade do futebol português, capaz de apostar em jovens e fazê-los crescer.
Mais até do que Pedro Martins, o FC Porto poderia optar por alguém como Luís Castro – que levou a equipa B portista à conquista da II Liga na época passada.
Independentemente de meia oportunidade numa época já perdida (2013/14), qual é então o problema do homem da casa?
Depois de quatro anos de fracasso desportivo, equívocos e escolhas falhadas não há força por parte de quem dirige para impor um nome que não seja minimamente sonante aos adeptos, cada vez mais desconfiados.
Esta fragilidade nas decisões, após erros sucessivos, a perda de influência no futebol português e o vislumbre de um beco sem saída em termos de alternativa tornam o contexto num problema bem mais profundo, que está para lá da simples escolha de um treinador.
Para encontrar soluções, mais do que falar da cadeira, há que, cada vez mais, olhar para o cadeirão."

Benfiquismo (CDLXXXV)

'Estes' não correram muito bem...

Rescaldo da entrevista do Mister à BTV

Top Gun, versão Jamor !!!

Alvorada... com o Professor !!!

Só Vieira tem um projecto

"No FC Porto, Pinto da Costa parece renitente em admitir que há um dia para sair, enquanto no Sporting não se enxerga quem manda mais, se o presidente se o treinador.

O triunfo na Taça de Portugal, uma competição que o Benfica se desabituara de ganhar desde a viragem de século (2004, 2014 e 2017), é mais um elemento de prova em favor da política seguida pelo Benfica, decorrente do gigantesco e ambicioso projecto de Luís Filipe Vieira.
Ainda integrado na equipa directiva de Vilarinho, ajudou a reunir os cacos e a salvar das cinzas o pouco que restava do clube. Já como presidente eleito, estabeleceu como primeira prioridade a recuperação da credibilidade perdida. levou avante a construção do novo estádio em conjuntura desfavorável, uma empreitada de muito arrojo e depressa classificada por amigos e inimigos como uma aventura destinada ao fracasso.
Apesar dos perigos e das armadilhas, dada a situação instável, tão ousado desafio mais pareceu uma miragem para fazer rir às gargalhadas os adversários. É verdade que partiu atrasado em relação aos concorrentes mais fortes, mas, mesmo assim, chegou primeiro, proclamou a sua razão e devolveu a força de acreditar à nação benfiquista, a qual se deu conta que estava em marcha um processo de mudança irreversível e de amplitude incalculável.
Dando passos seguros, embora com necessários recuos e alguns tropeções que não puderem ser evitados, o presidente benfiquista foi reforçando os alicerces para abraçar o futuro sem receio do desconhecido.

A cabeça de Vieira é uma espécie de máquina calculadora em permanente laboração. Além de fazer contas e gerar lucros é uma abundante fonte de onde brotam ideias com o mesmo entusiasmo do primeiro dia. Revela ainda uma espantosa capacidade de evolução para manter o clube na linha da frente em todas as vertentes. Por isso, nasceram o complexo adjacente ao estádio, a zona comercial, o museu e o centro de treino do Seixal, modelar à escala mundial e, só por si, um foco de permanente de inovação.
A revolução tecnológica que aproximou as Casas do Benfica foi outra das medidas tradutoras do espírito pioneiro da governação de Vieira: a dimensão universal da instituição precisava de uma resposta adequada no sentido de diversificar os locais de votação em cenários eleitorais.
Com o emblema da águia unido e em paz, deparou-se-lhe, então, a oportunidade para atacar a terceira fase do projecto, porventura a mais aliciante e volúvel por não depender da vontade uma pessoa ou de um presidente: recolocar o futebol profissional no lugar europeu que lhe pertenceu em passado de reconhecida e apreciada glória desportiva.
O percurso é demorado e vai sendo cumprido. Talvez o clube pudesse estar nesta altura em fase mais adiantada, mas os erros também têm ajudado na consolidação estrutural porque de todos eles se extraem ensinamentos e se enriquece a experiência.

