Últimas indefectivações

quarta-feira, 4 de maio de 2016

Ele carrega o Benfica às costas

"César Menotti, esse grande gerador de ideias sobre futebol, entende que há duas formas de ser médio-centro. Diz El Flaco, que viveu sempre à frente do tempo e permanece, aos 77 anos, fonte de inspiração para muitos adeptos, que a tarefa pode executar-se utilizando um cão de guarda ou um cão assassino. O primeiro ataca mal se sente acossado, afugenta os assaltantes e regressa ao posto de trabalho; o outro, desvairado pela agressividade, é capaz de percorrer quilómetros atrás dos invasores, cego ao ponto de fazê-lo apenas para lhes ferrar os dentes - convém recordar que, enquanto vai e não volta, a porta fica aberta, vulnerável às perversas intenções dos potenciais inimigos. Mesmo sem haver um modo ideal para ocupar o espaço - depende da equipa, do seu modelo, das características dos futebolistas e da articulação pretendida entre quem habita a ampla zona onde tudo se concebe e desenvolve-, há estilos que o futebol moderno rejeita liminarmente: o velho trinco chegou ao fim. 
Fejsa é precioso pela visão de 360 graus que identifica os grandes centro-campistas; pela inteligência que lhe permite antecipar acontecimentos e chegar centésimos de segundo antes de ocorrerem; por ser indomável na utilização do corpo nos despiques individuais e no talento para tomar sempre as melhores decisões face ao momento do jogo e ao posicionamento da equipa - é impressionante como raramente se engana quando tem de defender o espaço, atacar a bola ou simplesmente barrar o caminho ao adversário. É uma arte como outra qualquer: está sempre onde deve e age como chefe da segurança e principal responsável pela porta de acesso ao cofre-forte da equipa. Fejsa não alterou o estilo mas aproveitou o tempo e as necessidades tácticas do novo Benfica para, aos 27 anos, expressar-se como nunca. Sem as sucessivas e prolongadas lesões que o têm afetado, mais as dificuldades provocadas pela excelência atingida por Samaris, podia ser uma referência europeia na função.
É menos participativo do que o grego nos processos de aproximação a zonas mais adiantadas e abdica da relevância de William na circulação e distribuição; não tem os dotes de lançador de Xabi Alonso nem a presença e o ímpeto de Danilo na procura da bola; falta-lhe a classe de Matic e o golo de Javi. Mas numa equipa de propensão expansionista que, para ganhar consistência, teve de inserir um todo-o-terreno como Renato Sanches e entregar a Pizzi missão estratégica a partir da direita para o meio, é natural que Rui Vitória se sinta mais confortável com Fejsa. O sérvio depurou a intervenção no jogo e aprimorou cada tomada de decisão interpretando com precisão cada vez maior o papel de avançado dos defesas e libero dos atacantes. Sendo um jogador com poucas (ou nenhumas) aspirações artísticas, é muito mais do que um simples empregado de limpeza; sem magia avulsa para criar desequilíbrios à frente, a noção de unidade e consistência torna-o fundamental. Nos últimos jogos tem sido ele a carregar o Benfica às costas.
Fejsa é a rede salvadora do trapézio que permite aos acrobatas deliciarem plateias com as suas invenções inverosímeis: é o amparo das genialidades de Jonas, das travessuras de Gaitán, da frieza goleadora de Mitroglou, da paixão de Renato Sanches, das invenções de Pizzi, das aventuras de André Almeida e Eliseu... O futebol seria um jogo mais pobre, um espectáculo menos interessante, um negócio mais modesto e um fenómeno inexistente como expressão de arte só com intérpretes tão limitados. Jorge Valdano resume o dilema recordando que o cimento sustenta o mosaico bizantino mas que uma coisa é o cimento e outra o mosaico. Mas fica assim esclarecido que para proporcionar condições à exaltação dos génios que nos enchem a alma, por mais voltas que dermos, o futebol não pode prescindir dos Fejsas desta vida."

Rui Dias, in Record

Parem de mexer no fogo

"Colocar pressão no rival, ainda para mais quando se trata de uma luta para ser campeão nacional, é normal, pode até considerar-se que faz parte do jogo, mas esta guerra declarada entre Benfica e Sporting, fora dos relvados, já ultrapassou muitos limites. Não todos, porque estou desconfiado que o clima de suspeição, de ataques constantes e falta de lucidez na análise dos casos vai continuar mesmo depois de ter sido encontrado o vencedor deste campeonato.
Tudo serve para atacar o outro, e a forma como se amplifica o ponto de vista, tantas vezes torcido, de cada um dos dois clubes, na comunicação social, nas redes sociais, ou nos debates televisivos, molda a realidade de uma forma assustadora.
Depois do que se passou a época passada na festa do Benfica no Marquês de Pombal, que se transformou numa verdadeira batalha campal, e ainda hoje está para se perceber ao certo se foi obra apenas dos adeptos do Benfica ou se outros por lá andaram também a provocar, como podem os dirigentes e responsáveis de um e outro clube não pensar que talvez seja altura pararem de mexer, de forma tão perigosa, com matéria inflamável?
Só esta semana, pessoas com responsabilidades no Sporting e no Benfica já falaram de malas de dinheiro a viajar de clube em clube para ajudar a condicionar resultados, da chuteira de Eliseu na cabeça de um jogador do V. Guimarães, da expulsão de André Almeida, do penalty de Coates no jogo do Sporting com o Porto, de quem é ou não melhor e ouvi, até, Manuel Fernandes, homem do futebol e agora diretor leonino, dizer que se o Benfica ganhar o campeonato será «com muita sorte». E quando perdeu o famoso campeonato do Kelvin, perdeu-o com muito azar? Campeão será campeão. Triste é que muito provavelmente aquele que o perder não dará parabéns ao vencedor."

Nélson Feiteirona, in A Bola

PS: Continua-se a meter tudo no mesmo saco... A denuncia das 'malas' por parte de alguns Benfiquistas, só aconteceu devido à cobardia intelectual dos jornaleiros desportivos, que têm conhecimento das coisas e ficam calados... e alguns até acham 'normal'!
Conferências de imprensa de treinadores e directores, além das entrevistas com alguns jogadores, são colocadas ao mesmo nível do que palavras proferidas em programas de lixo televisivo por simples adeptos ou funcionários secundários...
Frases nas redes sociais, só são 'importantes' quando são ditas por directores de informação; quando é um presidente eleito a usar as mesmas redes (praticamente diariamente...), usando termos reles de atrasado mental, é tudo 'fair game'... etc... etc...

Benfiquismo (XCIV)

Benfica 4 - 3 Torino...
Foi em 4 de Maio de 1949,
que se deu a tragédia de Superga...
faz hoje 67 anos.

No dia anterior, no Jamor, O Gran Torino,
fazia a sua última partida,
num jogo de homenagem ao nosso Capitão Francisco Ferreira,
aqui na foto, com o grande Capitão Mazzola...