"O congolês Arnold Issoko, aquele setubalense que em 2016 se tornou no 1° jogador da Liga Portuguesa a abandonar antes do apito final voluntariamente e encharcado em.lágrimas, um jogo irrelevante para a classificação da sua equipa, por ter falhado um golo isolado no Estádio da Luz, assinou contrato com o Farense, que conta na sua administração com André Geraldes, suspeito no caso Cashball e que à data do evento arnoldiano era dirigente do clube que mais teria beneficiado com o golo não facturado pelo Menino da Lágrima sadino. 3 anos depois, poderão chorar juntos, rumo à desidratação eterna."
Últimas indefectivações
segunda-feira, 30 de dezembro de 2019
Ser mais VARista que o VAR
"O meu café da esquina é curioso. Antes de mais por ser *literalmente* de esquina, o que faz com que tenha uma arquitectura estranha, meio enviesada lá dentro, algo que a esplanada acaba por compensar, com a vista para o largo. Depois, parece estar sempre aberto, como que a abraçar tanto os finais de dia solitários como os domingos preguiçosos de quem teve compridos sábados. E, mais importante, o café continua a custar 60 cêntimos.
Depois também há a televisão invariavelmente a dar futebol, apesar do café ter lugar para pouco mais de uma dezena de pessoas lá dentro, o que me parece constituir o mais pequeno estádio do planeta. Mas, cheira-me, o mais pequeno estádio do planeta já teve grandes discussões planetárias, porque não se tem um papel a dizer “É proibido assistir aos jogos na TV ouvindo em simultâneo o rádio” se não houvesse para tal razão.
Mas adiante. No último sábado, entrei eu no meu café da esquina, onde sou nova cliente porque também nova no bairro sou, mesmo a tempo de pedir uma bica, sentar-me numa das poucas mesas e ver Teemu Pukki receber um cruzamento na esquerda, receber com classe e finalizar também em grande estilo na baliza do Tottenham. O finlandês com nome de desenho animado japonês festejou à grande, porque o golo foi muito bom, o Norwich é último e estar a ganhar 2-0 à equipa de Mourinho é interessante.
Acontece que há VAR, por estes dias a sigla mais discutida em Inglaterra, e o VAR viu que o cotovelo de Pukki estava uns centímetros à frente do último defesa do Tottenham e lá se foi o 2-0, lá se foi aquela jogada fantástica, aquela recepção de classe e aquela finalização de luxo. Por causa de uns milímetros de cotovelo.
Fast forward para domingo. Entro eu no meu café da esquina, onde sou a cada dia cada vez menos nova cliente, peço a bica e sento-me na mesa e já só apanho o início da 2.ª parte do Liverpool - Wolverhampton - porque o domingo é preguiçoso e o sábado foi comprido. Faço um scroll rápido na rede social do passarito e percebo que por pouco falhei o déjà vu, porque ainda na 1.ª parte houve mais bernarda por causa do VAR, desta vez um braço de Virgil van Dijk que passou incólume no lance que deu o golo do Liverpool e mais um fora de jogo tirado a régua e esquadro pelo VAR na jogada que daria o empate ao Wolverhampton.
E assim, meus caros, o país e o campeonato que se orgulhava de nunca falar de árbitros começou a falar deles desenfreadamente por causa da tecnologia que, supostamente, servia para não termos de falar mais dos homens do apito.
Tem sido assim semana após semana na Premier League: gente antes aparentemente imune ao insulto fácil e à crítica de cabeça quente a pedir guilhotina ao VAR, as redes sociais cheias de frames dos lances, cheios de linhas paralelas e perpendiculares, a várias cores, como se de repente o AutoCAD tivesse chegado ao futebol, linhas essas que provam foras de jogo antes absolutamente impossíveis de decifrar ao olho humano, por serem tão milimétricos, por envolverem partes da anatomia que antes achávamos nem contarem para essas contas.
O britânico não gosta disso porque o britânico é um liberal nisto do futebol: gosta da menor intervenção possível do árbitro e por isso é que os jogos na Premier League são tão frenéticos, tão intensos, com tão poucas paragens porque não é cá um empurrãozito que vai fazer o juiz sacar do apito. E o VAR veio baralhar essa realidade, muitas vezes por centímetros. Será justo?
No meu café da esquina comecei a problematizar a questão, a tentar encontrar uma solução, como se algum dia a resolução dos problemas do futebol saíssem de uma mesa de café num bairro lisboeta. E estas foram as minhas conclusões: ainda me parece evidente que o VAR é bom para o futebol e prova disso é a última jornada da fase de grupos da Taça da Liga, em que a sua falta foi mais que muita. O futebol sem VAR, pelo menos cá, é o futebol que privilegia demasiadas vezes o provocador, o piscineiro, o simulador. E pelo meio há erros colaterais, há esses foras de jogo demasiado zelosos, penáltis que continuam a ser uma questão ideológica. Na Premier League, como a cultura já não permite per se os provocadores, os piscineiros e os simuladores, talvez se notem mais os excessos de zelo.
Mas se o cotovelo está 3 centímetros adiantado, deixa de ser fora de jogo? Talvez não. Não sei se o futebol pode abarcar margens de tolerância, como no código da estrada, mas confesso que também me faz espécie que a popa do cabelo de um jogador seja a diferença entre um golo e um fora de jogo. Morto por uma ida ao barbeiro.
Saí do meu café da esquina sem qualquer tipo de solução para a paz no mundo, mas enquanto adepta de futebol tendo a acreditar que quando a Premier League pede discussão, a discussão deve ser feita. Como tudo na vida, as regras são mutáveis, ainda mais quando se estão a dar os primeiros passos.
Serve isto, quiçá, para o novo ano que aí vem. Que 2020 nos dê cabeça fria para discutir o que vale a pena ser discutido e para deixarmos de lado as batalhas que não podemos ganhar. O VAR está aí e não irá embora, mas não há mal nenhum em tentar torná-lo um pouco melhor."
O jejum do futebol
"O Sporting prepara-se para igualar em anos o recorde do FC Porto sem vencer o campeonato português. Em 2020, os já 13 pontos de distância que tem para o líder Benfica parecem ser inalcançáveis, mas no futebol tudo pode acontecer.
O Sporting, que já não vence o campeonato desde 2002, ou seja, vai a caminho de 19 anos de "jejum", tal como o FC Porto entre 1959 e 1978, já esteve 18 anos (1982 a 2000) sem conhecer o sabor da conquista do maior ceptro nacional, assim como o Benfica, que esteve 11 temporadas consecutivas, entre 1994 e 2005. Em todos estes casos, associam-se a "crises" que os clubes passam ou passaram, gerando grandes controvérsias entre grupos de adeptos, dirigentes, etc...
