"Então estimado leitor chegou a alguma conclusão referente ao convite que lhe sugeri no último artigo correspondente à qualidade interpretativa do rendimento dos jogadores que estiveram presentes nas selecções dos seus países comparando o desempenho demonstrado após a reinserção nos clubes de origem?
Será que o tempo que intermediou (cerca de 10 dias) a ausência interrompendo as rotinas presenciais de treinos e jogos e ajustando a tarefa a outras vertentes como sejam as distâncias percorridas, diferentes metodologias assumidas por diferentes estruturas técnicas, tempo de utilização, rendimentos e resultados obtidos, etc, criou algum deficit comportamental, à posterior registado?...
O que verificamos é que em termos nacionais equipas que mais se viram representadas com jogadores na selecção, o tipo de rendimento e resultado se alterou de forma significativa em alguns casos, tais como:
O F.C.Porto durante o encontro com o Portimonense utilizou 5 jogadores que estiveram à disposição das selecções. O clube, depois de estar a vencer por 2-0, teve (em especial durante uns bons períodos da 2ª parte) um fraco desempenho, acabando por marcar o golo da vitória aos 90+8 minutos.
O S.L.Benfica que tinha tido uma utilização de 9 jogadores nas diversas selecções, acusou uma inconsistente exibição perante o Gil Vivente (embora vencendo), mas com Pizzi a falhar uma grande penalidade e em termos internacionais obtendo um resultado negativo perante o Leipzig e conseguindo uma vitória nos últimos segundos no jogo com o Moreirense F.C. e com um rendimento de pendor sofrível.
O Sporting empatou no Boavista F.C. e perdeu em casa com o Famalicão, admitindo fracas exibições, tendo tido também 5 jogadores ao serviço das respectivas selecções.
Também ao nível europeu constatamos o facto de serem apresentados resultados, que nos geram uma reflexão, perante o tema em causa. Vejamos:
O Leicester perdeu por 1-0 com o Manchester U. tendo utilizado 3 jogadores ao serviço das selecções.
O Everton perdeu por 3-1 com o Bournemouth quando tinha sido desprovido pela ausência de 9 jogadores ao serviço das selecções.
O Manchester City também perdeu por 3-2 com Norwich, tendo estado ao serviço das selecções dos seus países 9 jogadores.
O Arsenal empatou 2-2 com o Watford, quando também tinham estado 8 jogadores ao serviço das seleções dos seus países.
A Juventus empatou com a Fiorentina 0-0, apresentando uma qualidade de jogo bastante inconsequente, tendo tido a ausência no período referido em estudo de 6 jogadores.
O Atlético de Madrid perdeu por 2-0 com a Real Sociedad, tendo visto convocados 6 jogadores para as selecções.
O Mónaco também perdeu com o Marselha por 4-3, tendo utilizado 3 jogadores que estiveram nas selecções.
O Bayern que utilizou 7 jogadores que estiveram nas diversas selecções, empatou com o Leipzig 1-1.
O Chelsea foi derrotado em casa na Liga dos Campeões pelo Valência, utilizando 6 jogadores pelas suas selecções.
O Barcelona empatou com o Borússia Dortmund, tendo utilizado 9 jogadores nas selecções de seus países, embora o adversário tenha tido também a participação de 7 jogadores em idênticas condições.
O Liverpool foi derrotado pelo Napoli por 2-0, tendo utilizado 7 jogadores que estiveram ao serviço das suas selecções, não obstante o adversário ter tido também 5 jogadores nas mesmas condições.
Outro caso digno de análise foi o facto de no jogo da Liga dos Campeões, o Atlético de Madrid ter empatado com a Juventus por 2-2 (depois de estar a perder 2-0), tendo a Juventus tido a participação de 10 jogadores que tinham jogado nas respectivas selecções e o Atlético de Madrid 7 jogadores.
O Real Madrid que perdeu nesta prova por 3-0 com o PS, utilizou 8 jogadores que estiveram ao serviço das selecções, enquanto que o Paris SG utilizou apenas 4.
O Tottenham empatou com o Olympiacos 2-2, tendo utilizado 9 jogadores que estiveram ao serviço das selecções e o adversário 5.
O Wolverhampton que perdeu em casa com o S.C.Braga na Taça UEFA, utilizou 7 jogadores que estiveram ao serviço das selecções de seus países de origem.
Ainda poderíamos aumentar a análise que começa a ser demasiado penalizante para o meu estimado leitor. Contudo deixo mais um ou outro exemplo mais significativo:
Na Inglaterra o Manchester United perdeu por 2-0 com o West Ham, utilizando 8 jogadores que estiveram presentes nas selecções e o adversário apenas 4.
Em Espanha o Celta de Vigo foi empatar ao Atlético de Madrid, tendo este clube utilizado 6 jogadores que estiveram nas selecções e o adversário apenas 2.
