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segunda-feira, 18 de novembro de 2024

Terceiro Anel: Seleção - Polónia...

Análise ao Benfica: do autocarro bávaro ao atropelo histórico


"A última semana de futebol de clubes antes de mais uma paragem para Selecções revelou um Benfica de duas faces. Por um lado, um tropeção em Munique, que ficou longe de deixar a melhor imagem na Europa. Por outro, um jogo clássico na Luz frente ao FC Porto, no qual as “águias” se agigantaram como não o faziam há seis décadas.

1. Descaracterização total na Baviera
Bruno Lage colocou em prática um 433 que lhe garantiu várias vitórias de seguida, mal chegou ao Benfica. Posteriormente, o mesmo 433 viria a sofrer mudanças estratégicas consoante o adversário, mas sempre na base de alteração de dinâmicas ou jogadores. O que se viu em Munique foi uma descaracterização do trabalho feito até então. O Benfica não só entrou muito defensivo e muito baixo no terreno, como também abdicou de atacar. Lage alterou o sistema para um 532 que nem isso chegou a ser porque a equipa nunca o conseguiu interpretar. Pelo mapa abaixo, é vísivel a “confusão” revelada pelos posicionamentos médios dos jogadores encarnados. O Benfica terminou esse jogo com 0 (zero) remates enquadrados. Por sua vez, no jogo com o FCP, na Luz, O Benfica voltou ao seu sistema (433) e com isso o conforto chegou e todos os jogadores estiveram confortáveis para expor em campo tudo o que sabem. No clássico o Benfica anulou tacticamente a equipa de Vítor Bruno e mostrou sempre muita vontade em atacar e chegar ao golo.
[ Em baixo: o mapa de posicionamento das acções dos “encarnados” em Munique, um autocarro confuso e votado ao insucesso ]

2. Defender? Sim, mas bem
Mesmo recorrendo a uma equipa com cinco defesas e um meio campo com três elementos que tinham como missão bloquear a organização ofensiva do Bayern, o Benfica acabou por conceder muitos lances dentro da sua área. É verdade que o Bayern não teve muitas bolas de golo, mas quando se chega às 51 acções dentro da área adversária, o difícil será não mercar. Voltando ao jogo na Luz, o mindset foi diferente (também porque o poderio do adversário era outro). O Benfica quis sempre ganhar e aplicou uma pressão eficaz na saída de bola do FC Porto que fez com que a equipa azul e branca nunca conseguisse construir ou até esticar na frente em Samu. Defendeu muito mais à frente, procurou ter iniciativa do jogo e retirou dividendos disso marcando relativamente cedo nas duas partes.
[ Em baixo: o mapa das 51 acções com bola permitidas pelo Benfica em Munique, o quinto pior registo da Champions 24/25 ]

3. Tomás a “10”
Tomás Araújo tem sido provavelmente o jogador mais regular do Benfica desde o arranque da temporada. No clássico foi para muitos o melhor em campo. Defensivamente esteve bem, mas é o seu jogo de pés que entusiasma. Acabou o jogo com 10 passes progressivos executados. Entre passes verticais pelo chão e passes longos pelo ar, Tomás é um farol. Estas entregas podem parecer simples, mas poucos centrais as fazem com tanto sucesso (exemplo: é o factor que mais distingue, pela positiva, o jogo do rival Gonçalo Inácio). O jovem português quebra linhas de pressão adversárias ao encontrar o homem solto nas costas da pressão. Assistiu para o golo inaugural (num grande passe de trivela) e lança Bah para o golo dividido entre Pavlidis e Pérez. É claro que tem de melhorar alguns aspectos, nomeadamente o seu jogo aéreo, mas a qualidade com que constrói é muitas vezes essencial para o Benfica.
[ Em baixo: os 10 passes progressivos eficazes de Tomás Araújo no clássico, ninguém somou mais no jogo grande ]

4. Di Magia, dos jogos grandes!
Depois de estar ligado a várias finais de clubes e selecções, Di María voltou a aparecer num jogo grande. Desde cedo que se percebeu que Ángel compareceu no clássico com energia para abanar o jogo. Nem sempre decidiu bem, mas a verdade é que saiu com dois golos e muitos lances de perigo. Até mesmo na disponibilidade física esteve acima dos últimos jogos, fazendo vários piques onde tinha muito campo para correr. Além de tudo isto, Di Maria pincelou o jogo com vários pormenores dignos da carreira de um tecnicista, como sempre foi. Certamente que Francisco Moura se vai lembrar desta noite durante muito tempo porque não foi fácil lidar com o argentino: o lateral portista perdeu os quatro duelos que disputou com o MVP da partida.