No entanto, basta sair de Portugal, mas permanecendo na Europa, para encontrarmos um caso de um clube que também já não vence o campeonato há muito tempo, mas que não se fala em crise. No noroeste de Inglaterra, na terra dos Beatles, o Liverpool não conquista a Premier League desde 1990, ou seja, vai fazer 30 anos em Maio de 2020. Mas entre este período de tempo, o clube inglês venceu vários troféus nacionais e internacionais, entre eles duas Champions, uma Taça UEFA, três supertaças europeias e o mais recente Mundial de Clubes. Pode-se falar em cenário de crise no Liverpool?
Os "reds", justamente no período em que a Liga Inglesa se reformula e que começou a atrair os olhos do mundo pela qualidade do espectáculo e da sua competitividade, nunca mais conseguiram vencer o troféu, mas mantiveram o seu poder institucional, mediático e financeiro. Esta é a realidade do Liverpool, um clube tradicional com história nos primórdios do futebol mundial, uma massa adepta apaixonada com o vibrante "You'll Never Walk Alone" em Anfield Road, mas que raramente entrou em guerras internas, entre dirigentes ou adeptos. Exceptuando a temporada passada, em que ficou a apenas 1 ponto do City, a campanha de 2013/14, quase seria a da quebra do jejum do Liverpool, mas, na jornada 36, quando a equipa capitaneada por Gerrard e treinada por Brendan Rogers recebeu o Chelsea, tinha 3 pontos a mais para o Manchester City e 5 para os londrinos treinados por José Mourinho, porém, a escorregadela do capitão a meio campo que deu origem ao primeiro golo da derrota frente ao Chelsea, em casa, por 0-2, fez com que animicamente a equipa perdesse o título tão desejado duas jornadas depois para os citizens de Manuel Pellegrini. No entanto, não viraram cara a luta e a atmosfera em torno do clube continuou em alta.
O carisma puro do clube, ainda para mais com um treinador como Jürgen Klopp, fez com que após a terceira melhor temporada de sempre - no que toca ao número de pontos conquistados - o clube entrasse para esta época com a vontade de cedo resolver o assunto, aproveitando também os deslizes que o Manchester City de Guardiola tem tido até à data para se isolar na liderança, com mais 13 pontos que o Leicester, que é segundo.
E é essa a grande diferença dos portugueses para os ingleses. Um ano, basta um ano, para que cá se comece a falar em crises e mais algumas coisas para justificar o insucesso interno.
O Liverpool é um exemplo máximo da perseverança, persistência e afinco que superou adversidades e obstáculos para atingir os seus objectivos, mas como já escrevi acima, no futebol tudo pode acontecer..."
O mistério do túnel e outros
"Convenhamos que o desmentido de Conceição é muito estranho. Ninguém, acusado injustamente de agredir outra pessoa, está 20 dias calado. Desmente-a de imediato. E não com ar descontraído mas com ar indignado.
Três semanas depois da suposta agressão ao treinador do Belenenses, Pedro Ribeiro, no túnel do Jamor, Sérgio Conceição veio finalmente falar do assunto. Para dizer que não agrediu ninguém. Fê-lo com ar descontraído e sorridente, como se fosse uma brincadeira. E o jornalista, subserviente, não lhe perguntou o óbvio: por que esteve tanto tempo calado?
Convenhamos que o desmentido de Conceição é muito estranho. Ninguém, acusado injustamente de agredir outra pessoa, está 20 dias calado. Desmente-a de imediato. E não com ar descontraído mas com ar indignado.
E os factos estranhos não ficam por aqui: por que razão um funcionário do FC Porto impediu Conceição de falar do caso a seguir ao jogo? Não devia deixá-lo esclarecer tudo? O que quis esconder?
Portanto, a questão está longe de estar encerrada.
Acreditando que Conceição não agrediu Pedro Ribeiro, das duas uma: alguém o fez ou o treinador do Belenenses representou um número de teatro.
Toda a gente o ouviu gritar alto e bom som que tinha levado “um soco” – palavra que não deixa lugar a dúvidas. E depois, na conferência de imprensa, toda a gente o ouviu dizer, referindo-se a uma alegada agressão do treinador do Porto, “não confirmo nem desminto” – o que, na gíria, significa ‘confirmo’.
Mas se Conceição está a falar verdade quando agora nega a agressão, e o treinador de Belém foi sincero quando a confirmou, só há uma conclusão a tirar: foi outra pessoa que agrediu Pedro Ribeiro. E essa pessoa só pode ser um responsável do Porto.
Imaginemos que houve uma troca acesa de palavras entre os dois treinadores – e que, no meio da confusão, alguém atinge o treinador do Belenenses. Este convence-se de que foi Conceição – mas o agressor foi outro. E o treinador nortenho não quis esclarecer o assunto para não incriminar uma pessoa do clube.
Só esta hipótese explica os factos que estão à vista: a reacção do treinador de Belém, o silêncio do treinador do Porto, o gesto do funcionário que não o deixou falar, o desmentido frouxo de Conceição três semanas depois.
Resta saber, agora, quem foi o agressor. Certamente uma pessoa importante da estrutura do FC Porto – eventualmente um dirigente – para merecer tantos cuidados e tão complicadas manobras de encobrimento…
Já agora, refiro mais dois mistérios, ambos ainda nortenhos: os despedimentos de Sá Pinto e Lito Vidigal.
O primeiro estava a realizar um bom trabalho no Braga. Apesar da má classificação no campeonato, a equipa estava a jogar bem e a fazer um brilharete na Europa.
E o segundo estava a fazer uma magnífica temporada no Boavista, com a equipa num plano que nunca atingiu nos últimos anos.
O que ditou os despedimentos? Só podem ter sido conflitos com os presidentes. E, valha a verdade, Sá Pinto e Vidigal são homens com mau feitio."
Empate...fora de horas!!!
Sp. Covilhã 2 - 2 Benfica B
Anjos, Santos
Começamos o jogo praticamente a perder... mas não nos 'encolhemos', fomos na minha opinião, claramente melhores, e quando ao minuto 90 concretizamos finalmente a remontada, só pecava por tardia!!! Mas como tem acontecido nestas ocasiões, o jogo só acaba quando Benfica sobre um golo: desta vez, uma assistência médica, mais do que justificada, a 20 segundos dos 95' deu para 'esticar' o jogo mais uns minutos, até que num ressalto, o Covilhã empatou!!!
