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quarta-feira, 31 de maio de 2017

Uma questão de confiança “no” e “do”... “mental coach”

"Confesso que, ao pensar no título deste artigo, o primeiro insight foi colocar palavra "psicólogo" no lugar de "mental coach", mas, atendendo a que existem um conjunto de outras áreas distintas, a promover serviços na área do treino de competências psicológicas para a performance (convido-vos, nesta etapa a reler este artigo, para melhor entendimento), entendi que esta designação seria mais abrangente.
O tema desta semana surge a propósito duma mesa redonda onde tive o prazer de participar na passada sexta-feira, naquele que foi o 4.º Congresso Internacional de Treino de Guarda Redes.
O propósito da mesa previa a partilha de diferentes perspectivas, acerca das necessidades do desporto de alto rendimento, no caso, o futebol profissional - para o efeito, estiveram presentes na mesma mesa, os guarda-redes Moreira e Helton.
O debate foi, naturalmente, muitíssimo enriquecido pelo cruzamento de uma perspectiva científica face aos relatos dos dois profissionais e, como seria de esperar, debateram-se aspectos relacionados com as competências psicológicas associadas a desporto com elevados índices de stress, associados a uma performance que se pretende de elevadíssimo nível.
Da discussão, e para o efeito deste artigo, um dos temas mais pertinentes a questão da confiança e, em dois sectores que agora se apresentam, por achar que, de facto, este é um tema de interesse geral.
Devemos confiar ou não no "mental coach" que se encontra no clube?
Este é, de fato, um tema complicado, na medida em que, à partida, pode haver, de facto, um conflito de interesses latente, na medida em que atletas/treinadores e "mental coach" acabam por ter a mesma entidade patronal, a quem prestam serviços.
Dois argumentos (a título de exemplo) podem, no entanto, salvaguardar esta situação:
a) se existir uma cláusula de confidencialidade que proteja a actuação do "mental coach", face aos clientes internos com que possa trabalhar garantindo, a estes últimos, a possibilidade de responsabilizar legalmente o mesmo, no caso de fuga de informação (na realidade, e desconhecendo a legalidade desta hipótese, por certo seria, antes de mais, uma medida de credibilidade para os próprios profissionais);
b) uma medida mais "qualitativa" que passa pela maturidade e segurança que o próprio "mental coach" demonstra, uma vez que, com a experiência/maturidade acresce normalmente mais competência em gestão de informação - fundamentais para garantir a confidencialidade entre os diferentes clientes - e, menos necessidade de protagonismo e validação externa, muitas vezes, a principal razão das ditas "fugas de informação".
Devemos confiar ou não nos "mental coachs" que, agora, inundam o mercado? Ou, por outras palavras, como escolher um "mental coach"?
Esta é, de facto, uma questão complexa, na medida em que, em Portugal, de repente parece que, agora, "temos" esta área... quando, na realidade, há profissionais a trabalhar, seja em contexto de terreno ou de investigação, há mais de 40 anos em Psicologia do Desporto.
Há, no entanto, um conjunto de directrizes que podem ser úteis para escolher o profissional "certo": 
1. Identifique claramente as suas necessidades.
2. Identifique 3 ou 4 profissionais com quem alguém seu conhecido tenha trabalhado (e que tenha gostado) - peça referências.
3. Investigue essas pessoas na internet
4. Que certificações possuem?
5. Há quantos anos trabalham no terreno? Que argumentos possuem para serem considerados "especialistas"?
6. Existem artigos/livros da sua autoria? Faça uma revisão dos mesmos.
7. Solicite uma sessão de teste para ouvir os diferentes profissionais e tentar definir com qual deles(as) se sente mais "alinhado(a)", seja em termos de pensamento, seja em termos de "energia" (não se comprometa imediatamente com o primeiro, avalie todas as possibilidades antes).
8. Exija um acordo de confidencialidade acerca do conteúdo das suas sessões por escrito.
Acima de tudo, desconfie de promessas de melhoria rápida de performance e/ou qualidade de vida - esta é mais uma área de treino e, da mesma forma que não se transformou em "atleta" numa semana, a elevação dos seus níveis de "mental skills" não ocorrerá de um momento para o outro.
De facto, resultados rápidos (e, muitas vezes, inconsistentes) revelam, muito mais frequentemente, a instalação de uma relação de dependência entre "mental coach" e cliente e não a verdadeira aquisição de skills, por parte deste último (o atleta/treinador, etc.).
Por último, e em jeito de "brincadeira":
Se nos detemos horas a investigar e recolher informação sobre o telemóvel, a casa, o carro ou as férias que pretendemos fazer...
O que diria que deve fazer... para escolher o profissional que irá (desejavelmente) ajudar a impulsionar a sua vida?"

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