Um Benfica de duas faces, o que se mostrou nos dois jogos “grandes” antes da paragem. Num jogo, Bruno Lage quis defender e procurar uma transição que lhe permitisse pontuar em Munique e no outro os encarnados quiseram dominar desde o inicio e rectificar a imagem deixada na semana europeia. Lage tem optado por adaptar a equipa ao adversário que tem pela frente. É um treinador que estuda muito os adversários e por isso, consegue colocar em prática uma vertente estratégica que Schmidt nunca teve, porém, é preciso cuidado porque quando a estratégia é demasiado complexa ou algo que a equipa nunca fez, acaba por resultar numa exibição pobre como a de Champions. Para o treinador do Benfica a tarefa é “simples”, já descobriu a fórmula que resulta agora é ir gerindo sem grandes invenções que deixem a equipa desconfortável."

«Quero ser treinador de futebol», disse-me José Mourinho


"No ano letivo de 1982/1983 e no ISEF/UTL (Instituto Superior de Educação Física da Universidade Técnica de Lisboa) lecionava eu a disciplina de Filosofia das Atividades Corporais, no primeiro ano da licenciatura. E começava por salientar a figura tutelar e veneranda de Sócrates (viveu em Atenas, no século V a.C.) que foi condenado à morte, acusado de corromper a mocidade e ser ímpio em relação aos deuses da cidade.
Sobre a vida de Sócrates fazia então algumas observações: Sócrates não era um teórico, fechado no seu gabinete, ufano do seu muito saber intelectual e distante de qualquer conhecimento prático. Bem pelo contrário: andava pelas ruas, interrogando as pessoas e alegando que o fazia porque nada sabia. Enfim, ele era subversivo, porque desnorteava a mocidade e perturbava a ordem do conhecer e do fazer instituídos. Deveria ser portanto condenado à morte.
Procurava, depois, traçar um paralelo entre a vida de Sócrates e a Filosofia das Atividades Corporais: o lugar da Filosofia é na praça pública e portanto em (digamos em linguagem atual) permanente interdisciplinaridade com a prática. E, porque na praça pública — também (assim o continuo a pensar) a sua vocação política. Mas o meu apelo insistente à prática, como conditio sine qua non de conhecimento, permitiu, um dia, ao Rui Vitória (um treinador de alta estirpe, tenho a certeza) dizer-me: «O professor até parece que praticou desporto.» Relembro, neste passo, o Rui Vitória, um gentleman… com todas as letras!...
Mas tive, nesse ano letivo já distante de 1982/1983, um aluno (como retratá-lo?), um tipo de rapaz, mais alto do que baixo, magro, elegante e arguto, sagaz, desassombrado, que nunca escondeu uma simpatia muito especial pelo «Professor Manuel Sérgio»: o José Mário dos Santos Mourinho Félix — hoje, o Doutor José Mourinho, licenciado e doutor honoris causa pela Universidade Técnica de Lisboa e, como profissão, treinador de futebol. Mas qual a razão da sua generosa simpatia? A razão primeira parece ser esta: finda uma das nossas aulas do primeiro ano do curso (há 42 anos, portanto) perguntei-lhe o que ele pretendia ser, concluída a licenciatura. Respondeu-me, com toda a simplicidade, sem artifício nem cálculo: «Quero ser treinador de futebol.»
Ouvi-o surpreendido, confesso. Naqueles anos, já distantes, o licenciado em Educação Física e Desporto, ou optava pelo magistério, na Escola, ou treinava uma das modalidades amadoras ou no futebol altamente competitivo não passava de preparador físico. Muito poucas eram as exceções a esta regra: o lugar de treinador era pertença exclusiva do antigo jogador profissional de futebol. Estou a ouvir o Acácio Rosa, sentado na sua cadeira, na Sala da Direção do Belenenses, sempre de raciocínios retilíneos, sem desvios nem diversões: «Para saber de bola, é preciso ter suado a camisola.» E olhava para mim a sorrir, empurrando-me, sem aduzir quaisquer argumentos, para o grupo barulhento dos teóricos : «Só conversa não é futebol, é parlatório.»

