Últimas indefectivações

quarta-feira, 25 de dezembro de 2013

Em Lisboa caiu uma estrela: Monsieur Chayriguès!

"Recordando equipas francesas de visita a Portugal, fica aqui o registo da vinda do Red Star Amical Clube e do seu guarda-redes vedeta que chegou a receber uma oferta de 12 mil francos/mês do Tottenham de Inglaterra.

«Lisboa não sejas francesa
com toda a certeza
não vais ser feliz
Lisboa, que ideia daninha
Vaidosa, alfacinha
Casar com Paris
Lisboa, tens cá namorados
Que dizem, coitados
Com a alma na voz
Lisboa não sejas francesa
Tu és portuguesa
Tu és só para nós»

ASSIM cantava a Amália. Mas, depois de na semana passada ter falado aqui sobre as primeiras visitas de equipas francesas a Lisboa e ao Benfica, esta semana vou carregar na mesma tecla, por mais que custe aos namorados, coitados, que querem Lisboa só para eles.
No dia 24 de Junho de 1913, desembarcava na velhinha capital do Império um clube com tradições em França, o Red Star Amical Clube, antecessor do Red Star, de Paris, fundado a 21 de Fevereiro de 1897, num café parisiense, por Ernst Weber e Jules Rimet, esse mesmo, o que foi o terceiro presidente da FIFA, entre 1921 e 1954, e deu generosamente o seu nome à primeira Taça do Mundo, a Taça Jules Rimet, que agraciou os campeões mundiais desde 1930 no Uruguai a 1970, no México, quando o Brasil, por via das suas três vitórias na competição, levou definitivamente o troféu para casa.
Quem costuma ter a infinita paciência de me ler, já sabe: tudo isto vem hoje a propósito da visita do Paris Saint-Germain ao Estádio da Luz, para este jogo derradeiro da Fase de Grupos da Liga dos Campeões 2013/14. Seja. Prossigamos.
Em 1913, havia o Red Star Amical Club, descendente do tal Red Star Club Français inventado à mesa do café, cuja estrela vermelha do emblema ou foi inspirada na estrela vermelha do Buffalo Bill, figura eminente do Velho Oeste Americano, ou na vontade da madrinha da instituição, uma tal de Miss Jenny, governanta inglesa, que gostou de ver na camisola dos jogadores a imagem da Red Star Line, uma empresa de navegação criada em 1871 pela unificação da International Navigation Company of Philadelphia com a Société Anouyme de Navagation Belgo-Américaine. Seja como for. Aquele que haveria de ser, mais tarde, o Red Star Footall Clube, foi a partir de 1907 o Red Star Amical Club, esse mesmo, o que desembarcou em Lisboa com a aura e a fama de um clube de grande expressão em França e, por isso mesmo, na Europa.
No ano anterior da sua viagem portuguesa, o Red Star pendurava medalhas ao peito vencendo a recém-criada Ligue de Football Association, o equivalente ao título de campeão francês, para atingir em seguida a final do Trophée de France, perdendo para o Étoile des Deux Lacs.

Um parêntesis importantíssimo
ABRA-SE aqui um parêntesis, daqueles que só enriquecem os anais do Futebol: o interesse pela presença dos franceses em Lisboa prendia-se sobretudo com a fama do seu guarda-redes, Pierre Chayriguès. Nascido em Paris em Maio de 1892, Chayriguès é considerado um grande revolucionário na forma de interpretar a função de guarda-redes, à época ainda muito baseada na expectativa. Primeiro no Levallois, com apenas 13 anos, depois no Red Star, o francês encantava multidões com as suas saídas a punhos, com a forma como se atirava aos pés dos adversários e, sobretudo, com os seus extraordinários «plongeons», mergulhos tão espectaculares como arriscados e que lhe valeram uma carreira marcada pelas lesões.
A sua aura era de tal forma grande que se tornou conhecido por toda a Europa e chegou a receber um convite milionário para jogar pelo Tottenham Hotspur pela verba de 12 mil francos/mês nesse preciso ano de 1913 em que se deslocou a Lisboa. Recusou.
No dia 24 de Junho. Chayriguès estava frente a frente com o ataque do Benfica. Era a véspera da partida de oito jogadores 'encarnados' para o Brasil, integrados na deslocação de uma selecção da Associação de Futebol de Lisboa, a primeira ao país-irmão, o que terá retraído alguns deles.
Mas Álvaro Gaspar, por exemplo, não deixou créditos por mãos alheias. Ou pés alheios, neste caso. Chayriguès foi grande. Nada parecia ser capaz de vencer a sua elasticidade, a sua valentia, a sua técnica com as mãos. Por isso, o golo francês foi-se mantendo pelo tempo fora numa ameaça visível e pesada de uma derrota que parecia inevitável. Não foi. A minutos do fim da contenda, Cosme Damião faz o golo do empate do Benfica. A honra estava salva. Mas, Chayriguès, o grande Chayriguès, saía de Lisboa com a sua fama intacta. Já era um estrela antes da chuva de estrelas em que o Futebol se transformou."