PS: Pela 2.ª vez o Benfica foi distinguido gala dos Globe Soccer Awards com o prémio da Melhor Academia....
Porque o seguro não cobre furtos nem vandalismos
"Num destes dias festivos trazia este jornal na sua primeira página a constatação de um facto singular por parte do jogador Bruno Fernandes. O "capitão" do Sporting "lamenta a propaganda que visa baixar o seu "rendimento". Ora isto da propaganda tem muito que se lhe diga, como o próprio Fernandes sabe muitíssimo bem. E é verdade que o seu rendimento, que não apresenta quebras, bem poderia ter vindo por aí abaixo se o jogador fosse impressionável ou fraco de espírito, o que não é. Até um profissional competentíssimo, como é o seu caso, dificilmente resistiria, como ele resistiu no verão passado, a três meses de propaganda sem que houvesse um dia em que Bruno Fernandes não estivesse vendido nas primeiras páginas dos jornais portugueses ao Real Madrid, ao Tottenham, ao Barcelona, ao Paris Saint-Germain, ao Bayern Munique, ao Manchester City, ao Borussia Dortmund e ao Manchester United, um de cada vez, lembram-se?
Foi, de facto, um mercado de verão marcado pelo reino da fantasia no que tocou ao simpático Bruno Fernandes. Nem um cêntimo a menos dos 126 milhões que os espanhóis pagaram ao Benfica por Félix! Era o que nas cervejarias, nos transportes públicos, nos escritórios, nas oficinas, em todas as padarias, na banca amiga e nas praias a nação sportinguista exigia ao seu presidente pela venda do jogador que Jorge Jesus foi resgatar ao Calcio. E, durante três meses a fio, Fernandes esteve "preso por detalhes" na iminência de embarcar para paragens para onde, obviamente, nunca embarcou.
Nada disto espanta. A rivalidade e a inveja juntas são o diabo. E se o último mercado de verão foi dominado internacionalmente pela venda de João Félix ao Atlético de Madrid, imagine-se só a dimensão do abalo que, nacionalmente, se viu provocado por essa transacção luso-espanhola mirabolante. Está agora aí à porta o mercado de inverno e Bruno Fernandes sabe o que o espera. Por isso, antecipando o que vem a caminho, enviou um recado polido ao presidente do Sporting. "Tão cedo não sairá ninguém pelo valor de João Félix", disse. Que é como quem diz, deixem-se de fantasias.
Entretanto, o ex-presidente do Sporting sofreu um delíquio emocional neste Natal porque deu de caras com o presidente do Benfica no papel de convidado de um programa popular de entretenimento
na RTP. E ele, sim ele, que podia tão bem estar lá com o seu à-vontade congénito perante as Câmaras no lugar de Vieira não fosse ter sido destituído e estar agora sujeito ao contratempo de um "julgamento de fantasia" somado aos contratempos de lhe terem cortado o telemóvel e vandalizado o automóvel ou vice-versa. E, como se tudo isto não bastasse - o Vieira, o tribunal, o telemóvel, o automóvel - o ex-presidente ainda constatou que "o seguro não cobre furtos nem vandalismos" o que, pelos vistos, não sabia. Mas devia saber.
Oh, se devia."
Os protagonistas de 2019
"João Félix foi a revelação do ano. Viseu sente orgulho neste 'filho da terra'. E se viseense que escreve proclama-o sempre. Com orgulho.
1. Esta coluna tem como um dos seus lemas e palavra protagonistas. São eles - e elas - que nos motivam semana a semana. E nas vésperas do arranque de um Ano Novo, de uma nova década e da comemoração dos setenta e cinco anos deste jornal vamos fazer, nesta pausa desportiva em Portugal - em contraponto à atractiva e impressionante festa do futebol em Inglaterra - a lista dos nossos protagonistas em 2019. É; como sempre, uma perspectiva pessoal com a consciência que só os homens - e as mulheres - calados é que não erram. Vamos, então, às nossas escolhas.
2. Bruno Lage é o treinador do ano. Entrou, com desconfiança, no Benfica e conquistou tudo e todos. Ganhou a Liga, o que parecia impossível. Mobilizou consciências e entusiasmou as bancadas. E o seu discurso, bem diferente, cativou. E, depois, resistiu em momentos menos fáceis e chega ao final deste Dezembro na liderança da Liga NOS e sabendo que tem um arranque de 2020 com jogos bem complexos e determinantes. Tal como foi, aliás, o arranque de 2019.
3. Jorge Jesus conquistou o Brasil, o Rio de Janeiro, o Flamengo, o Brasileirão e a Libertadores. Levou ao Brasil de hoje o Portugal contemporâneo, competente e de excelência no que respeita à liderança de equipas, à sua mobilização técnico-táctica e a um forte espírito colectivo. Como se pressente com a ida de Jesualdo Ferreira para o mesmo Brasil. E assumindo, Jorge Jesus nos momentos marcantes, a nossa bandeira e a nossa forma de ser e de estar. Do Rio de Janeiro a Doha, palco da final do Mundial de Clubes, muito lhe agradecemos. E a justiça da outorga da comenda por parte do nosso Presidente da República é indiscutível e merece um geral aplauso.
4. Fernando Santos levou, uma vez mais, a nossa Selecção à fase final de uma grande competição internacional de futebol, no caso o próximo Europeu, o Europeu de doze cidades. E também nos levou à conquistou da primeira edição da Liga das Nações num ano de ouro da nossa Federação, com conquistas igualmente no futebol de praia, no futsal e no futebol jovem. Fernando Gomes, e a sua estrutura próxima - onde entra o novo Canal 11 - mais o Tiago Craveiro, fazem parte de uma equipa vencedora. Que vai ter um 2020 com novos desafios. E um deles é a complexa fase final do Europeu de 2020. Entre Budapeste e Munique. Numa primeira fase, assim o desejamos!
5. João Félix foi a revelação do ano. Chegou à equipa principal do Benfica e embalou, com uma transferência extraordinária e milionária, para Madrid e para o Atlético. Torna-se um jovem dourado e merece toda a sorte do Mundo. Viseu sente orgulho neste filho da terra! E este viseense que escreve proclama-o sempre. Com orgulho.
6. Pizzi e Bruno Fernandes são profissionais de futebol. São excelentes jogadores, fazem a diferença nos seus clubes e são rivais aguerridos. Mas, para além de tudo, são amigos e assumem, publicamente, essa amizade. Dão um exemplo de um desportivismo que muitos sentiam perdido. Cada golo ou cada assistência de um deles é uma explosão de competência e instantes de excelência. Mas cada troca de simpáticas palavras entre eles levam-me a um imenso sorriso onde se combina a identidade e a amizade, a sinceridade e a disponibilidade. Eles são grandes! Mesmo grandes!
