"Desancar árbitros e arrasar arbitragens é arma dos fracassados. As pessoas apreciam, as audiências sobem e quem manda pouco faz para colocar ponto final neste regabofe.
Qualquer pessoa com um mínimo de noções sobre os artifícios utilizados na arte de influenciar a opinião pública apercebe-se que é cada vez mais descarada a aliança entre FC Porto e Sporting com o objectivo de combater o domínio do Benfica. Começou com a discrição conveniente, como se tratasse de um namoro proibido, mas aos poucos foi perdendo a vergonha e hoje em dia basta uma passagem breve por programas televisivos ou textos de opinião em jornais para se observar uma espantosa consonância entre dragão e leão quando se trata de alvejar o inimigo comum. Com a particularidade de, regra geral, ser o primeiro a sugerir o tema e o tom e o segundo a bater palmas, tornando-se esta dependência mais notória, no estilo e na orientação, ao nível dos departamentos de comunicação dos dois clubes. Se a norte há uma corrente de ar logo a sul alguém dá um espirro, ou seja, existe uma relação harmoniosa entre a causa e o efeito.
A estratégia não é nova e em mais de uma ocasião e ela me referi, chamando a atenção para o 'Cerco ao Benfica' através de 'Alianças fingidas', sobretudo a partir do final da época 2014/15, quando Jesus se mudou para Alvalade.
Na temporada transacta continuou a ser tentada, com mais afinco, mas voltou a não passar de iniciativa falhada por duas razões simples:
1.ª - O Benfica ergueu uma muralha de silêncio que muito irritou as vozes da provocação, as quais não se cansaram de zurzir Luís Filipe Vieira pela sua sonsice, dando a entender que não era nada com ele, e também pelo seu atrevimento em deixá-los a falar com... ninguém.
2.ª - No campo desportivo, mesmo contra ventos e marés, o tetra foi alcançado. E... como reacção espontânea o penta encabeçou a lista de prioridades na época que ora decorre.
Natural, ambição da águia e assumida sem preconceitos pelo próprio presidente no auge dos festejos no Marquês, para sobressalto da propaganda de concorrência em face da segurança transmitida por Vieira, principalmente quando sublinhou querer ganhar, sim, sem colocar em causa, no entanto, a estabilidade financeira da sua instituição por causa de um título.
Manifestação de força do líder benfiquista, em contraposição ao aperto que os homónimos rivais sentem, ambos com a corda na garganta, embora por motivos diferentes:
Pinto da Costa tem inscritas no currículo de longos anos relevantes conquistas no futebol nacional e mundial; Bruno de Carvalho, no quinto ano do presidência, sente-se mais à-vontade a prometer do que a ganhar.
Mesmo com esquemas mais elaborados para dizer coisas, provocar discussões ou fomentar intrigas, qualquer aliança entre ambos é e será de vida curta. Em concreto, o prazo de validade desta vai expirar na última semana de Setembro, a que antecede a oitava jornada da Liga, que inclui um clássico, o Sporting-FC Porto, a um de Outubro.
Nada do que se tem verificado apanhou de surpresa Luís Filipe Vieira, tanto que, em intervenção recente, antecipou que tudo iria valer para impedir o Benfica de ser campeão (A Bola de 1 de Agosto). Como? Se não se consegue no local certo, no relvado, tenta-se fora dele. É o tal jogo fora das quatro linhas. É o vale tudo, em que os fins justificam os meios, é o querer triunfar a qualquer preço. Foi assim no passado e há quem queira que também seja assim no presente.
Antes era o árbitro, agora é o árbitro mais o videoárbitro, uma ferramenta importante para ajudar na verdade do jogo, mas quem perde não resiste à tentação de agitar uma verdade alternativa como instrumento de defesa. Cada qual julga-se dono da sua verdade e esse problema o videoárbitro não resolve, é mais uma questão educacional.
Salvo honrosas excepções, as conversas muito raramente se centram na competência de treinadores ou na sua inépcia, assim como pouco se fala de erros de avaliação de opositores, de deficientes abordagens competitivas, de substituições mal calculadas ou de estratégias absurdas. Sobre jogadores, então, chouriços à parte, é como se fossem figuras sem importância...
Desancar árbitros e arrasar arbitragens é arma dos fracassados. As pessoas apreciam, as audiências sobem e quem manda pouco faz para colocar ponto final neste regabofe. Omissão que explica a libertinagem comunicacional reflectora de uma clubite arcaica que é alimentada por quem pretende chafurdar num futebol sem regras e à margem da lei. Neste ambiente futebolístico a precisar de urgente tratamento psiquiátrico só faltava que os directores de comunicação fossem transformados em cabeças de cartaz. Tem tanto de fantástico como de inimaginável...
Estou farto de escrever isto, mas insisto: um país que é campeão da Europa, que tem o melhor jogador do mundo e o melhor treinador do mundo e já teve o melhor árbitro do mundo, deve ter, porém dos piores dirigentes do mundo. Com o pedido de desculpas aos que são bons e muito bons. Poucos, infelizmente."
Fernando Guerra, in A Bola