Afonso de Melo, in O Benfica

Desejamos chegar aos 300 mil assinantes em 2014

"O administrador da Benfica - Futebol SAD, Domingos Soares de Oliveira, concedeu uma entrevista à Benfica TV. Tendo o 5.º aniversário como pano de fundo, admitiu que não esperava tanto sucesso, garantiu que os jogos da equipa de Futebol são para continuar e estão a ser pensados novos conteúdos.

Numa conversa formal, mas que fluiu com uma linguagem corrente, Domingos Soares de Oliveira, administrador da SAD 'encarnada' começou por admitir a surpresa que foi para ele a ascensão meteórica do Canal do Clube. 'Honestamente, não tínhamos perspectivado uma evolução da Benfica TV como veio a acontecer ao cabo de cinco anos. Quando criámos a Benfica TV era com o objectivo de ser um Canal de Clube com três objectivos: o primeiro era dar, em primeira mão, toda a informação sobre tudo o que é o Benfica; o segundo era fomentar o benfiquismo; e o terceiro objectivo era o entretenimento. Nesse processo inicial, a palavra-chave era dinamizar a actividade Benfica. Hoje, é um projecto que nada tem a ver com o que desenhámos'.
O crescimento do canal obrigou-o a inovar e tornou-se o primeiro Canal de Clube a nível europeu a ter os próprios direitos desportivos dos jogos da sua equipa de Futebol - 'Há um factor importantíssimo que tem a ver com o sentimento entre os benfiquistas acerca de uma eventual continuidade com a Olivedesportos e os jogos continuarem a ser explorados pela SportTV. Os benfiquistas era desfavoráveis a esse facto. Depois, há o passo decisivo que é, quando foi apresentada a proposta financeira, o plenário dos Órgãos Sociais, a Direcção e a SAD decidem não aceitar a proposta. Isso obrigou-nos a pensar num projecto alternativo e desenvolvem-se todos os mecanismos necessários para a implementação de um modelo diferente'.
Domingos Soares de Oliveira confessou-se espectador dos jogos de Futebol 'quer do Benfica, nos diversos escalões, quer da Liga Inglesa'.
Quanto à realidade dos números e o valor correcto de assinantes do Canal, o administrador foi claro - 'Ultrapassou o mês passado os 230 mil assinantes e mantém uma perspectiva de crescimento interessante. Se olharmos o plano inicial da Benfica TV, vemos que atingimos, nos primeiros três meses, o que tínhamos delineado para o primeiro ano e isso é claramente positivo. A evolução ao longo da época dependerá de factores, como o crescimento da componente desportiva e a possibilidade de acrescentarmos outros conteúdos à Benfica TV'.