7. Jorge Fonseca, judoca campeão do mundo, e Fu Yu, tenista de mesa e que conquistou o ouro nos Jogos de Minsk, são dois exemplos marcantes do Portugal inclusivo. Do Portugal que acolhe e que mobiliza talentos. Um e outra não são portugueses de origem. Mas um e outra são a expressão, no desporto, de um Portugal que sabe receber e sabe potenciar. E um e outra foram justamente considerados os atletas do ano.
8. O desporto no feminino cresce em Portugal. Mais clubes e mais praticantes. Grandes clubes a chegar a modalidades, como o Benfica no futebol, que aumenta a sua atractividade. De Bárbara Timo (judo) a Cláudia Neto (futebol), de Diana Durões (natação) e Patrícia Esparteiro (Karaté) vamos conhecendo grandes atletas que acompanham Rosa Mota e Aurora Cunha, Ana Oliveira e Manuela Machado, Inês Henriques e Telma Monteiro, Patrícia Mamona e Carla Couto, entre tantas e tantas outras que em diferentes momentos mostraram um imenso talento e nos fizeram sorrir de alegria!
9. No hóquei em patins, modalidade que merece mais cuidado entre nós, fomos campeões do mundo -em Barcelona! - e no atletismo com João Vieira, por exemplo, ou no surf com Frederico Morais mostrámos ao Mundo, e uma vez mais, um Portugal de competência e de excelência. Um País pequeno, mas com uma língua imensa, mas que se afirma no desporto e em diferentes modalidades. Que não, apenas, no futebol com Cristiano Ronaldo ou Bernardo Silva ou com treinadores como José Mourinho e Marco Silva, Pedro Martins e Paulo Sousa, Luís Castro e Paulo Fonseca, entre tantos outros que em diferentes ligas projectam, e muito, o nome de Portugal.
10. O VAR também foi um protagonista do ano. O VAR e o assistente do VAR (AVAR). Ajudou, em muitos casos, para a efectiva verdade desportiva. Mas em outros momentos, por vezes em situações inequívocas, falhou redondamente. Sabemos que os olhos do árbitro de campo e do VAR são olhos humanos. Mas perturba, e muito, que se nós em casa vimos um empurrão claro, o VAR, com mais câmaras à disposição, o não veja, ou sequer o vislumbre. Ele e o AVAR! E estas falhas não ajudam, antes pelo contrário, na credibilização de uma nova ferramenta do futebol contemporâneo. E que custa milhões!
11. No meio de 2019 Iker Casillas apanhou um valente susto e abandonou, naturalmente, os relvados de futebol. Ele que no Real Madrid, na selecção espanhola e no Futebol Clube do Porto encheu as balizas e fez defesas impressionantes. Também Jonas deixou os relvados. Aquele beijo ao Rui Costa no final do jogo em que o Benfica conquistou mais um título é um momento único de afecto. De um homem e de um cidadão, de um profissional e de um benfiquista do coração. Com ele os verdadeiros amantes do futebol sentiam prazer em largos momentos. O toque e o remate, a cabeçada e a arrancada para a baliza, a disponibilidade e a entrega ficam na nossa memória. Um guardou as redes. O outro abalou muitas vezes as redes. Um e outro fizeram muito, e bem, ao futebol português.
12. Este artigo é o último de 2019. Doze meses doze protagonistas. Desejo a todas e todos os leitores um Bom 2020. Mas desejo, também, uma Boa Década. Com a consciência que cada um de nós é um ser que não se repete! Feliz Ano Novo!"
Fernando Seara, in A Bola
SL Benfica: O Melhor 11 de 2019
"2019 será sempre relembrado no universo benfiquista como o ano de consagração de Bruno Lage e da sua Reconquista: que é dele, sempre será dele e só ocorreu graças a ele e a uma gestão miraculosa que se traduziu num campeonato ganho numa volta. Varreu, passou com a esfregona e colocou os adereços nos lugares certos, trouxe outros nunca antes experimentados e até recuperou alguns que já ganhavam pó no sótão. É sob a sua égide que este onze é embrulhado e colocado ao dispor de cada benfiquista: os onze melhores de um ano inesquecível a nível nacional, faltando só a consagração internacional.
Guarda-Redes
Odysseas Vlachodimos – Louvores a Fernando Ferreira, treinador de guarda-redes e companheiro de Bruno Lage. Muitas graças ao homem que tornou possível uma evolução meteórica das qualidades do guardião grego: o Odysseas de hoje é muito melhor que o Odysseas que começou o ano civil. Mérito do staff e do próprio atleta.
Lateral-Direito
André Almeida – Futebolices à parte, o ano especial de André Almeida vale muito pela sua superação e pelo respeito à camisola que veste. O homem que ultrapassou a fase final do último campeonato em gestão de esforço – e que fez questão de nunca parar – sempre insistiu em ajudar os seus colegas a chegarem ao título. André Almeida é a personificação dos valores benfiquistas, por muito que a sua qualidade enquanto futebolista seja posta em causa. Ainda hoje se ressente daquelas semanas infernais.
Defesa Central
Rúben Dias – Numa era virada para o valor mercantil de cada futebolista, a melhor coisa que se pode dizer de Rúben Dias é que é imprescindível pelo seu carisma, capacidade de liderança e espírito de sacrifício. Foram 51 jogos oficiais: 51 jogos onde não precisou da braçadeira para ser o chefão da turma em campo.
Defesa Central
Ferro – Ao contrário do nome, Ferro não se distingue pela dureza em cada lance: é pela souplesse com a qual se move, num levitar fantasmagórico que baralha pressões adversárias, na visão 360º e na capacidade de passe, sempre à vontade do freguês: curto, médio ou longo, no pé ou no espaço – é o que o colega quiser. Sempre de cabeça levantada e o ar inocente dos génios. Agarrou-se à titularidade quando o papá Lage chegou à casa grande e por ali se deixou estar.
Lateral Esquerdo
Grimaldo – Vruuuuuuuuuuum! Lá vai ele. Os colegas perguntam: onde vai o Álex? E ninguém sabe responder. Quando o descobrem, já ele passou a linha média e vai a todo o gás intrometer-se na rede adversária, pela ala ou em zonas interiores. Foi assim, a ir embora desta forma, que se tornou o mais assíduo nas contas do campeonato – totalista – e o que mais minutos somou neste ano civil. Um duende motoqueiro que desafia as leis da física.
