"Foi penosa a exibição de Portugal na Dinamarca, com os talentos do meio-campo perdidos em coberturas e compensações, laterais a emperrarem qualquer ideia de jogo combinativo por dentro, extremos pensados só para acelerações junto à linha e um ponta de lança que joga o tempo todo apenas por razões de estatuto. Gonçalo Ramos nem sequer estar no banco é mesmo muito difícil de se entender. Ou então é muito fácil. Roberto Martínez só esteve bem ao admitir no final o que era evidente para todos: o facto de ter corrido tudo mal, menos a exibição de Diogo Costa. Antes, já tinha sido infeliz ao reivindicar a autoria da dupla Vitinha-João Neves que nunca preferiu (e veremos agora quanto acredita nela efetivamente) e ao abordar este jogo de Copenhaga, mais este jogo, pelo prisma defensivo, daí o recurso a explicações como falta de agressividade e capacidade para ganhar duelos. Numa seleção com o potencial da portuguesa é mais que um erro, é mesmo imperdoável.
Rui Borges percebeu o óbvio e pode ser que ainda vá a tempo: depois da insistência numa arrumação tática (1.4.2.3.1) que deixava muitos jogadores desconfortáveis, retomou o desenho de Rúben Amorim (1.3.4.2.1) para o qual o plantel foi formado. Somado esse regresso às origens à recuperação de unidades essenciais, voltamos a ter candidato efetivo. O Benfica tem mais soluções - no ataque são mesmo muito mais - mas, se as lesões abrandarem, o Sporting terá um onze de nível idêntico, a que se soma o fator Gyokeres. Também é verdade que, liberto do calendário europeu, o Benfica apresentou em Vila do Conde a sua melhor versão e a exibição das águias foi, desta vez, melhor que o resultado. Vai ser palmo a palmo, até ao fim.
Martín Anselmi também fez um acerto cirúrgico no caminho tático - a despeito da posição híbrida de Eustáquio – e a equipa melhorou finalmente, com a parceria dos dois melhores centrais do plantel ao dia de hoje – Nehuén e Marcano – e, sobretudo, a inclusão simultânea dos principais talentos disponíveis, Fábio Vieira e Rodrigo Mora. Até porque Samu, que pelo perfil específico e limitações técnicas, condiciona o jogar da equipa e dependerá sempre muito da qualidade de quem o serve. Duvido que jovem espanhol venha a ser no futuro um ponta de lança de elite, mas tenho a certeza de que, no contexto certo, será sempre muito mais que um tosco improdutivo.
O futebol, particularmente em Portugal, está feito um jogo de árbitros, cada vez mais decidido por eles. Não se leia no escrevo a defesa do fim do VAR, uma desconfiança generalizada no setor e, menos ainda, um questionamento da seriedade dos juízes como um todo. O meu ponto é – continua a ser! – outro, até porque infelizmente a situação só se tem agravado, como se percebeu no passado fim de semana, com inúmeros jogos decididos por penaltis, muitos deles sem que se justificasse a intervenção de vídeo-árbitro. Recordo que o VAR chegou a prometer “mínima interferência e máxima eficácia”, na intenção certa de corrigir “erros grosseiros”. Como agora quer corrigir quase tudo a toda a hora, o que não é grosseiro e às vezes nem erro sequer, estamos a caminho da máxima interferência sem correspondência na eficácia. Mas como há cada vez há mais “especialistas de arbitragem” - alguns sem passado conhecido e outros com um passado que era melhor não conhecermos - e programas televisivos a viver do tema, se calhar estamos no caminho certo. Mas confesso que não me parece nada."