Metas para 2014
E aproveitou para traçar metas: 'O plano era chegar aos 200 mil até ao final do ano e depois manter o crescimento. Desenhámos o nosso crescimento tendo em conta o que a MEO teve nos primeiros três meses de actividade. Daqui por um ano desejamos estar perto dos 300 mil assinantes.'
O tema custos/proveitos também foi revelado. 'A Benfica TV tem dois custos principais. A sua estrutura de pessoal nada fica a dever aos melhores canais de Desporto no Mundo, pois temos uma quantidade de transmissões ao vivo absolutamente anormal. A segunda componente é o que compramos em termos de conteúdos internacionais. O nosso investimento em rota de cruzeiro - e ainda não estamos em rota de cruzeiro - ronda os nove milhões de euros', indicou.
A não renovação dos direitos televisivos com a Olivedesportos e o que isso poderá mudar no paradigma televisivo em Portugal, foi outro dos temas abordados. 'A nossa intenção é que isso aconteça e a única coisa que o poderia impedir seria se o tema da centralização fosse decidido dentro de um prazo que não perspectivo. A decisão foi tomada, o negócio está a correr bem, tem rentabilidade acima do esperado, algo que enche de orgulho os benfiquistas. Nada indica que deveríamos voltar atrás', garantiu Domingos Soares de Oliveira.
Falando de números, o administrador da SAD provou que, ao não renovar, a razão estaria do lado do Clube da Luz. 'O Benfica está a encaixar bem mais do que no contrato anterior. Estamos a captar muito mais do que 7,5 milhões de euros. EM 2011 foi apresentada à CMVM uma proposta de 2013 a 2018 no valor de 110 milhões de euros e que eram divididos por sete anos. O Benfica vai, seguramente, neste ano buscar mais do que os 22 milhões de euros na totalidade do negócio televisão por subscrição', explicou.
Domingos Soares de Oliveira, apontou aos cinco aspectos pelos quais se regiram na decisão tomada: 'O negócio total tem a subscrição, em que temos 232 mil assinantes, e parte dessa receita fica no Clube; depois, há os contratos internacionais que ultrapassam em mais de 50% o valor que tínhamos; existe, ainda, a primeira linha de publicidade e a publicidade do Canal. O quinto aspecto é o seguinte: se os detentores de direitos de jogos forem obrigados a ceder três jogos a um canal generalista, este vai ter de pagar para os ter. Tudo isto faz-nos pensar que vamos ultrapassar a proposta feita pela Olivedesportos há dois anos.'

Transmissões e 'jogos escondidos'
Quanto aos jogos na Luz, não podia ter sido mais directo - 'Estamos com vários meses de emissão com jogos do Benfica em casa e não houve qualquer crítica relativamente à isenção da Benfica TV.'
As críticas feitas a outros 'players' sobre a pressão exercida sobre outros emblemas não foi esquecida. 'Houve clubes que efectivamente se sentiram pressionados a não assinarem contratos com a Benfica TV como a Ac. Viseu, mas terá de perguntar o que se passou. Falámos com eles e com todos os outros clubes que subiram à Segunda Liga que não tinham contrato com a Olivedesportos. A nossa proposta era financeiramente mais interessante do que têm hoje e, se não assinaram pelo dinheiro, foi por outra razão...', condenou.
Na entrevista, Domingos Soares de Oliveira abordou a questão dos dois Canais. 'Estamos a fazer um segundo Canal porque temos conteúdos internacionais, mas que só comprámos os direitos para Portgal e temos acordos de distribuição a nível internacional com vários países. A Benfica TV hoje está disponível em Angola, Moçambique, Estados Unidos, França, Bélgica... Enfim, um conjunto alargado de países. Decidimos fazer uma distribuição dos diversos conteúdos entre os dois canais. Esta é a fase em que estamos: uma emissão internacional com conteúdos Benfica, e outra, nacional com conteúdos para além do que é o Benfica. A breve trecho vamos apresentar uma candidatura formal para os dois canais e aí já poderemos utilizar o nome Benfica TV1 e Benfica TV2', escalpelizou.
O administrador da SAD frisou como foi ganho o negócio ao canal concorrente. 'Quando entramos num mercado que é dominado por um 'player', isso tem inconvenientes que é o facto de a maioria dos detentores dos conteúdos internacionais estar habituados a trabalhar com esse 'player', mas há vantagens como é o benefício do efeito-cansaço que existe. As pessoas acreditaram nas projecções que fizemos, como foi o caso da Liga inglesa, e quando assinámos o contrato já era importante ter o Brasileirão e a MLS', apontou.
O sucesso do Canal do Clube junto de adeptos de outros clubes também foi explicado: 'Vencida a primeira fase, que é a da qualidade, seja em termos técnicos, seja em termos de transparência das emissões feitas, as pessoas mesmo que não sejam adeptas do Clube vão aderir, gradualmente e em maior número, à Benfica TV'.