Médio Direito
Pizzi – Luís Miguel Afonso teve um ano em cheio. Depois de voltar à direita – o seu lugar de eleição – o seu “futérebro” sofreu mutação genética e dotou-o de poderes sobrenaturais: 27 golos e 26 assistências, 134 no teste de QI e, finalmente, importância em jogos internacionais. Começou 2019-20 com… uma assistência em 30 jogos de Liga dos Campeões. Acabou a fase de grupos com três golos e três assistências. O melhor Pizzi de sempre.
Médio Centro
Gabriel – Ar desinteressado, a condescendência da meia baixa mais a bota preta Adidas, o pé esquerdo arrogante e o queixo levantado, armado aos piparotes: Gabriel veio dos anos 80 para nos relembrar, semana a semana, que no bom futebol a personalidade conta muito e é a bola que se desloca, nunca o jogador. A cadeirinha que usava para se sentar no grande círculo passou a cadeirão com a chegada de Bruno Lage, tornando Seu Gabriel o dono da fazenda encarnada.
Médio Centro
Adel Taarabt – Era o tal que já estava cheio de pó, encaixotado no sótão. Lage reparou que mais um fantasista na equipa não fazia mal nenhum e foi rapidamente lá acima puxar o Adel do meio da tralha toda. Tanto jogo pautou e tantos espaços descobriu, que acaba o ano na melhor forma de sempre, a jogar a 8 como nunca ninguém pensou e a fazer parelha ímpar com Gabriel a meio-campo. Samaris foi essencial no 37, mas Adel tem outro perfume…
Médio Esquerdo
Rafa – Tornou-se em 2018-19 num extremo com golo, muito golo. Depois de épocas e épocas a ser acusado de inconsequente, Rafa elevou o nível e tornou-se no melhor extremo a jogar em Portugal. Rato atómico assentava-lhe bem, se não fosse já a alcunha de Miccolli; Speedy Gonzalez também, mas reduzi-lo à comparação com um desenho animado não faz jus a toda a sua qualidade e importância no futebol benfiquista. Rafa, e só Rafa, já chega para meter medo. O Rafa do Benfica.
Segundo Avançado
João Félix – Uma vez o João disse a alguém que podia ser só uma curte. Se pensarmos bem, isso foi o que ele fez connosco: só uns beijinhos. Foram seis meses de uma curte mirabolante, umas carícias deliciosas, momentos que nos fizeram apaixonar e perder toda a lucidez. Quando o João pegava na bola, todos nós éramos a tal menina galanteada. E é justo dizer que adorámos. Estávamos prontos para assumir a relação, mas o Mendes foi mais rápido a chegar-se à frente.
Ponta de Lança
Carlos Vinícius – No primeiro jogo do ano civil, alinhou pela equipa adversária. No final de 2019, é o ídolo da plateia da Luz com todo o mérito: demora 49 minutos para marcar um golo no campeonato. São 10 em 12 jogos, uma importância brutal na manobra da equipa, e relega Seferovic, o melhor marcador da edição passada, para o banco de suplentes. E, inexplicavelmente, consegue fazer tudo isto de braços cruzados."
O que esperar do mercado de Inverno
"Julian Weigl, Bruno Guimarães, Edmond Tapsoba (já desmentido), Jean-Clair Todibo ou Benjamin Henrichs. A nível de rumores, não me lembro de uma janela de transferências tão rica, apesar de também tudo apontar que a primeira confirmação seja mesmo um Yony Gonzalez que deverá ser emprestado. Mas afinal o que devemos esperar do mercado de inverno?
Nota inicial importante: Não estou dentro da cabeça dos responsáveis do Benfica, logo não sei o que tencionam fazer. Esta é a minha opinião que melhor se encaixa com aquilo que os responsáveis do clube têm dito e feito. Não é o meu desejo. É o que eu acho que quem decidiu o que fazer nas últimas janelas decidiria na próxima dado o plantel corrente, as suas soluções, extravagâncias e necessidades...
1. Guarda-Redes. Apesar de Ivan Zlobin ainda não se afirmar como um segundo guarda-redes seguro, a verdade é que Mile Svilar vem ganhando algum andamento na equipa B, com exibições muito seguras, e Odysseas Vlachodimos continua a valer pontos, tendo desenvolvido uma capacidade simpática no controlo da profundidade e apesar do jogo dos pés não estar a evoluir muito. Vejo a possibilidade do Benfica poder estar interessado num segundo guarda-redes no verão. Neste mercado de inverno não creio que seja uma prioridade.
2. Defesas Centrais. Aqui vai haver pelo menos uma mexida. German Conti aparentemente não convenceu Bruno Lage. Esta época tem a desculpa da lesão, mas a verdade é que tem 209 minutos desde que Bruno Lage assumiu o cargo. Tudo indica que estará de saída e é algo que faz sentido. O Benfica tem utilizado a mesma dupla de centrais sempre e tem em Jardel uma alternativa relativamente segura. O quarto central que mal tem sido necessário pode ser ocupado por um dos rapazes da equipa B, que é o que faz mais sentido visto que gastámos seis milhões no Morato no verão. Eu já vi o brasileiro jogar mais vezes do que no jogo em Setúbal. Sinceramente acho que ainda tem que evoluir muito até podermos falar nele como uma alternativa para o onze titular, mas como quarto central que treina com a equipa A e joga na equipa B, não me estranha tanto. Ou seja, apesar de haver vários centrais apontados ao Benfica (Todibo, Lautaro Valenti, Rúben Semedo) não creio que o clube avance numa contratação para aqui. A menos que além de Conti, haja mais alguém que também esteja de saída (o que não me parece provável).
3. Defesas Laterais. Aqui também vejo a necessidade imediata, mas não acredito que se avance porque essa necessidade já está suprida a longo prazo. Tomás Tavares começa a conquistar espaço. Nuno Tavares teve uma passagem pelo onze inicial muito positiva. Ambos precisam de crescer e se o clube fosse buscar alguém para qualquer um dos lados iria tirar o espaço necessário para crescer. Só vejo o Benfica a ir buscar alguém se for por empréstimo. Não acredito que possa haver mexidas. Aliás, se fosse para haver, já o teriam feito no verão e os rapazes só impressionaram desde então.