Uma evidente vocação
Filho de um jogador internacional de futebol, o José Mourinho, antigo guarda-redes do Vitória de Setúbal e do Belenenses (no Belenenses, ainda chegou a treinador da equipa principal); e, sobre o mais, filho de família de exemplar conduta moral (ocorre-me o Sr. Pedroto, referindo-se ao José Mourinho (pai): «Esse rapaz é um santo») — o José Mário dos Santos Mourinho Félix, que hoje o mundo todo conhece por José Mourinho tão-só, teve no seu pai o primeiro grande estímulo a que não abandonasse o futebol e que pudesse concretizar, um dia, o sonho que, jovem ainda, já lhe norteava a existência: ser treinador de futebol.
Não vou discutir, aqui, se a palavra vocação tem, ou não tem, valor científico. Mas quando vi o José Mourinho afirmar, com tamanha sinceridade e convicção, com apenas 19 anos de idade, «quero ser treinador de futebol» —arreigou-se em mim a crença de que aquele meu aluno (não de futebol — nunca ensinei futebol a ninguém) estava vocacionado, se tivesse o apoio necessário, a um futuro, como líder de uma equipa de futebol, a que poderia caber o designativo de, pelo menos, modelar.
Mais tarde, quando o vi adjunto do Manuel Fernandes e do Bobby Robson e do Louis van Gaal e, tendo em conta a sua argúcia (que não é vulgar, podem crer) e o seu manifesto espírito de bem servir, perdi as dúvidas, esqueci-me até da dúvida metódica e, com palavras efusivas, cheguei a dizer e a escrever que «vai nascer, mais tarde ou mais cedo, um grande treinador de futebol». E adiantava, com fervente entusiasmo: «O José Mourinho, adjunto do Bobby Robson e do Van Gaal?... Vai ser grande, grande como os maiores.»
Mas, como íamos dizendo, diante de um rapaz, de múltiplos talentos e com uma vontade imparável de, no futuro, assumir funções de treinador de futebol, exprimi-lhe assim um conselho amigo: «E nunca se esqueça que, para ser um bom treinador de futebol, não chega saber muito de futebol.» Aqui, o Mourinho atalhou: «Porquê, professor?». Eu continuei: “Porque no futebol, nomeadamente no de alta competição, há tudo o que é humano, o mau e o bom.» E, afetuosamente, terminei: «Como vê, não basta saber só de futebol.» Nasceu assim uma amizade que o tempo não apaga e que não deixa de penhorar-me pelo cunho de sinceridade que o José Mourinho lhe imprime.

Um excecional treinador
Em 1982, quando este encontro com o José Mourinho aconteceu, eu lia um autor, fundamental ao estudo da epistemologia: Gaston Bachelard. A epistemologia (e repito a definição de um douto epistemólogo, o brasileiro Hilton Japiassu) «é o estudo crítico dos princípios, das hipóteses e dos resultados das diversas ciências». Procurava então apresentar aos meus alunos esta ideia: a vossa futura profissão tem fundamentação científica autónoma. É uma ciência hermenêutico-humana (ou social e humana) com a dignidade e a seriedade de qualquer outra ciência. Mas uma ciência nasce sempre de um «corte epistemológico», em relação ao senso comum, à tradição, à inércia, à ordem-desordem de todas as ditaduras, incluindo aqui as ditaduras religiosas. No entanto, um corte epistemológico não é fácil assumir: toda a sorte de invejosos, de ressentidos, de oportunistas de videirinhos, de subservientes criam, imediatamente, um ambiente de reserva, ou mesmo hostilidade, aos que começam a surgir com a justa auréola de inovadores, ou seja, com a capacidade de emitir luz própria. José Mourinho, campeão nacional em Portugal, em Inglaterra, em Itália, vencedor da Taça UEFA, da Liga dos Campeões e da Liga Conferência, o melhor treinador do mundo (IFFHS — 2005) e que foi um precursor já sabe até onde chega o ressentimento e a inveja. Já sabe até onde podem chegar os que preferem a verdade dos princípios o oportunismo das glórias fáceis.
Aludindo à justiça do que venho escrevendo neste artigo, oiço a interrogação de alguns leitores: «Mas o Mourinho foi mesmo um precursor?» O Prof. Luís Lourenço, o mais fiável de todos os inúmeros biógrafos de Mourinho, com uma tese de doutoramento (de que fui o feliz orientador) sobre a liderança de José Mourinho, que é um modelo de saber e sabedoria, escreve a propósito: «De facto, Mourinho é diferente. No seu trabalho, nada está separado, descontextualizado ou isolado. Tudo tem a ver com tudo (…). Um exemplo? Um jogador de uma equipa sua não deixa de o ser só porque não está a treinar ou a jogar. Quando está no período de descanso, ou dia de folga, em casa, ou em qualquer evento social, ele continua a ser jogador da equipa, representando, de alguma forma, o resto do grupo e até a organização a que pertence.»
E, páginas adiante: «Para Mourinho, na sua relação com os atletas, não interessa o atleta físico, cartesiano, mas sim o atleta homem.» (Luís Lourenço, Mourinho — a descoberta guiada, Prime Books, 2010, p. 47). Por isso, o treinador não deve só saber treinar o jogador de futebol, deve também saber educar o homem que é jogador de futebol. É que não há jogos — há pessoas que jogam. Porque norteou o seu trabalho à luz do paradigma da complexidade e publicamente o disse (cfr. op. cit. pp. 31 ss.), porque dialoga com os jogadores antes de decidir (op. cit. p. 109), porque os respeita e se respeita — José Mourinho foi, sem quaisquer dúvidas, um percursor, um anunciador de um futebol novo.
Mas poderão objetar-me: e a técnica e a tática e a preparação física?... Trata-se de matéria que qualquer treinador domina. De difícil resolução são os problemas humanos. Os dos outros e… os próprios!"

O melhor está no fim😂😂😂😂

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