Trapattoni foi rampa de lançamento com sucesso, mas sucedeu-lhe um vazio apenas interrompido cinco anos mais tarde por Jorge Jesus. A que se seguiu outra travessia no deserto, de mais quatro anos, que teria sido suficiente para provocar uma derrocada geral não fossem invulgarmente resistentes as bases de sustentação de um desígnio preparado para resistir a ventos e marés.
Vieira, tal como treinadores e jogadores, igualmente cresceu como presidente e sem que fosse preciso segredar-lhe ao ouvido o que devia fazer, no recato do gabinete tomou decisões inadiáveis e determinantes. Era preciso alterar o rumo, iniciar outro ciclo. Fê-lo com a discrição, a firmeza e a segurança que definem os líderes de verdade.
Não hesitou na hora de mudar, convicto de que o caminho não era por ali. No entanto, não faltou quem tivesse prenunciado a desgraça, como se pudesse permitir-se a uma qualquer personalidade megalómana sobrepor-se ao interesse da instituição Benfica.
A todos os reparos Vieira reagiu com o silêncio e a tranquilidade de quem compreendeu o alcance da campanha lamurienta, recusando, porém, dar-lhe alimento na praça pública. Pelos vistos, com razão:
1. Hoje, o Benfica soma 75 títulos nacionais (36 Campeonatos + 26 Taças de Portugal + 7 Taças da Liga + 6 Supertaças), o FC Porto 63 (27 + 16 + 0 + 20) e o Sporting 42 (18 + 16 + 0 +8).
2. Hoje, o Benfica justifica por a mais b que foi acertada a opção por Rui Vitória, enquanto o Sporting se imobilizou num beco sem saída ao convencer-se de que Jorge Jesus seria o remédio para todos os problemas.
3. Hoje, é irrecusável que, dos três grandes, o único presidente que verdadeiramente tem um grande projecto e luta por ele é Luís Filipe Vieira. No FC Porto, o seu presidente, apesar de acumular crédito notável, através de valiosa carteira de títulos desportivos, parece renitente em admitir que há um dia para sair, enquanto no Sporting não se enxerga quem manda mais, se o presidente, se o treinador..."

Fernando Guerra, in A Bola

O exemplo inglês

"Nos anos 80 o campeonato inglês andava pelas ruas da amargura.