4. Médios Centros. Esta é das posições mais preenchidas no plantel. Temos sete médios centros (Taarabt, Gabriel, Florentino, Gedson, Samaris, David Tavares e Fejsa), mais uma série de jogadores que podem fazer a mesma posição (Pizzi, Chiquinho, Zivkovic). No entanto tem sido a posição onde mais jogadores têm sido apontados. Isto deve-se, na minha opinião, a ser a posição mais desgastante que temos no nosso sistema e onde temos muitos jogadores que não correspondem ao perfil desejado. O Benfica de Bruno Lage quando tem semanas europeias tende sempre a rodar os médios centros mais do que outra posição qualquer. E nesse caso, para Bruno Lage apenas três jogadores parecem encaixar naquilo que o treinador pede (Taarabt, Gabriel e Florentino, especialmente os primeiros dois). David Tavares tem jogado muito pouco. Gedson tem aparecido mais noutras posições (apesar de eu achar que é ali que ele rende mais). Samaris, estranhamente, tem contado pouco mais do que David Tavares, apesar de eu achar que o Samaris da época passada dificilmente não tinha lugar aqui. E Fejsa simplesmente não se encaixa no sistema. Não me espantava que houvesse duas saídas aqui (Fejsa de certeza, talvez ainda Samaris e/ou até o empréstimo do Gedson). Em sentido inverso chegaria o Bruno Guimarães que é um jogador muito ao estilo de Taarabt ou um Julian Weigl mais ao estilo do Gabriel. Se não chegasse ninguém, talvez as saídas fiquem-se pelo Fejsa. Ou seja, a haver mexidas aqui será porque há falta de jogadores que se encaixem no sistema e não tanto por falta de qualidade na posição.
5. Médios Ala. Aqui também me parece que não haverá muitas mexidas. A equipa tem extremos em excesso e naturalmente vai ter que sair pelo menos um (Zivkovic perfila-se como o principal candidato visto que mal tem jogado), sendo que pode até sair um segundo (Caio Lucas). Rafa e Pizzi são os donos da posição. Franco Cervi tem ocupado o lugar da Rafa. Jota é um jogador que - creio eu - é uma questão de renovar para ganhar outra dimensão. Gedson também vê algum tempo de jogo aqui. Esta é uma posição que só deverá ter entradas e nenhuma saída. Yony Gonzalez é um jogador ainda menos interessante do que o Caio Lucas. Não o vejo a fazer parte do plantel. Há ainda um problema por resolver que é o caso de Chris Willock. O inglês nem sequer uma convocatória teve no WBA. Tem jogado na equipa de reservas. Parece-me um problema de extrema urgência que está por resolver.
6. Avançados. Aqui parece-me a posição que precisa de mexidas mais complicadas. O Benfica joga neste momento com dois avançados. Na verdade com um segundo avançado e um ponta de lança. O problema é que o clube tem três pontas de lança (Vinícius, Seferovic e RDT) e apenas um segundo avançado (Chiquinho). Claramente que pelo que se viu nesta primeira volta, não há necessidade de três pontas de lança. Acho que Bruno Lage dificilmente não quererá que o clube encontre um futuro mais interessante para um deles (RDT tem sido o mais falado, mas acho que RDT é um jogador mais interessante que Seferovic, que também não é mau, simplesmente não é tão bom). Se vai acontecer ou não, acho mais complicado porque RDT representou um investimento significativo e Seferovic não parece ter tanto mercado. Acho que acontecendo, o clube deveria ir contratar alguém para jogar na equipa B e subir à equipa principal caso alguém se lesionasse, um pouco ao estilo do que parece que vai acontecer com os centrais. Gianluca Scamacca tem sido falado. A posição de segundo avançado é a mais frágil no plantel neste momento. A nossa melhor alternativa a Chiquinho é Rafa que já titular a médio esquerdo. De resto, ninguém se encaixa verdadeiramente lá. É a posição que mais sentido faz o Benfica ir ao mercado à procura de alguém. É aqui que eu espero uma contratação.
Em suma, prevejo que o Benfica entre no mercado:
- à procura de um médio centro e de um segundo avançado, mas que se não conseguir nenhum negócio suficientemente atractivo pode até não contratar ninguém
- que eventualmente se conseguir se desfazer de RDT ou Seferovic possa ir buscar um ponta de lança jovem para jogar na equipa B e treinar com a equipa A
- que um dos jovens centrais da equipa B - Morato parece partir em vantagem - assuma o lugar de 4º central que é um lugar que na primeira metade da época viu 90 minutos de tempo de jogo
- tudo o que forem notícias de guarda-redes, laterais, centrais ou extremos, desde que não sejam jogadores dentro daquele perfil para valorizar - comprar, emprestar e vender mais caro - parecem-me notícias mais para vender jornais do que notícias com algum fundamento."
Sobre jornalismo - escrever à máquina, escrever à mão
"«Nos Estados Unidos, a Remington, antes da máquina de escrever, produzia apenas armas. Uma avanço, pois, da civilização»
Teclados para mão só
1. O rival do teclado Qwerty - teclado de que falámos na semana passada - foi, e é, o teclado Dvorak, desenvolvido pelos designers August Dvorak (não confundir com o compositor) e William Dealey em 1920. Pensado com todo o cuidado, ainda acentuava mais a importância do inglês. Estudos ergonómicos mostram que, quem escreva em inglês, neste teclado Dvorak, faz «mover os seus dedos menos 42% do que moveria num teclado Qwerty». E é interessante isto, falar-se do movimento dos dedos como se, ao escrever, alguém percorresse um itinerário, uma caminhada, exactamente como fazem os pés. E sim, certamente um sedentário de pés e pernas pode mover-se a grande velocidade nos dedos quando escreve. Seria interessante, aliás, contar as pulsações cardíacas e vermos se também aqui há uma distinção entre escrever pouco tempo e rápido e escrever em longas distâncias percorridas pelos dedos. Uma escrita de resistência: muito tempo; e uma escrita de velocidade: pouco tempo, muito rápido.
Diga-se que o teclado Dvorak tem aplicações específicas ao francês e a outras línguas (ao português também, embora não perfeito) e, talvez o mais interessante, é que oferece ainda teclados para quem tem apenas uma só mão. Este teclados concentram todas as letras mais usadas numa língua de um lado - o lado direito ou esquerdo - de acordo com a mão que se perdeu; enquanto as letras menos usadas vão para um canto, digamos assim - vão para o lado oposto da única mão que escreve. Imagem forte e bonita ao mesmo tempo: esta concentração das letras essenciais de uma língua num único lado do teclado.
Letras no espaço
2. Pensar também que o teclado por funcionar para alguém que se vá esquecendo das letras; alguém que perca a memória alfabética de algumas letras. Para que me servia o A? Em que é que na minha vida utilizava o B? Perder a noção das letras é voltar a vê-las como desenhos. O B para o desmemoriado dessa letras, é um desenho, composto de um traço vertical e de duas pequenas bossas, uma por cima da outra: B B B.