Centralização dos direitos
A centralização dos direitos televisivos dos clubes portugueses, defendidos pelo presidente da Liga, foi também abordada. 'Sempre achei difícil levar avante a centralização dos direitos televisivos, porque a maior parte dos clubes têm contratos assinados até 2018 o que é contrário à legislação europeia que só permite contratos a três anos. A centralização seria interessante, porque beneficiaria todos os clubes e a exposição da Liga portuguesa a nível internacional, pois poderia negociar os direitos do Campeonato por inteiro. Porém, avançámos com este projecto para demonstrar o peso e o valor do Benfica e dos jogos do Clube. Depende como vai ser essa centralização. Se a centralização em que os direitos vão a jogo num concurso aberto, aí a Benfica TV, sozinha ou em parceria, pode-se posicionar para ganhar. O futuro da Benfica TV não está minimamente em causa'.
O sucesso da Benfica TV suscitou curiosidade de canais de clubes europeus. 'Temos sido abordados por outros clubes e há clubes noutros campeonatos que dizem que, no futuro, esse deveria ser o modelo. O problema é como é que este modelo joga com a centralização e em países em que esta já existe é difícil andar para trás', recordou.
'Perdemos o Brasileirão por uma questão de preço. Aqui, o mercado jogou como já tinha jogado a nosso favor em que ganhámos a Liga inglesa e é natural. Não há uma surpresa porque seria natural que a SportTV tentasse captar um dos nossos conteúdos interessantes. É o mercado a funcionar', desmistificou. Para compensar esta perda, o Benfica está a sondar o mercado: 'Temos em cima da mesa um conjunto de propostas de outros fornecedores. A Liga espanhola é também interessante, tal como a Liga inglesa'.

CUSTO MENSAL DA BENFICA TV
'Não está previsto um aumento'
Domingos Soares de Oliveira abordou o tema do custo para os assinantes, garantindo que o valor de 9,90 mensal é para manter. 'Por enquanto não está previsto um aumento. Mesmo quando lançamos a emissão nos dois canais que hoje estão disponíveis perguntaram-nos se queríamos actualizar o preço e, na altura, achámos que isso era defraudar as expectativas dos benfiquistas e não benfiquistas que aderiram à Benfica TV. Nesta fase e até ao final deste ano não vamos aumentar o preço. Esse pode justificar-se com a entrada de outros conteúdos', revelou.
O administrador da SAD explicou a razão pela qual os Sócios não têm vantagens - 'Pensámos fazer uma ligação entre a quotização e a assinatura. O modelo é complexo porque nós não dominamos o assinante. Quem tem a relação com o assinante é o operador e não conseguimos saber quem tem a assinatura. Abandonámos essa ideia e colocámos o preço mais baixo do que desenhámos inicialmente'.
Domingos Soares de Oliveira explicou como se chegou ao valor: 'Fizemos uma medição na sensibilidade ao preço até 25, começando nos 5 e percebemos que a optimização cifrava-se nos 12. preferimos baixar o preço e dar essa vantagem a todos. Parece-nos um preço razoável'.

A PREMIER LEAGUE
'Estão satisfeitos com o Benfica'
Um dos conteúdos mais fortes foi a aquisição da Liga inglesa. O administrador da SAD do Clube defendeu que a Premier League dá lucro: 'O negócio tem de ser visto no seu bolo completo. Não consigo fazer uma associação directa das receitas que são proporcionadas só pela Liga inglesa. O que temos de ver é se o negócio todo da Benfica TV, dentro do modelo financeiro que estava desenhado, corresponde ou não ao nosso plano. Hoje, ultrapassa as verbas que tínhamos perspectivado inicialmente.
Se verificarmos, hoje temos um conjunto razoável de não benfiquistas que aderiram à Benfica TV, não só pelos jogos do Benfica, mas pelos conteúdos da Liga inglesa', lembrou. A Premier League vai ter transmitida pela Benfica TV até 2016, para já, não é altura de tratar da renovação do conteúdo. 'O acordo é por três anos e nesta primeira fase vai até 2016. Ainda é cedo para negociar, mas temos contactos regulares e eles estão satisfeitos com a promoção que temos feito da Liga inglesa e com o acordo que assinaram', garantiu."

Entrevista a Domingos Soares de Oliveira, por Hélder Conduto - texto Marta Rebelo, in O Benfica