Em Inglaterra mora uma das melhores Ligas do planeta. Por lá joga-se um campeonato em que todos, todos sem excepção, são profissionais. É, neste momento, uma das competições mais valorizadas. Uma das mais vistas. Uma das mais mediáticas. Parte significativa dos seus jogos são transmitidos por oitenta redes de televisão em mais de duzentos países.
A Premier League é das que mais adeptos coloca nos estádios. É também uma das que mais jogos realiza, em cada época. É uma das que mais dinheiro dá aos clubes. Os direitos de televisão estão centralizados, não são negociados individualmente. Rendem um bilião de libras por ano. Em euros... é fazer as contas.
Por lá, todos os dirigentes vêem o jogo como um produto que valioso, que é e deve ser prioridade de todos. Porquê? Porque há muito que já perceberam que quanto mais valorizada for a sua competição, mais benefícios terão.
Neste contexto torna-se óbvio porque motivo atrai patrocinadores e investidores. Hoje, jogar na Premier League não é apenas actuar num campeonato estrangeiro: é o concretizar de um sonho.
Mas as coisas nem sempre foram assim. Nos anos 80, o campeonato inglês andava pelas ruas da amargura. O futebol tinha uma dimensão menor e mais pior, um problema gravíssimo com os seus adeptos.
O hooliganismo teve o seu expoente máximo nas tragédias de Heysel Park (1985), e Hillsborough (1989). Pouco depois da primeira, a UEFA decidiu banir, por cinco anos, todas as equipas inglesas de participarem nas suas competições. A Liga inglesa bateu então no fundo.
Mas a essa travessia no deserto, responderam com planeamento, inteligência e eficácia. Com atitude e firmeza.
A Sra. Margaret Thatcher foi chamada à razão pelos responsáveis do futebol e o poder político foi forçado e intervir. Naquele contexto, o mero apelo ao fair-play era inaceitável. Finalmente tinham percebido que as ameaças, a violência e a criminalidade nos estádios e em torno deles não era apenas um problema desportivo mas antes um drama nacional, com consequências incalculáveis para o país.
Foram então feitos investimentos no sentido de tornar o futebol num lugar mais seguro. A identificação dos que iam à bola para destruir, vandalizar e bater passou a ser prioridade e foram tomadas medidas para que os incidentes no interior dos estádios acabassem. Em pouco tempo, a maioria dos delinquentes estava sinalizada e identificada. As punições passaram a ser exemplares e erradicaram dos recintos desportivos todos os energúmenos que estavam a mais no futebol.
Nos anos 90 e já numa fase crescente, os clubes ingleses decidiram separar-se da Federação Inglesa. Foi então criada a FA Premier League (hoje Premier League). O aumento de receitas televisivas e melhores patrocínios sustentou a decisão.
Foi um verdadeiro Jackpot!
Hoje, a Liga Inglesa é um caso de sucesso absoluto e não há quem o negreserva e promove a sua imagem, pela positiva, como ninguém. Para isso, pune de forma exemplar qualquer comportamento que ponha em causa o bom nome do seu produto. Pune igualmente quaisquer actos violentos ou palavras caluniosas/ofensivas.
Para a próxima época, uma Comissão formada por um ex-árbitro, um ex-treinador e um ex-jogador vão analisar lances de simulação e, em caso de unanimidade, passarão a punir os infractores com jogos de castigo e multa pesada. Ali o não à batota é levado a sério!
Vista daqui, a Premier League parece estar a anos-luz, mas a verdade é que Inglaterra está apenas a duas horas de Portugal.
Por vezes, mais do que improvisar ou criar, basta seguir as boas práticas. Não é plágio. É inteligência. Ou não?"


Duarte Gomes, in A Bola

Nudez da verdade, manto da fantasia

"Morreu a velha época, viva a nova época. Foi sempre assim e sempre assim será. O futebol tem, pois, uma virtude vital: renova-se nos encantos e nos desencantos. A uma época perdida sucede a esperança de uma época ganha. Daí, a natureza perdurável do negócio. Daí a razão de ser desse milagre da transformação da lástima em crença, da desolação em convicção de sucesso.
É também por esta tão irrazoável racionalidade que os presidentes e os treinadores perdedores apagam tão facilmente da memória de todos projectos e promessas por cumprir. Na ideia de futuro, o que conta, para os adeptos antes desiludidos e decepcionados não é, como escreveu o Eça na 'Relíquia', a nudez crua da verdade, mas o manto diáfano da fantasia.
Porém, há uma altura em que a repetição falhada da ideia de esperança e de sucesso de torna letal. Penso que Pinto da Costa e Bruno de Carvalho têm a consciência de que entraram em zona de perigo, caso o Benfica chegue ao penta.
Para o presidente do FC Porto, preso a um complexo emaranhado de soluções económico-financeiras para evitar o colapso desportivo, a perda do próximo campeonato torna-se-ia dramática; para o presidente do Sporting, atado de pés e mãos a uma jura de títulos no imediato e continuação do insucesso desportivo levá-lo-ia ao universo de um simples pantomineiro.
Julgo que tanto Pinto da Costa como Bruno de Carvalho têm a exacta consciência da delicadíssima situação em que se encontram e sabem que a questão decisiva do momento será a de como conseguir ganhar. Sendo certo que não podem ganhar os dois."

Vítor Serpa, in A Bola