Um alzheimer - alfabético (seria importante investigar se existe esta particularidade na doença): alguém que se vai esquecendo das letras, de algumas letras, como outras pessoas se esquecem de nomes, datas, acontecimentos ou até, terrivelmente, de pessoas próximas. As letras no espaço de um teclado existem fisicamente fora da cabeça de quem escreve. E podem ser vistas como um auxiliar de memória.
Escrita à mão
3. Há, então, esta diferença essencial entre letras no espaço (no teclado do computador) e as letras no tempo e na tinta (na escrita à mão).
Curioso neste ponto pensar na escrita à mão; e pensar que as mãos, neste caso a mão única, quando escrevi directamente no papel branco, não precisa de procurar as letras algures num espaço exterior, num plano, numa espécie de sistema de linhas e colunas, quadriculado de batalha naval sem barcos, mas com letras - o teclado.
Este caminhar exterior das mãos no teclado, esta procura e movimentação de dedos não existe na escrita à mão. Na escrita à mão, as letras estão na caneta, na tinta - e não no exterior. Uma tinta que tem lá dentro um alfabeto inteiro - e tem a potência de repetição desse alfabeto até ao limite - até que a tinta seque ou se gaste. Pensando desta maneira, a escrita com caneta seria, teoricamente, mais rápida: a mão não precisaria de procurar a letra, não precisaria de fazer o movimento até ao local onde a letra está, à espera. Mas sabemos que nem sempre é assim.
Mark Tawin terá sido o primeiro escritor, e jornalista, a escrever um livro da sua typewriter Remington. Segundo o próprio: As Aventuras de Tom Saywer (1876). Provavelmente dele também, Mark Twain - para muitos o grande pai da literatura americana e de um jornalismo literário de altíssima qualidade -, terá saído a primeira crónica num jornal escrita ao ritmo daquele belo som das teclas da máquina de escrever.
Nos Estados Unidos, a Remington, antes da máquina de escrever, produzia apenas armas. Um avanço, pois, da civilização."
Gonçalo M. Tavares, in A Bola
O ano de 2019
"Durante o ano de 2019 foram trazidas ao Desporto, e ao seu enquadramento normativo, algumas matérias que, até agora, apenas de forma incidental eram inseridas neste âmbito.
Referimo-nos, em particular, aos Direitos Humanos, que ocupam agora um lugar crescente de destaque no seio das instâncias desportivas e é um tema ao qual é dado prioridade. Recordo-se a decisão do Tribunal Europeu dos Direitos Homem (TEDH) nos casos de Claudia Pechstein e Adrien Mutu ou das adeptas-mulheres no Irão e as tomadas de posição da FIFA, para além das questões relativas a atletas transgénero, por exemplo.
Também temas relacionados com a corrupção, diga-se assim, não desportiva começaram a ganhar destaque no seio do Direito do Desporto, com a publicação de um estudo do Comissão Europeia, onde era assinalado que a falta de transparência leva a que a indústria do desporto seja um campo fértil para que actividades corruptas como a lavagem de dinheiro ou a evasão fiscal ocorram.
Para além desta agenda internacional, a nível nacional foi um ano de muita produção legislativa e jurisprudência no âmbito do Direito do Desporto. As revisões à Lei dos Treinadores, à Lei Anti-Dopagem e ao Regime de Combate à Violência no Desporto, em Setembro, foram, sem dúvida, as mais relevantes, mas muitas outras surgiram ao longo de 2019. Também o TAD, os Tribunais Administrativos superiores e o próprio Tribunal Constitucional decidiram muitos casos relacionados como Desporto, em particular, com o futebol profissional.
Todos estes temas terão, acreditamos, reflexos e consequências no ano que brevemente se iniciará.
Que 2020 seja um ano de sucessos, desportivos e não só."
Marta Viera da Cruz, in A Bola
Ano 2 depois de VAR
""Primeiro estranha-se, depois entranha-se", diziam eles.
A verdade é que duas épocas volvidas de VAR a entrar pela nossa casa dentro todos os jogos, têm-se tornado cada vez mais penoso e triste assistir a um jogo de futebol com VAR. Mas não era para ter sido assim...
Ver aquilo que há de mais bonito no futebol, o golo, ser constantemente condicionado e alterado pelo VAR tem tornado esta coisa de ser adepto de futebol numa coisa triste.
Perdoem-me o desabafo, mas eu cresci a ir ver os jogos desde o escalão a nível distrital, até aos jogos de classe europeia (assim o Benfica permitia...), desde jogos de miúdos a jogos de homens com barba rija. Sempre houve erros, muitos deles grosseiros, sempre houve "equívocos", sempre houve contestação, sempre houve dúvida... Essa era um pouco a magia em torno do que se passava naquele rectângulo verde que nos prende a atenção. Quem não se lembra do remate do Petit tirado de dentro da baliza pelo Baía? Quem não se lembra do fora-de-jogo do Maicon que dá a vitória ao FC Porto em mais um clássico do Clássico? Infelizmente conseguiria estar aqui toda a tarde a enumerar casos e casos e casos de lances que se passaram há 15, 10, 5 anos...
Perguntem a qualquer um adepto de futebol que aposto que vos dizem logo de caras uma mão cheia de casos que os marcaram na sua vida futebolística.
Fez parte.
Marcou, deixou-nos completamente de mãos na cabeça, incrédulos como ninguém teria visto tremenda falta, tremendo fora-de-jogo. Mas fez parte. A juntar a isto consigo lembrar-me de exibições épicas, de jogos de cortar os pulsos, de desilusões e alegrias. E sabem de que me lembro mais? De festejar e gritar Golooooooooooooooooooooooooooooooooosem que não tivesse um diabinho em forma de VAR no meu ouvido a condicionar aquele momento para sempre.
Hoje em dia estás no estádio e já nem te é permitido celebrar O Golo, já não te é permitido gritar a plenos pulmões, a sentires toda aquela vibração correr-te nas veias a sentir que o teu coração poderia explodir naquele momento... Não. Levantas, gritas timidamente e pensas "Será que vão descobrir uma falta no meio-campo?", olhas e vês 22 pessoas paradas, especadas, de mãos na anca ou braços cruzados...À espera. À espera da validação ou não. E depois não vais conseguir celebrar da mesma maneira, não é genuíno, não é puro.
O VAR precisa ser revisto ou arrisca-se a matar por completo o futebol, aquele jogo que nos fez colar aos resumos semanais, ou aos jogos, ou aos relatos. Vês-te privado de tudo isto porque a linha detecta que o jogador X tem a unha mais comprida e estava 1cm fora-de-jogo. Vês-te privado de uma das coisas mais bonitas que há no mundo porque alguém, numa sala, alheado do mundo, descobre uma faltinha.