Também em Espanha o Granada venceu o Barcelona por 2-0, tendo este clube utilizado 7 jogadores que estiveram ao serviço das suas selecções e o adversário apenas 2.
Enfim um quadro de resultados que poderá não justificar em absoluto a ausência relativamente prolongada dum núcleo duro duma equipa dos seus clubes de origem, mas que nos remete para uma reflexão do que inicialmente eu tentei colocar como tema de análise, por isso mesmo, merecedor de estudo, sem esquecer que por vezes em termos de competição ao nível internacional e com jogos a eliminar, a competência exercida pelos jogadores apresenta-se mais fortemente focada em termos exibicionais do que numa prova de regularidade competitiva interna.
Nessas circunstâncias e sem pretender dar lições a quem quer que seja visto que, quer nos clubes referidos, quer nas seleções associadas aos países mais representativos, as equipas técnicas estão devidamente estruturadas pelas valências que hoje a temática do treino e jogo exige: fisiologistas, nutricionistas, especialistas na área de medicina desportiva e psicologia, observadores, biomecânicos, etc … e melhor do ninguém, são capazes estudar as competências mais assertivas para uma qualificação da prestação ao nível da excelência.
Contudo e para que um trabalho desta natureza não fique “amarrado às cores do vento”, não deixo de prestar um humilde contributo, reportando-me à filosofia que o rigor da metodologia de treino referencia como condição “obrigatória”:
1- Uma fundamental exigência para que o conhecimento das metodologias de treino que foram desenvolvidas nos clubes possam servir dum mediador devidamente avaliado, para a sequente personalização complementar de tarefas a realizar.
2- Continuar com essa avaliação (técnico-físico-biológico-psicológico-social e mental) após a retoma de funções dos jogadores que estiveram nas selecções, com o objectivo de personalizar como complemento de carga uma metodologia individual de funções.
3- A inserção ao nível da carga de exercícios de intensidade moderada/média/alta com um fundamental ajustamento qualificado dos intervalos longos entre as cargas, adicionando compensação hídrica e respiratória.
4- Técnicas de relaxação associadas ao treino de imaginação e visualização mental criativa dos gestos técnicos e competitivos que estiveram na base do êxito alcançado que terão um efeito extraordinário e exponenciador de eficácia.
5- Mobilização via comunicação de todas as fontes ao nível atencional e que de forma positiva estiveram presentes no reportório representativo do sucesso alcançado … no treino … no jogo e sobretudo na vida.
6- Treino das competências ao nível da auto comunicação, quer em termos verbais como não verbais e quando necessário eliminar o discurso interno negativo nos casos em que as competências emocionais ou adversas configurem um estado de aprisionamento, também chamados venenos de memória que se apresentam tantas vezes como “garrote” indiciador duma asfixia emocional, extremamente perturbadora.
Neste momento estou a recordar-me dum caso de sítio bem actual, presente num grande clube português que a história da sua vida cantou glórias passadas e agora asfixiado por sentimentos de angústia, inquietude e insegurança traído pelo veneno duma memória que persegue e atormenta … a relva queima…o balneário chora e o adepto implora!...
7- A inserção na metodologia de banhos de contraste, sessões de crioterapia (quando necessário), e ingestão nutricional de suplementos na dieta alimentar de recuperação.
8- Outras … Estratégias motivacionais; Envolvimento e responsabilidade; Treino simulado adaptando técnicas de engenharia ambiental; Empatia e aptidões sociais; Técnicas operacionais valorizando as funções da atenção e concentração, autoconfiança, coesão e dinâmica de grupo e demais áreas de comprometimento com a autoeficácia e valorização pessoal.
Penso que em qualquer exercício, ou microciclo, ou morfotipo de treino, deve estar sempre associado a um plano de consciência operatória para a conquista do êxito, pois os atletas definem-se mais pela qualidade do que pensam do que pela quantidade de acções que realizam. Isto é, muitos trabalham, lutam, esforçam-se mas o resultado esvai-se num deserto sem rasto… e passam a vida a dizer quando “afogados” num desaire que ” é preciso levantar a cabeça”!...
Como tenho referido de forma continuada, o plano de intenções no domínio do consciente é o que pode fazer a diferença entre o médio e o bom e o bom e o excelente, vendo convertida nessa função o poder da crença, do estado de alma, do espírito de conquista, (que também gera biologia), e isso ajuda a mobilizar a força motriz de intencionalidade energética onde se opera e alimenta o sucesso.
Mas como e muito bem tem referido o nosso sempre tão ilustre e querido Professor Doutor Manuel Sérgio “ o conhecimento científico nasce da dúvida e alimenta-se da incerteza”, como estamos em vésperas de nova ronda de convocatórias para a presença de jogadores nas selecções de vários países, volto à carga em propor ao meu estimado leitor a confirmação ou não dos resultados obtidos e que foram objecto desta simples reflexão, que este órgão de comunicação social me possibilita e muito me honra partilhar."