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quarta-feira, 31 de maio de 2017

O exemplo inglês

"Nos anos 80 o campeonato inglês andava pelas ruas da amargura.

Em Inglaterra mora uma das melhores Ligas do planeta. Por lá joga-se um campeonato em que todos, todos sem excepção, são profissionais. É, neste momento, uma das competições mais valorizadas. Uma das mais vistas. Uma das mais mediáticas. Parte significativa dos seus jogos são transmitidos por oitenta redes de televisão em mais de duzentos países.
A Premier League é das que mais adeptos coloca nos estádios. É também uma das que mais jogos realiza, em cada época. É uma das que mais dinheiro dá aos clubes. Os direitos de televisão estão centralizados, não são negociados individualmente. Rendem um bilião de libras por ano. Em euros... é fazer as contas.
Por lá, todos os dirigentes vêem o jogo como um produto que valioso, que é e deve ser prioridade de todos. Porquê? Porque há muito que já perceberam que quanto mais valorizada for a sua competição, mais benefícios terão.
Neste contexto torna-se óbvio porque motivo atrai patrocinadores e investidores. Hoje, jogar na Premier League não é apenas actuar num campeonato estrangeiro: é o concretizar de um sonho.
Mas as coisas nem sempre foram assim. Nos anos 80, o campeonato inglês andava pelas ruas da amargura. O futebol tinha uma dimensão menor e mais pior, um problema gravíssimo com os seus adeptos.
O hooliganismo teve o seu expoente máximo nas tragédias de Heysel Park (1985), e Hillsborough (1989). Pouco depois da primeira, a UEFA decidiu banir, por cinco anos, todas as equipas inglesas de participarem nas suas competições. A Liga inglesa bateu então no fundo.
Mas a essa travessia no deserto, responderam com planeamento, inteligência e eficácia. Com atitude e firmeza.
A Sra. Margaret Thatcher foi chamada à razão pelos responsáveis do futebol e o poder político foi forçado e intervir. Naquele contexto, o mero apelo ao fair-play era inaceitável. Finalmente tinham percebido que as ameaças, a violência e a criminalidade nos estádios e em torno deles não era apenas um problema desportivo mas antes um drama nacional, com consequências incalculáveis para o país.
Foram então feitos investimentos no sentido de tornar o futebol num lugar mais seguro. A identificação dos que iam à bola para destruir, vandalizar e bater passou a ser prioridade e foram tomadas medidas para que os incidentes no interior dos estádios acabassem. Em pouco tempo, a maioria dos delinquentes estava sinalizada e identificada. As punições passaram a ser exemplares e erradicaram dos recintos desportivos todos os energúmenos que estavam a mais no futebol.
Nos anos 90 e já numa fase crescente, os clubes ingleses decidiram separar-se da Federação Inglesa. Foi então criada a FA Premier League (hoje Premier League). O aumento de receitas televisivas e melhores patrocínios sustentou a decisão.
Foi um verdadeiro Jackpot!
Hoje, a Liga Inglesa é um caso de sucesso absoluto e não há quem o negreserva e promove a sua imagem, pela positiva, como ninguém. Para isso, pune de forma exemplar qualquer comportamento que ponha em causa o bom nome do seu produto. Pune igualmente quaisquer actos violentos ou palavras caluniosas/ofensivas.
Para a próxima época, uma Comissão formada por um ex-árbitro, um ex-treinador e um ex-jogador vão analisar lances de simulação e, em caso de unanimidade, passarão a punir os infractores com jogos de castigo e multa pesada. Ali o não à batota é levado a sério!
Vista daqui, a Premier League parece estar a anos-luz, mas a verdade é que Inglaterra está apenas a duas horas de Portugal.
Por vezes, mais do que improvisar ou criar, basta seguir as boas práticas. Não é plágio. É inteligência. Ou não?"


Duarte Gomes, in A Bola

1 comentário:

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