Não é justo para nós adeptos que amamos o jogo.
Não é justo estar dependente de uma máquina que tanta verdade quer pôr no jogo, que de igual maneira nos tira o prazer de ir à bola, de tirarmos 90 minutos longe de tudo e dos problemas da vida só para ver a nossa equipa jogar na esperança de num grito de GOLO deixarmos ir toda a raiva e revolta e preocupações acumuladas.
Como nos podem privar de sentir o futebol?
O erro sempre fez parte do jogo.
Não me interpretem mal, eu não quero que o futebol fique parado no tempo, há sempre espaço para evoluir. Tecnologia como o "olho de falcão" em que comunica de imediato ao árbitro se a bola entrou ou não, excelente. Mas é necessário regulamentar melhor o uso do VAR, para evitar abusos futuros e uma dependência do VAR na busca da perfeição.
O Futebol não é perfeito e essa era a magia dentro das quatro linhas."
Roma, cidade aberta
"Abre-se urbi et orbi, à cidade e ao mundo, e a dobrar, o melhor futebol que se produz em Itália por estes dias, porque há na cidade eterna uma bela Roma, mas também uma Lazio magnífica. E neste mundo estranho, em que o que pensa diferente se torna depressa inimigo e a ideia de Feliz Natal surge ainda mais vezes hipócrita que oca, vale a pena dar atenção à capital apaixonada pelo jogo e onde rivais de sempre que se aproximam hoje naquilo que verdadeiramente conta: a qualidade em campo. Roma ou Lazio? As duas, tanto a Roma Associazione Sportiva, a da capital que a baptiza e que nasce das camadas populares, como a Lazio, Società Sportiva, mais da região, do Lácio que lhe dá o nome, e que emerge das elites. Como noutras cidades, a rivalidade vem de longe e foi cavada fundo. Roma ou Lazio? Hoje em dia? Ambas, como Rómulo e Remo.
Sou suspeito quanto à Roma, liderada por portugueses que admiro e estimo. Começo assim pela Lazio, de Simone Inzaghi, que o menos talentoso dos irmãos em campo - Pippo era melhor, talvez do melhor que vi a desafiar o fora de jogo – se revela agora superior no banco. Prova de qualidade foi dada recentemente e em dose dupla frente à crónica campeã Juventus, na Série A e na Supertaça, ainda que a equipa Sarri desiluda e pareça ser hoje mais vecchia que signora. É uma Lazio estendida num 1.3.5.2 de laterais profundos, que constrói com critério atrás, se equilibra com Lucas Leiva no ponto de apoio, mas sobretudo faz sonhar num triângulo desenhado para invadir o espaço do artista criador, a que eles chamam trequartista, e por onde deambularam, para nossa felicidade, Del Piero, Zola, Mancini ou Totti, e o maior de todos eles, Roberto Baggio. Não há desse jaez nesta Lazio, talvez não haja nada parecido em todo o futebol italiano recente, pelo que, nesta equipa, a ninguém se reserve em exclusivo esse espaço ou a tarefa. Criar é permitido ao critério firme dos passes de Milinkovic-Savic, à leveza que também é beleza na condução garantida por Luis Alberto e à aceleração lúcida com que Correa aproxima o colectivo da baliza. Adiante destes ainda há Immobile, mas quando a bola lhe chega para que cumpra o seu destino, o mais difícil está garantido.
A Roma tem, em poucos meses, a impressão digital do técnico português mais entusiasmante do momento. Na proposta de jogo, Paulo Fonseca não tem nada de Zorro, que se há coisa que recusa é mascarar ideias. A esse nível, não é de todo um mascarado, antes um descarado, que vai para jogar, seja onde e com quem for. E a ideia está primeiro: os centrais são para construir e fazem-no, mesmo que os pés de Smalling ou Fazio não sejam como os de Piqué ou Hummels, e os laterais surgem como armas para atingir o adversário e não armaduras para se proteger dele. E que bem deve saber a Kolarov, nestes dias já grisalhos, passar mais tempo a participar do ataque que em correrias de perseguição ao extremo contrário. Até porque lhe sobra fôlego para apontar na bola parada como só Messi consegue no futebol atual. E se Kolarov avança, como Florenzi (ou outro) na mesma função no corredor simétrico, aos extremos explica-se que a linha está entregue, pelo que há mais espaços para receber a bola e desequilibrar, o que alarga em simultâneo as competências individuais e as soluções colectivas. E é vê-los crescer, Kluivert, Under, Zaniolo, o admirável Pelegrini - reparem mesmo nele que não se arrependem -, todos em redor de Dzeko, como crianças que aprendem estórias de outros tempos com um familiar mais velho. E querem uma prova de como isto funciona? Atentem a quantos golos da Roma se fazem com conclusões fáceis, junto à baliza. É aí que se percebe o melhor do processo ofensivo de Fonseca e se pode acreditar que jogar bonito e bem há mesmo quem.
Nota colectiva:
Chelsea - Frank Lampard está a afirmar-se como treinador de topo, numa entrada firme ao mais alto nível com o Chelsea e depois das promessas deixadas com o Derby County no Championship. Numa equipa que já não vive os dias em que Abramovich gastava mais que todos, o antigo médio demonstra competência estratégica - como se percebeu há dias, diante do Tottenham de Mourinho -, faz crescer gente nova de talento, como Pulisic e esse admirável Mason Mount, além de retirar do limbo promessas adiadas como Kovacic ou Tammy Abraham. Não é difícil prever que aquele que foi um dos mais admiráveis futebolistas ingleses das últimas décadas seja um dos melhores técnicos das próximas.
Nota individual:
Papu Gómez - é um dos baixinhos que me encantam, na linha de Miccoli, Giovinco ou Insigne, pigmeus que crescem nas chuteiras. Chama-se Alejandro, mas todos o conhecem como Papu, porque era "Papuchi" para a mãe. Na Atalanta, ele é o 10 e há seis anos que é ele e mais dez. Vive nas entrelinhas, no espaço onde só os melhores resultam, é um rato de sete léguas, que acelera e dribla como os eleitos, mas tem também a sabedoria da pausa, de quando se recomenda travar para que cheguem apoios. No incrível terceiro lugar da época passada, como na excelente carreira da actual Champions, a Atalanta é de Gian Piero Gasperini no banco mas guiada em campo por Papu, o inesquecível pigmeu que já é cidadão honorário de Bérgamo."
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